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2.2 ASPECTOS TÉCNICO-METODOLÓGICOS

2.2.3 Técnicas de levantamento de dados empregadas

A principal técnica utilizada para a coleta de dados primários foi a entrevista. Sua vantagem principal foi permitir explorar as peculiaridades da visão de mundo dos entrevistados, o que possibilitou uma perspectiva mais acurada dos fenômenos investigados, quando conjugada aos dados levantados pela pesquisa bibliográfica.

A outra técnica de coleta de dados primários foi a observação não- participante, realizada exclusivamente no primeiro nível de análise junto ao CGEN e DPG.

Durante a observação não-participante, realizaram-se entrevistas informais, acompanharam-se as atividades do cotidiano administrativo do DPG,

destacando-se as reuniões do CGEN. Incluiu-se também a coleta e o exame de documentos, tais como: orientações técnicas, deliberações, resoluções e processos administrativos. Também se registraram informações consideradas relevantes à pesquisa em uma caderneta de campo.

Com esta técnica de pesquisa, não se buscou desenvolver as ações que os membros do DPG desenvolvem, mas sim o acompanhamento constante das suas atividades. (ALENCAR, 1999).

Desse modo, a presença constante e o compartilhar sistemático e consciente junto ao grupo pesquisado eram fundamentais, pois resultaram em um “envolvimento maior do pesquisador, um compartilhar, não somente com as atividades externas do ator, mas com os processos subjetivos – interesses e afetos – que se desenrolam na vida diária dos indivíduos e grupos”, possibilitando ao observador “assumir o papel do outro para poder atingir o sentido de suas ações”. (HAGUETTE, 1987 p.63).

Já os instrumentos utilizados para a coleta de dados primários foram os seguintes: dois questionários, um semi-estruturado e outro estruturado - disponíveis no Apêndice B -; um minigravador digital que registrou, com a autorização prévia dos entrevistados, as entrevistas na íntegra, e uma câmera fotográfica digital, com a qual procurou-se realizar o registro da imagem do entrevistado, segundo a sua própria indicação, além de outras imagens consideradas elucidativas no decorrer da pesquisa.

Para a realização das entrevistas, foram empregados dois questionários, sendo que o primeiro com questões semi-estruturadas ou abertas e o segundo com questões estruturadas ou fechadas.

As questões fechadas foram empregadas para captar a atitude dos entrevistados sobre os aspectos mais gerais da gestão do saber tradicional; já com as questões abertas buscou-se coletar informações relacionadas com razões, motivos ou experiências dos entrevistados sobre a gestão do saber tradicional.

Nos questionários semi-estruturados, os diferentes temas tratados foram divididos em perguntas cujas respostas pelos entrevistados foram livres, cabendo ao entrevistador intervir somente quando surgia uma reflexão peculiar, cujo maior esclarecimento era necessário ou desviava -se sobremaneira da pergunta e do tema da pesquisa.

verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento” (LAVILLE & DIONNE, 1999 p.186).

No sentido de reduzir vieses tanto do entrevistado quanto do entrevistador, buscou-se realizar, em diferentes momentos da entrevista, a mesma pergunta, com formulação distinta.

As entrevistas semi-estruturadas consistiram de 25 perguntas; as respostas foram gravadas e transcritas integralmente. Apesar das maiores dificuldades de transcrição e tabulação das informações desse tipo de entrevista, seu emprego é mais pertinente por ser capaz de revelar algumas idéias e ações relevantes dos entrevistados que não seriam detectadas pelo questionário fechado.

Já as entrevistas estruturadas consistiram de 117 questões de múltipla escolha. Para ordenar as respostas, foi construída uma escala balanceada, numérica de cinco pontos.

As questões constituíam-se de pequenas frases, afirmações ou cenários relacionados ao conceito de saber tradicional, aos seus usos, à existência de uma suposta corrida pelo saber tradicional, aos instrumentos de gestão do saber tradicional, e à diferenciação entre biopirataria e bioprospecção.

Para cada afirmativa, apresentaram-se cinco opções de resposta: concordo completamente, concordo parcialmente, não sei, discordo parcialmente e discordo completamente, sendo que o entrevistado deveria escolher uma única opção para cada frase.

O emprego da técnica da entrevista cumpriu objetivos semelhantes tanto no primeiro nível de análise, relativo ao CGEN, quanto no segundo, que analisou os três estudos de caso. Em ambos, buscou-se verificar como o CGEN encara sua própria atribuição institucional, como ele tem desempenhado esse papel e quais as suas limitações e possibilidades de atuação.

Buscou-se ainda obter a definição de saber tradicional dos entrevistados, a sua concepção de biopirataria e bioprospecção, bem como seu conhecimento sobre outras experiências de gestão do saber tradicional e sua visão de futuro sobre o tema.

Apesar das semelhanças nos objetivos, as entrevistas tiveram focos distintos nos dois níveis de análise.

No primeiro nível, houve um maior aprofundamento na questão da legislação que institui e regulamenta o CGEN, na relação entre saber tradicional e os

instrumentos de propriedade intelectual. Também se discutiu o escopo dos acordos de repartição de benefícios, o significado e a prática da anuência prévia das populações, além de outras práticas e propostas de gestão do saber tradicional.

No segundo nível de análise, as entrevistas tiveram como foco a mediação, incentivo, intervenção ou controle do Estado na dinâmica do caso estudado, a maneira como isso ocorreu, com o uso de quais instrumentos. Também se buscou verificar a dinâmica dos conflitos entre as partes componentes do caso, suas tentativas de acordo, críticas e justificativas.

Em relação às entrevistas, a grande maioria foi realizada pessoalmente, excluindo-se um único caso que devido à distância e ao alto custo para visitar o entrevistado, decidiu-se pela sua realização por telefone. Também cabe acrescentar aqui que a duração das entrevistas foi condicionada pelos entrevistados, o que permitiu que algumas delas se estendessem por mais de duas horas.

Já a coleta de dados secundários realizou-se através de pesquisa bibliográfica e análise de documentos. Segundo Manzo, (1992, apud Lakatos e outros, 1996), a pesquisa bibliográfica oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente, e tem por objetivo permitir ao cientista o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações. Dessa forma, como ressaltam Lakatos e outros (1996, p.66), “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”.

Após pesquisa bibliográfica, a análise dos dados obtidos será realizada através do método comparativo. Lakatos e outros (1990) descrevem que o método comparativo é usado com a finalidade de verificar as similitudes e explicar divergências. Permite analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo os elementos constantes, abstratos e gerais. Pode ser utilizado em todas as fases e níveis de investigação: num estudo descritivo, pode averiguar a analogia ou analisar os elementos de uma estrutura; nas classificações, permite a construção de tipologias; finalmente, em nível de explicação, pode, até certo ponto, apontar vínculos causais entre os fatores presentes e ausentes.

Devido à heterogeneidade das características dos atores entrevistados, é importante ressaltar que no decorrer do trabalho houve a necessidade de se

adequar a estratégia metodológica às contingências do campo, às limitações financeiras de tempo e às inúmeras variáveis e situações não previstas no projeto de pesquisa. Assim, aprender a fazer pesquisa ficou condicionado ao fato de ver a realidade dos diferentes envolvidos, para então reformular a estratégia metodológica numa dinâmica constante ao longo de todo o processo de coleta de dados, sem comprometer os objetivos da pesquisa.