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4.2. Bacteriologia

4.2.2. Exame cultural

A biologia das bactérias, a resposta imune do paciente à infeção, o local da infeção e a qualidade dos meios de cultura utilizados influenciam o sucesso do exame cultural. Os meios de cultura podem ser seletivos, não seletivos e diferenciais. Os meios seletivos selecionam o tipo de bactéria a isolar, de acordo com as suas exigências nutricionais, impedindo o desenvolvimento de outras bactérias e microrganismos. Os meios diferenciais possibilitam a distinção entre bactérias, através de substâncias que alteram a morfologia ou coloração das colónias, permitindo uma diferenciação presuntiva. São também utilizados meios de enriquecimento, geralmente líquidos, com o objetivo de enriquecer o conteúdo bacteriano da amostra. A sementeira deve ser realizada do meio mais seletivo, para o menos seletivo. (72,76)

Os meios de cultura usados no laboratório de bacteriologia e respetivas características, encontram-se em nas tabelas seguintes (tabelas 7,8 e 9).

Tabela 7. Meios de cultura sólidos não seletivos. Adaptado de (72,76).

Meio de cultura Características

CLED (Cistina-

Lactose -

Deficiente de Electrólitos)

Meio diferencial usado para diferenciar microrganismos urinários que fermentam a lactose (lac). Colónias lac(+) são amarelas. Usado para cocos GP e bacilos GN, sendo que também podem crescer leveduras. Além disso, limita a invasão por Proteus spp., devido à deficiência de eletrólitos.

Gelose Columbia + 5% de sangue de Carneiro (GS)

Meio que facilita o crescimento de microrganismos exigentes e é também usada para isolar organismos anaeróbios. O sangue permite distinguir bactérias hemolíticas e não hemolíticas.

Gelose Schaedler + 5% de sangue de carneiro (SCS)

Meio destinado à pesquisa de bactérias anaeróbias (estritas e facultativas).

Gelose Chocolate + PolyViteX (PVX)

Meio não seletivo obtido a partir da gelose Columbia, pelo aquecimento da mistura com sangue (hemólise dos eritrócitos). Crescimento de estirpes exigentes pertencentes aos géneros Neisseria spp e Haemophilus spp. e Streptococcus pneumoniae.

77 Tabela 8(a). Meios de cultura sólidos seletivos. Adaptado de (72,76).

Meio de cultura Características

Gelose Chocolate PolyViteX

VCAT3 (VCA)

Meio seletivo com antibióticos e antifúngicos na sua composição, que permite o isolamento de Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis

Gelose MacConkey (MCK)

Meio seletivo e diferencial para isolamento de bacilos GN. É observada a fermentação da lactose – colónias rosas ou vermelhas, por vezes contornadas por um halo de sais biliares. As colónias lac (-) são beges ou incolores. A seletividade em relação às GP é conseguida pelos sais biliares e pelo cristal violeta.

Gelose Hektoen (HEKT)

Meio diferencial para pesquisa de Salmonella spp. e Shigella spp. nas fezes. Os sais biliares inibem os GP. Os microrganismos que produzem sulfeto de hidrogénio (H2S) (a maioria das Salmonella) originam colónias com centro negro. Os que fermentam um dos açúcares presentes no meio originam colónias amarelas ou amarelas-salmão, os que não fermentam, verdes ou azuis- esverdeadas (Salmonella spp. e Shigella spp.)

Gelose Chapman 2 (MS)

Meio manitol salgado, destina-se ao isolamento seletivo de Staphylococcus spp, que podem crescer na presença de concentrações elevadas de sais como o cloreto de sódio. Os microrganismos que fermentam o manitol originam colónias amarelas por acidificação do meio (identificação presuntiva de S.aureus).

Gelose Campylosel (CAM)

Meio seletivo com antifúngicos e antibióticos, para o isolamento dos Campylobacter intestinais (C.jejuni e C.coli). Colónias, achatadas, acinzentadas e irregulares, que crescem em atmosfera de microaerofilia.

Gelose Chocolate Haemophilus 2 (HAE2)

Isolamento seletivo de Haemophilus spp. Contém uma base nutritiva, à qual são associados antibióticos e antifúngicos que inibem a maioria das bactérias GP e leveduras.

Gelose Granada™ (GRAN)

Meio seletivo cromogénico usado na identificação de Streptococus agalactiae nas mulheres grávidas e recém-nascidos. Observação de colónias laranja, que se deve ao próprio pigmento do microrganismo.

Gelose Columbia ANC + 5% de

sangue de

carneiro (CNA)

Isolamento das bactérias exigentes. Contem ácido nalidíxico e colistina, que inibem o crescimento das Enterobacteriaceae e Pseudomonas spp., pelo que a maioria das GN são inibidas, tornando o meio seletivo para GP. Deteção das hemólises devido à presença do sangue de carneiro.

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Tabela 8(b). Meios de cultura sólidos seletivos. Adaptado de (72,76).

Meio de cultura Características

Gelose

chromID®MRSA SMART (MRSA)

Meio cromogénico destinado à pesquisa de estirpes de S.aureus resistentes à meticilina (colónias rosa a vermelho). A mistura seletiva permite inibir a maioria das bactérias GN e GP não pertencentes ao género Staphylococcus, bem como leveduras e bolores.

Gelose

chromID™ VRE (VRE)

Meio cromogénico seletivo, destinado à deteção de Enterococcus faecium e E.faecalis, nos doentes de risco que apresentam uma resistência adquirida à vancomicina, bem como a distinção entre os dois. E.faecium apresenta colónias violeta (estirpes produtoras de β-galactosidase. E.faecalis apresenta colónias verdes (estirpes produtoras de α-glucosidase).

Tabela 9. Meios líquidos de enriquecimento. Adaptado de (72,76).

Meio de cultura Características

Caldo Coração – Cérebro (BHI)

Caldo de enriquecimento, crescimento de microrganismos exigentes.

Caldo Todd-

Hewitt +

Antibióticos (TODD)

Caldo de enriquecimento seletivo para a deteção de estreptococos do grupo B na mulher grávida. Após enriquecimento, deve ser repicado em meios destinados à deteção dos estreptococos. Caldo Selenito Caldo de enriquecimento para Salmonella spp. a partir das fezes.

O selenito de sódio inibe a maioria das Enterobacteriaceae, incluindo algumas estirpes de Shigella spp. Após o enriquecimento, deve ser repicado em meios destinados à deteção da Salmonella spp. (Hektoen)

Meio seletivo para Trichomonas

Meio rico em nutrientes que oferece as condições de crescimento ideais para Trichomonas vaginalis.

Todas as placas semeadas devem estar devidamente identificadas no verso com o nome e número do doente, tipo de produto e data da sementeira.

Todos os produtos à exceção das urinas são semeados dividindo a placa em quatro quadrantes: é realizado o inóculo no primeiro quadrante e de seguida preenchem-se os restantes três quadrantes com a ansa de plástico descartável. Nas urinas, é utilizada uma ansa de 10µl, que é mergulhada na urina e a gota é depositada na placa. É feita uma estria vertical e depois 8-10 estrias horizontais começando onde a gota foi depositada (figura 8).

79 Figura 8. Esquema da sementeira das urinas.