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A parasitologia médica inclui o estudo de três grandes grupos: protozoários, helmintas e artrópodes que atuam como vetores de vários agentes patogénicos. Os parasitas podem ser obrigatórios (não sobrevivem fora do hospedeiro), facultativos, acidentais (como a ingestão acidental de larvas). Podem causar ou não danos no hospedeiro. Os parasitas são quase todos exógenos, pelo que a entrada no hospedeiro ocorre através de ingestão ou penetração nas barreiras anatómicas. (76,79)

As doenças parasitárias constituem problemas para a saúde humana (por exemplo, cerca de 30% da população mundial está infetada com Ascaris lumbricoides), principalmente com o aumento de outras patologias como a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Particularmente em áreas com más práticas de higiene, os parasitas estão entre as maiores causas de doença e morte. Pessoas que vivem em países desenvolvidos podem adquirir estas doenças viajando para países de risco. (76,77,79)

Estes organismos normalmente passam por vários estadios de desenvolvimento durante a vida, que envolve mudanças não só na estrutura, mas também na composição

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bioquímica e antigénica. Muitas infeções parasitárias são transmitidas pelos animais (infeções zoonóticas), em que a doença humana pode ou não assemelhar-se à doença causada no animal e podem passar de condições assintomáticas para patologias potencialmente fatais. Deste modo, a compreensão das caraterísticas da infeção parasitária (faixa geográfica, epidemiologia, ciclo de vida, doença clínica) e o uso de procedimentos diagnósticos adequados, tornam-se muito importantes, bem como reconhecer as limitações da informação fornecida ao médico. O exame direto do material clínico é usualmente o melhor método para o diagnóstico parasitológico, mas outros métodos como a serologia ou biologia molecular também podem ser utilizados. (76,77,79)

4.4.1Procedimentos para diagnóstico parasitológico

4.4.1.1.Aparelho genital

Um dos agentes etiológicos das secreções vaginais é a Trichomonas vaginalis, que provoca doença urogenital comum em mulheres. Nos homens, é geralmente assintomática. Nas mulheres pode provocar vaginite, descargas com mau odor, pequenas lesões e micção dolorosa. Este parasita é um protozoário flagelado com uma única forma de trofozoíto, que se divide por fissão binária no trato urogenital, podendo ser transmitido de pessoa para pessoa. (76,79)

Para a pesquisa deste parasita é utilizada uma colheita de exsudado vaginal com zaragatoa seca colocado em meio de enriquecimento seletivo para Trichomonas, que consiste num meio líquido rico em nutrientes que oferece as condições de crescimento ideais para o parasita. Este meio é colocado na estufa a 37ºC e após 48h, é realizado exame a fresco.

4.4.1.2.Aparelho gastrointestinal

No laboratório é comum a pesquisa de parasitas nas fezes. Normalmente, são colhidas três amostras de fezes em dias diferentes, de modo a aumentar a probabilidade de encontrar o parasita. Os protozoários intestinais podem ser flagelados (Giardia lamblia), ciliados (Balantidium coli), amibas ou coccídeos. Em todos estes podem observar-se quistos ou trofozoítos. Os helmintas intestinais podem ser tremátodos (observação de ovos), nemátodos (observação de ovos ou larva no caso de Strongyloides stercoralis) ou céstodos (observação de ovos ou proglótis de Taenia). (76,77)

113 É utilizado um kit, em que se recolhe uma pequena amostra de fezes para um tubo em que é adicionado reagente. O tubo contem um sistema de filtro integrado, que realiza a separação dos parasitas. A mistura é centrifugada 5 minutos a 1500g, e obtém-se o concentrado de parasitas que é suspendido em solução salina fisiológica. (89)

Para a realização do diagnóstico, são colocadas duas gotas de concentrado de fezes por lâmina. É também realizado exame a fresco da amostra utilizando soro fisiológico. Na tabela 14 encontram-se os parasitas possíveis de identificação em amostras de fezes. Durante o estágio, nenhum parasita foi observado.

Tabela 14. Parasitas possíveis de observação em amostras de fezes. Adaptado de (76). Protozoários intestinais flagelados Giardia lamblia

Protozoários intestinais ciliados Balantidium coli Protozoários intestinais: Amibas Entamoeba histolytica

Entamoeba coli Iodamoeba butschlii Protozoários intestinais: Coccídeos Cryptosporidium parvum

Cyclospora cayetanensis Enterocytozoon bieneusi Isospora belli

Helmintas intestinais: Tremátodos Fasciola hepática Schistosoma japonicum Schistosoma mansoni Schistosoma haematobium Helmintas intestinais: Nemátodos Ascaris lumbricoides

Trichuris trichiura Enterobius vermicularis Ancilostomídeo

Necator americanus Strongyloides stercoralis Helmintas intestinais: Céstodos Hymenolepis nana

Hymenolepis diminuta Taenia sp

Diphyllobotrium latum

Pesquisa de Giardia lamblia

É utilizado um teste rápido de diagnóstico para a deteção de Giardia lamblia em fezes. A multiplicação de trofozoítos ocorre por fissão binária no intestino e os quistos formados são excretados nas fezes. A ingestão dos quistos resulta em infeção. É um protozoário intestinal mais comumente responsável por provocar diarreia severa, particularmente em imunodeprimidos. (76,79,90)

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Procedimento

O teste consiste numa membrana de nitrocelulose, com anticorpo dirigido contra o parasita intestinal. A especificidade do teste é assegurada pelo uso de um anticorpo especifico para um antigénio da Giardia que é conjugado com ouro coloidal, colocado numa membrana. A amostra é diluída num tubo com uma solução do kit e homogeneizada para ficar em suspensão. Coloca-se a tira-teste no tubo e o resultado é lido ao fim de 15 minutos. Se a amostra contem o antigénio da Giardia, o complexo conjugado – antigénio migra e liga-se ao anticorpo presente na membrana, aparecendo uma linha colorida na zona de teste. De modo a validar o teste, uma linha na região do controlo também deve ser visualizada. (90)

4.4.1.3.Malária

A malária é uma doença potencialmente fatal causada por parasitas protozoários do género Plasmodium transmitidos entre humanos através da picada de um mosquito Anopheles infetado. Existem quatro parasitas que podem provocar malária (P.falciparum, P.vivax, P.ovale e P.malariae). Nos humanos, os parasitas, na forma de esporozoítos, migram para o fígado, onde amadurecem e são libertados noutra forma (merozoítos), que invade os glóbulos vermelhos. É uma doença grave, começando por apresentar sintomas de febre, calafrios, dores, fraqueza e podendo evoluir para anemia grave, insuficiência renal, falência de órgãos e alteração de consciência. (76,79)

No laboratório é utilizado um teste rápido para deteção da proteína rica em histidina II (HRP-II do inglês, histidine rich protein II) de P.falciparum e lactato desidrogenase de Plasmodium (pLDH), de P.vivax em sangue total, para diagnóstico diferencial. A HRP-II é uma proteína localizada na superfície da membrana do eritrócito infetado. A LDH é a enzima final na via glicolítica do parasita. (91)

Procedimento

A tira-teste consiste numa membrana, pré-revestida com anticorpos monoclonais. Um dos dois tipos de anticorpos monoclonais é específico para o HRP-II do P.falciparum e o outro para a lactato desidrogenase do Plasmodium vivax, que originam duas linhas separadas. (91)

115 São adicionados 5µL de sangue ao poço da amostra do dispositivo de teste e adicionado diluente ao poço de diluente do dispositivo. Após 15 minutos procede-se à leitura do resultado. É necessária a visualização da linha controle para se poder validar o resultado. No caso de se visualizarem duas bandas, o resultado é positivo para a banda específica do tipo de Plasmodium; caso de visualizem 3 bandas, significa infeção mista. (91)