• Nenhum resultado encontrado

Creatinina

A creatinina é sintetizada endogenamente nos rins, fígado e pâncreas e libertada nos fluidos corporais a um ritmo constante. A sua concentração no plasma é mantida entre limites estreitos predominantemente pela filtração glomerular. Não é reabsorvida pelos túbulos renais, e apenas uma pequena quantidade é secretada pelos túbulos. As medições de creatinina no plasma e a sua clearance renal são usadas como indicadores de diagnóstico da função renal e de patologias como glomerulonefrite aguda, insuficiência renal aguda, insuficiência renal crónica, falência renal e obstrução renal em que ocorre diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG). (9)

A TFG é um índice da função renal, que avalia a filtração dos rins, e que pode ser determinada através da clearance da creatinina. (29)

Clearance (mL/min) = Creatinina Urinária (mg/L)

Creatinina Plasmática (mg/L) × diurese (mL/min)

Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System Amostra: soro, plasma (heparina de lítio) e urina

Interferentes: no soro e plasma as substâncias que podem interferir com os resultados são as seguintes: acetona, bilirrubina não conjugada, cefalotina, glicose, lipémia, piruvato, triglicéridos. Na urina, ácido ascórbico. (29)

Método: ensaio cinético

O método da creatinina usa uma modificação da reação cinética de Jaffe. O aumento da absorvância devido à formação do cromóforo a 510nm, medida utilizando uma técnica cinética bicromática (510, 600nm) é diretamente proporcional à concentração de creatinina na amostra. (29)

NaOH

Creatinina + Picrato → Cromóforo vermelho (absorve a 510 nm) Legenda: hidróxido de sódio (NaOH)

29 Valores de referência: Soro e plasma: Homens: 0.70 – 1.30 mg/dL Mulheres: 0.55 – 1.02 mg/dL Urina: Homens: 0.95 – 2.49 g/24 h Mulheres: 0.60 – 1.80 g/24 h Ácido úrico

No humano, o ácido úrico é o maior produto do catabolismo das purinas, adenosina e guanosina. É formado endogenamente e também consumido na dieta. O tratamento renal do ácido úrico envolve quatro passos: filtração glomerular, reabsorção no túbulo proximal, secreção no lúmen e reabsorção no túbulo distal. A excreção renal de ácido úrico é cerca de 6 a 12% da quantidade filtrada. Esta determinação é útil no diagnóstico de gota e patologias renais. No entanto, esta utilidade é diminuída devido à existência de fatores não renais que influenciam a concentração plasmática de ácido úrico. (9)

Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System Amostra: soro, plasma e urina

Interferentes: as colheitas de urina de 24 horas devem ser efetuadas em recipientes com hidróxido de sódio (para evitar a precipitação de urato). A xantina diminui o resultado, bem como o formaldeído (formalina). A lipémia também interfere no resultado (30) Método: ensaio enzimático

O método do ácido úrico usa uma modificação do método da uricase. O desaparecimento de ácido úrico leva a uma alteração de absorvância, medida utilizando uma técnica cinética bicromática (293, 700nm). (30)

Uricase Ácido úrico + 2H2O + O2

→ Alantoína + H2O2 + CO2 (absorve a 293 nm) (não absorvente a 293 nm)

30

Legenda: água (H2O); oxigénio (O2); peróxido de hidrogénio (H2O2); dióxido de carbono (CO2) Valores de referência: Soro: Mulher 2.6 – 6.0 mg/dL Homem 3.5 – 7.2 mg/dL Urina 150 – 990 mg/24h Azoto ureico

A ureia constitui o principal produto metabólico com azoto resultante do catabolismo das proteínas nos humanos. Mais de 90% da ureia é excretada pelos rins. Ela não é reabsorvida nem excretada pelos túbulos, mas é filtrada livremente pelo glomérulo. A doença renal está associada com acumulação de ureia no sangue. Um aumento na concentração de ureia no plasma, acompanhado de falência renal, caracteriza o estado azotémico (urémico), que poderá ter origem pré-renal, renal ou pós-renal. (9)

A determinação do azoto ureico, em conjunto com a determinação de creatinina em soro ou plasma, ajuda na discriminação entre a azotémia pré-renal e pós-renal. (31)

Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System Amostra: soro, plasma e urina

Interferentes: este método reage quantitativamente com iões de amónio. (31) Método: ensaio enzimático

O desaparecimento de NADH na reação, leva a uma alteração de absorvância, proporcional à concentração do analito, medida utilizando uma técnica cinética bicromática (340, 383nm). (31) Urease Ureia + H2O → 2NH3 + CO2 GLDH NH3 + α-KG + NADH → L-glutamato + NAD

31 Legenda: água (H2O); amoníaco (NH3); dióxido de carbono (CO2); α- cetoglutarato (α- KG); glutamato desidrogenase (GLDH); nicotinamida adenina dinucleótido reduzido (NADH); nicotinamida adenina dinucleótido (NAD)

Valores de referência: Soro: 7 – 18 mg/dL Urina: 7 – 20 g/24hr

Proteína urinária

A determinação quantitativa do conteúdo proteico na urina é utilizada no diagnóstico e tratamento de doenças renais. Proteinúria é definida como a presença excessiva de proteínas na urina, que pode ocorrer tanto nos vários tipos de doença renal, como após exercício intenso ou desidratação. Proteinúria ocorre com permeabilidade glomerular aumentada (proteinúria glomerular), em que a proteína urinária é maioritariamente a albumina e reabsorção tubular defeituosa (proteinúria tubular), em que as proteínas urinarias são maioritariamente proteínas de baixo peso molecular. Pode também ocorrer, menos comumente, concentração aumentada no plasma de alguma proteína anormal de baixo peso molecular ou secreção anormal de proteína no trato urinário (proteinúria pós-renal). (9)

Equipamento: Dimension® Integrated Chemistry System Amostra: urina

Interferentes: as amostras que contêm amicacina, gentamicina, canamicina e tobramicina provocam um falso aumento dos resultados. (32)

Método: ensaio cinético

É utilizada uma adaptação do método do vermelho de pirogalol-molibdato. A absorvância a 600nm do complexo formado é diretamente proporcional à concentração de proteína na amostra. (32)

PR-MO + proteína → complexo PR-MO-proteína (absorve a 600nm)

32

Valores de referência: < 11.9 mg/dL, < 149.1 mg/dia

Exame sumário da urina

Este exame é indispensável na avaliação da função renal global. A amostra usada deve ser a primeira urina da manhã e deve ser analisada até 2h após colheita, caso contrário deverá ser refrigerada. Em alternativa poderá ser usada uma amostra colhida aleatoriamente, com retenção urinária de pelo menos 4h, para evitar falsos resultados diminuídos.

O exame à urina é o primeiro passo a realizar na suspeita de deterioração da função renal. No laboratório, a urina é examinada visual, química e microscopicamente. A aparência da urina pode ajudar nalgumas determinações, nomeadamente a turvação, que poderá ser de origem patológica ou não. (9)

A avaliação química e física é semi-quantitativa, está automatizada e é realizada no equipamento Clinitek Atlas®. A observação do sedimento urinário é realizada ao microscópio, para visualização dos elementos figurados e avaliação semi-quantitativa.

Exame Físico-Químico Equipamento: Clinitek Atlas®

Cada embalagem de reagente contem um rolo de tiras de reagente que analisam os seguintes parâmetros: glicose, bilirrubina, cetona (ácido acetilacético), sangue oculto, pH, proteínas, urobilinogénio, leucócitos e nitritos. O significado clínico dos respetivos parâmetros encontra-se na tabela 2. Também são feitas as determinações da gravidade específica e clareza da amostra. O aparelho apresenta os resultados de forma semi- quantitativa. (13)

33 Tabela 2. Parâmetros determinados no exame físico-químico da urina tipo II e respetivo significado clínico. Adaptado de (9).

Parâmetro Significado clínico

Glicose Glicosúria – poderá significar diabetes mellitus ou doença renal.

Bilirrubina Presença de bilirrubina conjugada na urina que não existe em condições normais. Pode ocorrer devido a elevados níveis de bilirrubina na circulação sistémica que são excretados, problemas hepáticos.

Cetona São produtos do catabolismo lipídico. A presença de corpos cetónicos pode indicar diabetes descontrolada (cetoacidose), jejum prolongado.

Sangue oculto Resultado positivo poderá ser devido à presença de glóbulos vermelhos, hemoglobina ou mioglobina. Alterações a nível renal, urinário, contaminação menstrual.

pH O pH varia consoante a dieta e fármacos. Um valor normal situa-se entre os 5,5 e 6,0. Uma alteração pode significar infeção do trato-urinário, dietas ricas em proteínas ou vegetarianas, medicação.

Proteínas Importante na avaliação da função de filtração glomerular. A presença de proteínas na urina poderá ser indicativo de lesão renal ou outras patologias. A urina poderá apresentar-se espumosa.

Urobilinogénio Produto de excreção avaliado com a bilirrubina, sendo um produto resultante dos processos de redução da bilirrubina. Valores elevados (>1,0mg/dL) poderão indicar doença hepática.

Leucócitos Maioritariamente associado a infeção do trato urinário.

Nitritos Resultado positivo indica possível infeção por bactérias redutoras de nitratos.

Gravidade específica Medida das substâncias químicas dissolvidas na urina, dependente do poder de excreção e concentração dos rins. As amostras aleatórias apresentam valores entre 1,015 – 1,025 dependendo do grau de hidratação.

Clareza A urina não patológica é clara. Urina turva indica presença de material celular excessivo ou pode ser devida a medicação ou alimentação.

Exame microscópico do sedimento

O exame microscópico do sedimento só é efetuado quando o seu resultado permite acrescentar valor clínico face à idade (exemplo: crianças) e à história clínica do doente, ou para confirmação, quando algum parâmetro do exame físico-químico está alterado.

Permite identificar e caraterizar os elementos figurados clinicamente significativos: células epiteliais, leucócitos, eritrócitos, cilindros, cristais. O seu significado clínico encontra-se descrito na tabela 3. É também avaliada a presença de

34

bactérias e elementos leveduriformes. A bacteriúria pode surgir devido a contaminação fecal, vaginal e uretral ou devido a problemas patológicos como infeções urinárias. Como alguns parâmetros não apresentam significado clínico e outros são considerados normais a não ser que estejam presentes em quantidades elevadas, é realizada uma semi- quantificação de acordo com a seguinte escala: raros (0-5 elementos); alguns (5-10 elementos); muitos (>10 elementos).

A observação semi-quantitativa é realizada no microscópio ótico na objetiva 40x.

Tabela 3. Elementos avaliados no exame microscópico da urina tipo II e respetivo significado clínico. Adaptado de (9).

Elementos Significado clínico

Células epiteliais

Refletem a descamação normal das células, a não ser que presentes num número elevado ou morfologicamente alteradas. A presença de células tubulares renais é indicativa de patologia renal.

Eritrócitos Podem estar presentes em casos de doenças renais e do trato urinário ou apenas devido a condições fisiológicas normais, como contaminação menstrual.

Leucócitos Presentes nas doenças renais e do trato urinário ou em condições fisiológicas normais, em baixas quantidades.

Cilindros Aglomerados de proteínas Tamm-Horsfall presentes na urina na forma solúvel, que em situação de estase urinária, precipitam. No geral são patológicos e indicam doença renal.

Cristais Podem apresentar, ou não, significado clínico. São formados por precipitações dos sais da urina por alterações na concentração, na temperatura e no pH da urina.