• Nenhum resultado encontrado

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.2.3. De alunos a uma Turma/Equipa Unida

“A equipa é um todo, vale por si mesma, todos são fundamentais, ninguém é imprescindível!”

(Araújo, 1994, p. 103)

No 10.º ano de escolaridade, trata-se de um novo ciclo, novos colegas de carteira e caras nunca antes vistas. Para os mais envergonhados, podem surgir quebras de comunicação, podem-se criar dificuldades de inclusão e pode surgir o medo da discriminação.

Pondero-me sobre este tema por considerar que a Educação Física e o seu Docente podem enfatizar boas condutas para que estes dilemas sejam facilmente colmatados. Não só no quotidiano escolar, mas também no funcionamento das aulas de EF, este fator quando agravado pode ser prejudicial.

No caso específico da minha turma, poucos eram os alunos que se conheciam entre si, sendo que nas primeiras aulas a falta de interação entre eles era visível. O primeiro passo que dei com o incentivo de contrariar esta que podia ser uma barreira nas aulas de EF, foi o grito de turma, poderia até nem resultar, mas não foi o caso. Penso que os alunos, que nunca tinham utilizado uma dinâmica igual nas suas aulas, gostaram e que de certa forma acabou por os aproximar.

Para além do grito de turma, em todas as aulas incentivei o trabalho em equipa, tanto nos desportos coletivos como individuais, tentei fundamentar a importância da interajuda para a melhoria das capacidades motoras e da motivação de cada um. De facto, a coesão da turma foi um crescente e refletia-

58

se no desenvolvimento dos exercícios e paralelamente na inclusão dos alunos com maiores dificuldades.

4.2.3.1. O dispêndio numa aula de Educação Física

Calculo ser do foro comum que o pensamento social relativamente à Disciplina de Educação Física encontre-se intimamente relacionado com exercício, suor e dispêndio energético.

Pude aferir durante este ano, que nem sempre é assim, existem aulas que o dispêndio energético não é tão elevado quanto o esperado por diversos fatores: cansaço dos alunos, muito tempo de instrução e emissão de feedbacks, muitos exercícios e pouco tempo de exercitação, caraterísticas das modalidades e até mesmo má gestão do tempo de aula.

Esta discrepância de aulas foi sentida em algumas aulas:

“Atendendo ao ritmo da aula, não foi apenas a mudança de “cenário” que levou à quebra referida do ritmo de aula, os meus momentos de instrução antes de cada exercício foram demasiado extensos e que posteriormente se verificou em alguns exercícios a não compreensão por parte dos alunos no processamento dos mesmos. Como era a primeira vez que estava a abordar estes exercícios, achei que deveria demorar um pouco mais na instrução, mas como referi anteriormente, mesmo assim, os alunos não conseguiam compreender o que era pedido, o que levou a que tivesse de parar várias vezes os mesmos, para voltar a explicar. Mas porque será que isto aconteceu? Talvez não tenha conseguido expressar da forma mais adequada o que pretendia, talvez os alunos não estivessem atentos ou a complexidade dos exercícios era elevada.” (Reflexão aula nº 3 e 4 – Futebol)

59

Um dos objetivos da inclusão da Disciplina de Educação Física no panorama Escolar Nacional, na minha opinião, é que os alunos possam regular os seus âmbitos de vida e para tal saibam como os conduzir de forma organizada. Por isso, concordo que o dispêndio energético seja um fator de importância e deva ser reforçado por parte dos professores, mas por outro lado, os exercícios devem ser orientados, formar uma lógica gradual de dificuldade e que sejam convenientemente compreendidos para poderem ser corretamente realizados. O tempo de lecionação para as aulas de EF e a extensão do Programa Nacional são fortemente inversos, fazendo muitas vezes com que o dispêndio energético fique prejudicado.

Nas minhas aulas, apesar de querer que o gasto energético fosse elevado, dei primazia à compreensão das ações e dos exercícios, mas tentei reduzir o número dos mesmos para conseguir aumentar o tempo de rendimento do exercício e esta alteração fez com que progressivamente conseguisse alcançar os dois pontos abordados: a compreensão e o dispêndio.

“Ao refletir sobre o rendimento, afirmo que um aumento do tempo de exercitação de cada exercício é fundamental para que o aumento do dispêndio energético durante a aula, desta forma, alego a concordância que faço à afirmação: “menos é mais!” porque no caso das aulas de Educação Física, concordo plenamente com esta perspetiva.” (Reflexão da Aula nº7 e 8 – Basquetebol)

4.2.3.2. Implementar o Modelo Instrucional de Educação Desportiva

“(…) compromisso entre extensão do conteúdo-alvo, experiências do aluno, motivação e auto-percepção da competência constitui uma questão que o professor deve colocar antes de delinear o processo de instrução, sendo este que confere validade ecológica aos modelos de abordagem selecionados para o ensino de determinado conteúdo.”

60

Existe uma panóplia de modelos instrucionais passíveis de serem empregados pelo professor durante a sua ação pedagógica. Durante o meu estágio gostaria de salientar um dos modelos ao qual atribui maior destaque perante a turma, o Modelo de Educação Desportiva (MED). O Modelo que em 2002 foi reportado por Siedentop na sua tese de doutoramento onde fomenta a ligação de uma educação lúdica num local específico para a coordenação curricular da EF (Mesquita & Graça, 2011), pretendendo assim relacionar a aprendizagem dos alunos em contexto com ações relacionadas com o prazer, o divertimento e o jogo.

Os autores Rolim & Mesquita (2012) evidenciam o MED como uma configuração simples de ensinar o desporto inserido nas aulas de EF, partindo do pressuposto que desporto, como matéria de ensino em complemento com o projeto educativo e curricular de cada escola, consegue oferecer um contributo dos seus principais valores culturais, pedagógicos e socializadores, a todos os alunos.

O factor que levou Siedentop à promoção do MED surgiu através de uma investigação sobre o currículo e a eficácia do professor, onde descobriu que apesar de uma boa organização das aulas, estas encontravam-se insuficientemente dinâmicas e motivadoras para que os alunos gostassem de realizar as atividades propostas em EF. Para conseguir criar um efeito contrário, Siedentop procurou recrear as aulas de EF num contexto lúdico e desportivo, promovendo assim um modelo relacionado com o desporto federado. Alexander et al. (cit. por Rolim & Mesquita, 2012).

Desta forma, Siedentop em 1994 relacionou seis caraterísticas do desporto federado no MED, sendo elas: a época desportiva, a filiação, a competição formal, o registo estatístico, a festividade e os eventos culminantes. Em contexto escolar, a época desportiva assemelha-se à Unidade Didática. A filiação relaciona-se com a integração de forma a que de alunos formem equipas e se crie um envolvimento de união e espírito de grupo. Durante a constituição das equipas atribuem-se diferentes funções, nomes, cores e outros factores que possam envolver uma equipa oficial. A competição prende-se neste modelo como uma força inclusiva, onde a participação, a cooperação e

61

entreajuda entre todos os elementos é fundamental. Os registos estatísticos surgem como outro fator motivador, construindo-se um quadro competitivo colocado em funcionamento desde o momento de constituição das equipas. O objetivo centra-se na aprendizagem que se estabelece dentro de cada equipa, assim como o fair-play ocupa um lugar importante nas tabelas de classificação e encontra-se presente durante toda a época. Por fim, assim como nas épocas desportivas oficiais, existe um evento culminante, onde os torneios ganham outra dimensão, trazendo consigo um carácter de festividade, nunca esquecendo a promoção da igualdade de oportunidades e o benefício da aprendizagem e evolução de cada um (Mesquita & Graça, 2011).

Atendendo à minha prática pedagógica, a vontade em implementar o MED era elevada, mas uma dúvida tomava conta da minha indecisão de implementação. Tratando-se de uma turma do 10.º ano, com alunos que não se conheciam, nem estabeleciam nenhum grau de confiança, qual seria a melhor altura para que fosse possível alcançar o grau máximo o MED? “É nossa convicta opinião de que o MED deve ser apenas introduzido no início do 2.º período e não antes” referem Rolim & Mesquita (2012), atribuindo como justificações a inexperiência do professor e dos alunos na aplicação e seu funcionamento, respetivamente; na falta de conhecimento dos alunos e das condições e materiais da escola em questão, no início do ano letivo.

Apliquei o MED no 2.º período, unindo as Unidades Didáticas de Futebol e Basquetebol para que fosse possível os alunos conseguirem experienciar este modelo na sua plenitude.

“No momento em que expliquei à turma o funcionamento do Modelo de Educação Desportiva, todos se mostraram dispostos em participar de forma ativa, até quem normalmente se encontra mais desmotivado. Este primeiro feedback emitido pelos alunos, deixou-me bastante confiante perante a implementação do Modelo nas restantes aulas… consegui observar alguns aspetos positivos, porque todos os alunos perceberam as funções, a competitividade e a necessidade de cooperação em equipa,

62

ficando a faltar a construção do nome de equipa, foi o grito e a mascote mas que certamente serão visíveis nas próximas aulas.”

(Reflexão nº 3 e 4 – Futebol)

“A aula iniciou-se com uma azáfama de ambas as equipas, pois apresentaram-se com as suas mascotes e com gritos de equipa, mostrando o entusiasmo de todos os alunos perante o modelo de educação desportiva.” (Reflexão nº 5 e 6 – Futebol)

A experiência da implementação do MED nas aulas de EF, foi mais um marco que ficará registado no meu percurso enquanto estudante estagiária e será decerto novamente utilizado em situações futuras pelas características especiais que pode incutir numa turma, principalmente a motivação, mesmo nos alunos com mais dificuldades nas modalidades em questão.