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3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.9. O MOTIVO DO MEU EMPENHO, DEDICAÇÃO E MOTIVAÇÃO: 10.ºD

Como será a experiência de contribuir para a aprendizagem de uma turma? Será que vão ser muitos? Poucos? Bem comportados? Completamente irrequietos? Será que gostam de Educação Física? Será que praticam algum tipo de Desporto? Será que vou ser capaz? Que postura devo tomar logo de início? Estas e tantas outras questões marcaram momentos antes de encarar

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aquele grupo de meninos e meninas que estariam ao meu cuidado durante um ano letivo, que seriam alvo da minha responsabilidade, consciência e empenho.

“Bom dia! Eu sou a professora Mariana e vou acompanhar-vos durante todo o ano letivo de braço dado à Educação Física.” Talvez não tenham sido exatamente estas as palavras por mim proferidas no primeiro encontro com a Turma do 10.ºD, confesso que o coração esteve na minha boca durante toda a aula e talvez por isso não encontre as palavras precisas. Sei bem que disse que iria ser a professora da turma, porque, caindo novamente em confissão, não me identifiquei com tal. Não por não querer, mas sim por saber que ainda não tinha atingido esse estatuto e talvez por isso também tenha intrigado um pouco as mentes jovens que olhavam atentamente para mim. Estava decidida a não esboçar nenhum sorriso neste primeiro contato, mas foi impossível após a realização de um jogo de “quebra-gelo” para conhecer um pouco a turma. Numa primeira análise, apercebi-me da existência de vários tipos de personalidades: “os engraçadinhos”, “os interessados”, “os envergonhados” e “os tranquilos”. Talvez não sejam os adjetivos mais apropriados, mas eram os que me surgiam em pensamento. Deparei-me com uma turma heterógena em termos de comportamentos mas uma coisa os unia, não que isso me agradasse, mas de facto era uma caraterística extensível a quase todos os alunos, a não prática de exercício físico nos tempos livres. Após a recolha de tamanha informação, perspetivei um primeiro objetivo até ao final do ano, a motivação para a escolha do desporto como atividade extracurricular, não importando qual fosse, desde que fosse Atividade Física. Segundo Valsecchi & Nogueira (2008, p.142) na relação professor-aluno “fica evidenciada a figura do professor como elemento incentivador no desenvolvimento das potencialidades do aluno.” O meu objetivo era que eles sentissem falta da prática de exercício no dia a dia de cada um e queria orientá-los dando motivação para aquele com que eles mais se identificassem.

Após a aula de apresentação, veio a primeira aula de Avaliação Diagnóstica onde consegui recolher informações transversais aos diversos desportos coletivos que iriam ser lecionados durante esse ano letivo. Confirmei que de facto a turma era heterogénea também no que toca à disponibilidade

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motora, sendo que esta se situava de uma forma quase geral no nível introdutório. Esta constatação deixou-me inquieta, pois tratam-se de alunos do 10.º de escolaridade, com pelo menos 6 anos em contacto com a disciplina de Educação Física. A vontade de vê-los crescer e de ser uma influência positiva nesse crescimento era muita, no entanto era assolada pela questão: “Estarei à altura do desafio?”

“Não consigo! Não sou capaz! Nunca vou fazer!” Expressões desde cedo por mim proibidas de serem pronunciadas nas aulas, pois queria que percebessem que nada era impossível, que o objetivo não era eles alcançarem o patamar olímpico, mas que com esforço, empenho e dedicação conseguirem superar a cada aula algumas das suas dificuldades. Este incentivo positivo fazia-me pensar: “Se estou a incutir esta ideia nas mentes dos mais novos eu também tenho de acreditar em mim!”

Ao longo do decorrer das aulas, fui deixando para trás a personagem “militar” que tentava ligar à minha, para dar oportunidade à minha própria personagem não fictícia. Esta mudança também deveu-se ao facto do “comportamento ideal” identificar da melhor forma o 10.ºD. Cumpriam horários, mostravam-se atentos, respeitavam as regras, os colegas e a mim. Penso que observando este exemplar quadro comportamental a faceta de “militar” desadequava-se completamente, existiram momentos que exigiam uma atitude mais austera da minha parte, uma chamada de atenção, mas apenas pontualmente. Esta boa onda comportamental deixava-me satisfeita pois sentia que de aula para aula conseguia captar um pouco mais a turma dando-me a possibilidade de focar as minhas preocupações em outro contexto como a prática e a aprendizagem efetiva.

Na Escola Secundária das Laranjeiras observa-se uma multiplicidade de turmas completamente inversas. Turmas com comportamentos totalmente desadequados onde o respeito principalmente pelo professor não existia. A observação de tantas situações deixava-me perplexamente reflexiva, como era possível tal discrepância numa mesma escola?

Acredito que cada Escola ceda as turmas com melhor nível de comportamento aos estudantes estagiários, mas será que no futuro eu não

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terei uma turma completamente diferente da que me acompanhou durante esta fase? Esta é uma das questões que coloco a mim própria, para me obrigar a pensar nas vantagens e desvantagens de ter uma turma com comportamento exemplar. Como referi anteriormente, estar numa situação com este quadro quase idílico auxilia-me a procurar outros “problemas” que a prática da ação pedagógica me trás, mas ter a experiência de saber controlar uma turma com comportamentos pouco adequados, dar-me-ia um desafio completamente diferente. Penso que a estas questões só poderei responder quando me encontrar no mundo “real” do ensino da Educação Física, com 5 turmas, horário completo e pouco tempo para respirar.

Ao longo do 1.º período, a constituição da turma foi sendo alterada em função das necessidades específicas sentidas pelos alunos que a foram integrando, diretamente relacionadas com o respetivo perfil académico. Assim, dos 21 alunos que fizeram parte da turma, no final do 1.º período apenas restavam 17, onze raparigas e seis rapazes. A principal razão que determinou a redução do número de alunos da turma foi a que, resultando da reflexão sobre o curso escolhido, conduziu à alteração da opção anteriormente feita. Tal situação abrangeu um total de 4 alunos, dois rapazes e duas raparigas, dos quais três optaram pelo Curso Profissional de Animador Sociocultural e um pelo Curso Profissional de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva. Entretanto, um aluno que apenas se encontrava matriculado na disciplina de Matemática do 10.º ano de escolaridade foi excluído por excesso de faltas.

Dos 17 alunos pertencentes ao 10.ºD, apenas dez se encontravam matriculados na Disciplina de Educação Física, sendo que apenas um elemento se encontrava a realizar melhoria de nota.