• Nenhum resultado encontrado

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.3. ESTUDO DE INVESTIGAÇÃO-AÇÃO:

4.3.3. Introdução

“O movimento é a expressão particular de cada ser humano. Dançando o indivíduo é capaz de revelar suas íntimas características. Por meio dos movimentos do corpo, podemos aprender a relacionar nosso ser íntimo com o mundo exterior. Recebemos estímulos externos que nos fazem reagir, projetando para fora nossos impulsos internos”

Vargas (2007, p. 65)

A dança pode ser considerada uma forma de arte, no entanto em contexto escolar, esta surge intimamente ligada ao desporto. Se esta obtiver uma posição de destaque, na lecionação da Educação Física e no contexto do Desporto Escolar, pode-se tornar num ponto de fusão entre o desporto, a estética do corpo e a arte (Lacerda & Gonçalves, 2009).

O professor deve ser consciente relativamente à pluralidade não só de personalidades, mas também de imagens corporais presentes em cada turma. Resultante da diversidade do ser humano, cada um, neste caso os alunos, percecionam o seu corpo de diferentes formas, atribuindo níveis de satisfação para com este.

Conforme o pensamento de Fux (1983), é na fase da adolescência que de uma forma imprescindível, o movimento e a dança se tornam parte de uma necessidade motriz e espiritual, promovendo um conflito na hipótese de uma ligação positiva entre o adolescente e o seu próprio corpo. A dança permite que o corpo se expresse, podendo desta forma findar com esse conflito.

Vieira (2007), a dança adquire um lugar nuclear e obrigatório no Programa Nacional de Educação Física no Ensino do 2.º e 3.ºciclo, mas um lugar de conteúdo opcional, no Ensino Secundário. Desta forma, o conteúdo dança encontra-se pouco explorado nas aulas de EF, pois segundo Moura (2007) apenas um número reduzido de professores se sente confiante ao nível do conhecimento específico para fazer da dança um conteúdo programático. Esta perspetiva vai de encontro a um estudo de Pizzatto (2007) onde a maioria dos professores de Educação Física do Ensino Fundamental, no Brasil, que

80

foram submetidos a uma entrevista, cerca de 90% (18), optavam por não lecionar o conteúdo de Atividades Rítmicas e Expressivas (dança) oferecendo múltiplas justificações, entre elas, a falta de conhecimento conjugado ao preconceito por parte dos alunos, professores e comunidade. O mesmo autor afirma que as justificações apresentadas pelos professores não podem e não devem ser o motivo para a ausência do ensino da dança nas escolas.

Segundo as autoras Sousa et al. (2004), o aparecimento da dança surge na era primitiva quando os primeiros movimentos eram procurados pelos homens, através da natureza, que de forma embrionária já expressava sentimentos e emoções. A dança sendo uma forma de arte multicultural consegue atrair uma panóplia de pessoas advindas de diversas classes sociais expressando-se ao longo dos anos de forma cativante, transmitindo emoções, ambições, benefícios e sonhos oferecendo assim, a possibilidade a quem a interpreta de se exprimir conforme as suas intenções, utilizando como intermediário o movimento dos seus corpos.

Para Mendo (2007), o universo da dança em Portugal tem tido uma crescente evolução da relação que ocorre entre a socialização e a sua prática. Cada dança ou momento coreográfico contem vários tipos de conhecimento, tradições, práticas, contos e estilos expressos por quem dá movimento ao seu corpo para transmitir sensações a quem observa (Vargas, 2007).

A autora Vargas (2007), ao citar Robinson no ano de 1992, transparece a sua ideia de que o ensino da dança, tanto para o professor como para o aluno, torna-se numa interação exigente e ao mesmo tempo entusiasmante levando a que as emoções transpareçam e a dança surja através da condição humana.

Em contexto escolar, o ensino da dança através da Educação Física, funde-se em três finalidades: desenvolver as capacidades motoras e expressivas; adquirir através da prática as competências e conhecimentos específicos; obter conhecimento sobre a organização e manutenção da forma física (Pérez, 2008; Silva, 2007).

O ensino da dança escolar não deve focar-se na formação de potenciais bailarinos profissionais, mas sim preocupar-se diretamente com a

81

vida das crianças e adolescentes, relacionando as áreas física, mental e espiritual procurando com isso, que os alunos consigam explorar e conhecer os seus próprios corpos (Vargas, 2007).

Existem múltiplas definições de imagem corporal na literatura, tornando difícil apresentar uma que seja válida para todos os autores. Segundo Cash (2004) o conceito imagem corporal engloba as auto percepções e atitudes corporais, ou relacionados com o seu corpo, inclui também os pensamentos, crenças, sentimentos e comportamentos sobre ele. Pode-se incluir nesta definição a estimativa do tamanho corporal e a avaliação do grau de atratividade e a forma corporal (Burgess et al., 2006) . Sendo que as nossas auto percepções são um aspeto importante da nossa identidade (Daley & Buchanan, 1999).

Para Fowler cit. por Vasconcelos (1998), a imagem corporal é uma estrutura mental do próprio corpo, que se sustenta sobre o resultado das percepções do foro consciente e inconsciente que o indivíduo, através das suas atitudes e emoções, cria sobre o seu próprio corpo ao longe de todo o seu desenvolvimento.

A imagem corporal estabelecida pelas crianças, jovens e adultos forma-se e modifica-se através do tempo, amadurecimento e a consciencialização dos seus corpos e de que forma se vão alterando. A dança fornece novas experiências e sensações a quem a interpreta, levando-o a que a sua tomada de consciência corporal possa sofrer modificações. Desta forma, surge a importância da dança e a exploração do movimento e comportamento motor, para uma reorganização da imagem corporal (Nanni, 2008).

A satisfação com a imagem corporal pode ser interpretada com uma conotação de elevada importância, surgindo com uma função equilibradora entre os fatores externos e internos que levam o indivíduo a concretizar uma opinião sobre si próprio. É na fase da adolescência que as preocupações com a estética e beleza corporal se tornam mais intensas e as experiências vividas tomam uma proporção mais influenciadora sobre as imagens corporais e a correspondente satisfação (Vasconcelos, 1998).

82

Nas jovens adolescentes, de acordo com Vasconcelos (1998), o impacto com o ideal de beleza vigente na sociedade atual relaciona-se com a magreza, fornecendo indícios de que ao passar por uma maior consciencialização do seu corpo a sua satisfação com a imagem corporal vai decrescendo. Davis & Furnham; Çok e Folk et al. (cit por Vasconcelos 1998, p. 405) indicam que à medida que a idade vai aumentando o gosto pelo próprio corpo vai diminuindo aumentando assim a insatisfação ou por alguma parte do corpo ou mesmo insatisfação da imagem corporal total.

Rodrigues (2000) estudou a importância da dança moderna no processo de melhoria da autoimagem e autoestima em alunas da 8ª série do ensino fundamental e 1ª série do ensino médio num colégio do Brasil. Os resultados do estudo revelaram que os alunos através da prática da dança moderna, melhoraram as capacidades motoras e os seus conceitos de autoimagem e autoestima também sofreram alterações positivas. Também o estudo de Kleinubing (2000) obteve resultados de melhoria da autoimagem através da influência da lecionação de dança em crianças.

Também num estudo de Winck (2000), realizado em academias no Brasil, onde se procurava estudar de que forma a prática de aulas de dança contribui para a auto-estima. Os resultados obtidos revelaram que a participação neste tipo de aula aumenta a perceção da auto-estima corporal.

Assim com base na literatura anteriormente apresentada, torna-se pertinente estudar a relação da satisfação corporal com a dança investigando de que forma a sua lecionação pode influenciar na melhoria da satisfação corporal dos alunos do Ensino Secundário e desta forma contribuir para uma maior relevância da dança enquanto conteúdo fundamental nas aulas de EF e desporto escolar em Portugal.

A inclusão da matéria de Dança, segundo o Programa Nacional de Educação Física surge sobre a forma de matéria alternativa no Ensino Secundário, podendo ou não ser colocada em prática durante as aulas de EF. Como a Dança é uma área que envolve não só a movimentação do corpo como a possibilidade de contactos com outros corpos, parece-me ser pertinente a pesquisa sobre uma interligação da perceção que cada aluno tem

83

sobre o seu próprio corpo e de que forma a Dança pode contribuir beneficamente para a sua alteração. Desta forma, os objetivos gerais do presente estudo consistem em verificar a:

 Influência da aplicação de uma UD de dança, na Satisfação da imagem corporal nas aulas curriculares de EF do 10.º ano ;

 Influência da aplicação de aulas/treinos, na Satisfação da imagem corporal, num núcleo de atividades rítmicas e expressivas.

Nos objetivos específicos, procura-se efetuar uma recolha informativa a todos os alunos implicados no estudo em duas fases distintas, antes (primeiro momento) e após (segundo momento) à aplicação da UD/aulas abordadas anteriormente e que serão aprofundadas posteriormente. Em concordância com os objetivos gerais, defini os seguintes objetivos específicos: 1: Apurar se ocorrem alterações dos valores de satisfação com a Imagem Corporal, do primeiro para o segundo momento, na turma do 10.ºD;

2: Apurar se ocorrem alterações dos valores de satisfação com a Imagem Corporal, do primeiro para o segundo momento, no núcleo de Atividades Rítmicas e Expressivas;

3: Investigar as opiniões e atitudes dos alunos da turma do 10.ºD acerca da Dança na Escola, nos dois momentos de aplicação do inquérito;

4: Investigar as opiniões e atitudes dos alunos do núcleo de Atividades Rítmicas e Expressivas, nos dois momentos de aplicação do inquérito;