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de Fevereiro de 1927 e a dissolução da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Discreto Mestre

O 3 de Fevereiro de 1927 e a dissolução da Faculdade de Letras da Universidade do Porto

O 28 de Maio de 1926 teve como primeira consequência imediata, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a demissão de Leonardo Coimbra do cargo de director para que tinha sido eleito e havia desempenhado durante 6 anos.

Pouco mais de um mês passado, logo a 17 de Junho de 1926, o Conselho Escolar, reiterando uma especial saudação ao antigo director, procede à eleição de um novo, sendo para o cargo designado, à segunda volta das votações, Damião Peres .

De resto, a vida na "Quinta Amarela", agora com a renda sensivelmente aumentada e com os problemas financeiros agravados, foi decorrendo na normalidade possível com a indicação, em Dezembro, de Leonardo José Coimbra para leccionar Lógica e Moral, Newton de Macedo para a História da Filosofia Antiga, e o recém-retornado da índia, onde se manifestara contra o 28 de Maio, e recém-apresentado na Faculdade, Lúcio Pinheiro Santos, com a missão de leccionar Psicologia Geral, o que não chega a acontecer pois, na reunião seguinte, em fins de Janeiro de 1927, é tomado conhecimento de que Lúcio estava doente, sendo a sua disciplina atribuída a Leonardo.526.

No entanto, os primeiros dias de Fevereiro de 1927 haveriam de mostrar que a normalidade era apenas aparente.

Falhadas sucessivamente as diversas intentonas de sinais diversos contra a ditadura centradas em Lisboa durante os meses de Junho, Julho e Setembro de 1926, bem como a de 11 de Setembro a partir de Chaves, desde que em Outubro se publica o "Manifesto dos Oficiais Republicanos do Norte", o centro da organização revolucionária desloca-se para o Porto estando, em Janeiro de 1927, fundamentalmente centrada na "Capital do Norte" .

Pina, Luís de, ob. cit., p. 56 526 Idem, ibidem, p. 65-67.

527 Farinha, Luís - O Reviralho: revoltas republicanas contra a ditadura e o estado novo. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. ISBN 972-33-1385-5. P. 37.

No plano político, ao cabo de cinco meses, verifica-se que os republicanos constitucionais que tinham sido tocados pelas loas regeneradoras propaladas pelo movimento de Braga se começavam a considerar atraiçoados pela orientação em favor dos interesses plutocráticos, processo que se intensifica a partir de Julho, quando já se fazem sentir as primeiras medidas ditatoriais, em particular a censura, dando lugar á formação de um "bloco claramente antiditatorial"528.

Bloco que se alarga num processo que se radicaliza à medida que a ditadura se afasta de qualquer propósito de regeneração republicana e vai caindo nas malhas da pressão antiliberal urdida pela direita católica e integralista, operando a prisão e a deportação de figuras gradas da República e dos mais altos dirigentes partidários republicanos que não conseguem fugir, a ponto de passar a só se vislumbrar a imprensa clandestina como meio de difusão da informação das ideias e o golpe militar como meio de deter o rumo do processo.

De notar a determinação e o comprometimento do grupo da "Biblioteca Nacional/ Seara Nova", embora só a partir de fins de Junho, no caminho da

oposição revolucionária, onde pontificavam Jaime Cortesão, Aquilino, Raul Proença, Miguéis, Manuel Mendes e Câmara Reis .

É assim que, no contexto de uma Lisboa neutralizada pela sangria dos golpes falhados e pela vigilância governamental, a organização da revolução converge para o Porto e vai irromper em revolução militar e civil a 3 de Fevereiro de 1927 com uma "Proclamação Revolucionária" assinada por Jaime Morais, Jaime Cortesão, Domingues dos Santos e Sarmento Pimentel , centrada em uma centena e meia de oficiais liderados pelo General Sousa Dias, pelo Coronel Freiria, por Jaime Cortesão (logo indigitado Governador Civil), coadjuvados por capitães como Sarmento Pimentel e Pina de Morais (aluno da Faculdade de Letras do Porto), e por José Domingues dos Santos (antigo dirigente da Esquerda Democrática a que Leonardo aderira e professor na Faculdade de Engenharia do Porto) a

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dirigir todo o esforço civil .

Não sendo total a adesão das guarnições do Porto, o movimento revolucionário encontrou, em contrapartida, apoio directo em Penafiel,

8 Idem, Ibidem, p. 31 9 Idem, ibidem, p. 37

0 Pimentel, João Sarmento - Memórias do capitão. Porto: Editorial Inova, 1974, p. 208 1 Farinha, Luís, ob. cit., p. 40

Amarante, Vila Real, Santo Tirso e Guimarães que vieram reforçar o Porto ou controlaram as posições pró-governamentais de Braga e Valença, e levantamentos e intentonas um pouco por todo o país, na Figueira da Foz, Vila Real de St0 António, Tavira, Faro, Setúbal, Barreiro, S. Julião da Barra,

Queluz, Évora, Abrantes, Alijó e Valpaços, sem contudo lograrem o apoio prometido pela capital, onde se tendia a seguir a contra-informação de que o movimento do Porto tinha um cariz restauracionista, controlado pelo tradicional Partido Democrático, o que Jaime Cortesão desmente frontalmente .

Sem Lisboa, o movimento teria de enfrentar uma disponibilidade militar governamental imensamente superior. A agravar, a situação dilemática em que os revoltosos se encontraram face ao alinhamento em seu favor conseguido pelo Governo da guarnição da Serra do Pilar, um ponto estratégico tradicional, de importância maior por ser capaz de bombardear com eficácia o Porto. As forças revolucionárias com receio de desguarnecerem a defesa da cidade noutros lugares e, de início, confiantes na adesão da guarnição da Serra, optaram por não tomar a posição o que se veio a revelar fatal pois o alinhamento pró-governamental veio a permitir submeter a cidade a ferro e fogo durante 4 dias consecutivos até ao momento da rendição.

Momento em que, finalmente, resultado das insistentes diligências dos "agentes de ligação" Cortesão, Proença e Domingues dos Santos , os dois primeiros dos quais in extremis se dirigiram a Lisboa numa traineira, a capital se levantou. Tarde, contudo. O comando revolucionário tinha perdido as esperanças no levantamento lisboeta e, pouco antes, já se havia rendido. Tanto no Porto como em Lisboa, a semana sangrenta foi trágica para as populações e para os revoltosos que amontoaram mortos, feridos e prisioneiros que haveriam de ser deportados, na ordem das muitas centenas, com uma expressão quantitativa que, no entanto, á míngua de documentos esclarecedores divide os historiadores em várias dimensões dos factos trágicos. Foi por causa do atraso na adesão, que atribuiu mais a defeitos de carácter do que a dificuldades de coordenação, que Sarmento Pimentel viria a denominar o levante lisbonense como a "Revolução do remorso" . Importante referir - e é essa a justificação principal para o enfoque dado a estes acontecimentos no contexto do presente trabalho - a intensa participação dos intelectuais e estudantes portuenses, dos professores

532 Idem, ibidem, p. 39.

533 Pimentel, João Sarmento, ob. cit., p. 207. 534 Idem, ibidem, p. 212

primários aos universitários, onde não devem ter deixado de ter uma posição relevante os discentes e docentes da "Quinta" do n° 83 da Rua Oliveira Monteiro.

Além da já registada presença de Pina de Morais que além de militar era escritor e professor e frequentava a Faculdade de Letras, colocado ao mais alto nível do comando revolucionário, registe-se o papel destacado nas operações de outros oficiais como o Capitão Eugénio Rodrigues Aresta, também antigo combatente do CEP e da Campanha do Cuanhama, deputado eleito por Beja em 1921 e 1923 pelo Partido Republicano Liberal e colaborador de "A Lucta" de Camacho e de "A República" de Ribeiro de Carvalho, aluno da Faculdade de Letras em Ciências Filosóficas por onde se viria a licenciar depois de preso, exonerado e deportado .

Ou a de Manuel Marques Teixeira, bacharel em ciências fisíco-químicas, especializado em radioactividade no laboratório parisiense de Marie Curie, também deportado a seguir à derrota revolucionária em Fevereiro de 1927 e impedido de ascender ao magistério superior da Faculdade de Ciências do Porto ' que veio, no entanto, a inscrever-se na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e a terminar o curso de Ciências-Filosóficas em

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1931 , sendo, tal como Eugénio Aresta, um dos participantes no "Testemunhos dos seus contemporâneos" onde teve ocasião de demonstrar a tese da presciência de Leonardo Coimbra em física e em epistemologia. Com nuanças de tom e apontando em direcções diversas, a generalidade dos autores, no entanto, refere-se à dissolução da Faculdade de Letras da Universidade do Porto não só como uma injustiça como sobretudo como

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uma "revindicta" de um "patente rancor político", como afirma Dionísio , um facto que "causou profundo desgosto aos admiradores do Mestre" mas que "agradou secretamente a quantos mal julgavam o filósofo", como reitera Ribeiro539.

No seguimento da derrota revolucionária, depois de preso, exonerado do Exército e deportado para S. Tomé acompanhando o general Sousa Dias e o coronel Fernando Freiria, o Capitão Eugénio Aresta viria a licenciar-se em Ciências Filosóficas, em 1928, com 20 valores, nota que nunca ninguém tinha obtido, nem vindo a obter, no curso, frente a um júri constituído por Leonardo Coimbra, Newton de Macedo e Damião Peres. Impedido de aceder ao ensino oficial universitário ou secundário, viria a notabilizar-se no ensino particular secundário como professor de filosofia em diversos colégios do Porto bem como autor de um profusamente editado manual de filosofia (Aragão, Manoel d' - Eugénio Aresta: apontamentos de biografia e bibliografia. Porto: [s.n.], 1980)

536 Teixeira, Marques - Em Legítima defesa. Porto: Edição de Maranus, 1929 537 Pina, Luís, ob. cit., p. 112

538 Dionísio, Sant'Anna. Leonardo Coimbra: o filósofo e o tribuno. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985, p. 219

É claro que o 3 de Fevereiro de 1927, ao abortar, tal como poderia ter vencido se tivesse tido melhor coordenação político-militar, fez o poder central olhar com especial atenção para os movimentos portuenses, pois estes, se geralmente sofrendo a marginalidade da distância, também tinham, por isso mesmo, a vantagem de serem submetidos a uma menos apertada vigilância.

Ora se a Faculdade de Letras do Porto já carregava desde a sua formação com a má vontade de diversos sectores académicos e políticos nacionais e tradicionais, e em particular de todos os que, pelas mais variadas razões, nutriam sentimentos negativos em relação a Leonardo Coimbra, com o 3 de Fevereiro de 1927, o poder central decidiu-se a não perder a oportunidade não só de esmagar o perigoso foco de irreverência confessadamente republicana, onde se notava sobretudo a influência resistente e reformadora de José Domingues dos Santos da Esquerda Democrática, como de decapitar culturalmente a "Capital do Norte" banindo a faculdade e, consequentemente, todas as estruturas que, na prática, se lhe associavam como a "Renascença Portuguesa" e a Universidade Popular.

É verdade que o nome ou a figura de Leonardo não aparece em momento algum associado ao movimento revolucionário. Nem poderia ser de outro modo pois não só Leonardo não se poderia expor a esse ponto por segurança pessoal e da própria faculdade uma vez que sobre si se focalizariam as movimentações inimigas, como a sua figura polémica nem seria a mais adequada para ajudar à unificação política republicana necessária ao sucesso revolucionário. Além de que Leonardo não era um operacional e, embora por diversas vezes acometido das mais altas funções institucionais do

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Estado, não era sequer um dirigente político. E pois natural que, pelo contrário, o Mestre tenha sido aconselhado a proteger-se desde o 31 de Janeiro de 1927, data inicial para que estava prevista a eclosão revolucionária, e tenha rumado à discrição das Terras de Margaride, embora se conheça a sua presença pouco depois, em Leixões, onde aliás residia, a despedir-se dos companheiros que não lograram fugir e sobre que caíra a pena de deportação, como foi o caso de Eugénio Aresta, segundo Dionísio, de partida para Cabo Verde a quem o mestre e amigo foi entregar alguns livros540...

Embora a dissolução só venha a ocorrer a 12 de Abril de 1928, inserida no processo de extinção de várias faculdades, liceus e escolas normais primárias, nomeadamente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tal como preconizado pelo Decreto n° 15365, com a visível

preocupação de dificultar uma leitura política específica, a que se juntava o argumento de as despesas superarem as receitas provenientes das propinas5 , a verdade é que, tal como para a maioria dos ex-alunos e ex-

professores, quase 80 anos depois, não se vislumbram outras razões para a dissolução da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, senão as que conjugam o azedume do conservadorismo pedagógico instalado em algumas corporações académicas perturbado com a metodologia inovadora, com a vingança contra quem procurou introduzir mudanças profundas na estrutura da Universidade Portuguesa, tudo inserido no quadro geral em que "A Quinta Amarela", agora a instalar-se na Rua do Breiner, em lugar estrategicamente mais operativo, era um motor de resistência intelectual à ditadura e ao reaccionarismo, bem como uma poderosa âncora institucional a todo o trabalho cultural da "Capital do Norte", caldo que haveria de servir muito mais a resistência democrática do que a consolidação da ditadura na sua orientação integralista e católica, como o 3 de Fevereiro de 1927 assinalou.

Naturalmente que nada do ocorrido consta nas actas do Conselho Escolar, e mesmo poucos indícios nelas se podem vislumbrar. Pelo contrário, aquelas mostram a vida lectiva a continuar com Newton de Macedo a propor, a 21 de Fevereiro de 1927, um voto de agradecimento ao Director pela inteligência e eficácia com que obteve do ministro um subsídio especial para a instalação da Faculdade que haveria de ser definitivamente decidida em reunião de 24 de Fevereiro, com a deliberação de compra do prédio da Rua do Breiner n° 102, que permitiria à Faculdade abandonar a periferia, como era na altura Oliveira Monteiro, e passar a fruir da vantagem de estar perto não só da faculdade de Ciências, como da reitoria e secretaria geral, todas instaladas no prédio histórico da velha Academia Politécnica na Praça que recebeu o nome do insigne matemático Gomes Teixeira.

Não teria, provavelmente, no quintal da traseira uma magnólia de branco marfim, como a da "Quinta" que tão profundamente impressionara a memória de Dionísio, mas estava no centro cívico, a dois passos do berço universitário, da Lello e das tertúlias.Com a proverbial ironia do destino, quando depois de porfiados esforços a Faculdade se mudava para instalações melhoradas, a história estava lá para se rir do efeito das melhorias materiais em relação aos trabalhos do espírito...

De relevante, as actas registam que a 14 de Maio de 1927, Newton de Macedo propõe que se adquira o material necessário para a instalação de um laboratório de psicologia experimental na Faculdade e que, a 6 de Junho,

Lúcio dos Santos Pinheiro se apresentou ao serviço, sendo-lhe atribuída a cadeira de Psicologia Geral não havendo, a partir daqui, mais nenhuma referência à sua pessoa542.

É Joaquim Domingues, o melhor estudioso e biógrafo de Lúcio Pinheiro dos Santos, que aponta a sua "orientação política" "manifestamente hostil" ao 28 de Maio como a razão principal para o seu novo exílio no Brasil para onde "embarca, imprevistamente, numa noite, num navio inglês fundeado ao largo de Lisboa" e de onde não mais retornaria543.

Já a 5 de Novembro de 1927, é decidido incumbir Newton de Macedo estudar no estrangeiro a organização e funcionamento dos "laboratórios de psicologia experimental"; será mesmo por isso, que dele só volta a haver notícia na Faculdade em 26 de Outubro de 1928, na sessão n° 113 do Conselho Escolar, para lhe atribuir o exercício lectivo das disciplinas de História da Filosofia Antiga, História da Civilização, História da Filosofia Medieval, História das Religiões e História das Religiões (período transitório)544.

Mas entretanto, muito se tinha passado! Com Newton no estrangeiro, a Faculdade tinha sido dissolvida pelo Decreto n° 15 365 de 12 de Abril de 1928 que concedia, no entanto, aos alunos inscritos, a possibilidade de concluírem na mesma escola e com os mesmos professores os seus cursos até 1931.

Ao mesmo tempo radicalizava-se a situação política com mais uma tentativa revilharista, a Revolta do Castelo, falhada em Agosto de 1928 e com os dirigentes republicanos exilados sobretudo em Paris de onde, José Domingues dos Santos reentra clandestinamente também em Agosto como representante do Comité de Paris.

Já para o ano lectivo de 1929/30 são distribuídas a Newton as cadeiras de História da Filosofia Medieval, História das Religiões e Psicologia Experimental5 5.

Mas de acordo com a acta da sessão n°129, referente à reunião do Conselho de 15 de Outubro de 1930, a cadeira do Doutor Newton de Macedo, que está

542 Pina, Luís, ob. cit., p. 69

543 Domingues, Joaquim - De Ourique ao quinto império. Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 2002,p.213

544 Pina, Luís de, ob. cit., p. 71 545 Idem, ibidem, p. 75.

ausente, passa a ser regida por Leonardo Coimbra, o que corresponde ao período da bolsa atribuída pelo Junta de Educação Nacional para estudar psicologia donde iria resultar "As Novas tendências da psicologia experimental: a teoria da forma" dedicado pelo "bolseiro" precisamente à "Junta" na sua publicação em 1933546.

Portanto, só neste período, Newton andou por fora não só no ano lectivo de 1927/28 a estudar a organização e funcionamento dos laboratórios de psicologia experimental, tal como fora incumbido, como no de 1930/31, por bolsa da "Junta"para estudar a Gestalttheorie, não sendo pois nada implausível que uma das deslocações de Newton fosse não a Paris mas à Alemanha como Vitorino Magalhães Godinho reiteradamente nos assegura, conciliando-se assim com a informação de Delfim Santos e de Álvaro Ribeiro que dá conta da sua presença em Paris.

Aliás Vitorino Magalhães Godinho afirmou-nos ter várias razões para reiterar que Newton foi na Alemanha que estudou a Gestalttheorie: em primeiro lugar, nem Álvaro Ribeiro nem Delfim Santos teriam sido suficientemente próximos de Newton de Macedo, para se considerar tanto as suas informações da estadia em Paris, embora como já vimos, se possam tratar de deslocações diferentes; em segundo lugar, segundo nos afirmou o historiador que mostrou ter bem presente o conteúdo da obra newtoniana, a bibliografia utilizada em "As Novas tendências da psicologia experimental" que introduz entre nós a Gestalttheorie é não só, na maioria, de psicólogos alemães, como em alemão na quase totalidade, pura e simplesmente quase não havendo bibliografia francesa, como seria natural, por exemplo a de Pierre Janet, se tivesse estudado a psicologia alemã em Paris. Ao contrário, segundo o distinto historiador, na filosofia newtoniana predominam as suas referências francesas não só com Bergson como sobretudo com Brunschwig, embora não cite nem Lucien Fevbre nem Marc Bloch.

Na mesma linha, terá sido em alemão, língua que dominava, como Hernâni Cidade corrobora, que Newton terá estudado Theodor Mommsen547, que

participou na edição "Monumenta Germaniae Histórica''1 e, além de uma

"História de Roma", publicou a obra "Províncias Romanas", assim como Félix Dahn , autor do "Die Konige der Germanen". Segundo Vitorino Magalhães Godinho terá sido essa base bibliográfica alemã que serviu para

546 Idem, ibidem, p. 77.

547 Theodor Mommsen (1817-1903) professor de Direito Romano em Zurique e Breslau e de História Antiga em Berlim foi um dos mais célebres historiadores da Antguidade clássica, abarcando além da história, a filologia, a jurisprudência, a arqueologia e a numismática. Malgrado a sua competência científica, as suas posições sobre a a questão da Alsácia, levaram-no a ser malquisto pela generalidadedos historiadores, propensos ao alinhamento com a tese francesa.

o seu estudo do "Domínio Germânico" na "Edição Monumental" da "História de Portugal" da "Portucalense Editora".

Entretanto, em 1930, Passos de Sousa é afastado do Governo, consolidando- se a linha de Salazar que se torna virtual ditador. Se em 4 anos, o 28 de Maio tinha virado contra si o grosso das forças republicanas que se haviam deixado seduzir outrora pelas esperanças regeneradoras, também entrava no seu 5o ano a caminho da estabilização e consolidação, a que só faltava

procurar legitimar com uma nova Constituição e acabar com as últimas esperanças revolucionárias que, perto do desespero, aprontavam a queima dos últimos cartuchos.

Em Abril de 1931, a Revolução da Madeira, de novo com o general Sousa Dias à cabeça, irrompe com uma proclamação que tem uma referência especial à cidade do Porto. O momento era propício porque contava com o entusiasmo suscitado pela proclamação, no dia 14, da II República em Espanha, formando-se uma coligação governamental de republicanos, socialistas e republicanos de inspiração católica. Tal entusiasmo salta para as ruas de Portugal a 14 e 16, em crescendo, ao mesmo tempo que a revolução, tendo passado pelos Açores, alastra à Guiné. Jaime Cortesão, Bernardino Machado, José Domingues dos Santos e Cunha Leal afluem a Espanha que se torna o refugio de todos os opositores ao Estado Novo.