• Nenhum resultado encontrado

A posição de Newton de Macedo

Tem sido considerado como um dado adquirido, o anonimato vindo do esquecimento da personalidade e obra de Newton de Macedo, deixando-se- lhe a condescendência, expressa ou implícita, de que teria sido ensombrado pela figura de Leonardo.

Quando muito tem sido dado como aceite que a pouca notoriedade (aliás relativa) de Newton resultaria muito mais da luminosidade ofuscante da

personalidade de Leonardo do que de qualquer sua inferioridade ou minimização.

No entanto é preciso dizer que a sua ausência das resenhas de pensadores portugueses e das histórias do pensamento português, com rubrica própria, resultarão mais deste "consenso" "cousificado", para utilizar uma conceptualização leonardina, e por isso permanentemente recopiado, do que da análise valorativa despreconceituada ("descousificada") da obra newtoniana ou sequer de um levantamento da sua repercussão no pensamento português que tenha tido em conta o inevitável entorse de quem vê, à publicação da sua última obra, seguir-se a consolidação do Estado Novo de que vai, de resto, ser vítima directa.

Newton de Macedo aparece como Secretário do Conselho Escolar da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, logo em Outubro de 1919, substituindo numerosas vezes Leonardo e, como Bibliotecário eleito praticamente desde a fundação até à extinção, trabalhando coordenadamente com o Mestre em missões de estudo ao estrangeiro no campo da psicologia experimental.

Lecciona, como vimos, desde História da Civilização, a História da Filosofia Moderna e Contemporânea, passando pela Antiga e Medieval, mas a mor parte dos anos são dedicados à Filosofia Antiga, ficando geralmente para Leonardo a Lógica, a Moral e a Psicologia .

Em 1925, ano em que lhe é concedido o grau de doutor em Ciências Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, é também lavrado um voto de louvor pela "forma como tem tratado em Lisboa os problemas da Faculdade"489 depreendendo-se que, também enquanto

embaixador político ou administrativo da Faculdade de Letras da Universidade do Porto na capital, exerceu funções de substituição de Leonardo, possivelmente ressabiado com a centralidade política lisboeta, desde a sua exoneração em 1923, ou numa situação de marginalidade política que lhe desaconselhasse a representação académica junto ao poder central.

Em Setembro de 1926, com Leonardo já demitido da presidência da Faculdade, no seguimento do 28 de Maio, Newton é eleito pela Faculdade para o Conselho Superior de Instrução Pública, ocupando o lugar deixado

Luís de Pina, ob.cit.

vago pelo antigo ministro , continuando a centrar a actividade lectiva sobretudo na Filosofia Antiga e na instalação de um laboratório de Psicologia Experimental, duas das vertentes temáticas da sua vida professoral, do seu pensamento e da sua obra já que, as outras duas, serão as abordagens da moral e da política, e da história universal e de Portugal.

Se no exercício lectivo no grupo de Ciências Filosóficas, Newton de Macedo desempenha o lugar de uma espécie de braço-direito de Leonardo, tal não deverá ser considerado desprimorante, pelo contrário.

r

E verdade que Sant' Anna Dionísio, que conheceu Newton de perto, além de o referir como "amigo tranquilo e íntegro de Leonardo Coimbra" refere-o também como "adjunto do mestre eloquente". No entanto, mal-grado a proximidade afectiva, os campos tratados por um e outro, se quanto a um saber global se complementam, são especificamente distintos.

Tal como o pensamento newtoniano é autónomo do leonardino: navegando muitas vezes em terrenos comuns é, além de por vezes divergente, estruturalmente díspar. Tal as personalidades: em Leonardo, a eloquência sem eximir a exuberância enfática de tribuno e filósofo, em Newton, a discrição e a monocordia do solilóquio reflexivo.

Mas exceptuando um trabalho pioneiro de Jorge Teixeira da Cunha491

apresentado recentemente ao Congresso de Pensadores Portuenses Contemporâneos do Porto, realizado no âmbito do Porto Capital da Cultura 2001, a sua obra não tem sido, até hoje, objecto de estudos críticos. Tal como as nótulas biobibliográficas que têm surgido nas enciclopédias, dicionários e roles que se têm debruçado sobre o pensamento português não resultam de estudos incidentes directamente sobre as fontes, antes repetem todos eles algumas distorções feitas em determinado momento por alguém e em seguida repetidas por todos.

No entanto, a sua obra, de que se faz aqui, pela primeira vez, um levantamento supostamente completo, não é tão despicienda no panorama do pensamento português e europeu, nem são tão poucas as referências memoriais de Newton de Macedo em diversos autores e personalidades bem como as transcrições de obras suas publicadas.

4SU Luís de Pina, ibidem, sessão n° 92, 4 de Setembro de 1926, p. 56.

491 Cunha, Jorge Teixeira da - O pensamento ético de Newton de Macedo. In Congresso internacional pensadores portuenses contemporâneos: 1850-1950 Porto, 2001 - [Actas]. Lisboa: Universidade

Por este contexto concreto, em que nós próprios, antes de iniciarmos a investigação, escrevíamos que todos tínhamos de Newton de Macedo, pouco mais do que a memória núbila, distante e vaga, da tradução do "Discurso do Método" para a "Sá da Costa", entendemos valer a pena elencar as referências ou transcrições que logramos coligir:

Rogério Fernandes refere "a posição filosófica de um professor da faculdade tão notável como Newton de Macedo ou a orientação racionalista de Agostinho da Silva nos seus anos juvenis em contraste com a de Leonardo Coimbra"492.

Isto a propósito de um debate sobre antónimos e ressurreições, cujos termos valerá a pena revivificar e que foi introduzido por Joel Serrão ao identificar duas escolas de pensamento, uma, no Porto, outra, em Lisboa: enquanto os especulativos de origem ou radicação lisboeta tenderiam para o estudo da lógica, da psicologia empírica, da gnoseologia, os émulos nortenhos ter-se- iam concentrado na metafísica e no pensamento misticizante. O pensamento lisboeta seria de raiz vera e moderna, "positivista ou para positivista", ao passo que o portuense constituiria, pelo contrário, um núcleo

fantasmagórico, "antipositivista, metafísico, teodiceico ou teúrgico"493.

Em Lisboa prevaleceria o apego ao "sentido da positividade e do pensamento rigoroso", o Porto soçobraria ao "pendor intuitivo, expresso pela oração retórica, paredes-meias com a poesia e a religião"494.

No entanto, em nota, Serrão informa que a consideração desta hipótese estava fundamentada sobretudo na "pertinência crítica" de José Gomes Ferreira.

Não será pois caso para o Porto se assustar com as propaladas fantasmagorias, já que afinal tudo decorre apenas da "pertinência" do poeta da Rua das Musas que, menino e moço, abalou para a capital, e não terá sido, provavelmente, para estudar a Escola Portuense. Fica-se, por outro lado, assim, a conhecer, a solidez dos fundamentos com que Bruno, Junqueiro, Nobre, Pascoaes, Leonardo e Brandão são emparcelados de fuzis

Fernandes, Rogério - Prefácio. In Almeida, Vieira de - Obra filosófica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986. Vol. I.

493 Serrão, Joel - Nota breve sobre o pensamento filosófico português actual. In Temas de cultura portuguesa. Lisboa: Portugália. [1968] Vol. II.

aprontados numa trincheira contra uma outra em que se encatrafiariam Cesário, Silva Cordeiro, Sérgio, Proença e Vieira de Almeida.

Tanto mais que se Joel Serrão em lugar de confiar no "espírito" do grande poeta, tivesse estudado directamente o esforço portuense de superação do positivismo para além do de Bruno, partindo do seu conhecimento profundo e portanto das suas limitações, compreenderia, e de certo apreciaria, mais "positivamente", a crítica portuense à religião positivista. Ou se em lugar de protestar contra a incomodidade da personalidade avassaladora de Leonardo sobre os seus discípulos, lesse alguma da sua obra, nomeadamente a que incide sobre a filosofia das ciências ou epistemologia, bastando para isso a "Razão Experimental"!

As considerações de Joel Serrão insertas na "Nota breve sobre o pensamento Filosófico português actual" de 1968, citado por Rogério Fernandes495, ensaio que, no entanto, foi retirado, conjuntamente com o

prefácio, pelo autor, conforme este adverte, sem mais explicações, na edição de 1983496, onde à diatribe caricaturizante do Porto se junta a asserção de

"nirvânico fluído do silêncio " para a Universidade em geral, só exceptuado por Joaquim de Carvalho, são fortemente questionadas, na sua orientação interpretativa da Escola Portuense, pelo próprio Fernandes 7.

Trata-se de uma troca de opiniões divergentes sobre quem converge no anátema de fantasmagoria contra Leonardo Coimbra, mostrando ou má vontade, ou menor conhecimento, ou as duas em uma, pelos diversos aspectos do pensamento do filósofo, nomeadamente a raiz originária e essencialmente positivista que se projecta na epistemologia, sobre que desenvolve o trabalho de ultrapassagem dos limites dogmáticos dessa Igreja da Ciência, a que é preciso descontar o "ar bíblico" "tirando-lhe o imobilismo da perfeição" sem nunca deixar de considerar que é "um passo na especulação filosófica" um "curso da metodologia científica" ou uma "teoria da experiência científica, ou não fosse "uma crítica dos diferentes conhecimentos científicos, hierarquicamente divididos em várias ciências" ou "uma integração das metodologias diferenciais de cada ciência"498.

Idem, ibidem.

Serrão, Joel - Temas de cultura portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 1983. Vol. I. Rogério Fernandes, ob. cit.

Só faltava mesmo vir informar-se a Escola Portuense, vinda da tradição de Bruno, da existência do positivismo, do parapositivismo ou ainda da positividade, se um dos seus esteios fundamentais foi o seu estudo e aprofundamento com vista à sua superação, não à sua negação ou contrariedade!

Sem dúvida que o historiador não tem de aceitar como "dado histórico" o que considere patranha especulativa, como entenderá Serrão - concede de bom grado Rogério Fernandes499.

Há, no entanto, "ressurreições" que, mesmo que o sejam, "se justificam" pois um dia essas vidas existiram, mesmo que, se quisermos, como pretende Serrão, tivessem sido "um nado-morto". Mesmo que se os considere fantasmas, um dia ocuparam um "tempo e espaço próprios" e fazem parte do passado das instituições de ensino superior, tiveram um "papel de agentes ideológicos", mais que não seja no "discurso prático".

Seria lícito mantê-los no silêncio? - questiona Fernandes500, pondo em causa

o que parece mistura de má vontade e ligeireza de Serrão, que optaria por riscar da história o espaço-tempo da primitiva Faculdade de Letras da Universidade do Porto. E que entretanto co-prefacia a obra de Vieira de Almeida.

Mantê-los no silêncio ou submetê-los ao silêncio, afastados da possibilidade de uma avaliação diferente da dos seus perfilados candidatos a coveiros? Em que termos Fernandes questionaria Serrão se não estivesse ligado pela amistosidade, no mínimo, de uma tal relação de co-autoria?

Além do mais, o modelo explicativo da "diferenciação cultural" que incide "sobre o pensamento filosófico português" entre o "Norte e o Centro", apresentado por Serrão, padece de outras dificuldades, assegura Fernandes: a que propósito colocar Silva Cordeiro, o autor de "Ensaios sobre a Filosofia da História" (1882), com uma "formação" lisboeta se ela é eminentemente coimbrã5 ]?

E, sobretudo, como compatibilizar de entre o mesmo modelo "a posição filosófica de um professor da faculdade tão notável como Newton de

Rogério Fernandes, ob. cit. Idem, ibidem, p. LVIII. Idem, ibidem, p. LIX.

Macedo ou a orientação racionalista de Agostinho da Silva nos seus anos juvenis em contraste com a de Leonardo Coimbra" ?

Argumento tanto mais incisivo quanto Joel Serrão, em "Constantes e metamorfoses sócio-culturais", confessa-se seguidor de Newton de Macedo historiador, na resenha crítica que desenvolve sobre a instituição universitária em Portugal, corroborando explicitamente a sua avaliação ao papel da República no sector, sendo pois, em suma, uma referência científica503.

Como se compatibilizaria essa diferença estrutural de valor entre o braço direito-Newton, o Mestre-Leonardo e o melhor aluno-George, (um dos dois licenciados com 20 e doutorado), só para deixar o Mestre carregado com o anátema das "patranhas especulativas" certamente místicas e teodiceicas, senão hipnóticas ou espiritistas, não se desconhecendo aliás o interesse leonardino, sobretudo em certo período, pelo sub-mundo parapsicológico? Mas independentemente do significado geral da análise que o racionalismo lisboeta, de raiz positivista ou parapositivista, como diz Serrão, guarda da Escola Portuense, o significado específico desta leitura do texto de Fernandes, já que feita de fora, mostra não só o prestígio de Newton, como a capacidade para o seu perfil de pensador e professor andar por si e não apenas como um braço de Leonardo.

E não deixa de ter cabimento referir, desde já, a forma mais sistemática como Newton, no dizer de Delfim Santos, um "dos filósofos deste período, dotado de um bem disciplinado pensamento analítico"504, organiza a

dialéctica, interactiva e complementarizante, entre a razão e a emoção, entre o especificamente humano e o comummente animal, numa palavra, entre Apolo e Dionísio.

O que aliás Fernandes reitera quando, mais adiante, debruçando-se sobre Leonardo cujo espiritualismo considera o polarizador na Faculdade de Letras da Universidade do Porto da reacção antipositivista ao mesmo tempo que representante do repúdio do idealismo crítico neo-kantiano, considera que a irrecusável "jonglerie verbal" de muitos dos escrito leonardinos mais o "aparente fascínio retórico da sua doutrinação" e o seu "geralmente

502 Idem, ibidem.

503 Serrão, Joel - Temas de cultura portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte, 1989. Vol. II, p.35

504 Santos, Delfim - O Pensamento filosófico em Portugal. In Obras completas. 2a ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982. Vol. I, p.453.

reconhecido talento pedagógico fazem esquecer, mais do que é justo, a contribuição proba de Newton de Macedo" cujos "trabalhos ainda hoje merecem um interesse que frequentemente lhes tem sido recusado"505.

De resto, em 1987, ao intervir no Colóquio do Centenário de Vieira de Almeida, organizado pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o distinto historiador Joel Serrão referiu- se de novo à relação de Leonardo e dos seus discípulos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto - aparentemente um pouco a despropósito - comparando-a e colocando-a em termos muito diferentes dos da relação

entre Vieira de Almeida e António Sérgio.

Afirmou Serrão, na sua intervenção oral no decorrer de uma mesa-redonda, de acordo com o registo, que "aí devo dizer pessoalmente, e digo-o sem qualquer espécie de problemas, ao longo de bastantes anos, errei relativamente a essa relação criada na Faculdade de Letras do Porto entre Leonardo Coimbra e os seus discípulos. Tanto quanto pude apreciar através do convívio que foi sempre extremamente estimulante, com José Marinho com quem mantive as melhores relações, por vezes até tempestuosas"506.

Depois de diversas apreciações elogiando o autor de "Verdade, condição e destino do pensamento português", Joel continua afirmando que "José Marinho tinha relativamente ao seu mestre, Leonardo Coimbra, uma relação que se diria, não filial, mas quase matricial, era de facto uma espécie de subjugação pela força que realmente Leonardo Coimbra exibia e de alguma

e n a

maneira transmitia a alguns dos seus discípulos" .

E porque este reconhecimento não parece fácil, compreensivelmente surge como contraditório com uma certa sanha desdenhosa para com Leonardo, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e a Escola Portuense, expressa noutros textos.

Serrão continua reconhecendo que foi "um pouco injusto" embora mantenha algumas coisas, mas o que lhe interessava era a constatação de que as relações entre mestres e discípulos não obedecem necessariamente a um só modelo.

Fernandes, Rogério, ob. cit., p. LXIX.

506 Gonçalves, Cerqueira [et. AL] - Mesa Redonda. In Vieira de Almeida: colóquio do centenário. Lisboa: Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa, 1991, p. 233-249.

"Mesmo em Portugal", prossegue, "na pobreza das nossas coisas, e dos poucos que somos com preocupações afins, há modelos que se devem considerar. O facto de um homem como Vieira de Almeida e António Sérgio terem feito um Mestrado (um, na sua cátedra, outro, nas publicações várias). Mestrados de natureza difusa, se me permitem, sem por vezes uma influência tão decisiva e pessoal sobre discípulos. Terá isso, alguma coisa que ver com os ambientes sócio-culturais no Porto e em Lisboa? E termina a interrogação, ao finalizar a intervenção coloquial, com a constatação: No Porto, as pessoas saíam da faculdade e iam para o café discutir; em Lisboa,

1- J "508

isso e um pouco mais complicado .

E mais não disse. Face à revelação de Rogério Fernandes de que Serrão, relativamente à Escola Portuense, não gostaria de assistir à ressurreição de certos passados fantasmagóricos, constata-se, por estas palavras de admirável espontaneidade e esforço de seriedade mental, que os fantasmas não precisavam ser ressuscitados, porque afinal pululavam na mente de quem os pretendia definitivamente enterrados. Para não referir a velha máxima de que, quem vive sonhando com fantasmas, acaba transformando- se neles...

Também Fidelino Figueiredo509, referindo-se à decadência dos estudos

filosóficos em Portugal, abre como únicas excepções os "trabalhos do Sr. Prof. Joaquim de Carvalho..." e "os escritos do Sr. Leonardo Coimbra, rara organização de metafísico, hoje numa fase de concentrada disciplina mental, a cujo lado surgiu um moço professor que cremos excelentemente dotado para esse ramo da investigação, o Sr. Newton de Macedo"510.

Vitorino Magalhães Godinho, de quem Newton de Macedo foi professor de liceu e amigo, considera-o o melhor professor que alguma vez teve, com uma capacidade ímpar para clarear os temas ou para utilizar perspectivas alternativas com melhor eficiência pedagógica. Segundo o historiador, em declarações que nos fez sem nos permitir, no entanto, gravar511, Newton de

Macedo, a seguir ao retorno a Lisboa, colaborou na resistência à ditadura e

50S Idem, Ibidem.

Durante largos anos professor no Liceu Central Gil Vicente, deportado por ter estado envolvido no golpe de 12 de Agosto de 1927 só regressando em Setembro de 1930, voltando ao Gil Vicente e partindo em seguida para o Brasil onde foi professor na Faculdade de Letras da Universidade de S. Paulo.

510 Figueiredo, Fidelino - Para a História da filosofia em Portugal: subsídio bibliográfico: [s.n.] Lisboa, 1924, p. 27.

Agastado que estava pelas erradas transcrições de uma entrevista que tinha dado ao jornal "Público", com base numa gravação, onde aliás citara o nome de Newton de Macedo como o de um dos professores que o formara.

por isso foi perseguido, sendo varrido de professor de liceu. Foi em seguida professor numa escola particular . Encontrava-se pelos fins de tarde, pelas cinco e meia, na Portugália ao Chiado, e Vitorino Magalhães Godinho aí se deslocava para uma tertúlia.

Além de recordar amiúde Newton de Macedo como um dos injustamente esquecidos e como um dos melhores ou mesmo o melhor professor que teve, no prefácio para a reedição de a "Educação Cívica" de António Sérgio, a propósito da Hélade donde "nos veio a intenção de liberdade", Magalhães Godinho, relembra como uma referência magistral "o belo livro de Newton de Macedo, A Alvorada helénica"513.

Vasco Magalhães-Vilhena no seu grandioso "Pequeno Manual de Filosofia"514, uma excepção absoluta no panorama dos "compêndios" de

filosofia após 1926, conseguindo, para mais, o feito notável de, sendo uma grande obra, se apresentar de "harmonia com o programa do ensino liceal", socorre-se, para ilustrar, explicar e consolidar a sua exposição, de textos de Newton de Macedo que cita entre os vultos mais destacados do coevo pensamento mundial e de cujas obras recomenda a consulta e leitura.

Assim acontece a propósito da "Aplicação da Psicologia à Pedagogia" recomendando a consulta da obra de Newton "As Novas Tendências da Psicologia Experimental-A Teoria da Forma" a par da "Psychologie de La Forme" de Paul Guillaume515; como acontece ao expor o ponto de vista da

"origem empírica das matemáticas" em que transcreve três páginas da "Introdução à Filosofia" de Newton lado a lado com indicações de consulta a Kant, Tobias Dantzig, Einstein e Infeld, Brunschvicg e ao famoso "La Science et l'hypothèse" de Henri Poincaré que marcou o virar do Século5 .

Como para Augusto Abelaira, seu antigo aluno, Newton de Macedo foi um dos grandes professores que o marcou, a par de Vieira de Almeida,