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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D E OUTROS FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR

2.4.3 Deficiência de Vitamina D e Andropausa

As concentrações de testosterona em homens diminuem com o aumento da idade, provocando sinais e sintomas similares aos encontrados em pacientes com hipoandrogenismo de causas hipofisárias ou testiculares, tais como redução da massa muscular e mobilidade musculo-esquelética, declínio cognitivo, redução da densidade mineral óssea e consequente aumento do risco de fraturas, intolerância à glicose, disfunção sexual e redução de energia (HARMAN et al., 2001; SNYDER et al., 2016; WU et al., 2008).

Segundo o Projeto Diretrizes, da Associação Médica Brasileira e do Conselho Federal de Medicina, a andropausa cursa com sintomas e sinais clínicos tais como diminuição da libido e disfunção erétil, depressão, diminuição da massa e força muscular, aumento do tecido adiposo total e redistribuição de gordura, osteopenia e osteoporose e diminuição do volume testicular, associados com exames

laboratoriais de dosagem de testosterona total abaixo de 300ng/mL. Como a fração biologicamente ativa da testosterona é a livre e biodisponível, já que a ligada à SHBG não é disponível aos tecidos alvo, o melhor método é calcular tanto a testosterona livre como a biodisponível pela fórmula de Vermeule, com valores considerados normais para homens como sendo de 131 a 640 pmol/L pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (2004).

As sociedades de endocrinologia recomendam a terapia de reposição de testosterona em doentes com sinais e sintomas de hipogonadismo e evidência documentada de baixos níveis de testosterona (SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA, 2004; BHASIN et al., 2010) e dados apresentados do Aging Study Male from Massachusetts revelam que cerca de 2,4 milhões de homens com idade 40- 69 sofrem de hipogonadismo nos EUA (ARAÚJO et al., 2004).

A suplementação com testosterona em idosos com níveis baixos de testosterona, sem doença grave, em revisão de 29 estudos, a maioria ensaios clínicos aleatórios, resultou em aumento da massa muscular e redução do percentual de gordura corporal, melhora da função cognitiva, aumento da força nos membros inferiores, melhora da função sexual, do humor e, do ponto de vista cardiovascular, melhora da isquemia miocárdica induzida pelo exercício e redução dos níveis de colesterol LDL concluindo que a suplementação pode ser útil em homens com baixos níveis de testosterona, com ou sem hipogonadismo (GRUENEWALD; MATSUMOTO, 2003).

No entanto, outros estudos avaliando o tratamento com reposição de testosterona em idosos tiveram associação positiva com ganho de massa muscular, porém com resultados inconsistentes quanto aos demais quesitos, levando o Instituto de Medicina, em 2003 a recomendar a criação de conjunto coordenado de trabalhos clínicos para determinar se a testosterona seria benéfica em idosos com níveis reduzidos deste hormônio (SNYDER et al., 2016).

Em concordância a estas recomendações, foi desenvolvido estudo de 7 ensaios clínicos duplo-cegos controlados com placebo, com total de 705 homens utilizando testosterona em gel durante 1 ano, com eficácia avaliada em 3,6,9 e 12 meses. Os participantes tiveram taxas relativamente elevadas de obesidade (62,9%), de hipertensão arterial sistêmica (71,6%) e 14,7% tinham passado de IAM. O tratamento com testosterona aumentou a concentração mediana de testosterona,

testosterona livre, estradiol e dihidrotestosterona, porém não da globulina transportadora dos hormônios sexuais (SHBG); melhora da função sexual, relatando melhora na capacidade para andar, porém sem melhora no grau de energia ou vitalidade na escala de fadiga FACIT, assim como melhora nos sintomas de humor e depressão. Não houve um padrão de uma diferença de risco quanto aos eventos adversos cardiovasculares (SNYDER et al., 2016).

Em relação à atuação da testosterona no sistema cardiovascular, metanálise realizada por Haddad et al. (2007) de 30 ensaios com 1642 homens, entre os quais 802 tratados com testosterona, não detectou associação com efeitos cardiovasculares importantes. Entretanto, em metanálise realizada em 2012, com participantes com media de idade de 67 anos, procurou determinar se a terapia com testosterona melhora a capacidade funcional em pacientes com IC crônica estável, encontrando um aumento significativo na capacidade de exercício após terapia com testosterona nesta condição cardiovascular (TOMA et al., 2012). De forma controversa, alguns estudos associaram a terapia com testosterona a maior risco cardiovascular (FINCKLE et al., 2014; VIGEN et al., 2013). Se contrapondo a estes resultados, outra revisão sistemática e metanálise realizada em 2014 com 75 artigos analisados, com 5464 pacientes, concluiu que a terapia de reposição com testosterona em homens melhora o perfil metabólico, reduz a gordura corporal, aumenta a massa muscular magra e consequentemente reduz o risco de doença cardíaca (CORONA et al., 2014). Mais recentemente Sharma et al., (2015) com objetivo de investigar associação entre normalização dos níveis de testosterona e doenças cardiovasculares e todas as causas de mortalidade, avaliando 83.010 homens com baixos níveis de testosterona total, sem relato de DCV, encontrando que a normalização dos níveis de testosterone total após a terapia com testosterone reduziu significativamente, IAM e AVC e todas as causas de mortalidade.

Em importante revisão da literatura de estudos desde a década de 40 até 2014, Morgentaler et al. (2015), avaliando nível de evidência nestes trabalhos, encontraram dezenas de estudos relatando efeitos benéficos dos níveis de testosterona normais sobre os riscos cardiovasculares e mortalidade, com incidência e gravidade de DAC inversamente associadas com níveis séricos de testosterona, assim como relacionada a melhor controle glicêmico, redução da obesidade, da circunferência abdominal e do percentual de gordura corpórea. Outrossim, estes autores também detectaram vários estudos clínicos aleatórios revelando melhora da

DAC e da IC em doentes que receberam testosterona quando comparados com placebo e finalizam relatando não haver evidências convicentes de aumento do risco cardiovascular com o tratamento da andropausa com testosterona.

Quanto à relação da andropausa com deficiência de vitamina D, Pilz et al. (2011) avaliaram homens em programa de redução do peso para detectar se a suplementação com vitamina D (3.332 UI dia) durante 1 ano melhora os níveis de testosterona e encontraram aumento tanto da testosterona total, quanto da da livre e da biodisponível no grupo tratado com vitamina D.

Em recente estudo coreano, a deficiência de vitamina D foi associada a um risco aumentado de deficiência de testosterona, mesmo após ajuste para idade, estação, índice de massa corporal, composição corporal, doença crônica, tabagismo e uso de álcool (TAK et al., 2015).