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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D E OUTROS FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR

2.4.7 Deficiência de Vitamina D e Obesidade

Os ganhos na esperança de vida, ocorrida na segunda metade do século 20, em grande parte decorrentes das melhorias na prevenção e tratamento das doenças crônico degenerativas, levando a um aumento da longevidade podem tornar-se ineficazes nas próximas gerações, caso não hajam medidas preventivas para conter a epidemia de obesidade, podendo estas gerações mais jovens apresentar menor expectativa de vida que as anteriores (FRIED et al., 2012; OLSHANSKY; PASSARO; HERSHOW, 2005).

Dados do National Cholesterol Education Program (2002) revelam que 97 milhões de adultos nos Estados Unidos estão com sobrepeso ou obesos, com obesidade definida como um índice de massa corporal (IMC) (peso em kg dividido pelo quadrado da altura em metros) do ≥30 kg / m2 e sobrepeso como 25-29,9 kg / m2 e estão relacionados à predisposição à doença coronariana, acidente vascular cerebral e a todas as causas de mortalidade.

Obesidade e o sobrepeso compartilham com outros fatores para o aumento do risco para DAC, como a dislipidemia (elevação de colesterol LDL, VLDL e triglicerídeos e redução do colesterol HDL), hipertensão arterial e diabetes tipo II

(BLAIR et al., 1984; DENKE; SEMPOS; GRUNDY, 1993; STERN, HAFFNER, 1986). O risco para DCV é particularmente elevado quando a obesidade abdominal está presente, sendo definida por uma circunferência abdominal maior que 102 cm em homens ou 88 cm nas mulheres (NATIONAL CHOLESTEROL EDUCATION PROGRAM, 2002) Mais recentemente, em estudo transversal com residentes em comunidade, a obesidade foi associada com aterosclerose subclínica, calcificação arterial coronariana como um dos fatores de risco para DAC (MAMUDU et al., 2016) e com espessamento médio-intimal carotídeo e aumento do risco para AVC isquêmico (QU, B.; QU, T., 2015).

No intuito de avaliar a obesidade com a saúde cardiovascular em diversas etnias e em vários países, foi realizado estudo através de 7 coortes em quatro continentes, com 31.118 indivíduos através do IMC e circunferência abdominal, com resultados apontando associação entre elevação do IMC com aumento da probabilidade de diabetes e hipertensão arterial, o aumento da circunferência abdominal também associado com aumento do risco de diabetes e hipertensão arterial, concluindo que a circunferência abdominal e IMC são preditores razoáveis de prevalência de diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica tornando-se importantes para identificação dos pacientes com maior risco cardiovascular (PATEL et al., 2016).

Outro estudo analisando obesidade em idosos oriundos do Estudo de Roterdam quanto ao IMC e síndrome metabólica, encontrou que esta síndrome foi fortemente associada com risco de doença cardiovascular e a todas as categorias de IMC (DHANA et al., 2016).

A obesidade está relacionada com a doença microvascular coronariana ou disfunção coronariana microvascular, condição em que está presente o quadro clínico de DAC porém com artérias coronarianas angiograficamente normais (PATEL et al., 2010), caracterizada por ter como base um grupo de doenças, além da obesidade, como diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial, dislipidemia (que compartilham mecanismos fisiopatológicos de disfunção endotelial e marcadores de inflamação subclínica (BORGES; RESENDE, 2015; SELTHOFER-RELATIC; BOSNJAK; KIBEL, 2016).

A disfunção coronariana microvascular na obesidade é mediada através de adipocinas induzindo inflamação crônica subclínica, com redução da dilatação mediada pelo óxido nítrico, disfunção endotelial, desenvolvimento de diabetes por

hiperinsulinemia e resistência à insulina, disfunção vasomotora da microcirculação coronariana, angiogênese e remodelação vascular e indução de hipertensão arterial com sobrecarga de volume e hipertrofia dos cardiomiócitos, provocando alterações na regulação da perfusão tecidual e maior predisposição a isquemia miocárdica (SELTHOFER-RELATIC; BOSNJAK; KIBEL, 2016).

A obesidade, apesar de aumentar o risco de insuficiência cardíaca (KENCHAIAH et al., 2002) tem sido encontrada em alguns estudos como melhorando o prognóstico de pacientes com insuficiência cardíaca, achados estes que levaram ao conceito do paradoxo da obesidade (HORWICH et al., 2001; LOPRINZI, 2016; PIEPOLI et al., 2016; ZAMORA et al., 2016). No entanto, a redução do peso corporal está associado à benefícios na insuficiência cardíaca, tais como melhora da função diastólica e sistólica, estrutura cardíaca e comportamento hemodinâmico, como demonstrado por Lavie, Lee e Milani (2015), porém os achados de Zamora et al. (2016) contradisseram esses autores, reforçando o paradoxo da obesidade na insuficiência cardíaca. Deste modo, os posicionamentos do American College of Cardiology, American Heart Association (YANCY et al., 2013) e da European Society of Cardiology (2000) não são conclusivos no tocante às recomendações sobre perda de peso na IC, por faltar, ainda um corpo de evidências que comprovem que esta redução do peso melhore a sobrevida na IC (ZAMORA et al., 2016). Foi relatado que a incorporação da atividade física e treinamento com exercícios físicos direcionados a um programa de perda de peso para os obesos, demonstrou benefícios em pacientes com IC (OREOPOULOS et al., 2008; PIEPOLI; MECK, 2016), avaliando a relação entre o IMC, a aptidão cardiorrespiratória pelo teste de esforço cadiopulmonar e desfechos cardiovasculares e mortalidade nos pacientes obesos com insuficiência cardíaca, demonstrou que a aptidão cardiorrespiratória atenua o paradoxo da obesidade.

A obesidade associada com a deficiência de vitamina D tem sido evidenciada em vários estudos (GRIMES; HINDLE; DYER, 1996; JORDE et al., 2010; LIU et al., 2016; McGILL et al., 2008; NEED et al., 2005; PANNU; CALTON; SOARES, 2016), justificando-se em decorrência da baixa exposição à radiação solar pela limitação de locomoção pelos obesos (COMPSTON et al., 2008), menor síntese de vitamina D3 pelo fígado, após exposição solar (<57% nos obesos), e maior captação de vitamina D nos depósitos de gordura corporal (WORTSMAN et al., 2000).

A deficiência de 25-hidroxivitamina D está associada à obesidade e a fatores de risco cardiometabólico, como demonstrado em estudo realizado em adultos chineses de meia-idade, sendo sugerida a necessidade de estudos randomizados controlados para estabelecer uma relação de causa-efeito entre a deficiência de vitamina D, obesidade e suas consequências metabólicas, assim como avaliar o uso da suplementação da vitamina D3 em pacientes com síndrome metabólica (YIN et al., 2012). Neste contexto de suplementação devitamina D na obesidade, um grande estudo longitudinal de base populacional (The Tromsø study) aleatório controlado com placebo já havia sido realizado em 2010, com 10.229 indivíduos, com seguimento de 1 ano foi realizado para analisar as relações entre níveis séricos de 25(OH)D e IMC antes e após suplementação com vitamina D, encontrando uma associação inversa significativa entre os níveis de calcidiol e IMC a qual se manteve após intervenção com a vitamina D (JORDE et al., 2010). A obesidade, principalmente abdominal foi avaliada em 10.331 participantes com objetivo de averiguar a associação com níveis séricos de vitamina D e hipertensão arterial sistêmica resultando em uma significativa associação inversa entre vitamina D e pressão arterial sistólica, sendo esta relação mais forte quando presente a obesidade abdominal (VOGT et al., 2016).