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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D E OUTROS FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR

2.4.4 Deficiência de Vitamina D e Demência

De acordo com os dados do Alzheimer's Disease International e British United Provident Association (2013), a demência, incluindo doença de Alzheimer, se constitui em um dos maiores problemas de saúde pública, principalmente em decorrência do envelhecimento populacional, afetando mais de 35 milhões de pessoas em todo o mundo, com expectativas deste número dobrar até 2030 e triplicar até 2050, chegando a cerca de 115 milhões de pessoas afetadas, com aumento mais acentuado para mais de dois terços dos casos nos países de baixa a média renda (principalmente a América Latina), como também gerando altos custos financeiros, estimando-se que em 2010 a América teve custo de 235,800 milhões de dólares em assistência médica, cuidados informais e assistênciasocial.

A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de síndrome demencial, responsável por 50 a 60% dos casos de demência na população idosa (GRATÃO, 2006), assim como apresentando-se como terceira causa de doença terminal mais comum, após as doenças cardiovasculares e o câncer (AIMMINGS, MENDEZ, 2005), seguida pela demência vascular, com cerca de mais de 20% dos casos de demência nos Estados Unidos (ROMAN, 2003; VERMEER et al., 2003).

Segundo os critérios da Associação Psiquiátrica Americana, para o diagnóstico de Transtornos Neurocognitivos, apresentado no DSM-5, como a doença de Alzheimer, demência vascular, frontotemporal, por corpos de Lewy,

doença de Parkinson, entre outros transtornos, são baseados na evidência de um declínio de uma ou mais áreas de domínio cognitivo relatado e documentado através de testes padronizados, causando prejuízo na independência do indivíduo para as suas atividades da vida diária (ARAÚJO; LOTUFO NETO, 2014).

Em virtude dos fatores nutricionais exercerem relevante papel na promoção da saúde, um corpo de evidências associou deficiências nutricionais, como carência de vitaminas B, vitamina E, entre outras, exacerbando a deterioração cognitiva, detectando-se que os idosos com essas deficiências, apresentavam pontuação mais baixa nos testes de função cognitiva (CHERUBINI et al., 2005; MASAKI et al., 2000; TUCKER et al., 2005) e a vitamina D, com seu papel anti-oxidante neuroprotetor também foi avaliado quanto à preservação cognitiva (BUELL; DAWSON-HUGHES, 2008). Com o progresso dos conhecimentos sobre a atuação da vitamina D sobre a função cerebral, cada vez mais vão somando-se evidências de que a insuficiência de vitamina D pode ser um fator de risco modificável para a demência (McCANN, AMES, 2008).

Deficiências nutricionais na população idosa são comuns, apesar de suplementação, as inadequações nutricionais persistem como problema e principalmente aumentando o risco de deficiência de vitamina D nesta população, em decorrência da falta de exposição á luz solar, nutrição inadequada, mal-absorção gastrintestinal, alterações dermatológicas relacionadas com a idade e deficiências na função renal (BUELL, DAWSON-HUGHES, 2008).

Em uma investigação transversal de dados oriundos do NHANES III, McGrath et al. (2003), encontraram associação significativa entre níveis de 25(OH)D e testes de aprendizagem e memória no grupo dos idosos, porém não encontrada entre adolescentes e adultos. Outros estudos investigando associação entre deficiência e vitamina D e declínio cognitivo em idosos foram realizados (KATZMAN et al., 1983; PRZYBELSKI; BINKLEY 2007), com resultados demonstrando associação positiva entre níveis séricos de vitamina D e desempenho em testes de função cognitiva.

Com objetivo de avaliar a associação entre a função cognitiva e demência com concentração de vitamina D em adultos, foi realizada revisão sistemática e metanálise, a partir de 37 estudos, com resultados sugerindo que as concentrações inferiores de vitamina D estão associados com a pior função cognitiva e um maior risco da Doença de Azheimer (BALION et al, 2012).

Quanto ao declínio cognitivo leve ou Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) em idosos, segundo Petersen e Negash (1998), refere-se a um estado de transição entre alterações cognitivas do envelhecimento normal e quadro demencial precoce, com estudos de base populacional demonstrando uma taxa acelerada de progressão para demência, sendo útil na pesquisa clínica para identificar indivíduos que tem risco aumentado na progressão para DA. Apesar da literatura conter muitos estudos correlacionando a deficiência de vitamina D com demência na população de idosos, poucos estudos avaliaram o declínio cognitivo leve e com objetivo de determinar esta associação, Annweiller et al. (2012), realizaram estudo transversal de base comunitária, avaliando 95 idosos sem demência, com comprometimento cognitivo leve ou saudáveis, oriundos do Gait and Alzheimer Interaction Tracking (GAIT) study, com base nas dosagens séricas de 25(OH)D, avaliação sociodemográfica, comorbidades, estado mental pelo Miniexame do Estado Mental (MEEM), Bateria de Avaliação Frontal, Escala de Depressão Geriátrica, além de clearance de creatinina, encontrando que, em comparação com os indivíduos saudáveis, aqueles idosos com CCL apresentaram menores níveis séricos de 25(OH)D.

Em revisão sistemática e metanálise com oito estudos para avaliar a associação entre vitamina D, declínio cognitivo e demência detectou-se que baixos níveis de vitamina D estão associados com pior função cognitiva pelo MMSE e alto risco de Alzheimer (BALION et al., 2012). Outros trabalhos também utilizando o MMSE, encontraram uma relação linear entre cognição e níveis séricos de vitamina D (LLEWELLYN et al., 2009, 2010, 2011).

Outra causa de declínio cognitivo, tal como a andropausa, condição esta relacionada à deficiência de vitamina D (PILZ et al., 2011; TAK et al., 2015), foi avaliada em estudos transversais European Male Aging Study e o Baltimore

Longitudinal Study of Aging encontrando que o declínio da memória e de outras

funções cognitivas, com o aumento da idade, foi associado com redução gradual dos níveis de testosterona (PRICE; SAID; HAALAND, 2004; SNYDER et al., 2016).

Em revisão publicada em 2015, a vitamina D foi considerada um hormônio neuroesteróide essencial na função de regulação e proteção cerebral, ressaltando- se as evidências crescentes dos efeitos negativos da deficiência de vitamin D na doença de Azheimer, assim como em decorrência dos benefícios com a sua

suplementação, propondo medidas de triagem na população de risco para a adequada reposição de vitamina D (KEENEY, BUTTERFIELD, 2015).

Desta forma, a vitamina D por apresentar atributos funcionais de neuroproteção, através de mecanismos antioxidantes, regulação do cálcio neuronal, imunomodulação, condução nervosa melhorada e mecanismos de desintoxicação, e em decorrência das evidências crescentes de associações clínicas entre concentrações de vitamina D e áreas globais e específicas da função cognitiva, tornam-se importantes a modulação da vitamina D como fator de risco para demência vascular e de Alzheimer (BUELL, DAWSON-HUGHES, 2008; KEENEY, BUTTERFIELD, 2015).