• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.3 DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D E DESFECHOS CARDIOVASCULARES

2.3.1 Deficiência de Vitamina D e Mortalidade

Nos EUA, nas últimas décadas, a população idosa vem envelhecendo com maior prevalência de idosos mais velhos (faixa etária igual ou acima de 85 anos) aumentando de 8,8 % em 1980 para 13,6 % em 2010 (WEST et al., 2014) e do mesmo modo também aumentando o número de idosos com doenças ou deficiências (HE; LARSEN, 2014).

Considerando-se que os centenários tem 20 anos a mais que a expectativa de vida do mundo ocidental, aliado com o contínuo progresso na melhoria de saúde dos idosos, ressaltando-se que a população com idade ≥ 90 anos, especialmente no subgrupo com idade ≥ 100 anos, é o que apresenta a maior crescimento entre os idosos, constitui-se um desafio tentar elucidar quais os mecanismos e fatores associados a este grupo que os protegem das doenças comuns relacionadas à idade e instituir medidas destinadas às melhorias contínuas de saúde no idoso (HE; MUENCHRATH, 2011).

Segundo Khaw et al. (2014), altas concentrações de vitamina D3 predizem treze anos a menos de mortalidade e de incidência de DCV. Recente estudo de julho de 2015, avaliando longevidade de centenários e sua relação com níveis de vitamina D, comparando com pacientes com IAM precoce e com indivíduos saudáveis da mesma faixa etária, encontraram que os centenários apresentaram maiores níveis de vitamina D que os adultos normais e aqueles com IAM, concluindo que esses níveis de vitamina D por conferirem vantagens fisiológicas e melhor função cardiovascular, estão associados com envelhecimento bem sucedido (PAREJA- GALEANO et al., 2015).

A mortalidade associada com deficiência de vitamina D em idosos foi avaliada pela mortalidade por todas as causas, por causas cardiovasculares e por morte súbita cardíaca (MSC). Grandes estudos prospectivos abordando a mortalidade por causas cardiovasculares relacionadas à deficiência de vitamina D nos idosos foram desenvolvidos. O Third National and Nutricional Examination Survey (NHANES III), avaliando 3.408 idosos não institucionalizados, durante 7,3 anos, encontrou associação inversa independente entre níveis de vitamina D e morte por causas cardiovasculares e não cardiovasculares (GINDE et al., 2009). O Inveccchiare in

associação entre deficiência de vitamina D e maior risco de morte por DCV e por todas as causas (p<0,0001) (SEMBA et al., 2010).

Em referência à MSC, esta é definida, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) como um evento natural, inesperado, que ocorre em menos de uma hora do início dos sintomas, em indivíduos sem qualquer condição prévia diagnosticada potencialmente fatal, assim como estar assintomático nas últimas 24 horas antes do evento, já que em 40% dos casos de MSC são não testemunhados (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1985). Vale salientar que a DAC é responsável por cerca de 80% das causas de MSC, a qual aumenta com a idade devido à maior prevalência de DAC na população de idosos (ZIPES, WELLENS, 1998).

Deo et al. (2011), no Cardiovascular Health Study (CHS), avaliando a associação entre marcadores do metabolismo ósseo e morte súbita em 2.312 idosos sem doença cardiovascular conhecida, identificaram que a combinação de baixos níveis de vitamina D e alta concentração de paratormônio aumentaram em duas vezes o risco de morte súbita cardiovascular (DEO et al., 2011). No entanto esse estudo não comprovou ser a vitamina D fator preditivo isolado de desfecho cardiovascular. Outro estudo, com esta população do CHS encontrou que a deficiência de 25(OH)D está associada com infarto do miocárdio e maior risco de mortalidade nestes pacientes (KESTENBAUM et al., 2011).

Estudo retrospectivo realizado no Brasil (BRAGGION, 2012) avaliando 4.501 necrópsias, de 2006 a 2010 encontrou que a MSC foi responsável por 899 (20%) de todos os óbitos, sendo 64% destes devido à Síndrome Coronariana Aguda (SCA), seguida pela miocardiopatia (isquêmica e não isquêmica), com 32% dos óbitos. Vale salientar que a maioria dos casos de MSC ocorreram em homens idosos, entre a sexta e sétima décadas de vida.

Lerchbaum et al. (2012) estudando 2.069 homens idosos oriundos do The

Ludwigshafen Risk and Cardiovascular Health (LURIC) submetidos à angiografia

coronariana, de 1997 a 2000, encontraram associação significativa entre combinação de deficiências de testosterona e vitamina D com eventos fatais por causa cardiovascular assim como por mortalidade por causa não cardiovascular.

Em metanálise de 12.000 mortes por causas vasculares e não vasculares, Tomson et al. (2013) encontraram forte associação inversa com níveis de 25(OH)D. Samefors et al. (2014) avaliando 333 mulheres idosas institucionalizadas na Suécia, participantes do SHADES (The Study of Health and Drugs in the Elderly), de 2010 a

2012, encontraram que aquelas com deficiência de vitamina D, tinham aumento da mortalidade, propondo estratégias de prevenção com suplementação desta vitamina. Perna et al. (2013) publicou estudo com população de 9.949 indivíduos pertencentes ao estudo de coorte ESTHER, que avaliou a associação de níveis de 25(OH)D com doença cardiovascular fatal e não fatal, durante 9,2 anos de acompanhamento para mortalidade e 6,5 anos para outros desfechos cardiovasculares encontrando aumento significativo (62%) do risco de de DCV fatal e aumento moderado (27%) do risco de todas as DCV.

Zittermann et al. (2012), em metanálise de 14 coortes prospectivas, avaliando associações de concentração de vitamina D e risco relativo de mortalidade na população geral, encontraram um declínio não-linear na mortalidade total da população com o aumento das concentrações séricas da 25(OH)D, detectando redução em 31% do risco de mortalidade em pacientes com níveis de 25(OH)D de 50nmol/l em comparação com indivíduos com níveis de 27,5 nmol/L.

Em metanálise de 8 estudos de coorte prospectivos, realizada em 2014, com população de 26.018 indivíduos na faixa etária de 50-79 anos, de diferentes países europeus e dos EUA, com objetivo de avaliar concentrações séricas de hidroxivitamina D e mortalidade por todas as causas, por causas cardiovasculares e por câncer, encontrou-se que os níveis séricos mais baixos de 25 (OH) D foram associados com o aumento de todas as causas de mortalidade, como também de mortalidade cardiovascular, com uma associação curvilínea entre concentrações de 25 (OH) D e esses resultados (SCHÖTTKER et al., 2014).

Porém dados da revisão sistemática publicada por Bjelakovic et al. (2011), com intuito de analisar estudos que utilizaram suplementação de vitamina D, independentemente de qualquer dose, via de administração ou duração versus placebo, para prevenção de mortalidade, encontraram benefícios apenas em mulheres idosas, assim como apenas o calcidiol (vitamina D3) demonstrou redução de mortalidade, em detrimento do ergocalciferol (vitamina D2) e do alfacalcidiol e calcitriol. Esta revisão também ressaltou aumento do risco de nefrolitíase com a suplementação conjunta de D3 e cálcio e hipercalcemia com alfacalcidiol e calcitriol (BJELAKOVIC et al., 2011). Posteriormente, os mesmos autores publicaram recente revisão sistemática, aos moldes da revisão anterior, esta nova incluindo 56 estudos, com população na maioria de mulheres (77%) idosas, com mais de 70 anos, com a vitamina D administrada em média por 4,4 anos, encontrando qua a vitamina D3

reduziu mortalidade em todos os 56 estudos, e da mesma forma, a vitamina D2, alfacalcidiol e calcitriol não tiveram importância significativa na mortalidade (BJELAKOVIC et al., 2011).

Outra revisão sistemática de 2014 (LEBLANC et al., 2014) avaliando 11 estudos quanto ao efeito do tratamento com vitamina D3 sobre a mortalidade em populações deficientes de vitamina D, encontrou que a terapia com vitamina D3 (com ou sem cálcio) foi associada com a diminuição do risco de mortalidade versus placebo / nenhum tratamento.