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Diagnóstico e tratamento da metemoglobinemia

No documento Odontologia: temas relevantes (páginas 110-113)

Hemoglobinopatias Letícia Oliveira Saraiva

2 HEMOGLOBINAS ANORMAIS

2.1 ANEMIA HEMOLÍTICA

2.2.3 Diagnóstico e tratamento da metemoglobinemia

O diagnóstico muitas vezes é obtido através de exames laboratoriais, tendo em vista que, geralmente, a gasometria demonstra níveis de satura- ção de oxigênio normais, podendo, ocasionalmente, apresentar acidose metabólica severa.27 Laboratorialmente, a presença da hemoglobina M é

detectada através da mobilidade eletroforética. Pode-se, ainda, constatar a deficiência da enzima metemoglobina redutase através da análise sangüínea direta.

O tratamento específico visando a reverter o estado de oxidação da hemoglobina vai depender do quadro apresentado pelo paciente.20 Geral-

mente os portadores da variância hereditária que apresentam apenas a cianose como sintomatologia não necessitam de tratamento específico, porém devem ser acompanhados periodicamente.27

Para os indivíduos que adquiriram a metemoglobinemia através de agentes extrínsecos e que não possuem comprometimento do sistema respiratório mais grave, o tratamento específico consiste basicamente na utilização do azul-de-metileno (cloreto de metiltionina) através da aplica- ção endovenosa lenta na dosagem de 1 a 2mg/kg. O mecanismo de ação dessa droga relaciona-se com a redução da metemoglobina através da trans- ferência de elétrons do sistema NADPH- NADP+ via NADPH redutase,

convertendo o azul-de-metileno em azul-de-leucometileno. Dessa for- ma, o ferro no seu estado férrico é reduzido novamente ao seu estado ferroso, possibilitando o transporte normal de oxigênio.21 Critérios para

a indicação desse tipo de tratamento incluem níveis de metemoglobina acima de 30%-35% com sinais de hipoxemia.27

O azul-de-metileno no tratamento da metemoglobinemia deve ser empregado de forma criteriosa, pois essa droga, se utilizada em excesso, pode, ao contrário, desencadear a doença.25

Níveis mais baixos de metemoglobina, sem sintomas, devem ser, apenas, acompanhados, observando-se o decréscimo gradativo de hemoglobina oxidada em função do agente causador.21 Em casos extre-

mos, deve ser considerada a possibilidade de realizar oxigenoterapia e até transfusões sangüíneas.27

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ODONT OL OGIA: T emas relev antes v. 2 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das formas mutantes que a hemoglobina pode apresentar, torna-se de extrema importância o conhecimento da etiologia e das mani- festações clínicas das hemoglobinopatias para obtenção de um diagnósti- co precoce e preciso, no intuito de estabelecer a indicação de um trata- mento adequado, evitando-se a evolução da doença.

As formas hereditárias das hemoglobinopatias muitas vezes reque- rem apenas tratamentos conservadores baseados no acompanhamento ambulatorial do indivíduo. Porém, nas formas adquiridas dessas doenças, o conhecimento mais profundo do diagnóstico e da terapêutica torna-se imprescindível, visto que os agentes exógenos podem provocar uma sintomatologia grave, podendo levar o paciente ao óbito.

Nesse contexto, o cirurgião-dentista, em sua prática profissional, tem um papel importante na observação dos sinais orais e sistêmicos des- sas doenças, na prevenção de acidentes e complicações e, sobretudo, na sedimentação do conhecimento da composição e da farmacocinética dos anestésicos locais.

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