• Nenhum resultado encontrado

Dicas para professores iniciantes

O uso de filmes em sala de aula de língua estrangeira depende muito do objetivo que se tenha em mente e que habilidade se queira enfatizar. O filme pode ser utilizado no todo para discussão do seu tema e do seu conteúdo, ou determinados trechos poderão ser selecionados para mostra, com os seguintes objetivos:

a) Praticar a compreensão oral da língua estrangeira falada por diferentes falantes nativos;

b) Ilustrar determinado aspecto cultural e fomentar a discussão de determinado assunto, praticando a conversação;

c) Apresentar discussão de tópicos polêmicos e atuais que incrementem discussões em aulas de conversação;

d) Exemplificar diferenças de sotaques de falantes de diferentes nacionalidades;

e) Ilustrar determinadas expressões idiomáticas (regionais ou na- cionais);

f) Exemplificar o uso contextualizado de gírias por determinada faixa etária (principalmente em filmes para adolescentes); g) Comparar livros às suas adaptações cinematográficas;

h) Servir como tema para composições escritas de todos os níveis e de diversos graus de complexidade.

A seleção do filme deverá sempre levar em conta o objetivo didáti- co que o professor pretende desenvolver em sala e o tempo disponível, tanto para a mostra do todo ou de trechos do filme, quanto para a parte prática das habilidades (ouvir, ler, escrever, falar) a serem trabalhadas.

Imagens podem também ser mostradas sem o som para a prática das habilidades de ler, falar e escrever, onde a criatividade do professor e do aluno é estimulada.

Pode-se fazer uma série de “receitas” prontas para o uso de filmes em aula. Contudo, a eficácia da utilização dessas receitas sempre depen- derá da capacidade de cada profissional, de sua habilidade de distinguir o que é válido e apropriado ao seu próprio interesse e realidade. Portanto, aqui ficam apenas algumas sugestões de como esta fonte inesgotável de recursos didáticos pode ser explorada de maneira crítica e não apenas como um modo acrítico de se estudar a cultura de língua estrangeira. Cabe ao professor estabelecer esta ponte entre o exercício didático e a prática crítica, o desenvolvimento da habilidade de se ler ideologias por trás de filmes aparentemente inocentes.

Notas

1

“Estimate moral value: Good, bad, or without moral value. Does the wrong doer prosper? Is the way of the transgressor easy? Are the rascals held up for admiration? Are the virtues made sources of mirth?” (CZITROM, Daniel. Media and the American Mind, p. 54) 2

“Only along these lines – by raising the ideal of marriage, by education for parenthood, and by intervening to prevent degeneracy – can we cope with the demoralization which is sapping the foundations of the national wellbeing.” (KUHN, Annette. Cinema,

censorship and sexuality, 1909-1925, p. 97) 3

Tradução: Duas mulheres, uma branca e outra negra, estão toman- do ar nos degraus do edifício. A mulher branca é Eunice, que ocupa o apartamento de cima; a mulher negra é uma vizinha, pois Nova Orleans é uma cidade cosmopolita, e existe um relacionamento rela-

tivamente caloroso e descontraído de raças na parte velha da cidade. (WILLIAMS, 1976, cena i, p. 7)

4

Tradução: [...] Mas onde estava você? Na cama com o seu “pola- co”! (WILLIAMS, 1976, cena i, p. 30)

5

Tradução: [...] Lá com o seu “polaco”! 6

Tradução: Há milhares de papéis referentes a fatos de centenas de anos relacionados com Belle Rêve, à medida que, lote por lote, nossos imprevidentes avós, pais, tios e irmãos trocavam a terra por suas épi- cas fornicações, para falar mais claro! (Tira os óculos com um riso cansado.) E foram essas bacanais que nos despojaram da nossa fa- zenda, até que, tudo o que sobrou, e Stella pode confirmar isso, foi a casa [...] (WILLIAMS, 1976, cena ii, p. 56)

7

Tradução: “Nossos avós imprevidentes trocaram a terra por seus deboches épicos, para colocar de modo suave”.

8

Tradução: [...] Havia nele qualquer coisa muito estranha... Um ner- vosismo, uma doçura, uma delicadeza que não eram próprios de um homem – se bem que ele não tivesse nada de efeminado. Mas havia qualquer coisa... Ele me procurava em busca de ajuda. E eu não sabia disso. Não descobri nada, até depois do nosso casamento... Foi então, que eu percebi que o havia enganado de uma maneira misteriosa e que eu não lhe estava dando a ajuda de que ele necessitava, mas da qual não podia falar! Ele estava num atoleiro e agarrava-se a mim. Mas eu não o estava puxando para fora. Eu estava afundando com ele. E eu não sabia de nada. Exceto que eu o amava acima de todas as coisas. Foi então que eu descobri. E da pior maneira possível. Entrando, de repente, num quarto que julgava estar vazio, mas que não estava. Havia nele duas pessoas. O jovem com quem eu me casara e um senhor de mais idade que tinha sido amigo dele durante anos e anos seguidos [...] Mais tarde, fizemos de conta que nada disso tinha acontecido. Fomos os três juntos ao cassino Moon Lake, bêbados, rindo e cantando o tempo todo. [...] Dançamos a varsoviana ... De repente, no meio da dança, o jovem com quem eu tinha me casado afastou-se de mim e saiu correndo pelo salão. Poucos momentos depois, ouviu-se um tiro. [...] Saí correndo. Todos saíram correndo e aglomera- ram-se em torno daquela coisa horrível, à beira do lago. Eu não podia ver nada, pois havia tanta, tanta gente! Foi então que alguém me tomou pelo braço e disse: –Volte, volte. Não vai querer ver, vai? – Ver? Ver o quê? Então ouvi vozes que diziam: – Allan, Allan, Allan! Oh! Allan!!!

Ele tinha metido o revólver na boca e atirado e a parte de trás de sua cabeça tinha voado pelos ares! [...] Tudo porque, meu Deus, durante a dança, incapaz de conter-me eu lhe havia dito: – Eu vi, Allan, eu sei tudo. Você me repugna. Desde então, a luz que vinha iluminando a minha vida apagou-se de repente. E nunca mais houve outra luz em minha vida que fosse mais forte que esta pobre luz de vela... (WILLIAMS, 1976, cena. ii, p. 137-138)

9

Tradução: Blanche: – [...] Havia alguma coisa com ele, um nervosismo, uma doçura, uma incerteza que eu não entendia. Eu não entendia porque este rapaz escrevia poesia. Parecia não ser capaz de fazer mais nada. Perdia todos os empregos. Ele veio até mim buscando ajuda. E eu não sabia disso. Eu não sabia nada, exceto que o amava infi- nitamente. Naquela noite eu fingi que dormia e o ouvi chorar, chorar, chorar, do modo que uma criança perdida chora

Mitch: – Eu não estou entendendo...

Blanche: – Não, nem eu entendi. Eu o matei ... Mitch: – Você?!

Blanche: Numa noite fomos de carro a um lugar chamado Cassino Moon Lake. Dançamos a Varsoviana. De repente, no meio da dança, o rapaz com quem eu havia me casado se afastou de mim e saiu correndo do cassino. Poucos minutos depois – um tiro. Saí correndo. Todos saíram correndo e aglomeraram-se em torno daquela coisa hor- rível, à beira do lago. Ele tinha metido o revólver na boca e atirado. Tudo porque na pista de dança, incapaz de conter-me eu lhe havia dito: – Você é fraco, perdi o respeito por você, eu te des- prezo. E então, a luz que vinha iluminando o mundo apagou-se ou- tra vez e desde então nunca mais houve por um momento sequer outra luz que fosse mais forte do que esta – lanterna amarela. (KAZAN, Elia (dir.). A Streetcar Named Desire (Uma rua chamada pecado). Com Marlon Brando, Vivien Leigh, Kim Hunter e Karl Malden. Estados Unidos, 1951. 122min).

10

KENNEDY, J. F. Preliminary formulations of the Alliance For Progress’ Address by President Kennedy at a White House Reception for Latin American Diplomats and Members of Congress, March 13, 1961. The Department of State Bulletin, XLIV, n. 1136 (April 3, 1961), p. 471-474.

Referências

AMÍCOLA, José. Manuel Puig y la tela que atrapa al lector. Buenos Aires: Grupo Editor Latino-americano, 1992.

COOK, David. A history of narrative film. New York: W. W. Norton & Company, 1990.

CRUZ, Décio Torres. “Postmodern metanarratives: literature in the age of image; Scott’s Blade Runner and Puig’s Novels”. Ph. D. thesis. Buffalo, State University of New York, 1997.

CZITROM, Daniel J. Media and the american mind. Chapel Hill: University of North Caroline Press, 1982.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Trad. Ivone Castilho Benedetti. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2001.

KENNEDY, J. F. Preliminary formulations of the Alliance For Progress’ Address by President Kennedy at a White House Reception for Latin American Diplomats and Members of Congress, march 13, 1961. The Department of State Bulletin, XLIV, n. 1136 (april 3, 1961), p. 471-474. MALTIN, Leonard. Leonard Maltin’s 2000 movie and video guide. New York: Signet Books/New American Library, 2000.

MOLES, Abraham. O kitsch: a arte da felicidade. São Paulo: Perspecti- va, Coleção Debates, 1986.

WILLIAMS, Tennessee. A streetcar named desire and other plays. Ed. E. Martin Browne. New York: Penguin Books, 1977.

WILLIAMS, Tennessee. Um bonde chamado desejo. Trad. Brutus Pe- dreira. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

Filmografia

COPPOLA, Francis Ford (dir.). Apocalypse now. Com Marlon Brando, Robert Duvall e outros. Estados Unidos, 1979. 153m.

COSMATOS, George P. (dir.) Rambo: first blood, part II. Com Syvester Stallone, Richard Crenna e outros. Estados Unidos, 1985. 95m. DAVIS, Peter (dir.). Hearts and minds (Corações e mentes). Documentário. Estados Unidos, 1974. 110m.

FERRARA, Abel (dir.). Body snatchers (Invasão de corpos). Com Gabrielle Anwar, Meg Tilly e outros. Estados Unidos, 1993.

FURLE, Sidney (dir.). Iron eagle (Águia de aço). Com Louis Gosset Jr., Jason Gedrick e outros. Estados Unidos, 1986. 117min.

FURLE, Sidney (dir.). Iron eagle II (Águia de aço II). Com Louis Gosset Jr., Mark Humphrey e outros. Canadá, 1988. 105min.

GOODWINS, Leslie. Mexican spitfire. Com Lupe Vellez, Leon Errol e outros. Estados Unidos, 1939. 67v.

HASKIN, Byron (dir.). The war of the worlds (A guerra dos mundos). Com Gene Barry, Les Tremayne, Ann Robinson e outros. Estados Uni- dos, 1953. 85min.

KAZAN, Elia (dir.). A streetcar named desire (Uma rua chamada peca- do). Com Marlon Brando, Vivien Leigh, Kim Hunter e Karl Malden. Estados Unidos, 1951. 122min.

MACDONALD, Peter (dir.). Rambo III. Com Sylvester Stallone, Richard Crenna e outros. Estados Unidos, 1988. 102min.

MILIUS, John (dir.). Red dawn (Amanhecer sangrento). Com Thomas Howell, Lea Thompson e Charlie Sheen. Estados Unidos, 1984. 114min.

SCOTT, Tony (dir.). Top gun (Ases indomáveis). Com Tom Cruise, Kelly McGillis e outros. Estados Unidos, 1986. 110min.

TOP Guns: The real story. Documentário sobre a base naval america- na “Fightertown” para treinamentos de pilotos, que inclui um vôo sobre a Líbia como “dever de formatura”. Estados Unidos, s/d. 68min. WISE, Robert (dir.). The body snatcher (O invasor de corpos). Com Boris Karloff, Bela Lugosi e outros. Estados Unidos, 1945. 77min.

Luciano Rodrigues Lima

O uso de

canções no ensino de inglês como