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Capítulo I – Introdução

Capítulo 5 – Análise e Discussão de Resultados

5.2 Competências docentes para o século XXI

5.2.2. Dimensão Profissional

Estruturando a análise da dimensão Profissional, à semelhança do realizado na dimensão Pedagógica, através da sinalização das competências referidas pelos docentes e pelos stakeholders, inicia-se este capítulo pela identificação dos dados obtidos na escala aplicada aos professores.

Neste instrumento, o domínio Profissional é composto por 20 itens, dos quais sete obtiveram valores médios iguais ou superiores a 3,5, sendo que estes valores

diferiram de forma mais acentuada do que no domínio Pedagógico, tendo-se obtido uma maior discrepância de valores nas diferentes competências. De forma global, o valor médio desta dimensão situou-se nos 3,386 (com um desvio-padrão de 0,335), valor

próximo do ponto 3 (Importante), que representa um grau de favorabilidade em relação à importância significativo.

Figura 12: Valores Médios da Dimensão Profissional na escala de perceção de competências

docentes para o século XXI

Ao observarmos o gráfico anterior verifica-se que as competências assinaladas como mais significativas para os professores são “Refletir sobre as próprias práticas docentes”, com um valor médio de 3,76 (e respetivo desvio-padrão de 0,458) e “Ter autonomia no domínio profissional” (média de 3,72 e desvio-padrão de 0,468). Ambas estas questões encontram-se com valores próximos do ponto quarto da escala, referente a Muito Importante. Realça-se igualmente a questão 40 “Procurar atualização de conhecimento didático-pedagógico” e a 55 “Gerir e ser autónomo no desenvolvimento do próprio percurso de desenvolvimento profissional”, ambas com uma média de 3,66 (desvio-padrão de 0,496 e 0,543, respetivamente), relacionadas com os aspetos relativos com o desenvolvimento profissional e a sua perceção deste. Por outro lado, a

competência “Participar em atividades de gestão e administração da escola” (com um valor médio de 2,73 e desvio-padrão 0,722) apresentou os valores mais baixos desta dimensão e da escala na sua globalidade. Realça-se na mesma medida as competências

1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 Q2 Q7 Q9 Q12 Q13 Q17 Q19 Q20 Q21 Q30 Q40 Q41 Q45 Q47 Q48 Q51 Q53 Q55 Q56 Q59 3,44 3,76 3,41 3,37 3,72 3,213,35 3,33 3,46 3,07 3,66 3,05 2,73 3,33 3,27 3,36 3,41 3,50 3,62 3,66

“Refletir criticamente sobre economia global e respetivas consequências para a educação” (média 3,05 e desvio-padrão de 0,636) e “Gerir equipas” (valor médio de 3,07 e desvio-padrão de 0,634), sendo estas três competências relacionadas com questões de foro extrínseco ao docente.

Assim, para o domínio Profissional registaram-se como significativas para os professores as sete competências identificadas na tabela seguinte.

Tabela 18: Competências docentes para o século XXI assinaladas (Domínio

Profissional) Identificação

item na escala

Competências

Q7 Refletir sobre as próprias práticas docentes

Q13 Ter autonomia no domínio profissional

Q21 Autorregular-se no processo ensino-aprendizagem

Q40 Procurar atualização de conhecimento didático-pedagógico

Q55 Gerir e ser autónomo no desenvolvimento do próprio percurso de desenvolvimento profissional

Q56 Refletir sobre as suas práticas pedagógicas

Q59 Reconhecer a dimensão cívica e formativa das suas funções enquanto professor

A partir das competências que emergem dos dados obtidos junto dos professores identificam-se duas tendências na dimensão profissional, uma ligada aos processos autorreflexivos dos docentes – onde se insere a autorregulação, a reflexão sobre as práticas docentes e pedagógicas – e outra relativa à gestão do próprio desenvolvimento profissional, operacionalizando-se através da procura de atualização de conhecimento didático-pedagógico e da autonomia sobre esses mesmos processos.

Esta dupla preocupação demonstrada pelos docentes é congruente com dados obtidos quer por investigações anteriores, quer em relatórios internacionais sobre a

docência. Leitão e Alarcão (2006) referem, neste sentido, a necessidade de construção por parte dos professores da capacidade de mobilização de diferentes reportórios usados no desempenho das funções docentes, assente na dimensão de reflexão e “apontando para uma competência metacognitiva indutora de transformabilidade que apela

constantemente à (re)conceptualização do acto pedagógico” (p.67). Já Conceição e Silva (2012) obtiveram resultados junto dos 179 professores questionados que indicaram que os docentes entendiam como fundamental a administração da sua própria formação contínua, procurando desse modo atualizar os recursos cognitivos e as metodologias de trabalho necessários ao desempenho da docência.

À semelhança do realizado anteriormente, e tendo como base de análise as competências elencadas e apresentadas no instrumento aplicado aos professores, os dados obtidos junto das entrevistas realizadas aos cinco stakeholders permitem antever que o domínio profissional foi estruturado em torno de 20 competências relativas a funções desempenhadas pelos professores na sua prática, resultando numa análise de frequências representada pela seguinte tabela:

Tabela 19: Presença das competências docentes para o século XXI

Competências Stakeholders

IES AP MEC SP ESE

Participar em projetos de escola

Refletir sobre as próprias práticas docentes

Lidar com situações relacionadas com a gestão de

riscos na relação educativa

Procurar situações e contextos informais de

aprendizagem e de desenvolvimento profissional

Ter autonomia no domínio profissional

Participar em comunidades que potenciem a

reflexão e o desenvolvimento profissional

Criar e gerir projetos que potenciem a colaboração e tornem acessíveis trocas de conhecimento e de experiências entre docentes

Refletir sobre o próprio pensamento (processos

metacognitivos)

Autorregular-se no processo ensino-aprendizagem

Gerir equipas

Procurar atualização de conhecimento didático-

pedagógico

Refletir criticamente sobre economia global e

respetivas consequências para a educação

Participar em atividades de gestão e administração

da escola

Participar em ações de formação contínua

Refletir sobre aspetos éticos e deontológicos

inerentes à profissão docente

Elaborar estratégias de partilha de recursos

Integrar conhecimentos multidisciplinares na

prática profissional

Gerir e ser autónomo no desenvolvimento do

próprio percurso de desenvolvimento profissional

Refletir sobre as suas práticas pedagógicas

Reconhecer a dimensão cívica e formativa das

suas funções enquanto professor

Nesta dimensão, das 20 competências analisadas os entrevistados referem seis como essenciais no processo de desenvolvimento profissional docente (assume-se novamente como critério de indicação a referência de três ou mais stakeholders). Quatro dos pontos considerados como fundamentais tiveram a concordância dos cinco

participantes: “Refletir sobre o próprio pensamento (processos metacognitivos) ”, “Procurar atualização de conhecimento didático-pedagógico”, “Participar em ações de formação contínua” e “Refletir sobre as suas práticas pedagógicas”, sendo que todos estes itens se relacionam com aspetos relativos a fatores internos ao professor e à sua perceção de desenvolvimento profissional como um processo contínuo. No mesmo sentido das características internas ao sujeito, embora com menor incidência, já que a competência em questão foi referida por três dos cinco participantes (Associação de Pais, Sindicato de Professores e Escola Superior de Educação), encontra-se a reflexão sobre as próprias práticas docentes. Igualmente com três referências salienta-se ainda a necessidade de “Ter autonomia no domínio profissional”, destacada pelos

representantes da Associação de Pais, do Ministério da Educação e Ciência e da Escola Superior de Educação.

À semelhança do ocorrido na dimensão pedagógica, diferentes competências não foram salientadas por nenhum dos entrevistados. Este facto pode ser justificado pela opção da não enumeração das competências por parte da entrevistadora, aquando do questionamento aos stakeholoders, de forma a não potenciar enviesamentos nas respostas dadas nas entrevistas. Salienta-se, contudo, e atendendo ao carácter das respostas dadas que as competências não enunciadas se relacionam com os fatores externos ao desenvolvimento profissional do professor.

A análise dos dados provenientes do campo empírico considerado salienta assim que quer os professores respondentes, quer os stakeholders entrevistados consideram duas áreas de desenvolvimento de competências para o século XXI:

i. a primeira referente aos processos metacognitivos dos professores, considerando a autorregulação das suas práticas docentes, pedagógicas e metodológicas, dum ponto de vista pessoal, mas considerando-se como parte integrante dum sistema educativo e social mais vasto;

ii. uma segunda relativa à gestão que o professor deve realizar sobre o seu desenvolvimento profissional, de forma a contribuir para práticas pedagógicas mais estruturadas e para uma autonomia sobre a sua formação que contribua para uma maior

consciencialização do seu desenvolvimento enquanto profissional.

Esta dupla preocupação, demonstrada pelos dados obtidos junto do campo empírico, funciona de forma estrutural ao desenvolvimento docente já que se considera o professor como o centro do seu próprio desenvolvimento, capaz de exercer a sua profissão de acordo com as suas várias experiências pessoais e profissionais. Neste sentido, Kobalia e Garakanidze (2010) referem a necessidade do professor desenvolver o seu autoconceito, de forma a ser capaz de refletir sobre si mesmo e sobre as suas práticas, potenciando deste modo o seu desenvolvimento profissional.

Do mesmo modo, Perrenoud (2001) salienta como uma das 10 competências a desenvolver por parte dos professores “a administração da própria formação contínua”, já que esta ideia influencia as restantes competências consideradas. Ao entender o desenvolvimento profissional como um processo contínuo, não sendo assim nenhuma

competência adquirida estanque, torna-se fundamental que através de processos

metacognitivos o professor seja capaz de atualizar e adaptar os seus conhecimentos face às suas necessidades, desenvolvendo simultaneamente novas competências. Deste modo, “saber analisar e explicitar a sua prática permite o exercício de uma lucidez profissional que jamais é total e definitiva” (p.161). Igualmente na linha teórica de Perrenoud, os dados obtidos por Mesquita em 2010 – numa investigação com futuros professores de Educação Visual do Ensino Básico sobre a sua perceção de quais as competências necessárias a um bom exercício da docência – mostraram um enfoque, por um lado, nos aspetos relativos à autorregulação do processo ensino-aprendizagem e, por outro, na necessidade de autonomia sobre a sua formação, permitindo um

desenvolvimento consciente, permanente e ajustado às exigências do docente. Efetivamente, os dados obtidos junto dos docentes e dos stakeholders são demonstrativos da necessidade de desenvolvimento de competências para o século XXI de âmbito reflexivo e metacognitivo na dimensão profissional. O reconhecimento destes domínios como essenciais à profissão professor estabelece o docente como ator do seu próprio desenvolvimento, sendo este capaz de incorporar as suas várias experiências (pessoais, pedagógicas, metodológicas, didáticas, formativas e profissionais) como elementos estruturantes à sua prática.