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Dimensão Relações Interpessoais e Institucionais

Capítulo I – Introdução

Capítulo 5 – Análise e Discussão de Resultados

5.2 Competências docentes para o século XXI

5.2.4. Dimensão Relações Interpessoais e Institucionais

O último domínio em análise prende-se com as Relações interpessoais e institucionais, onde se procurou percecionar a importância de competências

relacionadas com (i) interações pessoais e profissionais desenvolvidas entre professores e entre estes e os órgãos de gestão escolar e restante comunidade escolar, (ii) aspetos relativos à organização do meio escolar e (iii) gestão das relações entre o docente e os encarregados de educação, funcionários escolares ou entre pares.

Do mesmo modo que nas três dimensões anteriores, a análise do papel

desempenhado por estas competências no desenvolvimento do professor para o século XXI assentou em dados provenientes da aplicação da escala de perceção de

competências aplicada aos docentes e das entrevistas realizadas aos decisores políticos e educativos.

Analisando primeiramente o instrumento aplicado aos professores, obteve-se nesta dimensão um valor médio de 3,380 com um desvio-padrão de 0,360, valor mais baixo das quatro dimensões consideradas. Composta por 11 itens, cinco registaram valores iguais ou superiores a 3,5, tendo um dos itens um valor perto dos 4 pontos, referente a Muito Importante.

Figura 14: Valores Médios da Dimensão Relações Interpessoais e Institucionais

Ao observar-se o gráfico anterior é possível verificar que a competência “Atuar de forma socialmente responsável” regista um valor médio expressivo de 3,83 (com um desvio-padrão de 0,399), encontrando-se assim próxima do valor máximo da escala (valor 4 relativo a Muito Importante). Consideram-se ainda como significativas as competências “Perspetivar o trabalho com pares como fator de enriquecimento da profissão”, “Colaborar com todos os intervenientes no processo educativo, favorecendo o desenvolvimento de relações entre os vários agentes educativos” e “Colaborar e cooperar com a comunidade escolar” que obtiveram valores médios assinaláveis, superiores a 3,5, valor definido como padrão de muita importância (3,55 de média e desvio-padrão de 0,545, média de 3,5 e desvio-padrão de 0,549 e valor médio de 3,5 e 0,538 de desvio-padrão respetivamente). Contudo, as competências “Participar em projetos nacionais e internacionais” e “Promover o envolvimento dos encarregados de educação na estrutura da escola” registaram os valores médios mais baixos nesta dimensão. 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 Q6 Q8 Q11 Q18 Q28 Q31 Q34 Q36 Q43 Q50 Q52 3,83 3,55 3,34 3,50 3,30 3,46 2,99 3,50 3,29 3,23 3,22

Relativamente a este domínio foram assinaladas pelos 2688 professores

participantes na investigação cinco competências significativas para o desenvolvimento da sua profissão nos próximos cinco anos.

Tabela 22: Competências docentes para o século XXI assinaladas (Domínio Relações

Interpessoais e Institucionais) Identificação

item na escala

Competências

Q6 Atuar de forma socialmente responsável

Q8 Perspetivar o trabalho com pares como fator de enriquecimento da profissão

Q18 Colaborar com todos os intervenientes no processo educativo, favorecendo o desenvolvimento de relações entre os vários agentes educativos

Q31 Identificar e respeitar as diferenças culturais dos alunos e restante comunidade

Q36 Colaborar e cooperar com a comunidade escolar

Analisando a tabela anterior realça-se (i) o facto de duas das competências identificadas se referirem a aspetos éticos e culturais relativos à articulação do professor com a comunidade envolvente e (ii) três das competências estarem relacionadas com o trabalho cooperativo dos docentes e com a interação destes enquanto agentes da comunidade educativa envolvente.

As transformações ocorridas na sociedade, por um lado, e o desenvolvimento crescente das tecnologias de informação e comunicação (TIC), por outro, têm

contribuído para uma nova visão da docência e das competências que a constituem. Neste sentido, competências ligadas à cooperação profissional, ao trabalho em equipa e com as entidades educativas, ao envolvimento com os encarregados de educação e às preocupações éticas e sociais são primordiais na função de se ser professor.

Nesta linha, Perrenoud (2001) na sua abordagem teórica relativa às dez novas competências para ensinar foca quatro ligadas às relações interpessoais e institucionais: trabalhar em equipa (a emergência de novos papeis para o professor exige formas de cooperação com os colegas, onde se partilhem recursos, ideias ou práticas); participar na administração da escola (a participação do professor na estrutura da escola possibilitará o desenvolvimento de competências especificas relacionadas com a elaboração e negociação de um projeto escola, a administração dos recursos desta ou com a sua coordenação); informar e envolver os pais (o diálogo com os encarregados de educação é fundamental para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem, sendo que

simultaneamente possibilita ao professor desenvolver competências especificas ligadas à interação, ao diálogo e ao envolvimento); e enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. O autor defende que a partir destas quatro competências o professor será capaz de se desenvolver adequadamente, respondendo às necessidades apresentadas no processo pedagógico.

Os dados encontrados junto dos docentes na presente investigação vão assim de encontro aos apresentados por Conceição e Sousa (2012) que mostram, num estudo com 179 professores sobre as competências necessárias ao desempenho da profissão docente, que os itens ligados a este domínio foram considerados os menos importantes,

mostrando que ainda não existe um efetivo envolvimento dos professores com os seus pares e com a estrutura educativa da sua escola.

Torna-se igualmente necessário cruzar estes dados com os obtidos junto dos stakeholders. Deste modo, nesta dimensão estruturaram-se dez competências relacionadas com a organização do meio escolar e/ou a gestão das relações entre o docente e os encarregados de educação, funcionários escolares ou entre pares. Após a

análise de conteúdo efetuada às entrevistas dos cinco participantes obteve-se a tabela de frequências seguinte:

Tabela 23: Presença das competências docentes para o século XXI

Competências

Stakeholders

IES AP MEC SP ESE

Atuar de forma socialmente responsável

Perspetivar o trabalho com pares como fator de

enriquecimento da profissão

Compreender as tendências dos valores e crenças do

mundo social

Colaborar com todos os intervenientes no processo educativo, favorecendo o desenvolvimento de relações entre os vários agentes educativos

Desenvolver a dimensão relacional e de

comunicação entre pares e restante comunidade

Identificar e respeitar as diferenças culturais dos

alunos e restante comunidade

Colaborar e cooperar com a comunidade escolar

Envolver-se na promoção da integração dos pais no

processo ensino-aprendizagem

Compreender o sistema de valores e crenças

característicos da comunidade

Promover o envolvimento dos encarregados de

educação na estrutura da escola

 Indicação de referência por parte dos stakeholders

Esta última dimensão obteve o menor número de referências por parte dos stakeholders aquando do questionamento relativo a que competências consideravam necessárias o professor do ensino básico desenvolver no século XXI. Associando-se ao desenvolvimento profissional docente apenas o item “Perspetivar o trabalho com pares como fator de enriquecimento da profissão” foi referido pela totalidade dos decisores educativos.

Prendendo-se este domínio com as relações interpessoais e institucionais onde se compreendem os fatores associados às interações pessoais e profissionais desenvolvidas entre professores e entre estes e os órgãos de gestão escolar e restante comunidade escolar, os resultados obtidos para esta dimensão encontram-se em consonância com o perfil de desempenho do professor do ensino básico (Decreto-Lei 240/2001).

Na mesma linha, Pedro et al. (2011) referem, a propósito do desenvolvimento de um framework sobre competências técnico-pedagógicas para a sala de aula do futuro, a necessidade de considerar “local and global societal issues and responsibilities in an evolving digital culture and exhibit safe, legal and ethical behaviour” (p. 15) nas

práticas docentes, procurando assim desenvolver um conjunto de competências relativas com a cidadania, a identidade digital, a responsabilidade social e a consciência ética.

Sintetizando, os valores encontrados em relação à escala de competências docentes para o século XXI relativamente aos 2688 professores salientam valores médios favoráveis no que concerne às competências indicadas, estando os valores mais reduzidos associados a competências relativas a aspetos de ordem externa ao professor, como a articulação deste com a gestão da escola ou com outros intervenientes ao processo educativo. Por outro lado, as competências relativas à prática pedagógica do docente apresentam médias elevadas, próximas do valor máximo, referente a quatro pontos na escala - Muito Importante.

Estes resultados verificam-se igualmente aquando da análise dos dados descritivos das dimensões, onde é possível percecionar a dimensão pedagógica da docência como fator de relevo para a carreira de professor.

Os resultados vão assim de encontro aos resultantes de diferentes estudos que têm focado que, apesar da necessidade de se considerar a multidimensionalidade da docência como fator fundamental desta profissão permitindo uma conceção desta como

profissão complexa, os professores continuam a privilegiar as competências pedagógicas como elemento estruturante no ser-se professor.

Já os resultados provenientes da análise de conteúdo às entrevistas realizadas mostram que a multidimensionalidade da docência é considerada de forma mais evidente e estruturada, havendo um equilíbrio entre domínios no que concerne ao número de competências indicadas, com exceção da dimensão relações interpessoais e institucionais (pouco considerada pelos stakeholders).

O cruzamento dos resultados obtidos no movimento de triangulação entre os dados provenientes dos docentes e dos decisores políticos e educativos, resultou no referencial de competências para o século XXI do professor do Ensino Básico

apresentado no capítulo seguinte e que é formado por um conjunto de 37 competências, organizadas pelas quatro dimensões (DPd – 14; DP – 12; DT – 6; DR – 5).