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Capítulo I – Introdução

Capítulo 5 – Análise e Discussão de Resultados

5.2 Competências docentes para o século XXI

5.2.3. Dimensão Tecnológica

Entendendo a docência como multidimensional, debruçamo-nos agora sobre a dimensão Tecnológica (elemento central a esta investigação devido ao papel

escola) onde se consideraram as competências ligadas (i) ao conhecimento sobre novos modelos de aprendizagem e consequente integração das tecnologias nestes e (ii) ao nível de proficiência no uso das tecnologias por parte do professor. À semelhança das

dimensões anteriores, os resultados assentam na análise da escala de perceção aplicada aos professores e na análise de conteúdo realizada às entrevistas efetuadas junto dos stakeholders.

Deste modo, no que concerne à escala de perceção, no domínio Tecnológico o valor médio registado situou-se nos 3,347, com um desvio-padrão de 0,384, valor situado próximo do ponto três da escala de importância, relativo ao grau Importante, sendo que, das 11 competências que compunham esta dimensão, três foram assinaladas com valores médios iguais ou superiores a 3,5.

Figura 13: Valores Médios da Dimensão Tecnológica na Escala de perceção de competências

docentes para o século XXI

Debruçando-nos de forma mais detalhada nos dados descritos no gráfico anterior constata-se que é a competência “Potenciar a escola como espaço de enriquecimento e inovação suportado pela utilização das tecnologias” que é assinalada como mais

importante no domínio Tecnológico (valor médio de 3,55 e desvio-padrão de 0,525). No 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 Q1 Q3 Q4 Q24 Q32 Q33 Q35 Q37 Q39 Q44 Q49 3,55 3,46 3,54 3,19 3,37 3,25 3,24 3,24 3,21 3,43 3,35

entanto a questão “Ser proficiente na utilização de ferramentas digitais e de aplicações online” obteve igualmente valores médios elevados (3,54 e desvio-padrão de 0,525). Contudo, estes valores apesar de serem superiores a 3,5 encontram-se muito próximos do mesmo. No eixo contrário, as competências “Utilizar as tecnologias como forma de comunicação com pais, alunos e outros agentes educativos” e “Utilizar as tecnologias digitais como ferramenta para desenvolver pensamento crítico dos alunos” registam os valores mais baixos desta dimensão. Realça-se que ambas as competências se

relacionam com fatores externos ao professor.

Neste domínio verificaram-se três competências significativas para os professores.

Tabela 20: Competências docentes para o século XXI assinaladas (Domínio Tecnológico)

Identificação item na

escala

Competências

Q1 Potenciar a escola como espaço de enriquecimento e inovação suportado pela utilização das tecnologias

Q3 Possuir conhecimentos técnicos específicos para trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais

Q4 Ser proficiente na utilização de ferramentas digitais e de aplicações online

Analisando os dados obtidos junto dos professores participantes subentende-se a resistência que estes ainda demonstram na utilização das tecnologias nas suas práticas letivas. Competências relacionadas com o contributo das tecnologias no processo ensino-aprendizagem ou com o reconhecimento destas como contributo para o

desenvolvimento de pensamento critico junto dos alunos não foram consideradas como fundamentais ao desenvolvimento da prática docente. Estes resultados encontram-se em consonância com os apresentados por Brás, Miranda e Marôco (2014) que salientam

que, apesar do imenso desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, os professores ainda apresentam resistências à alteração das suas práticas letivas. No mesmo sentido, Paiva (2002) e Fernandes (2006) referem que a utilização das tecnologias por parte dos professores incide na preparação de aulas, colocando para segundo plano o uso das TIC na interação direta com os alunos. Do mesmo modo, Piedade em 2010 refere que a utilização das tecnologias recai sobre a preparação das atividades letivas, na elaboração de materiais didáticos, textos e documentos de suporte às atividades planeadas com os alunos. Rodriguez, Almerich, Gargallo & Aliaga (2010) referem igualmente que os professores demonstram carências a nível do desenvolvimento de competências na área das tecnologias, focando-se de forma mais sistemática na integração das TIC no plano pessoal e profissional, relativos à organização e gestão de tarefas, na planificação de aulas e na produção de materiais.

Estes dados tornam-se preocupantes na medida em que a investigação mostra que experiências letivas inovadoras e eficazes ocorrem quando os docentes são capazes de desenvolver e estruturar nas suas práticas de ensino as tecnologias (Daly, Pachler & Pelletier, 2009), considerando-se deste modo que o desenvolvimento de competências TIC de âmbito pedagógico e tecnológico é fulcral ao suporte do processo de ensino- aprendizagem (Balanskat, 2010).

De forma a complementar os dados obtidos junto dos professores, e obedecendo aos princípios definidos pela metodologia mista norteadora desta investigação,

apresentam-se igualmente os resultados obtidos através da realização de entrevistas aos stakeholders.

Neste campo definiram-se 11 competências técnico-pedagógicas relacionadas com a utilização de tecnologias e de ferramentas de comunicação em contexto educativo

que após a análise de conteúdo efetuada resultaram nas frequências representadas de seguida:

Tabela 21: Presença das competências docentes para o século XXI

Competências

Stakeholders

IES AP MEC SSP EESE

Potenciar a escola como espaço de enriquecimento e

inovação suportado pela utilização das tecnologias

Possuir conhecimentos técnicos específicos para trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais

Ser proficiente na utilização de ferramentas digitais e

de aplicações online

Utilizar as tecnologias como forma de comunicação

com pais, alunos e outros agentes educativos

Reconhecer a tecnologia como presente nas práticas

dos alunos

Aplicar ferramentas digitais e de aplicações online

no processo ensino-aprendizagem

Conhecer e explorar modelos de utilização de

tecnologias

Refletir sobre os contributos da utilização das

tecnologias no processo ensino-aprendizagem

Utilizar as tecnologias digitais como ferramenta para

desenvolver pensamento crítico dos alunos

Ter consciência legal e ética na utilização de

tecnologias

Utilizar intencionalmente as tecnologias nas práticas

letivas e não letivas

 Indicação de referência por parte dos stakeholders

Analisando os dados anteriores é possível verificar que a dimensão tecnológica revelou uma maior discrepância nas respostas dadas pelos stakeholders, sendo que apenas numa questão houve ausência de registo “Ter consciência legal e ética na utilização de tecnologias”.

No polo oposto encontra-se a competência ligada diretamente ao domínio técnico da utilização das tecnologias “Ser proficiente na utilização de ferramentas digitais e de aplicações online” que registou a concordância de todos os participantes na entrevista. Por outro lado com quatro incidências, não tendo sido referido pelo

representante dos pais encontra-se a afirmação “Utilizar intencionalmente as tecnologias nas práticas letivas e não letivas”, que se associa, por um lado, a fatores de ordem pedagógica e, por outro, aos processos reflexivos de ordem interna de cada professor. Igualmente ligadas aos fatores pedagógicos são enunciadas por três vezes quatro competências: “Potenciar a escola como espaço de enriquecimento e inovação suportado pela utilização das tecnologias ”; “Reconhecer a tecnologia como presente nas práticas dos alunos”; “Aplicar ferramentas digitais e de aplicações online no

processo ensino-aprendizagem” e “Utilizar as tecnologias digitais como ferramenta para desenvolver pensamento crítico dos alunos”.

Na análise de frequências resultante da análise de conteúdo às entrevistas realizadas constata-se ainda que os aspetos relacionados com a utilização das

tecnologias para colaborar com outras estruturas educativas foram considerados apenas por um dos entrevistados – sindicato dos professores.

Considerando os resultados obtidos por ambos os grupos de participantes desta investigação obtemos um conjunto de competências tecnológicas que abarcam domínios técnicos, pedagógicos, éticos e sociais. Esta multiplicidade de áreas na dimensão

tecnológica é destacada por diversos autores (Peralta & Costa, 2007; Coutinho, 2008; Coutinho, 2011; Koehler & Mishra, 2009; Koehler, Mishra & Cain, 2013; Pedro et al., 2011; Rodriguez et al., 2010; Rodriguez et al., 2013) que sustentam a necessidade de construção de diferentes saberes, de forma a que haja uma integração efetiva das tecnologias no processo ensino-aprendizagem, não dividindo assim o desenvolvimento

de competências TIC em duas perspetivas distantes e indissociáveis (competências técnicas e competências pedagógicas), mas sim encarando este processo como um movimento integrador entre as duas dimensões.