Capítulo I – Introdução
Capítulo 4 – Metodologia
4.2 Apresentação dos Instrumentos
4.2.2 Guião de entrevista
Relativamente à opção metodológica pela entrevista, esta foi assumida devido ao carácter misto desta investigação. Atendendo à necessidade de dualidade na recolha de dados, isto é, a professores e a stakeholders, entendeu-se as entrevistas como método apropriado para aproximação entre investigador e participantes, procurando envolver estes últimos na recolha de dados de forma consistente e propositada. Deste modo, optou-se pela possibilidade de, através da entrevista, se aprofundar uma determinada temática junto dos participantes da investigação, permitindo que estes tenham espaço e liberdade para desenvolver as suas respostas, explorando simultaneamente os diversos aspetos que considerem relevantes (Quivy & Campenhold, 2008). A entrevista permite
assim aceder às representações dos sujeitos relativamente às questões em análise, mais concretamente no que concerne o problema de investigação definido, possibilitando em simultâneo explorar e esclarecer as posições e opiniões dos entrevistados (Estrela, 1990). Isto vai de encontro a autores como Bogdan e Biklen (1994) que mencionam por exemplo que a “entrevista é usada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (p.134).
Ao recorrer à entrevista como forma de recolha de dados junto de stakeholders, tendo por base a necessidade de perceção de conceções aprofundadas sobre o que se constitui como um professor profissionalmente competente no séc. XXI e das
competências que estes necessitam (atual e futuramente), procurou-se primeiramente obter um quadro conceptual a partir do qual se pudesse enquadrar as opiniões
formuladas (Clandinin & Connelly, 2000).
Embora se tenha justificado a opção pela utilização da entrevista anteriormente, não deixa de ser necessário realçar que este método levanta igualmente algumas
preocupações a nível de validade, nomeadamente no que se refere a possíveis assimetrias entre o entrevistador e o entrevistado, ou à elaboração das respostas por parte do entrevistado, sujeito por vezes à interferência de diferentes fatores associados aos processos de produção do discurso, dependentes de processos cognitivos ou emocionais (Cortazzi, 1993).
Considerou-se para o desenvolvimento do guião de entrevista os procedimentos referidos na literatura para construção destas estruturas (Bogdan & Biklen, 1994; Estrela, 1990; Mack et al., 2005; Tuckman, 2000), procurando que estes fossem constituídos por um conjunto de dimensões, operacionalizadas em questões
objetivos da entrevista foram deste modo definidos a priori, permitindo assim criar relações entre as categorias definidas aquando do design metodológico.
O guião desenvolvido estruturou-se em torno de duas dimensões, sendo cada uma operacionalizada em questões orientadoras. O desenvolvimento destas categorias possibilitou igualmente criar uma estrutura teórico-prática para o momento de análise de dados posterior. Atendendo ao carácter semidiretivo da entrevista, a ordem enunciada das dimensões foi indicativa, sendo adaptada mediante o decorrer da entrevista (Anexo C):
Contextualização social e novo paradigma escolar: Nesta dimensão
pretendeu abordar-se questões relativas ao paradigma atual do ensino básico português, assinalando fatores que pudessem contribuir para uma possível alteração desse paradigma. Assinalaram-se igualmente questões referentes ao papel do professor na escola.
Competências docentes para o séc. XXI: No que concerne esta dimensão,
procurou-se questionar os entrevistados sobre as competências
necessárias ao professor do século XXI, abordando a existência ou não dessas competências nos professores atuais. Referiram-se também aspetos relativos à formação inicial e contínua de professores,
salientando em que medida essa formação desenvolve nos professores atuais e nos futuros docentes competências para o século XXI.
Alicerçou-se este domínio em torno das quatro dimensões definidas como organizadoras da profissão docente - Profissional, Pedagógico, Técnico e Relações Interpessoais e Institucionais.
4.2.2.1.Processo de validação do instrumento.
Procedeu-se a um conjunto de passos de forma a garantir a validade do guião de entrevista utilizado, assumindo os processos de validação dum instrumento qualitativo com o mesmo rigor dum instrumento de caráter quantitativo, indo deste modo ao encontro das preocupações assinaladas por autores como Cohen et al. (2007), Coutinho (2008) ou Creswell (2007) que mencionam a falta de rigor científico encontrado por vezes em investigações qualitativas.
Num primeiro momento, e repetindo o processo feito para a escala utilizada, enviou-se o guião de entrevista a dois especialistas na área das TIC na educação, educação e formação de professores. Deste processo resultaram diferentes sugestões relacionadas com a ordem das questões formuladas e a junção de algumas
características de análise.
Posteriormente, realizou-se um processo de pré-testagem, realizando-se uma entrevista de teste num participante escolhido por conveniência pelas características semelhantes aos stakeholders a entrevistar. Esta testagem permitiu antever possíveis falhas do guião e controlar tempos. Decorrente desta entrevista acrescentaram-se duas subcategorias às categorias definidas previamente (Tabela 8).
Tabela 8: Estrutura de guião de entrevista utilizado
Questões orientadoras Domínio de trabalho específico
Contextualização social e novo paradigma escolar
- Será que o mundo social atual (com as tecnologias que o constituem e medeiam) está a ou pode obrigar a escola a mudar de
paradigma para uma coisa que podemos chamar de ‘escola do século XXI’? - Em que se mostra esse paradigma?
- Está de facto em desenvolvimento? Quais os sinais que temos?
- Se ainda não detetámos os sinais, poderemos antecipar que o paradigma de escola vai certamente mudar? Porquê?
- Pedagógico - Profissional - Tecnológico
- Relações interpessoais e institucionais
- Qual o papel do professor na escola do séc. XXI?
- Pensando na formação inicial, devem ser desenvolvidas outras competências docentes?
Competências docentes para o séc. XXI
- A serem desenvolvidas outras competências, quais devem ser desenvolvidas na formação inicial?
- Poderá justificar a necessidade daquelas competências
- Relação daquelas competências com o que entendem como ‘novo paradigma de escola’
- Pedagógico - Profissional - Tecnológico
- Relações interpessoais e institucionais
- Que competências devem ser desenvolvidas na formação contínua e ao longo do
desenvolvimento profissional docente? - Poderá justificar a necessidade daquelas
competências - Pedagógico - Profissional - Tecnológico - Relações interpessoais e institucionais