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CAPÍTULO I – REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA – ASPECTOS

1.2 O Direito Social à Moradia

1.2.1 Direito social à moradia adequada (ou condigna)

A moradia como direito social se reveste de atributos mínimos, que variam em função de condições econômicas, materiais, geográficas e culturais específicas das diferentes regiões planetárias. Portanto, admite-se certo relativismo em função dessas variações regionais, embora mantenha firme uma estrutura diretiva ideal que sintetiza essas condições locais na linguagem universal do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos e Sociais – PIDESC, de 1966. É possível, assim, superar tal relativismo por meio da hermenêutica com a qual o direito de moradia se faça materializado no plano regional em suas particularidades, respeitadas as possibilidades materiais dos Estados Partes, segundo os respectivos estágios de desenvolvimento econômico e reservas orçamentárias.

A Ficha Informativa n.º 21, publicada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos – ACNUDH, Delegação das Nações Unidas em Genebra – distribuída

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Atribui-se ao Rei da França, Luís XIV – 1643-1715 – a afirmação ―L‘État c‘est moi‖ (O Estado sou eu). Ao monarca também se atribui o impulso ao Absolutismo no Ocidente. Afirma-se, porém, no presente trabalho, que ―L‘État sommes nous‖ (O Estado somos nós), em manifesta oposição àquela concepção despótica, o que permite a construção do Estado contemporâneo sob premissas pluralísticas, portanto, mais democrático.

gratuitamente para o mundo inteiro nos idiomas oficiais das Nações Unidas –, ao tratar do Direito Humano a uma Habitação Condigna, oferece diretrizes gerais para guiar a ação dos respectivos Estados-parte.

O art. 25.º, n.º 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos – DUDH, de 1948, proclama que toda pessoa humana e sua família têm direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento.

No entanto, o direito à moradia restou melhor consubstanciado com o PIDESC, quando o item n.º 1 do artigo 11.º consignou:

Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as pessoas a um nível de vida suficiente para si e para suas famílias, incluindo alimentação, vestuário e alojamento suficientes, bem como a um constante melhoramento das suas condições de existência. Os Estados Partes tomarão medidas apropriadas destinadas a realização deste direito, reconhecendo para este efeito a importância essencial de uma cooperação livremente consentida. (PIDESC, 1966)

Ainda no âmbito das Nações Unidas, tanto a Declaração sobre o Progresso Social e o Desenvolvimento (Resolução AGNU 2542/1969) como a Declaração de Vancouver sobre os Estabelecimentos Humanos (UN-HABITAT I, 1976) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Diereitos Humanos - ACNUDH reconheceram o direito das pessoas a uma habitação condigna, ou adequada. E o conteúdo desse direito, sob a perspectiva material, engloba nada menos que sete eixos explícitos:

1. Segurança legal da habitação

Todas as pessoas têm direito a um certo grau de segurança que garanta a protecção legal contra as expulsões forçadas, a agressão e outras ameaças. Os governos devem, consequentemente, adoptar medidas imediatas a fim de conferir segurança legal da ocupação às famílias que ainda não beneficiam desta protecção. Tais medidas deverão ser adoptadas após consulta genuína, junto das pessoas e grupos afectados.

2. Disponibilidade de serviços, materiais e infra-estruturas

Todos os titulares do direito a uma habitação condigna devem ter acesso aos recursos naturais e comuns, água potável, energia para cozinhar, aquecimento e iluminação, instalações sanitárias e de limpeza, meios de conservação de alimentos, sistemas de recolha e tratamento de lixo, esgotos e serviços de emergência.

3. Acessibilidade

Os custos da habitação suportados pelas pessoas ou agregados familiares devem situar-se a um nível que não ameace ou comprometa a satisfação de outras necessidades essenciais. Devem ser concedidos subsídios àqueles que não dispõem de meios económicos para ter uma habitação adequada, e os arrendatários devem ser protegidos contra rendas excessivas ou aumentos de

rendas abusivos. Nas sociedades onde os materiais de construção são essencialmente naturais, os Estados devem tomar medidas tendentes a assegurar a disponibilidade de tais materiais.

4. Habitabilidade

Uma habitação condigna deve ser habitável. Por outras palavras, deve propiciar o espaço adequado e proteger do frio, da humidade (sic), do calor, da chuva, do vento ou outros perigos para a saúde, dos riscos devidos a problemas estruturais e de vetores de doença. A segurança física dos ocupantes deve ser igualmente garantida.

5. Facilidades de acesso

Uma habitação condigna deve ser acessível aos que a ela têm direito. Os grupos desfavorecidos devem ter pleno acesso, permanentemente, aos recursos adequados, em matéria de habitação. Assim, os grupos desfavorecidos, nomeadamente pessoas idosas, crianças, portadoras de deficiências, doentes terminais, seropositivos, doentes crónicos, doentes mentais, vítimas de catástrofes naturais e outros grupos devem beneficiar de uma certa prioridade no que se refere à habitação. Na elaboração e aplicação de legislação relativa a habitação, há que ter em conta as necessidades especiais desses grupos.

6. Localização

Uma habitação condigna deve situar-se num local onde existam possibilidades de emprego, serviços de saúde, escolas, centros de cuidados infantis e outras estruturas sociais. As habitações não devem ser construídas em locais poluídos, nem na proximidade imediata de fontes de poluição que ameacem o direito à saúde dos seus ocupantes.

7. Respeito ao ambiente cultural

A arquitetura, os materiais de construção utilizados e as políticas subjacentes devem permitir a expressão da identidade e diversidades culturais. Nas atividades de construção ou de modernização da habitação, é necessário garantir que as dimensões culturais da habitação não são sacrificadas. (ACNUDH-FI, 1995-2004, pp. 24-26)

Há, pois, diretrizes expressas a respeito de determinações jurídicas a seguir, tornando assim objetivados e vinculados os rumos para a ação que vise realizar esses mesmos direitos. Não será, pois, por falta de conceitos e imperatividade normativa que o direito à moradia encontrará retórica que o negue.