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CAPÍTULO I – REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA URBANA – ASPECTOS

1.12 O Pesquisador, o Objeto e a Ideologia

Sobre o trabalho que ora se desenvolve é necessário considerar o aspecto inerente ao envolvimento do pesquisador na pesquisa. De acordo com Gil (2011, p. 29), os teóricos positivistas sugerem a investigação dos fenômenos sociais pelo modelo clássico com o objetivo de evitar problemas de subjetividade, centrando atenção no que possa ser efetivamente observado e empiricamente comprovado:

Esta postura positivista de estudar os fenômenos sociais da mesma forma que as ciências naturais teve e continua a ter muitos adeptos. A separação rígida entre os sistemas de valores do cientista e os fatos sociais enquanto objeto de análise é proposta por inúmeros metodólogos. Alegam em favor dessa postura que as ciências sociais devem ser neutras, apolíticas e descomprometidas. Nesse sentido, a maioria dos manuais clássicos de pesquisa social propõem o máximo distanciamento entre o pesquisador e o objeto pesquisado.

Contudo, ainda segundo Gil (2011, p. 30), para os que se apoiam no pensamento habermasiano, o modelo clássico constitui ―ilusão objetivista‖ ao dispensar quaisquer elementos subjetivos. As críticas mais contundentes contra o empirismo científico nas pesquisas sociais ocorrem por razões ideológicas, quando se prestam ao controle social.

Cumpre aqui consignar em que condição se situa o pesquisador e, por via de consequência, a sua subjetividade. Registre-se que adota a postura humanística52 para a leitura da realidade social e para a qual a subjetividade científica abre perspectivas mais flexíveis, de modo a que nela se acomode a dimensão humana na sua extensão mais ampla possível, sem mitigações ou recortes redutores. Por esse ângulo o pesquisador não está alheio ao objeto, mas dele participa por meio de seus interesses e sua partidarização ideológica. Por essa tendência também torna-se parte da própria experiência, pois, se assim não fosse – e a permanecer abstraído de tudo ante as reservas positivistas –, não haveria sequer de despertar-se interessado pela pesquisa e seu objeto, perdendo-se por aí a oportunidade da disseminação da experiência pessoal acumulada e seu particular modo de conhecimento associado ao método científico.

O pesquisador, neste caso, é o primeiro e único juiz de direito titular da Vara do Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal, instalada em 18/05/200953, cuja competência inclui questões litigiosas relacionadas ao equacionamento de quaisquer conflitos de natureza ambiental e urbanística, bem ainda as coletivas controvérsias fundiárias de interesse público54, âmbito no qual se desenvolvem os conflitos pela terra urbana para fins de moradia e seus desdobramentos sobrepostos em face de interesses ligados à propriedade imóvel individual, à primazia da ordem urbanística e à proteção ambiental.

Daí porque a experiência pessoal, ao tempo em que enriquece a pesquisa, também revela aspectos de subjetividades que o distanciam até certo ponto do método clássico positivista da pesquisa social. Vale-se, portanto, de uma posição privilegiada diante do

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―Humanismo. 1 (Filos.). Doutrina ou atitude que se situa expressamente numa perspectiva antropocêntrica, em domínios e níveis diversos, assumindo, com maior ou menor radicalismo, as construções daí decorrentes. Manifesta-se o humanismo no domínio lógico e no ético. No primeiro, aplica-se às doutrinas que afirmam que a verdade ou a falsidade dum conhecimento se definem em função de sua fecundidade e eficácia relativamente à ação humana; no segundo, aplica-se àquelas doutrinas que afirmam ser o homem o criador dos valores morais, que se definem a partir das exigências concretas, psicológicas, históricas, econômicas e sociais que condicionam a vida humana.‖ (FERREIRA, 1986, mesmo verbete)

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Portaria Conjunto n.º 14, de 18/05/2009 (DJe de 20/04/2009, Edição n.º 71, pp. 04-05). 54

Resolução TJDFT n.º 03/2009 (DJe de 01/04/2009, Edição n.º 61, p. 05), art. 2.º: ―Incluem-se na competência da Vara do Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal, ressalvada a competência da Justiça Federal:

I As causas relativas ao ―meio ambiente natural'', compreendendo a flora, a fauna, os recursos hídricos, o solo, o subsolo, os recursos minerais e a atmosfera;

II As causas relativas ao ―meio ambiente urbano'', compreendendo os espaços urbanos, edificados ou não, destinados ao uso público, tais como ruas, praças, áreas verdes, áreas de lazer, etc.;

III As causas relativas ao ―meio ambiente cultural'', compreendendo obras do engenho humanas ou resultantes da força da natureza, envolvendo o patrimônio arqueológico, paisagístico, turístico, histórico, artístico, urbanístico e ecológico;

IV As causas relativas à ―ocupação do solo urbano ou rural'', assim entendidas as questões fundiárias e agrárias de interesse público ou de natureza coletiva;

panorama em que se insere o objeto, circunstância que, ligada à prática, somente favorece a seleção, coleta e interpretação de dados, sem perder atenção quanto a enviezamentos, decisões e conclusões precipitadas. Há, sem dúvida, no enfoque pessoal do pesquisador, o ânimo embalado pelo interesse social decorrente do enfrentamento de um desafio como outro qualquer inerente à aventura humana, sobretudo pelo excitante e rico objeto de análise e suas implicações sociais, políticas e econômicas.

Porém, mantém-se o cuidado para não mitigar ou neutralizar a perspectiva objetiva do trabalho como esforço social-emancipatório, visando contribuir para a concretização de um direito fundamental que ainda está muito preso ao plano abstrato da sua concepção normativa. Como ainda se verá com as conclusões, o trabalho favorece a migração do direito abstrato para o mundo concreto da vida, criando a realidade benevolente desejada com a diretriz principiológica determinada pela vontade onipotente do poder constituinte originário.

Pretende-se então, com o presente trabalho, obter autoridade acadêmica para assim difundir práticas e até mesmo empreender outros projetos correlacionados ao campo da regularização fundiária urbana.

Não há, pois, separação metodológica de orientação positivista entre o pesquisador, o objeto e o fundo ideológico que ora é declaradamente revelado, com isso optando pelo método que faz o homem mais próximo à natureza, da qual é parte inseparável.