• Nenhum resultado encontrado

2.1 OS MARCOS LEGAIS: SOCIAL E EDUCACIONAL

2.1.2 Documentos internacionais

Baseada no monoteísmo29, parte da concepção mundial contemporânea está regida por leis decorrentes de princípios, comportamentos e documentos que vigoram há, pelo menos, 5.768 anos30, fundamentada na Torá, documento religioso judaico. A Torá, também chamada de Lei de Moisés ou Pentateuco, significa “ensino, instrução”, e representa o livro sagrado, base de toda a cultura e tradição judaica. Compilada, em parte, por Moisés, segundo inspiração Divina31, a Torá contém 5.845 versículos escritos em cinco livros: Gêneses, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Esses livros sagrados descrevem a história do Homem, a origem do povo hebreu e sua legislação civil-religiosa e a morte de Moisés.

O Livro Gêneses descreve a criação do mundo. O Êxodo, na parte histórica, trata da vida dos filhos de Israel no Egito, da infância, vocação e missão de Moisés; da libertação do povo, sua peregrinação pelo deserto e da construção do Tabernáculo. Na parte legislativa, apresenta uma série de leis civis, morais e religiosas, principalmente o Decálogo, contendo os Dez Mandamentos da Lei de D´us (Anexo E). Estes Mandamentos se tornaram, em parte, os pilares das legislações internacionais e nacionais (Êxodo 20: 1-17). O Levítico32 descreve a vida dos Levitas e o culto em geral. O Números descreve sobre a permanência dos judeus no deserto durante 40 anos. E, o Deuteronômio, apresenta seu conteúdo quase que exclusivamente legislativo, em forma de discurso. A Torá possui 613 mandamentos que orientam judeus e cristãos de todo o mundo, assim como muitos documentos e organizações internacionais de caráter religioso, social, político, entre outros.

Enfatizaremos aqui o Livro Deuteronômio (10-19) que diz “e amareis ao peregrino, porque peregrinos fostes na terra do Egito” (2001, p. 536). Segundo a Lei de Moisés (a Torá), devemos amar o peregrino e ao estrangeiro que habitar conosco. Portanto, “qualquer pessoa com a qual vivemos é nosso próximo, nosso irmão na humanidade e devemos aplicar para

29

Monoteísmo – “1. Crença em um só Deus. 2. Sistema ou doutrina daqueles que admitem a existência de um único Deus” (FERREIRA, 1999, p. 1362). As religiões monoteístas mais conhecidas são: Judaísmo, Islamismo e Cristianismo.

30

Ano judaico de 5.768 ou ano comum de 2008. A virada do ano judaico para 5768 aconteceu no dia 12 de setembro do ano comum de 2007.

31

“No sexto dia Sivan (mês do calendário judaico que corresponde a março - abril), três meses após o povo judeu sair do Egito, no ano 2.448 após a criação do mundo [e/ou] – 1.313 a/c, Moisés recebeu a Torah escrita e oral no Monte Sinai” (<www.e-net.com.br/user/shemolam/torah.html> Acesso em: 24 fev. 2001).

32

O termo Vaicrá (E chamou) é a primeira palavra do livro, e é o costume judaico dividir seus livros e citar como nome do capítulo o nome de sua primeira palavra. Vaicrá descreve os aspectos legais e sacerdotais, rituais de sacrifício do culto no Tabernáculo. O nome Levítico, usado geralmente pelos não-judeus, é baseado no latim Liber Leviticus originado do grego (το) Λευιτικόν.

com ele todas as leis de justiça, amor e fraternidade” (2001, p. 536).

Seguindo a concepção da Igreja Católica, Apostólica e Romana, considerando a vinda de Cristo como enviado de D´us, foi escrita a Bíblia Sagrada, palavra de origem grega que significa “livros”. Segundo o Concílio de Trento, ela representa um conjunto de 73 livros que contêm a revelação Divina. Portanto, a Bíblia Sagrada se divide em: Antigo Testamento, oriundo da Torá, escrito antes do nascimento de Jesus Cristo, por inspiração Divina; e Novo Testamento, escrito depois do nascimento de Cristo, por seus Apóstolos.

A Bíblia Sagrada é dividida em livros históricos, didáticos (doutrinais e morais) e proféticos. Relembramos aqui a mesma citação do livro Êxodo, extraído da Torá. A Igreja Católica se norteia basicamente nos Dez Mandamentos da Lei de Deus, com consideradas modificações na sua tradução e interpretação, mas, mantendo a ênfase na tônica milenar de que todos somos iguais e que não devemos fazer nenhuma distinção entre os nossos irmãos. De um modo geral, podemos apresentar três citações bíblicas que reforça as palavras de D´us:

a) Atos dos Apóstolos 10:34 - “então Pedro tomou a palavra e disse: „em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de pessoas‟;

b) Romanos 2:11 - “porque, diante de Deus, não há distinção de pessoas”; c) Efésios 6:9 - “senhores, procedei também assim como os servos. Deixai

as ameaças. E tende em conta que o Senhor está no céu, Senhor tanto deles como vosso que não faz distinção de pessoas”.

No campo educacional podemos citar como raiz dos ensinamentos da Torá, e, consequentemente, da Bíblia Sagrada, dois documentos educacionais que influenciaram parte da população mundial: A Ratio Studiorum, promulgada pelos Jesuítas em 159933; e a

Didactica Magna criada pelo tcheco João Amos Comênio em 163334 (GADOTTI, 2002, p. 61-86). O primeiro documento se destinava à formação burguesa dos dirigentes e à formação catequética dos nativos indígenas colonizados e, mais tarde, dos africanos e afrodescendentes aqui escravizados. Constava de um conjunto de normas (atividades, funções e métodos de avaliação) que regulamentava o ensino nos colégios jesuíticos.

33

A Companhia de Jesus foi fundada em 1534 pelo militar espanhol INÁCIO DE LOYOLA (1491-1556), com o objetivo de consagrar-se à educação da juventude católica. Seguia os princípios cristãos e insurgia-se contra a pregação religiosa protestante (GADOTTI, 2002, p. 72). Seu documento educacional legislativo, “A Ratio Studiorum” (promulgada em 1599), representava o plano de estudos, de métodos e base filosófica jesuíticas, sendo implantada nos países europeus e nos países colonizados por estes (Ibid., 2002, p. 72).

34

O educador tcheco João Amos Comênio (1592-1670), cristão protestante, criou um sistema educacional ecumênico, com base na ideia do direito de todos os homens ao saber durante toda a vida (Ibid., 2002, p. 78). Vítima da Guerra dos Trinta Anos, passou um longo período no exílio (Suécia, Prússia e Holanda). Escreveu vários livros: Pródromus da Pansofia (1630), que defendia “[....] a generalização do ensino, subordinado a um órgão de controle universal, como meio de pôr fim às guerras”; Porta Aberta das Línguas (1631), que apresentou um método de ensino do latim por meio de ilustrações [realias – objetos reais] e lições objetivas; A Grande Didática (1633), com a tentativa de criar a ciência da educação utilizando os mesmos métodos das ciências físicas (Ibid., 2002, p. 80).

Quanto ao segundo documento, este defendia uma educação para todos. Nesses dois documentos, o ensino do canto deveria ser realizado na “escola elementar ou vernácula”, correspondente à faixa etária dos 6 aos 12 anos (GADOTTI, 2002, p. 79; ARAÚJO, 1996, p. 95). Em ambos, o ensino da música se fez presente, a serviço dos conhecimentos musicais para fins variados – estético, social, cultural, religioso entre outros.

Retornando aos dois documentos sagrados, estes enfatizam que “todos somos iguais perante a Lei de D´us”, da mesma forma em que se fazem presentes os ensinamentos aprimorados dos cânticos religiosos em forma de Salmos35, como sendo veículos diretos de se comunicar com Ele. Devemo-nos lembrar de que aqui do Papa Gregório Magno, da Igreja Católica Apostólica e Romana, o mesmo que instituiu e foi a autoridade maior para a divulgação dos cantos de origem judaica, unificados por ele e denominados de Canto Gregoriano, para serem divulgados em todas as igrejas católicas. Este canto nos beneficiou com uma inegável evolução escolástica musical referente ao ensino da música – teoria musical, composição, musicografia, técnicas vocal e instrumental, dentre outros conhecimentos.

Em 1945, após a catastrófica Segunda Guerra Mundial, foi criada a Carta das Nações Unidas, que deu origem a inúmeros documentos que norteiam a humanidade, conforme destacaremos a seguir, de forma sucinta. No Brasil ela foi publicada na forma de Decreto-Lei 19.841/1945 (DECRETO DO EXECUTIVO), em 22/10/1945. No clima de pós-guerras (primeira e segunda guerras mundiais) – prioritariamente, tendo como base as orientações judaica e cristã, foram criadas a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Ambas, oficializadas em 194536, tiveram como orientação norteadora a Carta das Nações Unidas, criada em São Francisco (Estados Unidos), em 26 de junho de 1945. Esta Carta foi composta de 111 artigos e assinada por 51 países signatários. Hoje, após 62 anos, a ONU conta com 192 países- membros.

Referente ao presente estudo, podemos enfatizar nesta Carta, além do Artigo 1 – no qual constam os propósitos e princípios das Nações –, o Capítulo IV, Art. 13, Inciso 1b, que tem como objetivo

[...] promover a cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem

35

Salmo – tradução do termo hebraico que significa louvores.

36

distinção de raça, sexo, língua ou religião (BRASIL, 1945).

Após três anos da criação da ONU (10.12.1948), em uma de suas Assembleias Gerais realizada em Paris (França), foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos (Anexo F). Este documento é composto de 30 artigos que enfatizam os direitos e deveres da Humanidade ao pleno gozo da cidadania. São direitos: à vida com liberdade; à educação e cultura; à saúde e segurança; ao trabalho, esporte e lazer; às participações política e social; à moradia e nacionalidade; enfim, aos deveres para com a comunidade e respeito aos limites dos outros (apud GIL; JOVER; REYERO, 2001, p. 197- 207). Em especial, três artigos nos chamaram à atenção:

Artigo 7o – Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, à igual proteção da lei;

Artigo 26 - 1. Todo homem tem direito à educação. A Educação deve ser gratuita, pelo menos no que concerne ao ensino elementar e fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional deve ser generalizado. O acesso aos estudos superiores deve ser aberto a todos, em plena igualdade, em função das capacidades de cada um. 2. A educação deve visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao reforço do respeito aos direitos do homem e às liberdades fundamentais. Deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnico e religioso, assim como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz.

Artigo 27 - 1. Todos têm o direito de tomar parte, livremente, na vida cultural da comunidade, de beneficiar-se com a arte e de participar do progresso científico assim como dos benefícios dele resultantes. 2. Cada um tem o direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística de que seja o autor (apud GIL; JOVER; REYERO, 2001, p. 204-205).

Como síntese, todo homem é igual perante a lei, gozando de seus direitos de proteção da mesma. Todo homem tem direito à educação, de forma gratuita nos níveis elementar, generalizado nos níveis técnico e profissional, e acessível no nível superior. Esta educação deve visar o pleno desenvolvimento da personalidade, o respeito dos direitos humanos e às liberdades fundamentais, favorecendo a compreensão, o respeito, a amizade e o desenvolvimento entre os povos, entre os diversos grupos étnicos e religiosos, tendo como fim a paz entre as nações. No tocante à família, em especial, os pais têm o direito de optar pela educação do seu filho. Por fim, todo ser humano tem o direito de participar das manifestações culturais, artísticas e científicas do seu contexto geográfico ou não, se beneficiar com os resultados dos mesmos, e ter a proteção dos seus interesses morais e materiais resultantes da sua produção como autor. Após esta Declaração, vieram muitos outros documentos internacionais com o objetivo de enfatizar os direitos de grupos extremamente

marginalizados.

A Declaração sobre o Direito do Desenvolvimento, adaptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 4.12.1986 (GIL; JOVER; REYERO, 2001, p. 206-214), consta de dez artigos que esclarecem os direitos que todos têm ao desenvolvimento geral. Neste sentido, a educação é a mola propulsora deste documento, que tanto incitou o crescimento dos países pobres e dos países em desenvolvimento.

Também, em consonância com o clima do pós-guerra, com a ONU e com a UNESCO, foi criada em Bruxelas/Bélgica (29.07.1953), a Sociedade Internacional de Educação Musical (ISME), com o objetivo de servir aos educadores musicais do mundo. Esta sociedade, que tem mais de 54 anos de intensivos trabalhos prestados, é membro do Conselho Internacional de Música em cooperação com a UNESCO. A ISME promove, bianualmente, conferências mundiais que acontecem em variadas regiões do mundo, além de tantas outras reuniões em níveis regionais (MCCARTHY, 2004, p. 255)37

A ISME redefiniu, no início dos anos 90 do século passado, a sua Declaração de Missão38 e, em 1998, apresentou a sua versão definitiva, composta de dez princípios norteadores da educação musical, conforme apresentaremos na íntegra no Anexo G. Em síntese, a ISME acredita que a educação musical inclui tanto a educação em música quanto a educação por meio da música. Esta educação deve oferecer oportunidades múltiplas, individuais e/ou coletivas, de participação ativa como ouvintes, artistas, compositores e improvisadores, valorizando as músicas referentes aos contextos local, regional, nacional e internacional. Continuando, a educação musical deve ser disponibilizada ao longo da vida de todas as pessoas de distintas faixas etárias. Da mesma forma, essas pessoas devem receber a melhor educação musical possível, em igualdade de oportunidade, em qualidade e quantidade dos seus desejos de busca, sem depender das suas localizações geográficas, seus status sociais, suas identidades étnicas, seus habitats urbanos/suburbanos/rurais, suas riquezas e suas capacidades.

Para a ISME, todos os educandos devem ter a oportunidade de crescerem no conhecimento musical, nas habilidades e avaliações, na estimulação de suas imaginações, com alegria e satisfação, exaltando seus espíritos. Todos deverão desenvolver suas habilidades para compreenderem os contextos históricos e culturais da música dos seus

37

Também acontecem Conferências Regionais da ISME, nos continentes latino-americano, europeu, africano e asiático, a exemplo dos Encontros Latino-americanos, Pan-Africana Regional Conferences e Asia Pacific

Rim (MCCARTHY, 2004, p. 257).

38

entornos e fazerem julgamentos críticos pertinentes. Todos deverão ter a capacidade de desempenhos positivos, para analisarem, refletirem criticamente, e entenderem sobre assuntos estéticos pertinentes à música. Por fim, “a ISME acredita que a riqueza e a diversidade das músicas do mundo são causas para celebração, e oportunidade para a aprendizagem intercultural e para a promoção da compreensão, cooperação e paz internacional”. (McCARTHY, 1994, p. 177-178).

Portanto, a Declaração de Missão da ISME defende uma educação musical para todos (formal ou informal, com valores intrínsecos ou extrínsecos), independente de vários níveis e contextos (4º princípio), inclusive aqueles com necessidades especiais e com aptidões excepcionais (5º princípio). A inclusão deve se fazer presente, de forma clara e objetiva, generalizada e específica, abrangente e incondicional.

Vale ressaltar que também temos o Fórum Latino Americano de Educação Musical (FLADEM). Sua assembleia Constitutiva ocorreu na Universidade da Costa Rica, na cidade de São José da Costa Rica (Costa Rica), no dia 19.01.1995, durante o III Taller Internacional

de Educación Musical. Tendo como liderança três educadoras musicais – Violeta Hemsy de

Gainza (Argentina); Gloria Valencia (Colômbia); e Carmem Méndez (Costa Rica) – este evento contou com o apoio de Murray Schafer, conceituado compositor e educador musical canadense que também é um dos sócios fundadores do referido Fórum.

Esta instituição latino-americana autônoma é constituída por profissionais da área de educação musical de todos os níveis de ensino, agrupados com o mesmo objetivo básico: elevar o nível de ensino e consolidar a identidade continental dos educadores musicais. Participam do FLADEM grupos nacionais (locais, regionais e outros) e latino-americanos que estão cada vez mais entusiasmados, buscando implementar propostas e modelos próprios de comunicação institucional e pedagógica.

As metas do FLADEM são: a) Promover a união e a solidariedade entre os diversos países latino-americanos por meio da música; b) Elevar o nível de Educação Musical em toda região latino-americana; c) Fortalecer a identidade latino-americana mediante a Educação Musical; d) Contribuir para o desenvolvimento e atualização da Educação Musical, a partir da participação latino-americana organizada durante os encontros internacionais; e) Influir para que a música ocupe um lugar preponderante nos sistemas educacionais dos países da área.

O FLADEM, no ano de 2002, aprovou, na cidade do México, a sua Declaração de Princípios na qual constam dez itens fundamentais (Anexo H). Em síntese, o FLADEM promove a educação musical nas modalidades de ensino, pesquisa e extensão, seguindo os caminhos da ISME. Seu diferencial se refere ao 6º. Princípio:

O FLADEM é uma instituição independente, que integra os povos de origem ameríndia, ibérica e caribenha que formam o continente latino-americano: ele se propõe a preservar as raízes musicais e os modelos educacionais próprios que surgem dos processos históricos e culturais dos seus diferentes países. Neste sentido, é imprescindível a existência de uma organização deste porte, especificamente que atenda ao continente latino-americano, pois temos raízes em comum – geográfica, histórica, étnica, política, econômica etc. – além de apresentarmos, basicamente, dificuldades e carências similares. Aliada a todos estes itens, existe uma grande diversidade cultural própria (latino-americana) que deve ser estudada, incluída no sistema escolar, divulgada, valorizada, enfim, respeitada e preservada.

Retornando aos documentos internacionais relacionados à educação geral, apontamos como importante marco a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, promovida pela UNESCO, realizada na cidade de Jomtien (Tailândia), no período de 5 a 9 de março de 1990. Naquela oportunidade, foi firmada a Declaração Mundial sobre Educação Para Todos/1990. Esta Declaração apresenta os objetivos, a visão e o compromisso renovados, além dos requisitos, no sentido de garantir esses direitos universais a toda a Humanidade, independentemente de suas diferenças coletiva e/ou particular. O Quadro 1 apresenta os títulos dos seus dez artigos.

Quadro 1 - Declaração mundial sobre educação para todos

DECLARAÇÃO MUNDIAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA TODOS

(UNESCO/ Jomtien, Tailândia, 5 a 8 de março de 1990) Artigo 1º Satisfazer as necessidades básicas da aprendizagem

Artigo 2º Expandir o enfoque

Artigo 3º Universalizar o acesso à educação e promover a eqüidade

Artigo 4º Concentrar a atenção na aprendizagem

Artigo 5º Ampliar os meios e o raio de ação da educação básica

Artigo 6º Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem

Artigo 7º Fortalecer as alianças

Artigo 8º Desenvolver uma política contextualizada de apoio

Artigo 9º Mobilizar os recursos

Artigo 10 Fortalecer a solidariedade internacional

Fonte: Adaptação da autora com base na Declaração Mundial sobre Educação para Todos

Esta referida Declaração anuncia, de forma enfática, a luta por uma nova estrutura educacional para o século XXI. Após sua promulgação, vieram outros tantos documentos ao seu favor, no sentido de se tornar urgentemente viável e acessível à educação a todos os cidadãos do mundo.

A Declaração/Programa de Ação da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena/1993, promovida pela ONU e UNESCO, ratifica todos os documentos internacionais

anteriormente mencionados, reforça e atualiza as urgentes necessidades de se promover mudanças significativas no contexto social.

Decorrente desses encontros, já mencionados, foi realizada a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, na cidade de Salamanca/Espanha, no período de 7 a 10 de junho de 1994. Neste encontro foi aprovada a Declaração de Salamanca, tendo como objetivo maior “[...] definir a política e inspirar a ação dos governos, de organizações internacionais e nacionais de ajuda, de organizações não- governamentais e de outros organismos [...]” (UNESCO, 1997, p. 17), na aplicação de seus propósitos sociais, tendo em vista que grande parte da população mundial vive à margem da sociedade. Esta Declaração é composta de 85 artigos, distribuídos em quatro partes que se completam: 1. Introdução; 2. Novas Ideias sobre as Necessidades Educativas Especiais; 3. Diretrizes de Ação no Plano Nacional; e 4. Diretrizes de Ação nos Planos Regional e Internacional.

Nesse encontro, organizado pelo governo espanhol (Ministério de Educação e Ciência da Espanha) e apoiado pela UNESCO, estiveram presentes mais de 300 representantes de 92 governos e 25 organizações internacionais. Estes representantes eram importantes funcionários da área de educação, responsáveis por políticas públicas, especialistas em geral, representantes das Nações Unidas, de organismos especializados, de organizações internacionais governamentais e não-governamentais, e de entidades patrocinadas (UNESCO, 1997, p. 5).

Na mencionada Conferência, ocasião em que o Brasil também foi signatário da Declaração de Salamanca, todos os seus participantes reconheceram a “necessidade e a urgência de ser o ensino ministrado, no sistema comum de educação, a todas as crianças, jovens e adultos com necessidades educativas especiais”, além de apoiarem a importante “Linha de Ação para as Necessidades Educativas Especiais”, cujo espírito, refletido em suas disposições e recomendações, deve orientar organizações e governos (UNESCO, 1997, p. 9).

Dois anos após (setembro de 1996), foi aprovado pela UNESCO o Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, sob a coordenação de Jacques Delors. Este Relatório menciona que “a educação deve transmitir, de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, pois são as bases das competências do futuro”. Além do mais, esta deve cumprir um triplo papel – econômico, científico e cultural. Da mesma forma, o relatório menciona que a educação continuada deve ser disponibilizada em qualquer época da vida de uma pessoa, pois se faz “[...] necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as

ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer [...]” os conhecimentos básicos, adquiridos na infância, e assim, se adaptar constantemente ao mundo em mutação (DELORS et al., 2004, p.