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2.3 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA PESQUISA

2.3.1 A inclusão social e educacional

Há vários conceitos de inclusão, sejam eles em nível social ou educacional. De um modo geral, iniciamos o tema citando documentos religiosos, nos quais todas as pessoas são iguais perante a Lei de D´us. Esta tônica é ratificada em muitos documentos sociais e educacionais em níveis internacional e nacional, sob a égide de que “todos os homens são iguais perante a lei”. Como exemplo, temos a Declaração dos Direitos Universais do Homem/1948 e a Constituição da República Federativa Brasileira /1988, além de tantos outros documentos, mencionados anteriormente.

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A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência/2006 (Art. 2º. Inciso III), determina que "Discriminação por motivo de deficiência” significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nas esferas política, econômica, social, cultural, civil ou qualquer outra. Abrange todas as formas de discriminação, inclusive a recusa de adaptação razoável.

A Declaração de Guatemala79, aprovada na Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação, realizada em Guatemala/1999, e ratificada no Brasil em 2001 (Decreto Lei 3.956), conceitua deficiência, no seu Art. 1 inciso 1. Decorrente disto, em termos de inclusão, seja ela social e ou educacional, esta representa o atendimento irrestrito às pessoas que apresentam uma deficiência, ou seja, “[...] uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social” (BRASIL, 2001, p. 3), e sua inserção natural no contexto comum de todas as relações de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer outra natureza.

Da mesma forma, consideramos ser a inclusão a não discriminação contra as pessoas que apresentam deficiências, ou melhor, a não diferenciação e a não exclusão ou restrição – baseada em deficiência, antecedente de deficiência, consequência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada –, e seus acessos efetivos de reconhecimento, gozo ou exercício de seus plenos direitos humanos e suas liberdades fundamentais (Art. I, 2a), junto a todos os cidadãos comuns (BRASIL, 2001).

Portanto, inclusão é a participação, de forma irrestrita, de todas as pessoas, comuns ou que apresentam necessidades específicas aos plenos direitos e deveres de cidadãos. Representa a participação efetiva de todas as pessoas com algum tipo de necessidade específica (temporária ou definitiva), e sua promoção e integração nos benefícios comuns referentes à prestação ou fornecimento de bens, serviços, instalações, programas e atividades, tais como o emprego, o transporte, as comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, o acesso à justiça, segurança, e às atividades políticas e administrativas. No entanto, para que a inclusão seja realizada de forma efetiva, inúmeras medidas básicas devem ser tomadas, a exemplo daquelas citadas na Declaração de Guatemala, Art. III, 1:

a) Medidas para que os edifícios, os veículos e as instalações que venham a ser construídos ou fabricados em seus respectivos territórios facilitem o transporte, a comunicação e o acesso das pessoas portadoras de deficiência;

b) Medidas para eliminar, na medida do possível, os obstáculos arquitetônicos, de transporte e comunicações que existam, com a finalidade de facilitar o acesso e uso por parte das pessoas portadoras de deficiência;

c) Medidas para assegurar que as pessoas encarregadas de aplicar esta Convenção e a legislação interna sobre esta matéria estejam capacitadas a

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Declaração de Guatemala. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/guatemala.pdf> Acesso em: 25 jan. 2005.

fazê-lo (BRASIL, 2001).

Por conseguinte, para que a inclusão seja efetivada aos envolvidos, deve-se trabalhar, prioritariamente, nas seguintes ações (Art. III, 2):

a) Prevenção de todas as formas de deficiências preveníveis;

b) Detecção e intervenção precoce, tratamento, reabilitação, educação, formação ocupacional e prestação de serviços completos para garantir o melhor nível de independência e qualidade de vida para as pessoas portadoras de deficiência;

c) Sensibilização da população, por meio de campanhas de educação, destinadas a eliminar preconceitos, estereótipos e outras atitudes que atentam contra o direito das pessoas a serem iguais, permitindo desta forma o respeito e a convivência com as pessoas portadoras de deficiência (BRASIL, 2001).

Portanto, a inclusão representa uma situação social irreversível, complexa, ideal e possível, envolvendo todos os segmentos da sociedade. Esta é uma das tônicas do novo século XXI – imperiosa, necessária e inadiável no mundo contemporâneo.

Segundo o educador português José Pacheco, uma das noções centrais de inclusão escolar, por parte das pessoas que vivem à margem da sociedade, é a de ser aceito na comunidade social da escola, interagindo com os colegas e participando de todas as atividades regulares. Para que este processo aconteça, as escolas devem construir políticas que promovam esse pensamento de inclusão em todos os níveis do funcionamento escolar. Todos devem ser encorajados às efetivas intervenções sociais e participações múltiplas, tendo como importância fundamental as seguintes questões: políticas e organização; planejamento curricular; métodos de ensino e ambiente em sala de aula; e as relações sociais de informação (PACHECO et al., 2007, p. 51).

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares (Estratégias para a Educação de Alunos com Necessidades Educacionais Especiais), a inclusão escolar refere-se à inserção de todas as pessoas

[...] sem distinção de condições lingüisticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais, étnicas, socioeconômicas ou outras e requer sistemas educacionais planejados e organizados que dêem conta da diversidade dos alunos e ofereçam respostas adequadas às características e necessidades (BRASIL, 1998, p. 17).

Essa inserção deve acontecer de forma gradual, interativa e culturalmente determinada, exigindo também a participação efetiva do próprio educando a ser incluído, na construção do ambiente escolar desejado. Para incluir todas as pessoas que vivem à margem da sociedade, esta deve ser modificada de forma efetiva, sistemática e objetiva, firmando sempre as convivências no contexto da diversidade humana, na aceitação e valorização das

contribuições de cada um, segundo seus limites e potencialidades, no respeito a todos os direitos e deveres cidadãos.

No nosso contexto da educação musical, a inclusão representa o acesso de pessoas que vivem à margem do conhecimento musical, formal ou informal, juntamente com pessoas comuns. Todos devem participar em igualdade de oportunidades, de um processo de ensino- aprendizagem com diversidade de: adaptações e criações de abordagens educacionais, ambientes, instrumentos e materiais didáticos; ampliação de conhecimentos musicais e extramusicais; apoio sistemático dos órgãos administrativos; e de tantos outros itens. Em especial, defendemos o conceito de inclusão como, também, o direito de todos a participarem ativamente das atividades musicais disponíveis no programa: construção de instrumentos, literatura musical, apreciação, técnica, execução e criação.

É imprescindível que nós, educadores, conheçamos estes conceitos, direitos, deveres e, em decorrência, as obrigações profissionais, e tracemos a cada momento necessário, viável e possível, caminhos de inclusão em nossas práticas educacionais. Estes serão somados a tantos outros caminhos que estão sendo aplicados no contexto geral da educação contemporânea.