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3.1. EDUCADORES MUSICAIS DO SÉCULO XX

3.1.1 Emile Jacques-Dalcroze (1865 – 1950)

Figura 28 - Emile Jacques-Dalcroze

Fonte: http://www.kvl.cch.kcl.ac.uk/THEATRON/biographys/Dalcroze01.jpg

Dalcroze nasceu em Viena (Áustria), em 6 de julho de 1865, e morreu em Genebra (Suíça), em 1950. Era filho de uma família suíça, muito dedicada à música.

Estudou piano no Conservatório de Genebra, do qual não guardou boas lembranças pelo fato de que, neste, o ensino era aplicado de formas antididática, rígida e tradicional. Depois, foi para Paris estudar música com Gabriel Fauré, e artes dramáticas com Talbolt. Voltando a Viena, teve a oportunidade de estudar com Anton Bruckner. Em Paris, no ano de 1889, conheceu e trabalhou com o precursor teórico da Rítmica – Mathis Lussy (1828-1910). Este encontro foi decisivo na sua vida, pois solidificou seu método musical com base nas teorias da rítmica de Lussy. O método de Dalcroze teve grande valor como meio de educação psicomotora, graças ao apoio dos trabalhos do doutor Weber-Bauler e do seu amigo e defensor do seu método, o educador Claparède (MEJÍA, 2002, p. 119).

Lecionando a disciplina Solfejo no Conservatório de Genebra, Dalcroze percebeu que alguns de seus educandos careciam de um sentido rítmico mais apurado. A partir daí, visando um melhor desenvolvimento rítmico, auditivo e tonal, elaborou exercícios progressivos nominados de Eurhythmucs (palavra inglesa de origem grega que significa “bons ritmos”), com o objetivo de marcar o ritmo com todo o corpo, por compreender que “[...] a sensação do movimento reforçará o conhecimento intelectual”99

. (MENA; GONZÁLEZ, 1992, p. 14).

99

O ritmo, o movimento e a dança são os elementos principais do Método Dalcroze, ou da Rítmica Dalcroze, Ginástica Rítmica Dalcroze, ou simplesmente Euritmia. Este método reconcilia a mente e o corpo, considerando este como intermediário entre o som, o pensamento e o sentimento. É um método de educação por meio da música, porque favorece a harmonização dos movimentos físicos e a capacidade de adaptação. Da mesma forma, é um método de educação para a música, já que unem, harmoniosamente, o movimento e a expressão do corpo, o pensamento e a expressão da alma. Seus exercícios com o movimento, a expressão e a sensibilidade favorecem a aprendizagem integral da música.

Os princípios elementares da Rítmica de Dalcroze, que trabalha o desenvolvimento dos sentidos rítmico, auditivo e tonal, são:

a) o ritmo é movimento; o movimento é fundamentalmente físico; e todo movimento exige espaço e tempo;

b) o espaço e o tempo estão unidos pela matéria que os atravessam em um ritmo eterno;

c) os movimentos das crianças são físicos e inconscientes e a experiência física é a que forma a consciência musical;

d) o aperfeiçoamento dos meios físicos no tempo assegura a consciência rítmica ou a nitidez da percepção; o aperfeiçoamento dos movimentos no espaço assegura a consciência do ritmo musical; e) o aperfeiçoamento dos movimentos no tempo e no espaço, é

adquirido por meio de exercícios de ginástica chamada rítmica. (MENA; GONZÁLEZ, 1992, p. 14; FREGA, 1997, p. 44-45). Quanto à sua fundamentação, Dalcroze compartilhava o mesmo pensamento dos outros autores da sua época – a educação musical deveria ser oferecida para todas as pessoas em formação, portanto, obrigatória nas escolas. E, seu método representa uma forma valiosa de auxiliar a educação geral, assim como um caminho rico para se fazer a educação musical efetiva. Para ele, a educação por meio do movimento é um importante fator de desenvolvimento e equilíbrio do sistema nervoso. Neste sentido, a ginástica rítmica favorece à criança o autoconhecimento (já que o corpo aparece como instrumento de percussão rítmico), desenvolvendo o domínio e a eficácia das suas ações e enriquecendo a sua expressão emocional.

Dalcroze foi pioneiro ao traçar os caminhos norteadores da nova pedagogia musical e seu método foi decisivo como ponto de partida para sucessivos métodos, abordagens e sistemas, a exemplo de Kodály, Willems, Orff, e tantos outros. Seu trabalho é baseado na improvisação rítmica e melódica e em exercícios apropriados para orientação espacial. Como exemplos, temos:

a) Os educandos caminham livremente e, ao som do piano, vão se adaptando sua marchar aos distintos compassos, ao tempo em que são introduzidas as

figuras da semínima (para marchar), da colcheia (para correr), e da colcheia pontuada (para saltitar);

b) Os educandos em círculo, realizam exercícios de orientação espacial e dinâmica, explorando os comandos - direita, esquerda, acima, abaixo, dentro e fora. Quanto à dinâmica “suave” ou “piano”, todos se movimentam com as pontas dos pés e, quanto à dinâmica “forte”, todos se movimentam marcando fortemente seus passos;

c) A interpretação e o caráter da música são trabalhados mediante movimentos expressivos com todo o corpo;

d) O silêncio é trabalhado com a ausência do som, na interrupção da marcha; e) As notas são trabalhadas em grupos, que as entoam alternadamente;

f) Jogos de cartões são utilizados para comunicar a grafia musical dos movimentos solicitados, assim como suas figuras rítmicas e melódicas correspondentes;

g) Os exercícios são progressivos e não se limitam à fase de iniciação musical. Inúmeros deles chegam a exigir boa preparação física, destreza e habilidade espacial.

Dalcroze criou e desenvolveu exercícios de várias formas e para atender a vários objetivos, dentre eles: desenvolver a relação corporal; favorecer a atenção e independência; controlar e inibir o movimento, mostrar velocidade nos movimentos reflexos; distinguir acordes maiores e menores; desenvolver a audição e memorização imediata; expressar distintos ritmos como resposta a um sinal; criar formas espaciais; desenvolver a orientação espacial; ocupar o espaço; relacionar o espaço com o tempo; desenvolver a noção de espaço temporal; discriminar frases musicais com cadência conclusiva; diferenciar tons e semitons; intervalos ascendentes e descendentes; analisar a textura de uma interpretação e descobrir o número de vezes; apreciar a mudança de tonalidade, distinguir os diferentes ritmos musicais e expressá-los gestualmente; desenvolver a percepção timbrística; promover a audição e discriminação de intervalos de terça; entre outros exercícios.

Em síntese, o Método Dalcroze propõe exercícios que: cultiva a atenção, preparação e exercício do corpo; promove a reação rápida e autodomínio; estimula a audição e preparação para a música; trabalha em conjunto, com apreciação do espaço e disciplina do grupo; desenvolve a expressão individual – espontâneo, musical e plástico (FREGA, 1997, p. 45). “Em realidade [Dalcroze] estava convencido da necessidade de intercomunicação entre as artes”. No seu livro La musique et nous (p. 276) o autor pergunta: “Bailarinos, conhecem

vocês a música? Maestros de canto, vocês estão por dentro das obras? Compositores para ballet, vocês conhecem a dança?”. Para ele só se pode interpretar, criar ou ensinar aquilo que se conhece bem e com profundidade (FREGA, 1997, p. 46).

Neste método, o piano é o instrumento principal, por ser de caráter melódico e harmônico, além de ter uma grande extensão sonora. Todavia, Dalcroze utilizou inúmeros instrumentos de sopro e percussão (flauta doce, xilofone, chocalho, tambor, pandereta, triângulo etc.) e gravações musicais variadas (contendo fragmentos de músicas que foram compostas para realizar determinados exercícios ou peças de dança). Além disto, ele também utilizou materiais didáticos (cartões, jogos, objetos) e materiais referentes à atividade de psicomotricidade (colchonetes, espelhos, bambolês, bolas, arcos, fitas coloridas, cartões com sinalizações etc.).

Dalcroze, além de atuar como educador musical, também foi um compositor ativo. Ele produziu obras que foram trabalhadas com suas turmas de música, a exemplo de:

a) Dois volumes contendo 160 marchas rítmicas para uma voz com acompanhamento de piano (1906);

b) Método Jaques-Dalcroze (1913-1923) contendo cinco volumes: Volume I – Ginástica Rítmica; Volume II – Estudo do Ritmo Musical; Volume III – A Escala e a Tonalidade; Volume IV – O Intervalo e os Acordes; Volume V – A Improvisação e o Acompanhamento ao Piano-Forte;

c) O Ritmo, a Música e a Educação (1920);

d) O Método Dalcroze, estruturado pelo Instituto Jacques Dalcroze de Genebra foi subdividido em quatro cursos: Cursos para crianças de Jardim de Infância (de 4 a 6 anos de idade), uma iniciação através do movimento; Curso para crianças do ensino primário (6 aos 12 anos de idade), combinando o ritmo, o solfejo e a improvisação; Cursos para professores de Educação Infantil; e Curso de três anos acadêmicos para professores de música que querem se especializar no referido método. Este último curso é composto dos estudos de: solfejo, improvisação, harmonia, piano, história, canto coral, instrumentos de percussão e expressão corporal.