• Nenhum resultado encontrado

Nosso trabalho está centrado nos caminhos da educação musical e da educação especial, ou melhor, no caminho das pessoas com necessidades educacionais específicas – enfatizando as pessoas com deficiência visual no processo de inclusão. Estes dois caminhos se entrelaçam com a legislação educacional, a educação geral e a psicologia. Todas elas se apresentam, no sentido de testar os pressupostos básicos e secundários e, assim, validá-los ou invalidá-las. Portanto, optamos por adotar a metodologia de pesquisa de caráter qualitativa, ancorada na abordagem hipotético-dedutiva e no procedimento monográfico ou estudo de caso (LAKATOS; MARCONI, 2002). Neste sentido, reconhecemos os fatos de que, não encontramos, na literatura musical, abordagem de ensino de música específica para ser aplicada aos educandos comuns e cegos. Além do mais, apesar das legislações internacional e nacional serem enfáticas quanto à igualdade de todos perante a Lei de D´us e a Lei dos homens, ainda estamos longe de realizar ações inclusivas e efetivas em sala de aula, devido a

descompassos ocorridos em todas as instâncias sociais. Após elaborarmos o problema de pesquisa anteriormente formulado, construímos um modelo teórico, fizemos as deduções de consequências particulares, testamos nossos pressupostos, apresentamos as considerações finais, com os reajustes do modelo e, por fim as sugestões futuras.

Após definirmos a metodologia, escolhemos duas técnicas de pesquisa a serem aplicadas:

a) Documentação indireta, por meio de estudos e pesquisas oriundos das fontes - imprensa escrita, meios audiovisuais e publicações;

b) Documentação direta, especificamente a pesquisa de campo, com a aplicação da “Oficina de Música mediante a Abordagem Musical CLATEC” a um grupo de educandos comuns e educandos com deficiência visual. Nesta técnica de pesquisa, realizamos a observação direta intensiva combinada com a observação participante artificial24.

Além disso, realizamos a observação direta participante, entrevistas e questionamentos diretos. Na observação direta, atuamos com o grupo (observando, ouvindo, interagindo, examinando fatos e fenômenos), durante o período em que foi ministrada a oficina. Quanto às entrevistas, estas aconteceram em vários momentos – antes, durante e depois da aplicação da Oficina de Música. Os questionamentos foram realizados durante as aulas e anotados no item “Observação” dos Planos dos Encontros/Aulas, que mais tarde serão abordados.

1.4.1 Delimitação do universo

Com uma antecipação de quatro meses, foram feitos convites a quatro instituições públicas estaduais para participarem da Oficina (piloto) de Música mediante a Abordagem de Educação Musical CLATEC: a) Colégio Estadual da Bahia (Colégio Central); b) Centro de Apoio Pedagógico (CAP); c) Instituto de Cegos da Bahia (ICB); e d) Associação de Cegos da Bahia (ACB). (Apêndices B e C). Estes convites eram acompanhados de cartazes (Apêndices B, C e D).

A amostra, definida naturalmente por ordem de chegada, foi composta por 22 educandos pertencentes a uma faixa etária entre 16 e 24 anos. Destes, 16 eram educandos

24

Na observação participante artificial “o observador integra-se ao grupo com a finalidade de obter informações” (MARCONI; LAKATOS, 2002, p. 196).

videntes ou comuns, que estudavam no Colégio Estadual da Bahia, e seis eram educandos com deficiência visual (incluindo uma educanda com visão reduzida, ex-aluna do referido Colégio), oriundos do Centro de Apoio Pedagógico (CAP) e/ou do Coral do Instituto de Cegos da Bahia (ICB). Salientamos que os educandos se encontravam em níveis escolares do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (primeiro a terceiro anos). No ato das inscrições, a proponente e professora da Oficina preenchia as fichas de pré-matrícula (Apêndice E) e de matrícula (Apêndice G) dos interessados. Em seguida, ela apresentava uma síntese sobre o processo de ensino a ser realizado (Apêndice F), e mencionava que a Oficina de Música era totalmente gratuita. Ao concordarem em participar da Oficina, eram preenchidas fichas de pré-matrícula, contendo identificação, endereço, informações pessoais e adicionais. Depois, no primeiro dia de aula, foram realizadas as matrículas definitivas mediante preenchimentos de fichas de matrículas, contendo os mesmos conteúdos da ficha anterior, mas com informações mais apuradas, adicionadas às informações pessoais sobre seus conhecimentos referentes à Abordagem CLATEC, e suas expectativas do curso. Todos teriam que se comprometer com as seguintes exigências:

a) estar estudando na rede pública de ensino;

b) comparecer aos dois encontros semanais, assim como aos encontros extras, caso fossem necessários;

c) participar, coletivamente, das visitas técnicas; d) participar em tempo integral de todos os encontros;

e) realizar os estudos teóricos e práticos musicais, diariamente, em suas casas ou em espaços afins.

Os participantes, em sua maioria, moravam em bairros periféricos da cidade de Salvador, tendo que sair mais de uma hora antes do horário previsto da aula. Neste sentido, todos necessitariam lanchar no meio de cada período de aula dada.

1.4.2 Concepção e aplicação da oficina de música

A “Oficina de Música com Abordagem Musical CLATEC: canto e flauta doce” foi realizada durante o período de 09 de agosto a 15 de dezembro do ano de 2005, perfazendo um total de 100 horas/aula trabalhadas. Sua fundamentação foi apoiada nas correntes pedagógicas do construtivismo e sociointeracionismo, nas orientações do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCN-EF), nos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (PCN-EF) e do Ensino Médio (PCN-EM), nas Orientações Curriculares Estaduais para o Ensino Médio (OCE-EM), e nos conteúdos das disciplinas pertinentes às

pessoas com necessidades educacionais específicas – Orientação e Mobilidade (OM), Atividade da Vida Diária (ADV) etc. Aplicamo-lo mediante a prática de seis atividades musicais - Construção de instrumentos, Literatura, Apreciação, Técnica, Execução e Criação. Além dessas atividades CLATEC, realizamos vivências práticas e básicas de teatro educação, que foram incorporadas de formas interdisciplinar25 e contextualizada.

As atividades ofereceram conhecimentos teóricos e vivências práticas em nível musical elementar, solidificados na construção de alguns instrumentos de percussão, na execução do canto em conjunto e da flauta doce, na construção de exercícios rítmicos e melódicos, na improvisação musical e criação de pequenas composições, e na performance musical, com apresentações didáticas musicais.

1.4.3 Tipo de amostragem

Definimos como amostragem três procedimentos: a) descrição da importância direta de cada educando pesquisado; b) observação e descrição de cada atividade CLATEC em sua totalidade; c) observação e descrição de seis abordagens CLATEC.

Com base nos documentos nacionais de educação, referentes ao ensino de Arte/música, observamos os caminhos da Abordagem Musical CLATEC sendo sugerido na construção do conhecimento musical. Verificamos, antes, o processo de interação social e adaptação dos materiais didáticos, a serviço dos educandos, na perspectiva da ajuda técnica e

da tecnologia assistiva

.

25

Interdisciplinaridade [...] Ela diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra. Podemos

distinguir três graus de interdisciplinaridade: a) um grau de aplicação. Por exemplo, os métodos da física nuclear transferidos para a medicina levam ao aparecimento de novos tratamentos para o câncer; b) um grau epistemológico. Por exemplo, a transferência de métodos da lógica formal para o campo do direito produz análises interessantes na epistemologia do direito; c) um grau de geração de novas disciplinas. Por exemplo, a transferência dos métodos da matemática para o campo da física gerou a física matemática; os da física de partículas para a astrofísica, a cosmologia quântica; os da matemática para os fenômenos meteorológicos ou para os da bolsa, a teoria do caos; os da informática para a arte, a arte informática. A interdisciplinaridade ultrapassa as disciplinas, mas sua finalidade também permanece inscrita na pesquisa disciplinar. Pelo seu terceiro grau, a interdisciplinaridade chega a contribuir para o big-bang disciplinar(NICOLESCU, 1999, p. 2).