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4 DOM CASMURRO: UMA LEITURA

No documento SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-074-1 (páginas 123-130)

Dayane Bezerra do Nascimento

4 DOM CASMURRO: UMA LEITURA

O romance Dom Casmurro apresenta um narrador homodiege tico autodiege -tico. Bento Santiago, o narrador-personagem, inicia sua narraça o explicando, ja velho, o porque do apelido “Casmurro”. Em seguida, ele se justifica sobre a escrita de seu livro. Em decorre ncia da narrativa autodiege tica, somos levados a ver os fatos relatados no enredo a partir da visa o de mundo desse narrador deprimido que rumina, em sua ressentida concepça o de mundo, os acontecimentos do passado.

Desse modo, Bento Santiago trata em seu relato, dentre outros pontos, sobre Capitu, sua vizinha que, desde a infa ncia, exerce sobre ele um forte domí nio. Eles casam-se, no entanto o comportamento possessivo e ciumento que ele demonstra o conduz a uma relaça o conjugal baseada em ciu mes e desconfianças.

Capitu, em verdade, se chama Capitolina2. Este nome corresponde a um dos epí tetos da deusa Ve nus que, na mitologia romana, e a deusa do amor e dispo e de vasta beleza. Capitu, como apreendemos do texto, e uma mulher bela – desde a infa ncia essa beleza se manifesta.

Enquanto isso, Bento Santiago traz no nome algumas relaço es que podem ser interessantes para compreendermos seu comportamento. Bento3 e um nome fortemente vinculado ao universo religioso, assim como Santiago. Devemos mencionar, ainda, que, na linha do que Caldwell propo e, o voca bulo Santiago pode ser subdividido em sua estrutura (Sant- / Iago) e, nele, localizamos o termo Iago, nome que faz mença o ao vila o da obra Otelo4, de Shakespeare.

2 DICIONÁRIO DOS NOMES PRÓPRIOS. Capitolina. Disponível em:

https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/capitolina/. Acesso em: 16 jun. 2020.

3 DICIONÁRIO DOS NOMES PRÓPRIOS. Bento. Disponível em:

https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/bento/. Acesso em: 16 jun. 2020.

4 Caldwell desenvolve seu trabalho com base na comparação entre Dom Casmurro e Otelo. Para ela, como percebemos pelo título do trabalho que utilizamos aqui como nossa fundamentação teórica basilar, Bento Santiago é o Otelo brasileiro. O enredo de Otelo, de fato, permite essa relação com o enredo de Dom

Os antropo nimos simbo licos em Dom Casmurro sa o determinantes para que compreendamos a relaça o complicada que ocorre entre o casal que o protagoniza. O ciumento esposo, cujo nome e mencionado no diminutivo em va rios momentos do romance (o nome no diminutivo pode sugerir o comportamento imaturo e infantil que ele demonstra ao longo da narrativa), na o parece lidar bem com a astu cia da esposa e, tambe m, com sua beleza.

Caldwell (2002, p. 25) afirma que o personagem Jose Dias foi determinante para que Bentinho simulasse a traiça o de Capitu, principalmente depois que o agregado da famí lia comenta que ela possui “olhos de cigana oblí qua e dissimulada”.

Bentinho nunca mais esquece desse comenta rio e, por apresentar comportamento neuro tico, passa a enxergar nas atitudes de Capitu a confirmaça o das hipo teses de adulte rio que o agregado fomenta nele.

Quanto a Jose Dias, ele e um manipulador que vive de dar conselhos a famí lia Santiago e consegue fazer a ma e de Bentinho, Dona Glo ria, desistir de cumprir a sua promessa, que e transformar Bentinho em padre. Ele aparenta, em suas atitudes, ser um homem vil e preconceituoso, pois no iní cio da obra o vemos criticar a aproximaça o entre a famí lia de Capitu e a famí lia de Bento Santiago, tendo em vista que ela e de uma famí lia de classe social na o privilegiada. Assim, tanto moral quanto socialmente, para Jose Dias, Bento Santiago deveria manter dista ncia de Capitu, porque ele prove m de linhagem nobre.

Bento Santiago, que tambe m e preconceituoso, na o perde a oportunidade de perceber em Capitu um descompasso social em relaça o a ele, o que a torna, do seu ponto de vista, uma mulher inferior. Na descriça o que o narrador faz da enta o menina Capitu, ele na o hesita em apontar certos detalhes que mostram o descompasso social que existe entre eles, como apreendemos do trecho (ASSIS, 2008, p. 23) em que ele a descreve e atenta para detalhes do tecido de sua roupa:

“Na o podia tirar os olhos daquela criatura de 14 anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado”.

Vemos em Bentinho uma aparente necessidade de colocar Capitu em uma situaça o de inferioridade, pois ele parece perceber que ela tem um cara ter forte, diferentemente do dele. Sua sensaça o de inferioridade em relaça o a Capitu, que tem a ver com sua ní tida baixa autoestima, tem implicaço es na maneira como ele a ve e, consequentemente, como ele a apresenta para o interlocutor. Na cena em que faz uma trança em Capitu, por exemplo, ele projeta sua sensaça o de inferioridade em relaça o a ela atrave s do comenta rio que faz sobre sua altura. Assim o narrador descreve a cena (ASSIS, 2008, p. 49): “Em pe na o dava jeito: na o esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse”.

Caldwell (2002, p. 92) nos faz perceber, novamente, a figura de Jose Dias como um dos precursores do ciu me doentio de Bento Santiago. O agregado na o perde a oportunidade de criticar Capitu. Quando o rapaz se encontra no semina rio, e Jose Dias vai visita -lo, ele deseja saber notí cias de Capitu, enta o o agregado lhe diz (ASSIS, 2008, p. 88): “Tem andado alegre, como sempre; e uma tontinha. Aquilo enquanto

Casmurro, sobretudo se pensarmos no tema do ciúme – presente nas duas obras, o ciúme é um tema significativo para o desenvolvimento das duas narrativas. Otelo, instigado por Iago, assassina por ciúme sua esposa Desdêmona. Bento Santiago não chega a tanto, mas se esforça para realizar a morte simbólica da esposa quando a acusa de traição.

na o pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...”

Notamos que ele se refere a Capitu como “aquilo”, deixando claro que na o a suporta, ale m de adjetiva -la como “tontinha”, de forma um tanto grosseira. O capí tulo no qual se encontra esse trecho esta intitulado “Uma ponta de Iago”, mença o direta ao vila o Iago, da obra Otelo, de Shakespeare. E neste capí tulo que vemos a primeira apariça o de seu ciu me.

Caldwell expo e que o excessivo ciu me que Bento Santiago sente ao saber notí cias de Capitu na o foi so conseque ncia do amor por ela, mas por se encontrar em um conflito com relaça o ao seguinte: deveria cumprir a promessa de sua ma e, ou deveria continuar a amar Capitu? Neste sentido, Caldwell (2002, p. 92) menciona que ele esta totalmente indeciso, ou seja, “ele devia amar e casar-se com Capitu ou tornar-se um padre e continuar como o filho amado de sua ma e”?

Bento Santiago sente inveja da astu cia e intelige ncia de Capitu, desde o momento em que ela consegue pensar em uma forma de livra -lo da promessa que sua ma e fizera. Ele na o quer se mostrar ao interlocutor como um homem possessivo, ciumento e, por vezes, miso gino, mas seu discurso so reforça seu cara ter problema tico.

Percebamos que ele e formado em Direito, uma profissa o que e sí mbolo de ascensa o social e sugere, tambe m, preparaça o intelectual e te cnica para ana lise de detalhes de um fato. No enredo, ele conversa com o interlocutor, tenta convence -lo de “suas verdades”. Nesta perspectiva, Capitu e apresentada por ele como uma mulher dissimulada e adu ltera.

Lembremo-nos de que Capitu e , em verdade, algue m que existe na enredí stica apenas pela visa o que Bento Santiago cria, que a apresenta conforme lhe conve m.

Ela, no entanto, como sujeito feminino do se culo XIX, inserido em contexto que ve a mulher a partir de modelos comportamentais fixos, parece na o corresponder, de todo, a esses modelos.

Assim, na linha do que Birman (2001) propo e sobre o papel social e histo rico da mulher, Capitu se ade qua ou na o ao que o autor apresenta como o que seria, em uma perspectiva estereotipadora que ele problematiza, tí pico da mulher?

Capitu e uma mulher que valoriza sua liberdade, no entanto e casada com um homem ciumento que na o perde a oportunidade de julga -la negativamente. De acordo com Birman (2001), na visa o preconceituosa com que o sujeito feminino e visto, a mulher pertenceria, exclusivamente, ao espaço privado.

Escobar comenta com Bento Santiago, por exemplo, em dia logo sobre a ida dela para os bailes, o seguinte (ASSIS, 2008, p. 136): “Sanchinha tambe m na o vai, ou ira de mangas compridas; o contra rio parece-me indecente”. Bento Santiago responde, em seguida, que: “Na o e ? Mas na o diga o motivo; ha o de chamar-nos seminaristas. Capitu ja me chamou assim”.

Bento Santiago impede que Capitu possa participar do baile, pois, para ele, os homens estavam a admirar os braços dela. Ela, no entanto, cria uma estrate gia para na o ceder a exige ncia do marido (ASSIS, 2008, p. 137), ou seja, “cedeu depressa, e na o foi ao baile; a outros foi, mas levou os meio vestidos de escumilha ou na o sei que , que nem cobria nem descobria inteiramente, como o cendal de Camo es”. Ela na o deixa de ir ao baile porque seu marido exige dela um determinado tipo de vestimenta, ela cede no primeiro momento, mas adota uma estrate gia: para os pro ximos bailes, a parte de sua vestimenta nem “cobria nem descobria

inteiramente” os braços. E, com o meio termo, ela agrada supostamente ao marido e a si pro pria. Ela utiliza sempre o bom-senso para lidar com as viso es “deformadas”

do mundo que o marido lhe quer impor.

Bento Santiago, no í ntimo, parece internalizar a ideia de que, enquanto para os homens estaria destinado o espaço social, em que eles podem transitar livremente, sem que sejam repreendidos por seus comportamentos, para as mulheres estaria destinado o espaço privado. Capitu, no entanto, ainda que por meio de estrate gias, parece subverter isso. Ela dispo e de astu cia suficiente para saber reverter esse tipo de aprisionamento.

Ale m disso, na linha do que Birman (2001) problematiza, enquanto os homens esta o ligados a racionalidade, a mulher estaria ligada a sentimentalidade, a s emoço es. Capitu na o se ade qua a essa visa o, uma vez que ela sabe lidar com as emoço es e age, na maioria das vezes, mais racionalmente do que Bentinho, como notamos no trecho:

Foi justamente por ocasia o de uma liça o de astronomia, a Praia da Glo ria.

Sabes que alguma vez a fiz cochilar um pouco. Uma noite perdeu-se em fitar o mar, com tal força e concentraça o, que me deu ciu mes.

– Voce na o me ouve, Capitu!

– Eu? Ouço perfeitamente.

– O que e que eu dizia?

– Voce ... voce falava de Sí rius.

– Qual Sí rius, Capitu. Ha 20 minutos que eu falei de Sí rius.

– Falava de... falava de Marte – emendou ela apressada.

Realmente, era de Marte, mas e claro que so apanhara o som da palavra, na o o sentido. Fiquei se rio, e o í mpeto que me deu foi deixar a sala. Capitu, ao percebe -lo, fez-se a mais mimosa das criaturas, começou-me na ma o [...] (ASSIS, 2008, p. 137).

Bento Santiago e melindroso e infantil, enquanto Capitu e pra tica e astuta, sabe o que fazer para agrada -lo. Em va rios momentos, quem se mostra uma pessoa sentimental e ele. Por exemplo, ele assume que e “chora o”, em certo contexto da vida, como fica claro no trecho (ASSIS, 2008, p. 69): “Eu, que era muito chora o por esse tempo, sentia os olhos molhados”.

Nesse sentido, afirmando a personalidade forte de Capitu, vejamos o que Schwarz (1991, p. 95) comenta:

Capitu, pelo contra rio, satisfaz os quesitos da individuaça o. A menina sabe a diferença entre compensaço es imagina rias a realidade, e na o tem apreço pelas primeiras. [...] Assim, quando a santa ma e de Bentinho resolve cumprir uma promessa e mandar o filho para o semina rio, pondo em risco os planos conjugais da vizinha pobre, esta explode num raro espeta culo de independe ncia de espí rito e intelige ncia.

Embora Capitu vivesse, segundo Schwarz (1991, p. 95), num “paí s ta o sentimental, ainda mais em se tratando de mocinhas”, constatamos que ela na o se deixou vencer pelas regras de uma sociedade preconceituosa.

Birman (2001) menciona, ainda, o fato de que a mulher coube, historicamente, a reprodução, enquanto o homem estaria vinculado a ideia de produção. Sobre a maternidade de Capitu, vejamos que ela termina por ser o amparo

que Ezequiel, o filho do casal, tem, uma vez que Bento Santiago, quando o ve parecido com Escobar, termina por manter certa dista ncia do menino.

Nesse sentido, Capitu protege o filho, cuida dele com afeto, mas mante m sempre sua visa o pra tica em relaça o a ele. Diferentemente do pai, que demonstra certos exageros de proteça o em relaça o a criança, ela o protege sem precisar de afetaço es. Ela esta ao lado do filho quando o pai dele pensa em mata -lo, no auge de suas desconfianças, como acontece no trecho (ASSIS, 2008, p. 169): “Chamem-me embora assassino; na o serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi criminoso. Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se ja tomara cafe ”.

Retomando a discussa o inicial, podemos dizer que Bento Santiago a julga odiosamente a partir de seu ciu me doentio. No capí tulo CXXXV, intitulado Otelo, temos mais uma vez a apariça o do seu ciu me extremo por Capitu, como lemos no trecho:

E era inocente – vinha eu dizendo rua abaixo. – Que faria o pu blico, se ela deveras fosse culpada, ta o culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro? Um travesseiro na o bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a po , e o po seria lançado ao vento, como eterna extinça o... (ASSIS, 2008, p. 167).

Desse modo, o narrador-personagem, por analogia, se baseia na peça teatral para comprovar a “culpa” que sua esposa possui e indicar a sua sentença de morte.

Em nenhum momento ele se utiliza de prude ncia para enxergar com lucidez os acontecimentos. Schwarz (1991, p. 89) analisa criticamente esse comportamento de Bento Santiago, quando afirma que:

Em lugar de entender que os ciu mes sa o maus conselheiros e as impresso es podem trair, Bento conclui de forma inso lita: se por um lencinho o mouro estrangulou Desde mona, que era inocente, imaginem o que eu deveria fazer a Capitu, que e culpada! A indicaça o ao leitor na o podia estar mais clara: a personagem-narradora distorce o que ve , deduz mal, e na o ha raza o para aceitar a sua versa o dos fatos.

Outra personagem que na o cessou crí ticas contra Capitu e sua famí lia, como ja apontamos, foi o agregado da famí lia Santiago: Jose Dias. Homem que apresenta uma personalidade desprezí vel, por ser hipo crita e dissimulado, podemos perceber esses predicativos pela forma como ele se comporta no trecho em que conversa com Bento Santiago sobre a famí lia Pa dua (ASSIS, 2008, p. 37-38):

– A gente Pa dua na o e de todo ma . Capitu, apesar daqueles olhos que o Diabo lhe deu... Voce ja reparou nos olhos dela? Sa o assim de cigana oblí qua e dissimulada. Pois, apesar deles, poderia passar, se na o fosse a vaidade e a adulaça o. Oh! a adulaça o! D. Fortunata merece estima, e ele na o nego que seja honesto, [...] mas honestidade e estima na o bastam, e as outras qualidades perdem muito de valor com as ma s companhias em que ele anda. Pa dua tem uma tende ncia para gente reles. Em que lhe cheirando a homem chulo e com ele. Na o digo isto por o dio, nem porque ele fale mal de mim e se ria, como se riu, ha dias, dos meus sapatos acalcanhados...

– Perda o – interrompi, suspendendo o passo –, nunca ouvi que falasse mal do senhor; pelo contra rio, um dia, na o ha muito tempo, disse ele a um sujeito, em minha presença, que o senhor era “um homem de capacidade

e sabia falar como deputado nas ca maras”.

Jose Dias sorriu deliciosamente, mas fez um esforço grande e fechou outra vez o rosto; depois replicou:

– Na o lhe agradeço nada. Outros, de melhor sangue, me te m feito o favor de juí zos altos. E nada disso impede que ele seja o que lhe digo.

Ele menospreza e destrata a famí lia de Capitu por pertencer a uma classe social baixa, e ainda se julga melhor do que eles, mesmo sendo um mero dependente da famí lia Santiago. E ele quem primeiro cria ideias de desconfiança na mente fra gil de Bento Santiago. Neste sentido, Schwarz (1991, p. 93) diz que: “O fingimento salta aos olhos e tem de ser administrado a fim de prevenir algum contravapor. Quando trata com superiores, o agregado se desdobra em adulaço es”.

Assim, concluí mos, em nossa leitura, que Capitu na o pode ser lida apenas como uma mulher adu ltera. Tambe m na o podemos afirmar categoricamente que ela e inocente diante das acusaço es que Bento Santiago elabora sobre ela. Na o podemos deixar, no entanto, de considerar que ele, em verdade, consumido pelo ciu me, e por sua arroga ncia de homem privilegiado economicamente, tenta de todas as formas manipula -la e rebaixa -la. Ele conta, para isso, com o reforço de Jose Dias, que o instiga negativamente contra Capitu desde a infa ncia deles.

Capitu, pore m, parece na o se dobrar a ele, por sua evidente astu cia e intelige ncia, o que faz com que ele se sinta mais reduzido ainda em seu discurso que se apoia em o dio, rancores e desconfianças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizarmos este trabalho, afirmamos que a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, tem muito material a ser debatido. Nossa proposta de refletir sobre como foi construí da a personagem Capitu, a partir do discurso do narrador-personagem, Bento Santiago, e uma das diversas formas de ana lise que essa obra nos possibilita.

Para nosso debate, realizamos leituras que nos permitiram compreender a maneira como Bento Santiago, um homem miso gino e neuro tico, apresenta a sua esposa que, para ele, e adu ltera. Trata-se de um narrador que a apresenta apenas por um a ngulo de visa o: o dele.

Em seu relato, ele incrimina Capitu, mas, tambe m, ao contra rio do que ele apresenta, nos faz conhecer uma mulher admira vel, de personalidade forte e intelige ncia incontesta vel cujo maior crime pode ter sido o fato de que na o lhe foi cabí vel se submeter aos caprichos de uma sociedade preconceituosa que o marido reproduz em seu discurso enciumado.

Os estudos aqui realizados tornam possí vel perceber que Capitu pode ter sido injustiçada no relato que o narrador Bento Santiago elabora sobre ela, embora saibamos que em ficça o nada pode ser afirmado como uma verdade absoluta. Ele parece querer manipular o leitor, na maior parte da narrativa, atrave s de um discurso de forte convencimento, no qual ele elabora provas baseadas apenas em sua visa o unilateral dos fatos. Ale m disso, ele quer levar o leitor a acreditar que Capitu o traiu, mas ele pro prio pode ter traí do algue m nessa histo ria. Ele pode ter traí do o leitor (por que na o?) com sua visa o doentia e neuro tica sobre uma mulher inteligente que tinha tudo para faze -lo feliz.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Sa o Paulo: Ciranda Cultural, 2008.

BIRMAN, Joel. Padecem as mães no paraíso? In: Gramática do erotismo: a feminilidade e suas formas de subjetivação em psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

CALDWELL, Helen. O Otelo brasileiro de Machado de Assis. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.

COUTINHO, Afrânio. Introdução à Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

DICIONÁRIO DOS NOMES PRÓPRIOS. Disponível em:

https://www.dicionariodenomesproprios.com.br/. Acesso em: 16 jun. 2020.

FRANCHETTI, Paulo. No banco dos réus: sobre a fortuna crítica recente de Dom Casmurro. Estudos Avançados, n. 23, p. 289-298, mar. 2009.

MOISÉS. Massaud. História da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 2007.

SCHWARZ, Roberto. A poesia envenenada de Dom Casmurro. In: Novos estudos, n. 29, p. 85-97, mar.

1991.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERFIL DO

No documento SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-074-1 (páginas 123-130)