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2 GRACILIANO RAMOS E O RETRATO DO NORDESTE DO BRASIL

No documento SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-074-1 (páginas 138-145)

Isolda Maria Aragão Maciel

2 GRACILIANO RAMOS E O RETRATO DO NORDESTE DO BRASIL

La fora há uma treva dos diabos, um grande silêncio. Entretanto, o luar entra por uma janela fechada e o Nordeste furioso espalha folhas secas no chão (RAMOS, 1985, p. 188).

No Brasil, o movimento modernista esteve atrelado a um contexto de efervescência no âmbito cultural, mas também a transformações políticas e econômicas ocorridas a nível mundial no início do século XX.

Dentre as mudanças históricas ocorridas, situam-se: os impactos da Primeira Guerra Mundial sobre o Brasil, o processo de industrialização do país (antes determinado por uma economia agrária) e o final da República Velha, com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder que, conseguiu isto, com o apoio da burguesia industrial. Um aspecto relevante que influenciou a renovação intelectual do Brasil, ressaltamos, foi a vinda de imigrantes para as regiões Sul e Sudeste, também o movimento operário que se forma nesse período. De algum modo, isso contribui para o contato de intelectuais brasileiros com as transformações artísticas vividas pela Europa no início do século XX – quando as vanguardas europeias começaram a dar a tônica das artes em suas mais diversas manifestações.

Essas mudanças alteram o cotidiano brasileiro social e politicamente, pois fomentam a busca pelo desenvolvimento tecnológico e científico. Esse ideário, porém, entra em choque com a antiga tradição econômica e política, determinada pela oligarquia agrária. O campo artístico (tradicional e academicista na ocasião) também passa por uma reconfiguração frente às mudanças que o Brasil vivencia.

Nesta perspectiva, Antonio Candido (2010, p. 98-99) afirma que:

O decênio de 1920 foi cheio de aspirações e medidas renovadoras em todos os campos da vida cultural e social, manifestando uma vitalidade nunca vista antes, que foi a sementeira de profundas modificações no futuro próximo. [...] Nesse processo, o marco divisor foi o movimento armado de 1930, nascido de uma disputa eleitoral no seio das oligarquias, mas abrindo um período novo, pela coincidência com a crise econômica mundial e as forças transformadoras que atuavam em todo o mundo ocidental desde o fim da guerra de 1914–1918, na política, no pensamento, na arte, na literatura, no estilo de vida.

É esse o quadro histórico no qual o movimento modernista surge, idealizado por um grupo de intelectuais que tem na cartilha o intento de valorizar elementos da cultura brasileira, rompendo com o modelo academicista anterior e propondo uma “antropofagia” da cultura estrangeira1, e, consequentemente, suas influências artísticas. Todavia, também tratava-se de dar visibilidade aos elementos da identidade nacional, como o folclore, o indígena, seu povo e suas regiões, a valorização da linguagem coloquial etc.

No contexto mundial, a década seguinte assiste à crise de 1929 e ao colapso econômico ocorridos nos países capitalistas. No Brasil, a década de 1930 vivencia a Era Vargas, a efetivação industrial, o desenvolvimento urbano e a formação do operariado, o que evidenciou a decadência do poder das oligarquias agrárias.

É na sequência dessa nova demanda política e econômica da sociedade brasileira que a geração de 1930 se molda em âmbito cultural e estético. A segunda fase do Modernismo se estabelece de maneira independente do movimento

1 Baseia-se nos ideais do Movimento Antropofágico, surgido na década de 1920 e idealizado por Oswald Andrade. Nele se propunha... propunha a assimilação dos valores estéticos e culturais europeus na constituição da identidade brasileira. Com a intenção de valorizar as raízes nacionais, vieram à tona o indígena, a fauna e a flora nacionais, o folclore etc.

anterior, pois aproveita as conquistas obtidas pela primeira fase, porém, com a independência que os revolucionários de 1922 não tiveram. Nas palavras de Alfredo Bosi:

O modernismo e, num plano histórico mais geral, os abalos que sofreu a vida brasileira em torno de 1930 (a crise cafeeira, a Revolução, o acelerado declínio do Nordeste, as fendas nas estruturas locais) condicionaram novos estilos ficcionais marcados pela rudeza, pela captação direta dos fatos, enfim por uma retomada do naturalismo, bastante funcional no plano da narração-documento que então prevaleceria (BOSI, 2006, p.

389).

Dando continuidade à temática defendida pela Semana de Arte Moderna, o segundo momento do Modernismo busca na realidade social do Nordeste brasileiro seu principal tema. A vida do nordestino, os problemas sociais advindos da realidade climática e política da região, assim como a reverberação de um sistema opressor, são pontos essenciais nos romances produzidos nesse período. Nas palavras de Santos (2013, p. 03), “todo o otimismo da primeira geração modernista logo foi substituído pela consciência da cruel realidade brasileira”. Neste sentido, para o autor, o “experimentalismo da primeira geração cedeu lugar à escrita mais tradicional, impregnada de expressões de caráter regional, o urbano cedeu lugar ao rural”.

O olhar para o Brasil transforma-se na imersão sobre as periferias das suas demais regiões. Há a quebra de paradigmas dos polos econômicos tidos como referenciais do país, como o era São Paulo e Rio de Janeiro, enfatizados nas produções dos modernistas de 1922. Havia a necessidade, também, de uma pluralidade na literatura capaz de “dizer” o Brasil, como bem explicita Graciliano Ramos, em artigo publicado no Diário de Pernambuco, em 19352:

Era indispensável que os nossos romances não fossem escritos no Rio, por pessoas bem intencionadas, sem dúvida, mas que nos desconheciam inteiramente. Hoje desapareceram os processos de pura criação literária.

Em todos os livros do Nordeste, nota-se que os autores tiveram o cuidado de tornar a narrativa, não absolutamente verdadeira, mas verossímil.

Ninguém se afasta do ambiente, ninguém confia demasiado na imaginação. [...] Esses escritores são políticos, são revolucionários, mas não deram a ideias nomes de pessoas: os seus personagens mexem-se, pensam como nós, sentem como nós, preparam as suas safras de açúcar, bebem cachaça, matam gente e vão para a cadeia, passam fome nos quartos sujos duma hospedaria.

Nessa perspectiva, é possível reconhecer a opção dos escritores oriundos das demais regiões do país por tematizar sua produção ficcional a partir da própria experiência e do ambiente em que vivem. Neste sentido, destacam-se: Rachel de Queiroz, no Ceará; Graciliano Ramos, em Alagoas; Jorge Amado, na Bahia; José Lins do Rego, na Paraíba, dentre outros autores.

A denominada geração de 1930, que criou o romance do ciclo das secas, tornou-se representativa, principalmente, por seu caráter crítico frente à realidade

2 Artigo intitulado “O romance do Nordeste”, publicado no Diário de Pernambuco, em 10 de março de 1935.

brasileira. São esclarecedoras as palavras de Santos (2013, p. 02), em sua análise sobre o movimento de 1930, ao apontar este viés sob uma perspectiva gramsciana, quando enfatiza que o “entrelaçamento entre o discurso literário com o discurso sociopolítico, onde problemas do Nordeste brasileiro – principalmente a seca, o abandono e a violência – são representados nas páginas dos romances”.

Alfredo Bosi (2006), ao afirmar que a Geração de 30 compartilhou, de certo modo, do Realismo do século XIX, sugere também que expandiu seus modelos literários ao que antes era “científico” e “impessoal”. No dizer de Bosi (2006, p. 389), os escritores da geração à qual pertenceu Graciliano Ramos, preferiram “uma visão crítica das relações sociais”. Ao mencionar Graciliano Ramos, ele afirma que essa visão crítica “daria à obra de Graciliano Ramos a grandeza severa de um testemunho e de um julgamento”.

É nesse contexto que Graciliano Ramos se torna a maior referência da prosa ficcional do período. Em Vidas Secas, obra de 1938, sua obra mais conhecida, é narrada a vida de flagelo da família do personagem Fabiano e a humanidade de sua cachorra Baleia, marcados pela miséria e pela seca da vida no sertão nordestino.

Já em São Bernardo, obra de 1934, publicada dois anos antes de Graciliano Ramos ser preso, sem nenhuma acusação formalizada, pela ditadura imposta por Getúlio Vargas, o autor narra a história de Paulo Honório e seus meios para ganhar dinheiro e conquistar seu tão almejado sonho de se tornar proprietário da fazenda São Bernardo. Na obra, percebe-se as relações de poder e as transformações sofridas no meio agrário decadente pelo seu processo de industrialização.

Em 1936, Graciliano Ramos é preso novamente. Dessa experiência surge a inspiração para a escrita do livro Memórias do Cárcere, publicado pela primeira vez em 1953. Neste livro, o escritor narra as torturas sofridas por personagens reais, também a miséria e a marginalidade sofridas por muitos deles mesmo antes da prisão. O tratamento que o Estado Novo dá a seus presos políticos é retratado com pormenores nessa obra.

Na posição de quem vivenciou a experiência de ser nordestino, através de uma visão crítica das relações humanas e dos problemas sociais, a obra São Bernardo serve de base para a compreensão do contexto histórico vigente, dentro da transição determinada pelas transformações políticas e econômicas que ocorreram naquele período no Brasil e a forma como os sujeitos se relacionaram com essas mudanças.

Conforme esclarece Durval Muniz (2011, p. 127), o “romance de trinta” reflete, a partir de enunciados sociológicos,

as “várias realidades do Nordeste”, levando à superação da tradicional dicotomia que atravessava a produção regionalista naturalista, entre litoral e interior. O homem do interior deixa de ser visto como um ser exótico, pitoresco, que não se encaixava nos padrões emanados das cidades, e passa a ser abordado na sua constituição sociológica e psicológica, denotando o seu pertencimento a um todo social e não mais um ser estranho, apartado da realidade da civilização.

Nesse estudo que o historiador faz sobre a “invenção do Nordeste”, ressalta-se que a valorização das regiões Sul e Sudeste do país forjou-ressalta-se através de um discurso que as privilegiou, inclusive na literatura.

Durante as décadas de 1920 e 1930, a região Nordeste foi ressignificada por meio dos romancistas que, impulsionados pelo Manifesto Regionalista de 1926, idealizado por Gilberto Freyre, ocuparam esse espaço com o objetivo de adentrar na região com a intenção de apresentar essa ideia de nação a partir do espaço geográfico de quem o escreve. Nas obras desses autores emergiu um Brasil cujo centro não era São Paulo ou o Rio de Janeiro. Além disso, a temática – aqui discordamos de Durval Muniz – não é tipificada com personagens estereotipados, pois o “Paulo Honório” de Graciliano Ramos não representa um homem sertanejo cuja ação é determinada pela seca, mas um homem cujo olhar percebe as transformações pelas quais passavam o Brasil e o Nordeste – transformações que se dão em consequência, também, da transição do sistema agrário para o industrial

Em São Bernardo, portanto, exprime-se, além da memória de Paulo Honório, que estrutura o romance, a memória histórica: em primeiro lugar, por assumir uma construção narrativa que tem como foco a visão do narrador-personagem; em segundo lugar, porque é através dessa recordação que o narrador faz o mapeamento geográfico para falar do sertão, além de traçar o contexto histórico e político vivido naquele período:

Gondim detestava acordos. Dente por dente, percebíamos? Dava-nos conselhos violentos, a mim, ao Nogueira, às árvores do pomar, e instigava-nos a uma contra-revolução (quanto mais depressa melhor) que varresse do poder aquela cambada de parlapatões. Queria um governo enérgico, sim senhor, duro, sim senhor, mas sensato, um governo que trabalhasse, restabelecesse a ordem, a confiança do credor e a subvenção. [...] Como íamos é que não podia ficar (RAMOS, 1985, p. 176).

Vale lembrar que o contexto mundial da década de 1930 foi de profundas transformações: a Europa se recuperando da Primeira Guerra Mundial e os Estados Unidos assumindo-se como grande potência econômica. No Brasil, era o início do governo de Getúlio Vargas e de um processo lento e gradual de transformações políticas e econômicas, no campo e nas cidades, cujos reflexos aparecem no livro de Graciliano Ramos por meio da voz de seu narrador-personagem:

Entrei nesse ano com o pé esquerdo. Vários fregueses que sempre tinham procedido bem quebraram de repente. [...] Tive de aceitar liquidações péssimas. O resultado foi desaparecerem a avicultura, a horticultura e a pomicultura. As laranjas amadureciam e apodreciam nos pés. [...] Ainda por cima os bancos me fecham as portas. Não sei porquê, mas fecharam (RAMOS, 1985, p. 178).

Evidencia-se no trecho o processo de transição pelo qual passava o Nordeste do período, a crise de natureza agrária devido à transição para o contexto industrial.

Desse modo, a memória, as lembranças e as recordações são elementos determinantes na construção da narrativa.

A memória individual em São Bernardo se dá com a apresentação de fatos presentes nas relações familiares, com a esposa Madalena; nas relações de trabalho, com a rotina na fazenda São Bernardo e a relação com os empregados etc. Narram-se fatos banais que são, por vezes, explicitados pelo narrador. A vida cotidiana também faz parte da história que perpassa o pensamento e as recordações de cada

sujeito, que formam todo o círculo das experiências vivenciadas por cada um no mesmo momento em que, de maneira coletivizada, a história em sua memória social também perpassa nos reflexos e nas vivências de um tempo.

3 A CONSTRUÇÃO NARRATIVA DE SÃO BERNARDO: ENTRE A TÉCNICA TRADICIONAL E A PROFUNDIDADE DO ENREDO

São Bernardo é a segunda obra de Graciliano Ramos. Construída com narrador autodiegético, Paulo Honório, o narrador-protagonista, discorre sobre sua história de vida quando decide escrever seu livro de memórias. Criado sem pai nem mãe, e rodeado de muita pobreza, ele cresceu sendo ajudado pela velha Margarida, uma doceira pobre que o criou, e trabalhando como guia de cego. Já adulto, encanta-se por Germana, que o troca por João Fernandes a quem termina por assassinar. Pelo crime, Paulo Honório ficou preso, conforme apreendemos do narrador (RAMOS, 1985, p. 13), “três anos, nove meses e quinze dias”. Na experiência do cárcere ele foi alfabetizado. Aprendeu a ler com Joaquim sapateiro – foi alfabetizado através da leitura de uma pequena Bíblia.

Após essa experiência, Paulo Honório quis, como objetivo de vida, tornar-se proprietário da fazenda São Bernardo, ideia que se efetiva posteriormente, usando meios obscuros e sorrateiros para enganar o antigo herdeiro da terra, Gondim, que se tornará, posteriormente, seu empregado.

Anos mais tarde, já progredido na fazenda São Bernardo, Paulo Honório sente a necessidade de ter um herdeiro, já que produzira riquezas. Casa-se, então, com Madalena, por meio de um casamento arranjado. Com o passar do tempo, o casamento torna-se seu maior tormento devido ao ciúme que sente da esposa. Ela, em razão de tanta perseguição psicológica e da relação conflituosa com o marido, comete suicídio. É válido ressaltar que Madalena, uma professora com valores humanistas, enfrentava, frequentemente, choques ideológicos com o pensamento explorador de Paulo Honório em relação a seus empregados.

A narrativa se encerra anos depois da morte de Madalena e do abandono por parte dos empregados e agregados da fazenda. Neste mesmo lugar, Paulo Honório rememora os fatos ocorridos na escrita do seu livro. O livro inicia-se com o uso de metalinguagem3, quando Paulo Honório apresenta o interesse por contar sua própria história:

Tenciono contar a minha história. Difícil. Talvez deixe de mencionar particularidades úteis, que me pareçam acessórias e dispensáveis.

Também pode ser que, habituado a tratar com matutos, não confie suficientemente na compreensão dos leitores e repita passagens insignificantes. De resto isso vai arranjado sem nenhuma ordem, como se vê. Não importa. Na opinião dos caboclos que me servem, todo o caminho dá na venda (RAMOS, 1985, p. 10).

3 Fazemos referência à função metalinguística, que consiste no uso da linguagem para tratar de si mesma.

Roman Jakobson associa, em sua teoria da comunicação, a linguagem metalinguística ao conceito de código, conforme apreendemos do estudo acerca dos elementos da comunicação.

O narrador-personagem relata, através de suas memórias, sua trajetória, a pobreza vivida na infância, as culpas sentidas. É seu intuito produzir uma espécie de biografia através dessas memórias.

De início, já somos informados de que há um narrador-personagem que pretende contar sua própria história. A linguagem se põe com clareza ainda no primeiro capítulo: “Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma!”

Paulo Honório, que inicialmente pede ajuda de seus amigos letrados para a escrita de suas memórias em livro, retrocede desse serviço por achar que a linguagem muito culta e formal proposta por Gondim, seu amigo e redator do Cruzeiro, não lhe foram agradáveis, preferindo escrever por ele mesmo, com sua linguagem simples e de fácil compreensão:

Afinal foi bom privar-me da cooperação de padre Silvestre, de João Nogueira e do Gondim. Há fatos que eu não revelaria, cara a cara a ninguém. Vou narrá-los porque a obra será publicada com pseudônimo. E se souberem que o autor sou eu, naturalmente me chamarão potoqueiro (RAMOS, 1985, p. 10).

Em seguida, o personagem observa que seu interesse é o de contar sua história sem muitos rodeios: “As pessoas que me lerem terão, pois, a bondade de traduzir isto em linguagem literária, se quiserem. Se não quiserem, pouco se perde.

Não pretendo bancar escritor” (RAMOS, 1985, p. 11).

Antonio Candido (1992, p. 14), ao analisar a profundidade que encontra em São Bernardo, reconhece nesse livro a sua estrutura composta “de fórmulas tradicionais da técnica do romance”. A obra apresenta os elementos da estrutura narrativa tradicional com: narrador, tempo, espaço e ambiente bem delimitados no enredo, que se passa no sertão alagoano.

Já nos primeiros capítulos, o leitor tem acesso a todas as personagens secundárias que ajudam a dar movimento à narrativa contada por Paulo Honório.

No quinto capítulo, surge a necessidade do narrador de casar, que amarrará a discussão ideológica feita até o final da narrativa com o surgimento da personagem Madalena. A partir daí, se dará a transformação de Madalena, a esposa que representa a possibilidade de vivência afetiva, em mero objeto de posse. Conforme observações feitas por João Luiz Lafetá sobre o livro,

Em termos de técnica narrativa não poderia haver solução mais coesa:

totalmente imbricados surgem, à nossa frente, personagem e ação. Paulo Honório nasce de cada ato, mas cada ato nasce por sua vez de Paulo Honório. Nós o vemos através das ações; mas, por outro lado, é ele quem deflagra todas as ações (LAFETÁ, 1985, p. 192).

A visão de Paulo Honório dá a tônica do que ele decide contar. Ora justificada pelo contexto de vida marginal no qual nasceu, ora pela finalidade de crescer e prosperar financeiramente na fazenda São Bernardo, o narrador apresenta sua trajetória de vida: da infância pobre aos crimes cometidos enquanto homem de negócios, do casamento lastreado por ciúmes à velhice solitária. Na velhice, vem o projeto de escrita do livro de memórias.

4 PAULO HONÓRIO: ANÁLISE PSICOLÓGICA DE UM NARRADOR-PERSONAGEM

No documento SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-074-1 (páginas 138-145)