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Em resposta, o rei Ludovico concede a restauração do Mosteiro para fins educativos; assegura o uso do prédio do Convento, da Igreja e dos jardins anexos às irmãs, mas como

propriedade do Estado; assegura-lhes pensão vitalícia; destina duas professoras para

ampliarem o quadro do ensino; permite a admissão de noviças com a autorização do Governo Regional e do Ordinariado Episcopal; submete o Instituto Religioso conventual à Paróquia e à Diocese, e o Instituto de Ensino à supervisão da Inspetoria do Ensino e do Governo Regional; finalmente, autoriza além da escola feminina mantida pelas irmãs desde 1774, a abertura de um educandário em regime de internato e externato para filhas da cidade e redondezas cujos pais pudessem pagar-lhes os estudos.

Tais decisões demandavam muita energia e trabalho, reformas no prédio, capacitação, adequação do Estatuto e, sobretudo, direção espiritual. A Regra de São Francisco continuava valendo, mas deveria sofrer emendas em vista da nova finalidade principal do Mosteiro, "a

qual fazia com que as religiosas de Dillingen não levassem mais vida contemplativa somente, mas procurassem ser úteis ao próximo e ao Estado, através da educação e formação da juventude feminina" (HAAS, 2000, p. 109). A missão educacional restituiu em parte a condição econômica das irmãs, e, sobretudo, abriu um campo de ação que se expandiu, através das casas filiais em terras européias, ao longo do século XIX, por solicitação dos

sacerdotes e dos prefeitos. Quando estes consultavam as autoridades da Baviera sobre a

qualidade do seu trabalho educacional obtinham sempre excelentes referências, tal como informa o parecer emitido em 1853, pelo governo da Suábia em resposta a uma solicitação da Franconia: "realmente, religiosas em geral são eficientes na Escola, mas as Franciscanas superam as outras. Pois elas, tendo muitas candidatas, admitem somente as melhores e assim têm boas professoras, cuja atuação consiste numa grande benção" (HAAS, 2000, p. 109-115). Na segunda metade do século XIX, a Alemanha despontava como país industrial que formava trabalhadores especializados não só nas escolas, mas também nos canteiros de aprendizagem das grandes empresas. A educação libertara-se gradualmente das restrições dogmáticas eclesiais, evoluindo à luz da noção de que o guia da vida é a lei do dever. O modelo de universidade como complexo de escola de graduação com base em experimentação e pesquisa avançada, outorgando o direito de buscar a verdade sem

restrições ideológicas, políticas ou religiosas, que se tornaria referência mundial, chamou a

atenção dos ilustrados para demandas sociais antes desconsideradas: a condição feminina, a infância, os deficientes, os indigentes requeriam políticas específicas para as quais as virtudes franciscanas tinham sua importância.

Para nossas irmãs de Dillingen, as realizações deste século se iniciaram com a restauração do convento pelo Estado, para servir à sociedade como casa de educação, evoluíram com a fundação das casas filiais que abriam possibilidades diversificadas de atuação, tanto no âmbito da educação (creches, escolas primárias, escola industrial em sistema de internato e externato), quanto no campo da assistência social (institutos para surdos-mudos e deficientes mentais, cursos de formação de empregadas domésticas e operários, lares para crianças abandonadas), além da assistência à saúde. “As irmãs compreenderam-se como colaboradoras de Deus na construção de seu Reino no mundo, a serviço da Igreja e do Estado” (HAAS, 2000, p. 195).

No início do século XX, em um cenário europeu de guerras, abria-se novo campo de atuação: a América sensualística e necessitada de polimento, pela qual a Regra muito podia fazer através da educação. O poder eclesiástico ultramontano providenciou a missão

transoceânica das franciscanas de Dillingen: em 1913, os Estados Unidos; em 1937, o Brasil; em 1976, a Índia. Todas as missões partiam da casa-mãe em Dillingen, que ainda hoje se mantém como matriz das demais casas espalhadas pelo mundo. No Brasil, as primeiras missões franciscanas fixaram-se em Areia, na Paraíba e em Cabo Frio, no Rio de Janeiro. A vinda das alemãs era de todo conveniente à Ordem, mas é oportuno lembrar as motivações ligadas à política educacional brasileira no período Vargas e o interesse das oligarquias em proporcionar, através da educação, a ordem, a disciplina e o rigor necessários ao controle da juventude e da índole feminina.

Atualmente, a congregação continua ofertando educação a uma reduzida demanda, convivendo e aprendendo no diálogo franciscano com as comunidades liberadas da outrora vigiada relação com Deus. A dinâmica atual da congregação é “viver os momentos de contemplação e os de ação, estar para receber e para dar, deixar-se amar e amar” (HAAS, 2000, p. 196), afirmando seu carisma no exemplo inesgotável de Francisco de Assis. Contemporaneamente, o foco de sua atuação redireciona-se em favor das comunidades carentes. Neste sentido, as irmãs mantêm uma casa de formação que recebe adesões, localizada nas “Cinco Bocas”, no bairro de Mandacaru em João Pessoa. A propriedade de Areia, hoje com menos de trezentos alunos, é também residência das irmãs e, desde 1964, sede provincial, sob o patrocínio de Maria Medianeira das Graças, que reúne as casas do Nordeste em uma única jurisdição, tendo atualmente como superiora a irmã Flávia Brito.

Escritora amplamente consultada nesta obra, a Irmã Michaella Haas, alemã de nascimento e radicada no Brasil desde 1952, reporta-se à história de sua congregação como “semelhante à de Jesus: como Ele acolheu a força do Espírito durante trinta anos silenciosos para depois estar atuando entre os homens, assim também as nossas irmãs, no seu longo tempo de clausura e contemplação experimentaram e ouviram o Paráclito, acolhendo depois o seu chamado à ação”, cumprindo a Regra de perfeita imitação a Cristo formulada no século XII pelo Seráfico Francisco (HAAS, 2000, p.196).

3.3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FRANCISCANA FEMININA

Presentificamos, neste trabalho, o período de 1937 a 1970, que atualiza a noção de convento como entidade híbrida, simultaneamente comunidade residencial e organização formal, casa de devoção e de instrução, em cujo interior são providas todas ou quase todas as

necessidades da vida, sob a administração de uma autoridade central. Um conjunto de regras formais explícitas orienta as atividades, racionalmente planejadas, cronometradas e executadas para atenderem aos objetivos da instituição54, que “em nossa sociedade é uma estufa para mudar pessoas; um experimento natural sobre o que se pode fazer do eu” (GOFFMAN, 1974, p. 22).

O processo de formação que passamos a descrever era literalmente cumprido pelas irmãs do Colégio Santa Rita de Areia, no período a que se reporta esta pesquisa. Nossa intenção é referenciá-lo à noção de “identidades,” que elegemos como norteadora deste trabalho. O aprimoramento do espírito para a grandiosa missão de imitar a Cristo justifica o rigor na preparação das operárias. O desligamento do mundo, cuidadosamente elaborado ao longo do postulantado e do noviciado, é aperfeiçoado até a auto-renúncia e exige não apenas a obediência à Regra, mas, sobretudo, a experiência de ser uma nova pessoa, cuja identidade é construída por meio de estratégias de identificação apoiadas nas fontes documentais legadas por São Francisco e seus seguidores primevos e também na pujança do simbolismo franciscano.

Assim, a formação das religiosas de Dillingen, seguindo o exemplo de São Francisco,55 constitui preocupação central e requer dedicação especial das mestras e das candidatas, cujos requisitos de aceitação são: sadias disposições corporais, espirituais e psíquicas; motivação para a vida religiosa; amor à igreja e aptidão para a vida comunitária. “O objetivo da sua preparação é o desenvolvimento da religiosa no sentido de tornar-se uma personalidade impregnada do Evangelho e que, como mulher, queira viver uma autêntica doação a Cristo” (Regra e Constituições da Congregação das Irmãs Franciscanas de Dillingen, 1982, Cap. VI, 6.1, p. 61). Neste propósito, as candidatas perseguem estágios distintos de uma formação que nunca estará concluída, pois a formação integral funde-se ao apostolado e deve se realizar ao longo de toda uma vida impregnada do espírito de São Francisco.

A pobreza não deveria constituir obstáculo para ingresso num convento de São Francisco. Antes, eram considerados o coração e o espírito da postulante, mas um enxoval básico era necessário e compunha-se de 03 lençóis de 2m x 1,10m, 01 travesseiro de 50 cm x 50cm, 02 cobertores de lã, 02 colchas brancas, 03 toalhas de rosto, 02 toalhas de banho, 02

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Por sua organização interna, pela apropriação particular do espaço e pelo controle estrito dos seus membros, os conventos, manicômios e prisões são classificados por Goffman (1974) como instituições totais. Foucault (2008) os classifica como instituições completas e austeras.

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Francisco formava os co-irmãos com rigorosa preocupação, ensinando-os a andar com passo indeclinável no caminho da santa pobreza e da bem-aventurada simplicidade. Toda ação neles era disciplinada. Seus ensinamentos eram realizados “não tanto pela palavra e pela língua, mas mormente em obra e verdade ele formava os novos filhos” (1 Celano, Cap. XV, 41, 6. TEIXEIRA, 2008, p. 226)

sacos para roupa servida, 02 véus de filó branco, 06 combinações, 12 calças, 03 camisolas, 06 lenços, 06 pares de meias brancas curtas, 02 pares de sapatos pretos de salto baixo, 01 par de chinelos, 01 bacia com jarro e 02 copos, 01 talher completo com 04 guardanapos, 01 caixinha com utensílios de costura (dedal, tesourinha, agulhas, linha branca e preta, botões, pressões etc.), pentes grosso e fino, escovas (para dentes, calçados e roupas), sabonetes, pasta dentifrícia, graxa preta e os vestidos usuais de casa, além de Cr$ 500,00 para uma farda, e documentos: registro de nascimento, certidão de batismo, certidão de crisma e atestado de saúde (Crônica da Congregação das Irmãs Franciscanas de Dillingen, 1937 a 1964, parte A, página avulsa, Arquivo da Província Franciscana Maria Medianeira das Graças).

As primeiras candidatas chegaram a Areia em 1946, mas a Sé Apostólica só autorizou a instituição do noviciado no colégio em 1947. Assumiam pesada carga de ocupações domésticas: na cozinha, no refeitório das internas, no jardim e na horta, na lavanderia e na rouparia, na limpeza do piso, das janelas e das portas, trabalhando em silêncio ou rezando o terço como parte das normas disciplinares. Referindo-se ao trabalho das candidatas e noviças, Madre Inviolata, dotada de sensibilidade e de senso de justiça, escreveu em uma carta datada de 31 de julho 1951 a Madre Siegfrieda, que se encontrava na Alemanha: “Todas elas deviam ter mais tempo para o estudo” (Crônica da Congregação das Irmãs Franciscanas de Dillingen, Parte A, item i, página avulsa). Esta carga excessiva de trabalho era uma das causas da grande desproporção entre o número de jovens que chegavam e as que permaneciam, ao lado da rigidez da hierarquia e da “superioridade” das européias em relação às miscigenadas postulantes brasileiras, mas a região polarizada pelo município de Areia era reconhecida como pródiga em vocações.

Ao entrar no Convento, a candidata começava sua formação em que deveria percorrer todas as instâncias da casa. Paralelamente ao estudo e ao trabalho, iniciava-se na meditação e cumpria a rotina de orações sob a orientação da mestra. Usava saia azul marinho presa à blusa branca por quatro botões. Cobria a parte superior da blusa uma pelerine, espécie de gola feminina que cobre os ombros e o peito, na cor da saia. No peito, um crucifixo preso ao pescoço por um cordão preto. Concluída a formação inicial, nunca inferior a um ano, e persistindo o desejo de abraçar a vida religiosa, a jovem ingressava no noviciado, rigoroso período de estudo e oração. Mantinha-se reclusa e em silêncio. Interrompia os estudos seriados, retomando-os após um ano. Já participava do ofício Divino juntamente com as irmãs professas. Seu ingresso no noviciado se dava em cerimônia especial. Entrava na Capela em traje de noiva, a cabeça coberta com véu e coroa de flores brancas (Ilustração 11),

simbolizando sua pureza, que ofertava a Cristo. No alto da cabeça, os cabelos alinhados em quatro cachos pendentes eram cortados e aparados em uma bandeja como sinal de desligamento do mundo. Recebia o hábito preto longo sobre o qual era colocada uma pelerine preta arrematada por pequenina gola branca. Recebia o escapulário, o terço e a cruz missionária. Compunham seu novo traje, sapatos e meias pretas.

Enquanto atributo externo, o hábito tem como chave de leitura a virtude da humildade, que remete aos penitentes e aos mendicantes, simbolizada nas cores cinza, marrom ou preta, segundo as distintas famílias franciscanas. Francisco remetia a cor da veste à humildade da cotovia cuja plumagem “assemelhava-se à terra, oferecendo aos religiosos um exemplo de que não devem ter vestes coloridas e elegantes, mas como que roupas descoloridas a modo da terra” (Compilação de Assis, 14, 10-11. TEIXEIRA, 2008 p. 853). O hábito agrega também o sentido de purificação, pois o cordão remete à tradição do povo hebreu que cingia os rins no sentido de obter a purificação do corpo e do espírito. O Novo Testamento também adota este simbolismo na figura de João Batista, precursor de Jesus, que, despindo-se de toda vaidade, vestia-se com peles de animais e sobre a veste usava uma corda para cingir os rins (Mc. 1,6; Mt. 3,4). O hábito agrega também a ideia de poder, pois é socialmente visibilizado como extensão do divino e do sagrado.

Completando o traje, recebia um véu branco, cujo uso pelas religiosas corresponde ao uso do solidéu, do latim soli Deo, somente a Deus, pelos dirigentes da igreja, indicando a

Ilustração 11 - Coroa usada na cerimônia do noviciado Fonte: acervo do Colégio Santa Rita

necessidade de preservar o pensamento das coisas mundanas. O corte dos cachos de cabelo56 que precedia a sua colocação, além de medida higiênica, incorporava o sentido de desprendimento da vaidade, da sensualidade e da feminilidade, já que a diferença entre os sexos tem como uma das marcas a pilosidade e seus usos. Operava-se, assim, uma mutilação simbólica ao eu feminino, pois “o pêlo está duplamente colado ao íntimo: por sua penetração interna, por sua proximidade com o sexo. Suas raízes penetram o corpo no ‘eu-pele’, essa fina película que limita interior e exterior” (PERROT, 2007, p. 51). A Igreja sempre esteve cuidadosa em relação aos cabelos femininos. Ao referir-se à mulher orante, o apóstolo Paulo faz recomendações sobre o uso do véu e sobre o cabelo: “Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso que rape o cabelo. Mas se lhe é vergonhoso tosquiar-se, ou rapar-se, cumpre-lhe usar o véu” (1 Cor. 11,5-6). Para as franciscanas,

o véu cumpria a finalidade de ajudá-las a desenvolverem uma atitude de humildade e de adoração a Jesus; a compreenderem sua vocação, a perseguirem a maturidade espiritual, a internalizarem sua nova identidade e seu lugar no mundo (Depoimento da Irmã Maria Agnes Soares, do Colégio Santa Rita de Areia/PB, em 13.05.2009).

Nascimento implica nomeação. Assim, ao nascer em Cristo, a religiosa recebia um novo nome escolhido pela superiora, que posteriormente passou a ser escolhido pela noviça e, atualmente, tornou-se opcional. O nome comporta um simbolismo que, para além da pertença familiar, da identificação legal e do reconhecimento social, se inscreve no psiquismo como uma possessão a partir da qual se consolida a noção do eu. Sua substituição constitui uma desapropriação simbólica, uma ruptura das vinculações com a família e a infância e uma descontinuidade na individuação. Portanto, “qualquer que seja a maneira de ser chamado, a perda do nome é uma grande mutilação do eu” (GOFFMAN, 1974, p. 27).

Pelo voto de pobreza, a religiosa abdica de suas pertenças particulares em favor da comunidade, onde cada pessoa é suprida conforme a sua necessidade57. Uma vez que as pessoas atribuem sentimentos do eu àquilo que possuem, imprimindo-lhes valores como elementos integrativos da sua identidade, o despojamento dos seus bens gera a perda de um

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A tosquia foi prática usual nas instituições totais com finalidade higiênica, mas também disciplinar para os militares, niveladora para os detentos, de inferiorização para os escravos, de banimento para os deportados, distintiva para sacerdotes, de purgação para as feiticeiras cujos cabelos as predestinavam ao diabolismo. As normas para a instauração e condução dos processos inquisitoriais determinavam sua raspagem sob a alegação de que nas cabeleiras elas podiam ocultar objetos perigosos (KRAMER; SPRENGER, 1997, Questão XV).

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A renúncia à riqueza material como propriedade individual, postulada e vivida por Francisco, está afirmada na Regra e tem fundamento em At 4, 32-37.

sentido de segurança pessoal que afeta a identidade. “As ordens religiosas avaliaram muito bem as conseqüências para o eu, dessa separação entre a pessoa e seus bens” (GOFFMAN, 1974, p. 28). O chamamento de Jesus - “Francisco, reconstrói a minha casa” - institui o simbolismo da Cruz Missionária, a Cruz de São Damião, que sintetiza vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo (Ilustração 12). Diante desta cruz, Francisco viveu a experiência mística de ser escolhido pelo próprio Crucificado para proclamar sua mensagem salvífica. As irmãs franciscanas portavam a Cruz Missionária pendente ao pescoço sobre o peito. Algumas internalizaram seu simbolismo com tal convicção que

mesmo quando em idade avançada, foram liberadas pela Ordem para retornarem ao seu país de origem, não o fizeram58, por entenderem que estariam profanando o voto de fidelidade missionária proferido quando receberam a Cruz naquele longínquo 17 de maio de 1937, na solenidade do envio ao Brasil. (Depoimento da Irmã Flávia Brito, superiora da Província Franciscana Maria Medianeira das Graças, Areia-PB).

A iconografia franciscana é rica e diversificada, transitando do erudito ao popular, dos altares às ruas. Um ícone, em particular, associa-se mais diretamente à simbologia da Cruz Missionária: sustendo a Cruz, o braço de Jesus e o de Francisco se entrecruzam; o do

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Encontram-se sepultadas no Cemitério de Areia, as irmãs Teodolinde Brenner (1891-1942); Siegfrieda Heinrich (1898-1985); Venantia Schmid (1901-1976); Filipine Schneider (1906-2003); Inviolata Scheckenbach (1907-1982); Justitia Kastner (1907-1984); Trautlinde Frichholz (1912-1993); Eleonore Brumm (1916-1999); Friedheid Spätt (1916-2006) e Francisca Schmitt (1925-2001).

Ilustração 12 - Cruz Missionária Fonte: Acervo do Colégio Santa Rita

Crucificado, desnudo; o de Francisco, coberto pela manga do hábito (Ilustração 13). O apelo visual deste ícone evidencia claramente o compromisso franciscano de carregar com Jesus a Cruz, símbolo da salvação.

Ao professar os votos simples, a religiosa usa na cabeça uma coroa de flores róseas, (Ilustração 14) simbolizando a perfeição perseguida por São Francisco no propósito de imitar a Cristo. O véu branco é substituído pelo véu preto.

Ilustração 14 - Coroa de flores róseas usada no proferimento dos votos simples.

Fonte: Acervo do Colégio Santa Rita Ilustração 13 - A cruz, os braços e o cordão, símbolos do franciscanismo

O ponto culminante desta solenidade é o compromisso com o Reino de Deus, selado pela recepção do Anel esponsal (Ilustração 15) que agrega uma complexa simbologia. O anel é referido com símbolo de aliança e reconciliação59. Na simbólica eclesiástica o anel representa totalidade, continuidade, eternidade e perfeição.

Ao recebê-lo, a irmã compromete-se a preservar sem mácula seu compromisso com a Ordem Religiosa e com a Igreja, esposa de Deus, que a partir de então, representa. O anel é também um simbolo material que atesta a autoridade da religiosa como filha restauradora da Igreja perante o mundo. O anel das religiosas de Dillingen é confeccionado em ouro, com a chapa em ônix, sobre a qual estão inscritas as letras gregas “IHS” representando o nome de Jesus, traduzidas também como “Jesus Hóstia Santa” e “Jesus Homem Salvador”. Acima da inscrição, o desenho de uma cruz; abaixo, estão representados os cravos, instrumentos de suplício que estigmatizaram os pés e as mãos de Jesus ao prendê-lo à Cruz, cujos estigmas foram recebidos por São Francisco no Monte Alverne, dois anos antes de sua morte.

Nos votos perpétuos, proferidos três a cinco anos após os votos simples, a religiosa renova, em caráter definitivo, a adesão a Cristo na vida e na morte, a aceitação plena da experiência do Crucificado, simbolizada na recepção de uma coroa de espinhos (Ilustração 16)

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Este sentido está referido na parábola do Filho Pródigo em Lc. 15, 11-32. Ilustração 15 - Anel esponsal das franciscanas de Dillingen Fonte: Acervo da Irmã Maria Inês Barbosa

É um ritual de entrega total, marcado pela prostração da religiosa ao chão enquanto dura o cântico solene da Ladainha de Todos os Santos pela comunidade religiosa, invocando a Deus pela fidelidade da irmã, que recebe uma coroa de espinhos simbolizando seu desejo e dever de assemelhar-se a Jesus Crucificado. Nesta adesão plena à Ordem e à Igreja, torna-se, então, membro efetivo da Congregação, com todos os direitos e deveres de sócia do patrimônio material e espiritual do Convento a que pertence, tendo sempre em mente que o preço do direito é cumprir o seu dever (Depoimento da Conselheira Geral Irmã Inês Barbosa Alves, em 14.05.09, na Biblioteca do Colégio Santa Rita em Areia/PB).

São Francisco de Assis transitava muito bem no universo dos símbolos que, ao longo de oitocentos anos de existência da Ordem, têm sido ricamente explorados em sua natureza, em sua forma, em sua capacidade analógica e substitutiva. Embora os atributos que os