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CONDIÇÕES DE CONSTRUÇÃO DO SINDICALISMO DOCENTE DE EDUCAÇÃO BÁSICA.

A EDUCAÇÃO NA REPÚBLICA

Desde meados de 1850 o país vem praticando, com grande afinco, a imigração. Afinal, o tráfico negreiro fica proibido a partir de então. No período de 1870-1920 acontece a abolição da escravatura e a Proclamação da República. Passa-se a conviver com o trabalho livre e assalariado. Predomina a cultura do café, crescem os trabalhos relacionados à prestação de serviços e a indústria têxtil, associada ao início da urbanização. Também se assiste ao crescimento das camadas médias da população e o aparecimento de um proletariado urbano, formado em sua maioria por imigrantes. Crescem os setores de comércio e serviços e aos poucos a economia vai se transformado de agro-exportadora para industrial.

Nesse período a presença do capital estrangeiro é forte nos investimentos do país. Também se verifica tendências a existência de pensamento novo, e a circulação de novas idéias, como, o positivismo, a industrialização cosmopolita, e, por conseguinte, e fundamental, o fim da monarquia. Os cafeicultores assumem o poder econômico, político e social.

As condições sociais exigem que a educação pelo voto e pela escola fossem as propulsoras das mudanças. A escola passa a ser o emblema da instauração da nova ordem. A escolarização da sociedade brasileira passa a ser considerada como a solução para o desenvolvimento social. A educação nessa perspectiva torna-se a redentora das mazelas sociais do Brasil, tese presente até hoje nos discursos de alguns políticos, pela mídia e por alguns educadores. Esse tema muitas vezes é usado para justificar as desigualdades sociais e o não desenvolvimento econômico do país. É usado como ideologia, pois no nosso imaginário temos a certeza de sermos dependentes, pobres, por não sermos um povo educado.

Hilsdorf (2003) afirma que a educação republicana propõe ensino elementar e profissional para as massas e educação científica para as elites. A essa elite brasileira caberia a função de conduzir o processo de construção da república. Implícita na educação republicana a reivindicação pela educação popular.

Marcílio (2005) afirmará: “ A meta prioritária da vanguarda política dos anos derradeiros do Império, com as novas idéias, era colocar o país ‘ao nível do século’. Para tanto, se fazia urgente criar uma nova realidade nacional que só poderia ser através da escola, da imprensa ou da lei, que conduziriam o país ao destino sonhado. O apego à educação como elemento regenerador da sociedade é reflexo, mais uma vez, da transposição de idéias da Europa; nem havia condições para não ser assim. Os republicanos buscavam a laicização do ensino público, a difusão do ensino primário, a liberdade de ensino, a gratuidade do ensino público”. (Marcílio, 2000: 115)

Data desse período, início do século XX, a primeira preocupação explícita com a qualidade do ensino. Isso significava dizer que a educação teria que formar o aluno que estivesse pronto para atuar em todas as perspectivas da sociedade moderna, ou seja, no campo político, econômico, social, assistencial e filantrópico, e até no plano individual. As instituições escolares deveriam praticar uma pedagogia moderna e isso só seria possível no regime republicano.

A pedagogia correta era definida pelo método intuitivo, que implicava no olhar, ver e ser visto, na observação, na escrita. A organização escolar deveria ser pautada pela racionalidade cientifica e pela divisão de tarefas. A pedagogia moderna deveria se contrapor à pedagogia tradicional, que consistia basicamente na memorização, na oralidade, no ouvir e repetir falando, o que era considerado, próprio da monarquia atrasada. Metodologia intuitiva e planejamento racional da educação eram as diretrizes dessa época.

A educação era extensiva a ambos os sexos, porque havia o entendimento que a mulher tinha que ser educada para desempenhar bem sua função tradicional de esposa e mãe de cidadãos republicanos, tendo, portanto necessidade de formação científica e moral atualizada.

É nesse período, de início de século, que se dá a criação dos Grupos Escolares, que se caracterizavam pelo agrupamento das aulas avulsas em um único edifício, com uma única direção, e com um corpo docente próprio, encarregado de classes de ensino simultâneo,

progressivo, cujos alunos eram organizados em séries, por níveis de aprendizagem. Nesse sentido existem hoje estudos que demonstram que a organização escolar tentou trazer da produção fabril, a sua estrutura e funcionamento. A produção em série, em que o aluno produto bruto, passa pelo processo escolar, até sair como produto final refinado, trabalhado, enfim, educado. O racionalismo e a eficiência da produção da fábrica eram metas perseguidas pelo sistema escolar.

Também datam desse período os primeiros impressos didáticos e as primeiras orientações pedagógicas para os professores, que continham prescrições de como e o que ensinar.

Na década de 1930 surge o movimento com vistas à renovação educacional. O movimento dos pioneiros da educação, que será considerado o verdadeiro divisor de águas, entre a educação tradicional, portanto, velha e a educação nova e progressista. Algumas iniciativas caracterizavam esse movimento, como: promover as Conferências Nacionais de Educação como principal instância de discussão e debate da Educação do país; participar do Inquérito do Ensino promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, com o intuito de discutir as questões vigentes no sistema educacional paulista; Incorporar e ressaltar al gumas propostas consideradas válidas e que tinham sido implementadas em alguns Estados; lançar o Manifesto de 1932, que apresenta uma política liberal nacional e atualizada de educação para o país, com base na escola única, pública e leiga.

Essas proposições vêm ainda no bojo do movimento modernista, que reuniu escritores, músicos, escultores, pintores e arquitetos, na Semana de Arte Moderna, de 1922, e que tinha como objetivos protestar contra o hábito dos brasileiros de copiar os modelos europeus, em especial, o francês. Era uma tentativa de modernização das nossas artes e literatura.

Para Veloso & Madeira (1999: 98) “no ideário do modernismo brasileiro, encontramos a exaltação ao progresso, à máquina e à velocidade, lado a lado à valorização seletiva do passado. Os acervos artísticos seriam lugares para a re-elaboração permanente de significados, fontes de criatividade, onde deveriam ser buscadas as marcas da brasilidade, nossa expressão genuína”.

O movimento modernista propunha a deglutição (antropofagia) de todas as influências estrangeiras, em busca de uma arte independente, revolucionária e nacional. Era o grito de independência cultural.

O grande avanço do Manifesto dos Pioneiros da Educação reside, entre outros, no fato de que pela primeira vez, a questão da educação estava sendo tratada não por políticos, ou intelectuais ou homens públicos interessados em educação, mas, por especialistas da área, técnicos que se manifestaram sobre o assunto.

A concepção pedagógica defendida era da Escola Nova que congregava conhecimentos científicos mais atualizados. Era considerada à época progressista e continha nos seus pressupostos conhecimentos oriundos da psicologia, da biologia e da sociologia. Nessa perspectiva o sistema de ensino era uma miniatura do mundo social.

Entre os pioneiros podemos identificar Sampaio Dória, Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Mário Casassanta, Francisco Campos, entre outros.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova propunha a substituição do modelo político da educação por modelo pedagógico, orientado pela preocupação com o que acontece no dia a dia da sala de aula. A escola passa a ser encarada como ação social, o ensino volta-se para os interesses e motivos das crianças, predominam as atividades, ao invés de posturas educativas que levem às crianças a passividade e submissão. A disciplina fica relegada ao segundo plano. Passa-se a conceber a criança e os jovens com base científica, utilizando os conhecimentos da psicologia experimental.

Para Maia e Garcia (1984: 14) “os pioneiros conclamam a implantação de um sistema completo de educação, que respondesse às novas diretrizes econômicas e sociais, a educação integral com base nas aptidões naturais, à organização da escola secundária popular democrática, que oferecesse as mesmas oportunidades educacionais para todos, à organização da escola técnica profissional como base da economia nacional, ao tratamento especial de anormais e subnormais e à criação de instituições psicotécnica e orientação profissional”.

Embora o manifesto dos pioneiros propusesse uma política escolar inspirada em novos ideais pedagógicos e sociais e fosse planejada para uma população urbano-industrial emergente, não conseguiu superar ao velho hábito brasileiro de transplante cultural, propunha

simplesmente a adaptação da escola á sociedade e transplantava para educação os ideais liberais.

Os pressupostos teóricos da escola nova, expressa como escolanovismo, seria na fase seguinte, já na era Getulista, combatidos, principalmente, pelos educadores católicos organizados e que pressionaram na época o Ministério da Educação e Saúde. Vale lembrar que o ministro da educação era Francisco Campos, o mesmo que em 1927, havia promovido o escolanovismo em Minas Gerais.

Com o Estado Novo a educação necessitava ser impregnada por valores que defendessem a família, a religião à pátria e o trabalho. As diretrizes que orientam a política educacional desse período serviriam para a defesa do Estado, como a centralização, autoritarismo, nacionalização e modernização.

O governo central passa a regulamentar a organização escolar, várias leis orgânicas são implantadas, como, a do ensino industrial (1942), ensino secundário (1942), ensino comercial (1943), ensino primário (1946), ensino normal (1946), ensino agrícola (1946), o que viria a se constituir na Reforma Capanema.

As classes femininas foram condicionadas à preparação para a vida doméstica, dando conformidade ao papel da mulher na sociedade da época, que deveria ser de mães, donas de casa e no máximo, se fossem exercer alguma atividade produtiva, essa deveria ser coerente com esse papel.

Nesse período a demanda por educação aumenta e o que predomina é o ensino técnico com vistas à preparação de mão de obra para o mercado de trabalho.

Na verdade o período da gestão de Getúlio pode ser compreendido em três momentos distintos. O inicial, a partir de 1930; o do Estado Novo (1937-1945); e o final embora com um intervalo da gestão do General Dutra, que iria até 1954. De um modo geral é na sua gestão que muitas Instituições foram criados, como, o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep, 1938), Serviço Nacional de Radiodifusão Educativa (1939), Instituto Nacional do Cinema Educativo (1937), Serviço Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1937), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai, 1942), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac, 1942), Conselho Nacional de Pesquisa (CNP, 1951), Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes, 1951),

Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (Cades, 1954), Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e Centros Regionais de Pesquisas Educacionais (1955), entre outros.

A Reforma Capanema vigoraria até a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1961. Essa lei passou por dez anos de discussão, e trouxe questões polêmicas, como, o ensino público e privado, a flexibilidade dos currículos e o aproveitamento de estudos, dos cursos técnicos para os cursos acadêmicos ou propedêuticos.

É desse período a organização do movimento em defesa da escola pública, A principal bandeira era, “Verbas Públicas para Escolas Públicas”. Desse movimento participaram educadores, estudantes, por meio da União Nacional dos Estudantes (UNE), sindicatos, antigos pioneiros da educação e outros intelectuais brasileiros.

O final da década de 1950 e início da década de 1960 foram caracterizados por muitas iniciativas de cunho popular. A categoria “povo” passa a ser considerada e incluída nas políticas públicas. Vários movimentos foram organizados nesse sentido, como, o Movimento de Educação de Base (MEB), Centros Populares de Cultura (CPC), o famoso e revolucionário método de alfabetização de adultos, criado por Paulo Freire, e que em 40 horas consegue ensinar a ler e escrever, tendo como base o letramento e a conscientização do indivíduo.

Estavam dadas as condições para o surgimento das organizações associativas dos professores e professoras do Estado de São Paulo. Contribuíram para tal, a existência da profissionalização da educação: A 1ª Escola Normal de São Paulo data de 1846. No início do século XX outras escolas normais foram criadas, inclusive, no interior do Estado. Nesse período de começo de século, já se contava com docentes formados especificamente para o magistério. Outro fator que contribuiu, foram as diversas reformas do Ensino, a organização dos professores, que deixou de ser em escolas isoladas e passou a ser em grupos escolares, a própria expansão do ensino primário, que até a década de 1930 já se encontrava relativamente consolidado e o ensino secundário e normal, que passou a se expandir, a partir de 1940.