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2ª PARTE: DIALÉTICA DA SUBJETIVIDADE DOCENTE 5º CAPÍTULO

SOBRE OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS

Para a estruturação da pesquisa foram utilizados três tipos de fontes: 1) depoimentos dos professores e professoras, colhidos por meio de entrevista semi-estruturada e que serão apresentados a seguir; 2) fontes primárias, como documentos de valor histórico, atas de reunião de fundação das associações pesquisadas e anuários estatísticos do Brasil; 3) fontes secundárias, como periódicos, jornais, bibliografias específicas das instituições associativas, sindicais; dissertações e teses acadêmicas.

Entre as dissertações consultadas duas merecem ser destacadas. A dissertação da Professora Maria Isabel de Almeida traça o perfil dos professores da escola pública paulista; apresentada à Faculdade de Educação da USP (FEUSP) em 1991. Essa autora apresenta um rico trabalho, com dados estatísticos, resultantes de estudos realizados com 203 professores de 5ª a 8ª séries e conclui, entre outros aspectos, que: a profissão hoje é predominantemente feminina; que existe um empobrecimento da categoria e apresenta a origem social desses professores: “50% dos pesquisados são oriundos de famílias trabalhadoras do setor de serviços, que na segunda metade deste século alcançou uma forte expansão em conseqüência do desenvolvimento urbano e constituiu-se no grande empregador da população que migrava para as cidades em número crescente. Outros 32% originam-se de famílias que estavam ou estão diretamente ligados à terra, quer como proprietárias ou como assalariadas; portanto seus filhos viveram o processo migratório, enfrentando conseqüências como a perda das raízes culturais e da identidade” (Almeida, 1991:41).

Outra dissertação, de autoria da Professora Rosário S. Genta Lugli, faz um estudo sobre o Centro do Professorado Paulista no período de 1964 a 1990, apresentada também à FEUSP, em 1997. Entre outras conclusões essa autora afirma que “a figura do professor como sacerdote e, até mais fortemente que esta, como profissional liberal continua como ideal no Periódico da entidade” (Lugli, 1997:159). Tais conclusões corroboram com os resultados da pesquisa realizada neste estudo.

Há ainda, na literatura, trabalhos que auxiliam na compreensão da gênese do movimento organizativo dos professores e professoras do ensino oficial do Estado de São Paulo. A tese de Bárbara Catani sobre a Revista de Ensino da Associação do Professorado

Público de São Paulo, apresentada à FEUSP em 1989, é um exemplo. Essa tese demonstra que a publicação dessa revista e a atuação dessa entidade serviram para iniciar a luta salarial e instaurar o debate entre os profissionais de educação, iniciando a organização do campo profissional.

Nesse mesmo sentido, tem-se a tese da Professora Ilíada Pires da Silva, também sobre essa Associação Docente, enfocando a fase de 1901 a 1910 e apresentada a FEUSP em 2004. Tal trabalho demonstra que a partir da análise dessa entidade é possível se estabelecer uma identidade sócio-profissional do magistério, à época. Silva constrói um perfil assentado na crença da superioridade moral dos professores. Como os docentes que construíram essa associação eram oriundos da primeira escola normal de São Paulo e ser normalista significava fazer parte de uma elite, esses professores constituíam-se em uma elite profissional.

Trabalhou-se também com uma literatura específica sobre educação e trabalho, que serviu de suporte as análises, bem como as construções teóricas das categorias, das discussões apresentadas nos capítulos e na conclusão da tese. Constam dessa bibliografia algumas leituras realizadas durante os cursos de doutorado, da participação em seminários, encontros e ainda, leituras sugeridas pelos professores e professoras do Instituto de Ciências Sociais da UnB e da Universidade de Lisboa.

Quanto ao roteiro da entrevista, a princípio, a sua elaboração considerava apenas os professores e professoras da Apeoesp. Na medida em que houve necessidade da participação de docentes das outras instituições associativas e sindicais, esse roteiro foi sendo adaptado. Outra observação é que nem todos os dados colhidos foram trabalhados nesse estudo, por exemplo, as questões relacionadas a ingresso, lotação, remoção e carreira, como exigiam um acompanhamento da evolução desses elementos em toda a trajetória associativa e sindical, optou-se por trabalhá-los e aprofundá-los em um artigo ou algum debate específico.

Em relação às fontes primárias, a dificuldade para localizá-las foram grandes. Nos documentos que se encontram na Apeoesp, é possível constatar que: o próprio sindicato não valoriza o seu passado. Tal afirmação é facilmente verificada quando se observam as falas dos professores e professoras no sindicato; os textos das publicações, em que o passado da Apeoesp, anterior à década de 1970, é tratado como assistencialista. A impressão é de que esse passado não se constitui um valor para os sindicalistas. Um exemplo disso é o próprio texto da

história do sindicato, publicado no seu site.”Desde a sua fundação – em 1945, em São Carlos – até a deflagração da primeira greve em 1978, foram 33 anos em que predominou o assistencialismo na Apeoesp” (www.apeoesp.org.br de 12/02/2008

).

Daí a história continua como se essa fase anterior não tivesse tido nenhum significado

.

Ter sido assistencialista é uma mácula que a maioria dos sindicalistas militantes procuram esquecer nesse sindicato. Mesmo as dissertações e teses, sinalizam para duas grandes fases na história da Apeoesp, anterior e posterior a 19788. Mas, a história da Apeoesp é muito rica, seja ela no período assistencialista ou não.

Também é lamentável o trato com que a Liga do Professorado Católico e a Apeoesp dão aos seus documentos históricos. A sensação é de que o passado é relegado à destruição. Documentos empoeirados, desordenados e sem conservação parece não ser privilegio apenas dessas duas instituições associativas sindicais do Brasil. Tal fato remete a questão do desenraizamento colocado por Simone Weil no passado e empregado por Bosi em relação ao trabalhador. Embora as autoras analisem a questão cultural, o enraizamento, na minha avaliação, implica o tratamento dado aos registros do passado. “O amor pelo passado não tem nada a ver com uma orientação política reacionária. Como todas as atividades humanas a Revolução extrai toda a seiva de uma tradição. Marx o sentiu tão bem que fez questão de buscar a origem dessa tradição nas mais longínquas idades fazendo da luta de classes o único princípio de explicação histórica. (...) A oposição entre o passado e o futuro é absurda. O futuro não nos traz nada, não nos dá nada; nós é que, para construí-lo, devemos dar-lhe tudo, dar-lhe a nossa própria vida. (Weil, 1966, Apud, Bosi, 2003: 185)”. O amor pelo passado implica o zelo pelos seus registros.

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A exemplo ver Almeida, Maria Isabel de. O sindicato como instância formadora dos professores: novas contribuições ao desenvolvimento profissional. São Paulo FE -USP, 1999. Tese de Doutorado.