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PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS POLÍTICOS EM UM PASSADO MAIS REMOTO

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

II. TRAJETÓRIA NA LUTA SINDICAL: A CONSCIÊNCIA DE CLASSE DOS PROFESSORES E DAS PROFESSORAS

3. PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS POLÍTICOS EM UM PASSADO MAIS REMOTO

Em relação a essa questão, as recordações dos professores e professoras foram de uma preciosidade ímpar. As lembranças vão desde ausência de participação, participação em eventos políticos realizados “há muito tempo”, até os eventos que caracterizam o que viria a se denominar época de um novo sindicalismo, ou seja, um sindicalismo mais combativo. Em todo caso, o objetivo nesse item, era verificar a origem da consciência política dos professores e professoras. Verificar se fatos significativos em suas vidas tinham determinado a sua opção pela ação político sindical. Se a participação em eventos políticos havia contribuído para a formação da sua consciência.

“Olha, no momento, nessa parte minha de primário eu não lembro se eu participei. Não lembro. Mas depois, em todos os eventos que tinha eu estava participando. Tanto na escola, nos grêmios, pra resolver problema de escola”. (Gen, professora, 67 anos).

“Não havia. Não havia política não”. (Ig, professora, 73 anos).

“Nunca. Eu comecei a participar depois que eu entrei no Centro do Professorado Paulista”. (Lor, professora, 80 anos).

“Como professor não participei de nenhum ato político. A primeira greve que eu participei de fato, foi em 1978 no governo Maluf”.(Mar, professor, 74 anos).

Houve aqueles docentes que haviam participado há muito tempo.

“Se você me questiona há quanto tempo que eu estou no sindicato, eu te respondo, não sei se eu estou sendo ousada, desde 1964 que eu estou na luta”. (Be, professora, 67 anos).

“Sim, lembro daquela Campanha. Aquele ouro para o Brasil. Que a gente chegava a tirar ouro da mão. Anéis nossos”. (Glo, professora, 69 anos).

“A não ser dentro da escola. Seja como aluna, seja como professora. Que não deixa de ser um movimento político. A gente tinha movimentos isolados. Como eu digo, não havia a consciência de que era um trabalho social”. (Ro, professora, 72 anos).

Alguns professores e professoras guardavam recordações de participação em eventos desde antes de serem docentes, ainda como participantes de movimentos estudantis.

“Então eu me tornei uma menina, uma jovem rebelde. Nos meus anos dourados, na adolescência. E fazia história. Então, a gente foi muito censurada na época. E isso marcou profundamente a minha vida”.(Be, professora, 67 anos).

“Eu já participava do movimento político desde os 15 anos, 16 anos, nos movimentos estudantis, nos grêmios, mais uma participação política também”. (Car, professor, 58 anos).

“Bom, as lutas todas de grêmio eu participei”. (Gen, professora, 67 anos).

“Sim. Eu no período de universidade fiz uma carreira política universitária. Como estudante. Participei de muitos congressos quer locais, estaduais e nacionais. Fui da UNE. Eu não fui preso porque eu fui anterior à ditadura”. (Mom, professor, 70 anos).

“Eu era da UNE. Eu fui da UNE”. (Zen, professora, 72 anos).

Em discussão, o peso da participação em eventos políticos como fator desencadeador da formação de consciência. Para definir a consciência dos docentes, um dos aspectos determinantes da sua subjetividade, parte-se do pressuposto de que a consciência é condicionada pela sociedade em que o homem vive. São, portanto as condições sociais de vida que determinam o modo de pensar e agir das pessoas. É a existência social, a experiência social que produz sua consciência.

A tabela 7 indica que cinco participantes, entre onze que responderam à pergunta, nunca havia participado de evento político. E que 8 participantes participaram tanto de eventos políticos quanto de movimento estudantil.

Tabela 7: Participação em eventos políticos anteriores ao sindicato

Participação em eventos políticos

Nunca 5

Eventos políticos e/ou movimento estudantil 8

Mesmo considerando-se que os professores e professoras fazem parte de uma categoria profissional e não são oriundos de uma única classe social, procura-se, tomando como base o conceito de classe social, entender-se o que seria a consciência de classe, para compreender-se a consciência dos docentes em determinados momentos históricos.

Segundo o Dicionário do Pensamento Marxista, no item que define consciência de classe, Marx estabeleceu, desde o início, uma distinção entre a situação objetiva de uma classe

e a consciência subjetiva dessa situação, isto é, entre a condição de classe e a consciência de classe. Em sentido estrito, as diferenciações sociais só assumem a forma de classe na sociedade capitalista, porque só nessa forma de sociedade é que o fato de pertencer uma dada classe social é determinado apenas pela propriedade (ou controle) dos meios de produção ou pela exclusão dessa propriedade ou desse controle (Bottomore, 2001, p.76).

E o Dicionário vai além, quando enfoca o tipo de consciência de classe “adequada”, que seria a consciência política. “De acordo com Kaustsky e Lênin, uma consciência de classe adequada, isto é, política, só pode chegar à classe operária ‘a partir de fora’. Lênin dizia ainda que só uma ‘consciência sindical’ pode surgir espontaneamente na classe operária, isto é, uma consciência da necessidade e utilidade da representação dos interesses econômicos da classe operária contra os interesses do capital” (Bottomore, 2001, p.76).

Ainda, para Lênin “a consciência de classe política só pode ser desenvolvida pelos intelectuais que, por serem portadores da cultura e bem informados, e por estarem à distância do processo de produção imediato, estão em condição de compreender a sociedade burguesa e suas relações de classe em sua totalidade” (Bottomore, 2001, p.76).

Gramsci irá aprofundar essa questão quando introduz o conceito de intelectuais orgânicos. Sem negar os condicionamentos sociais dos intelectuais, difere quando admite que esses intelectuais não são apenas mecanicamente determinados. E os intelectuais exercem uma tarefa de classe, que implica na luta pela hegemonia, pelo poder. Cabe ao intelectual homogeneizar a sua classe e elevá-la a consciência da sua função histórica. “Cada grupo social, nascendo no terreno imaginário de uma função essencial no mundo da produção, cria para si, ao mesmo tempo, de modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas, no social e no político” Gramsci, 1988: 3).

Rosa Luxemburg, de acordo ainda com o Dicionário do Pensamento Marxista, creditava a experiência social, a experiência de luta de classe, a formação da consciência de classe e que até mesmos os erros no curso das lutas de classe podem contribuir para o desenvolvimento de uma consciência de classe adequada.

Lukács considerava que a consciência de classe adequada ou política deve ter como conteúdo a sociedade como uma totalidade concreta, o sistema de produção em determinado

ponto da história e a resultante divisão da sociedade em classe. (...) E que relacionando a consciência com a totalidade da sociedade, é possível inferir os pensamentos e sentimentos que os homens teriam numa determinada situação se fossem capazes de avaliar tanto essa situação como os interesses que dela resultam em seu impacto sobre a ação imediata e sobre a totalidade da estrutura da sociedade.

Já Arroyo (2000) ao falar sobre a consciência política e profissional dos docentes reconhece que a reeducação política e o trabalho de conscientização têm sido marcante nas últimas décadas, por parte dos sindicatos e organizações das diversas tendências políticas. E que “Há um pressuposto que faz parte das lutas de classe, do movimento operário, e que entre nós inspirou as primeiras experiências de educação popular e continua inspirando a educação sindical. O pressuposto é: a consciência desempenha um papel central na formação dos sujeitos, das classes, dos grupos sociais, um papel central na história social, nas condutas, na história do avanço dos direitos. Essa consciência tem de ser educada. Dependendo da consciência que tiverem os mestres sua prática poderá ser outra, a educação será outra” (Arroyo, 2000, p.204). Com isso, reconhece-se também o caráter pedagógico da participação em eventos e da luta política. Pelos depoimentos dos docentes essa questão passa a ser muito pessoal e fica dependente da história de vida de cada professor ou professora.