• Nenhum resultado encontrado

3.2. VJING E CONCEPTUALIDADE

3.2.3. COMPOSIÇÃO DA IMAGEM

3.2.3.3. EFEITOS VISUAIS

Os efeitos visuais oferecem à performance diferentes possibilidades estéticas. Os filtros são cada vez mais específicos para o reino digital, especialmente em VJing. Efeitos como o solarize, tint, sépia, keying, entre vários, estão iminentemente presentes nos software de imagem. Existe um paradoxo relativamente aos filtros e a imagem, já que, numa cultura contemporânea os filtros são vistos como um ornamento ou um complemento de um sinal preexistente, como Timothy Jaeger refere, “em alta arte tem de ser a ‘artificialidade certa’ a apelar a discriminação dos consumidores culturais. O paradoxo existe, no sentido em que, se podem adicionar filtros ad infinitum, mas o resultado final continuará a ser um sinal. É a nossa consciência cultural que pensa que um sinal que tenha sido modificado por um filtro é algo ‘diferente’ do que aquilo que normalmente vemos. É a conotação que ainda vence e não a denotação; é o significado, não o sinal que permeia.”

(Jaegar op. cit. 2005)

VJs agem muitas vezes como mágicos, conjugando patches de software e filtros. Os VJs só desenvolvem significados, uma vez que entram na língua dos códigos culturais. Nas performance ao vivo, pode facilmente reconhecer-se quando as imagens são desfocadas, ou invertidas, mas por outro, alguns efeitos sobre a imagem podem, acentuadamente, criar novas significações por si mesmos. Os efeitos visuais reforçam assim a modificação de um trabalho, criando um ‘novo’ e múltiplo ao longo da performance. Esta alteração visual acarreta significados que a imagem em bruto não possui.

Historicamente podemos pronunciar alguns efeitos que se elaboraram com um sentido próprio. Alguns dos mais populares podem ser: sobreposições (overlay), criação de padrões (pattern making), escalamento e profundidade (subject scale and depth), distorção óptica (optical distorsion), entre outros que influenciam as cores como o sépia, tint, solarize, etc. O objectivo dos efeitos visuais é dinamizar as possibilidades de expressão, e numa performance ao vivo, responderem à necessidade de improvisação para com a reacção do público.

Relativamente às sobreposições (overlays), a maioria dos software usados pelos VJs oferecem opções para misturar camadas sobrepostas de acordo com a cor do seu conteúdo. A opacidade e modo de mistura destas camadas nesta ideologia de sobreposição, talvez sejam umas das principais marcas dos VJs, pela cultura da mistura, da repetição e da confusão num sentido pós-modernista.

O pattern making baseia-se num padrão geométrico visual, e é um truque que permite a criação de um ambiente infinitamente, pela repetição de um pequeno modelo. É possível recorrer a estas mesmas regras para sugerir um visual infinito

onde a tela é apenas uma pequena janela que vai revelando esse ambiente. Efeitos análogos à repetição de padrões, são os da divisão da imagem projectada em infinitas partes repetidas. Ambos os anteriores, criam sentido espacial. Para o campo de projecções visuais, há a preocupação da integração das imagens com o meio ambiente. Ao contrário do cinema e da televisão, nos quais os visuais são criados assumindo que o público os está a observar de uma posição óptima, os artistas visuais performativos, têm como objectivo desenvolver um estilo gráfico que permaneça eficaz apesar de possíveis constrangimentos como: complexos ângulos de visualização, combinação com a luz ambiente existente, posição dos artísticas e densidade do público e movimento. Algumas estratégias poderão prender-se sobre a atenção dada ao tamanho dos elementos e complexidade do conteúdo. Com o escalamento e profundidade (subject scale and depth), noções de imponência no espaço são imbricadas, dependendo do tipo e conceito dos planos da imagem e da distância ao olhar do observador. Por vezes, usar imagens mais simples graficamente, assegura-se a sua integração numa gama mais ampla de configurações, os visuais são previstos para permitirem um olhar disperso, onde os detalhes, quando reforçados, são apelados.

A distorção óptica, por sua vez, está mais relacionada com noções estéticas abstractas, de ilusões ópticas e hipnose. Por volta das décadas de 1960 e 1970, algumas experiências cativantes em imagética foram realizadas derivadas da Op Art, a arte óptica, que já tinha alguma presença desde a metade do século XX. Os trabalhos de Op Art são em geral abstractos, e muitas das peças mais conhecidas usam apenas o preto e o branco. Quando são observados, dão a impressão de movimento, clarões ou vibração, ou por vezes parecem ganhar 3 dimensões ou deformar-se. O trabalho do teorista Victor Vasarely (1908-1997), pai da Op Art, pode ser ligado a diversas experiências visuais de sucesso desta época. Este, experimentou o uso de transparências e cores em projecções, os seus quadros combinam variações de círculos, quadrados e triângulos, às vezes com gradações de cores puras, para criar imagens abstractas e ondulantes. Para além da estética, estes grafismos foram experimentados como estimulantes visuais psico-activos, introduzindo estados de transe aos observadores. A prossecução deste tipo de efeitos visuais permanece uma preocupação importante para muitos artistas visuais actuais.

A lista de efeitos visuais existentes é inúmera, e nesta sociedade digital, os efeitos são usados quer na pré-produção dos vídeos, assim como durante a performance visual. O importante a denotar é que eles conferem versatilidade conceptual e edificam múltiplas significações. Construir narrativas por associação, apelar a sensações, orquestrar ordens nas sequências de visuais para impelir intensidades,

Img.27 Duo-2, 1967 Victor Vasarely (Op Art)

responder aos pressupostos semióticos estabelecendo pactos comunicativos com a audiência, jogar com cores e efeitos invocando a emoções e significados, são diferentes variáveis que integralmente podem compor a criação das obras dos VJs, enaltecendo a sua presença no espaço da experiência.