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QUADROS RELACIONAIS E HIERARQUIAS

Operando neste sentido, é proeminente figurar como as variáveis de VJing se conjugam na edificação criativa e singular. Relacionar música, conceptualidade, espaço e performance complementa o conhecimento sobre o que interfere na prática e sucesso desta expressão. Estas variáveis estão emaranhadas entre si, e por tal uma divisão linear nem sempre é possível, contudo é exequível apresentar algumas relações particulares entre elas, que estipulam hierarquias no momento

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performativo. Sendo assim, primeiramente, apresenta-se um quadro de relações primárias que determina a configuração base da estrutura de VJing.

Neste quadro de relações considera-se a conceptualidade com o centro relacional pois é através dela que se proporcionam todos os outros campos. A relação da conceptualidade está iminentemente ligada com a variável da performance, já que é por esta última que se processa uma estrutura e um sentido performativo dos visuais. O acto performativo, varia inevitavelmente com a música e o espaço, sendo a música a mais evidente no decorrer da performance, visto que é através dela que se orquestram ritmos e se buscam encontros sinestésicos. O espaço, por sua vez, nomeadamente, o espaço da projecção, é o responsável pela incidência da imagem na audiência, a qual é capaz de oferecer uma resposta reactiva ao VJ, que por tal determinará a sua actuação performativa.Contudo, a conceptualidade pode ser pensada pela relação com a música i.e.,se houver um pré-conhecimento da sonoridade do DJ ou banda, determinando a escolha de certos conteúdos em detrimento de outros. O acto conceptual pode ainda relacionar-se directamente com o espaço, isto se possuir um papel de intervenção espacial, na construção de uma ambiência concreta. Esta última relação acaba por ser a mais afastada, pois esta implícito ao acto performativo criar a ambiência,embora a existência de uma configuração espacial como o uso de múltiplas telas possa interferir na momento da conceptualidade. Este quadro de relações aproxima-se da sugestão de uma hierarquia de condições de base estrutural que interfere na postura do VJ. Continuamente, apresenta-se um quadro de relações complementares. Neste, as relações que são estabelecidas provêm das principais dicotomias inerentes às variáveis apresentadas. A existência destas dicotomias pode alterar formalmente as configurações hierárquicas. Considerando a conceptualidade, esta em termos genéricos pode ser pensada de forma mais figurativa ou mais abstracta. Sendo assim, a relação posterior na performance será a de realizar micro-narrativas ou a de se estruturar num fundamento mais estético e imersivo. A performance em si, pode ser caracterizada pela relação com a audiência, determinando a conduta da acção do VJ, ou pela relação musical, buscando acompanhamento. Por sua vez, existe ainda uma terceira variável que é o factor improviso, que constrói ambas as possibilidades criativas. Quando à musica, esta está intrínseca à presença da performance e pode edificar-se procurando sincronismo musical ou libertando-se deste, oferecendo momentos de ‘independência’ visual. O espaço em si, é fulcral para a condicionante performativa e conceptual, i.e., a posição das telas interfere nas composições mais figurativas, nas quais há uma possibilidade de narrativa, pelo que, a as telas devem estar numa posição mais presente para o olhar da

Img.31 Quadro relacional primário.

Img.32 Quadro relacional complementar.

Img.33 Quadro relacional variáveis externas.

audiência, o que já não se mostra tão relevante quando o conteúdo é abstracto e os contactos entre o olhar da audiência e a tela se fazem de forma esporádica, por estes orquestrarem especialmente a ambiência, complementando o espaço juntamente com as luzes coloridas existentes no local. Hierarquicamente as correspondências entre as variáveis interiores às variáveis maiores, podem ser delineadas de formas diversas porque vão depender das prioridades conceptuais. Exemplificando, uma performance que se envolva numa construção de carácter mais abstracto, pode procurar primeiramente um sentido musical, e outra mais figurativa, um sentido mais espacial. As hierarquias não são exímias, pois estes campos estão constantemente interconectados, mas aqui apenas se delineia uma perspectiva prática genérica. Este quadro de relações complementares, objectiva assim, as condicionantes intrínsecas a cada uma das variáveis e em como elas se cruzam constantemente numa lógica performativa.

Para se relacionar estas variáveis é importante citar igualmente, a presença de variáveis externas. Estas varáveis interferem na acção performativa e são, em geral, incontroláveis pelo VJ. Nomeadamente podem ser a arquitectura do espaço, o público, o DJ, e a tecnologia. A arquitectura do espaço condiciona a variável do espaço da projecção,se está ao não numa posição óptima para o olhar do público, e na posição espacial do VJ, i.e., se ele se encontra num local onde vê a projecção ou se está longe desta e apenas a visiona pelo seu monitor. Esta condicionante pode interferir no momento performativo, especialmente pela necessidade do contacto visual entre o VJ e o público, factor que determina o desenrolar do acto performativo. O publico, por sua vez, interfere no sentido do espaço ter muita ou pouca afluência de pessoas, o que pode desmotivar um empenho na performance se a assistência for mínima e além do mais, pode figurar-se incontrolável obter uma resposta visível do publico perante os visuais que se apresentam, daí ser um acto que envolve substancialmente um caris de improviso. O DJ, por seu lado, pode conduzir a musicalidades imprevisíveis que dificultem uma busca ritmada dos visuais com a música. Regra geral, os VJs raramente estão inteirados dos sets dos DJs, e por isso as construções visuais no acto conceptual, funcionam de forma independente da sonoridade que

posteriormente se articulará com eles.

Por fim, a tecnologia pode interferir e prejudicar significativamente a acção do VJ. O que pode acontecer, é presenciar-se é um mau funcionamento destes set ups do VJ, nos quais e.g., o computador pode bloquear em algum momento e o publico ficar a olhar para uma tela vazia, ou outra imagem oferecida pelo próprio projector. Para se minimizar acidentes com a tecnologia é importante usar-se

uma boa compressão de vídeos, para se processarem mais rápido, assim como usar apenas um tipo de codecs de vídeo, facilitando o desempenho.

Sendo assim, ao considerar este quadro de variáveis externas, procura-se tomar consciência das adversidades que interferem na performance, maximizando-se a probabilidade de controlo e sucesso.

Globalmente, e assimilando todos os anteriores quadros relacionais, obtemos um quadro genérico que relaciona todas as condicionantes apresentadas. Posto isto, obtemos uma conjugação de valores que acciona a apresentação prática do VJ. A conceptualidade continua no centro desta articulação, seguida da performance que estabelece ritmos e temporalidades, seguidamente a música e espaço como valores presentes da arquitectura performativa. As variáveis externas e internas a estes quatro valores principais, quando conjugadas, expõem validações diversas, as quais vão depender da intenção do VJ e do seu grau de consciência perante as possibilidades e imprevisibilidades da performance. As hierarquias variam em especial, com o conteúdo conceptual reposicionando continuamente o VJ. Esta análise de relações propõe assim uma vontade de validação desta forma artística, pela sua consciencialização. Falar de Vídeo Jockeying como uma prática artística é assumir directrizes múltiplas, mas é acima de tudo, olhar para ele com um potencial interessante, embora muitas vezes camuflado. Procurar sentido nesta expressão artística é fundamentar a sua existência. Ao se analisar com coerência as suas inerentes potencialidades está a abrir-se uma porta para um progresso e para novas configurações artísticas.