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PERFORMANCES VISUAIS E TECNOLOGIAS

2.1. PERFORMANCE VISUAL

2.1.2. PERFORMANCES VISUAIS E TECNOLOGIAS

Em Vídeo Jockeying todos os elementos da performance têm um papel na criação da experiência, na construção do momento, pois cada performance é única. Estes elementos incluem VJ (s), som, imagens, luzes, espaço e audiência, todos com as suas inerentes características. Na construção audiovisual, a par de um artista de som, os sentidos são mesclados e a mente é seduzida para um mundo que gira em torno das imagens projectadas e da existência no local. Talvez seja essa sensação de imediato e imersão que é tão gratificante para os artistas e para os públicos. Talvez seja o intenso bombardeio dos sentidos que o faz, ou talvez seja a riqueza do diálogo entre a tecnologia, o ordenamento da arquitectura e expressão humana que fala tão poderosamente.

Uma performance visual ao vivo pode usufruir ainda de imagens em tempo-real, quando usa câmaras para captar a ambiência do espaço. Uma performance em tempo-real deve evidenciar o seu processo, i.e. a sua visibilidade, permitindo-lhe ser experienciada por uma audiência. Esta acção em tempo-real pode, por sua vez, desenhar-se interactiva, recorrendo-se a tecnologias emergentes. ‘Setup’ é o termo usual usado pelos VJs para descrever o contíguo técnico que usam para as performances visuais ao vivo ou em tempo real. O VJ ‘setup’ é extremamente interessante, pois reúne uma vasta gama de objectos técnicos, desde software e hardware pré-existentes a dispositivos criados pelo próprio VJ. Os equipamentos básicos utilizados pelos VJs têm funções equiparadas aos dos DJs, visto que em VJing também se fazem misturas e scratching como em DJing. Para isso, usam-se computadores portáteis para armazenar as imagens e um misturador de vídeo. Câmaras de vídeo digital podem ser utilizadas para pré- fabricar vídeos ou captar imagens em tempo-real durante a performance. O computador portátil, software de imagens ao vivo, o leitor de DVD, e efeitos digitais são unidades padrão no kit de muitos VJs.

Novas perspectivas como as DIY (Do It Yourself) parecem ser apelativas para os VJs, já que permitem personalizar os seus trabalhos. DIY assenta no pressuposto que uma só pessoa pode fazer correctamente o trabalho de vários profissionais, e nesta abordagem, as evoluções tecnológicas, irremediavelmente dos software, têm permitido essa individualização ao VJ. As tecnologias são o fio condutor desta expressão que juntamente com a diversidade de plataformas criativas existentes, têm permitido materializar ideias e desmistificar complexidades nas construções digitais.

"Tal como um ‘artista – engenheiro ‘ construtivista, os VJs inovam e modificam existentes ferramentas e software para atender às suas necessidades. Muitas vezes eles constroem novas ferramentas personalizadas e software, elevando assim o ‘ofício’ para outras dimensões." (Danto, C. cit. por Spinrad, The VJ Book, 2005)

Os software são pedras angulares para o performer digital. No progresso de produção visual, ao longo destes últimos anos, têm emergido diversos software de construção de imagem, que possibilitam ao VJ criar previamente construções artísticas, assim como outros para reforçar a sua dinâmica durante performance. Na constante evolutiva nas áreas digitais da imagem, o processo criativo de VJing passa pela afirmação de fases de produção da construção visual. Sendo assim, é possível distinguir software de criação e edição de imagem, software dedicados em exclusivo para performances VJing e software de arquitectura aberta com uso de programação. Com a articulação destes três grupos de ferramentas multi- média, alguns criativos têm vindo a orquestrar as faculdades dadas por esta era

digital, ousando obras cada vez mais atraentes e com caris interactivo.

Os software de edição de imagem, por sua vez, procuram oferecer soluções para orquestrar ideias relativas à pré-produção dos pequenos vídeos para VJing. Com diversas ferramentas, as possibilidades de exploração da imagem são infindáveis. Os software de edição de imagem podem ser discriminados em software de criação e tratamento de imagem estática, software de criação e tratamento de imagem vídeo, e software de produção de animações (2D ou 3D). Alguns dos mais usados software de imagem para vídeo e consecutivamente em VJing podem ser e.g.: Adobe Premiere, Adobe After Effects, Apple Motion, Apple Final Cut, (para vídeo); Adobe Photoshop, Adobe Illustrator (imagem fixa/vectorial); Adobe Flash (animação 2D); Autodesk 3D Max (animação 3D), etc.

Existem múltiplos software dedicados a performance de VJing. Todos eles partem do princípio de ‘live’ e são estruturados por uma arquitectura inerente à

necessidade construtiva de pequenos clips de vídeo. Os diferentes clips são assim, importados e manipulados em tempo-real, manipulações estas que se processam através de variações de ritmos, apresentações sequenciais, detalhes e efeitos visuais existentes no software. Existe ainda a possibilidade de associar o ritmo da música presente com o vídeo através de ferramentas específicas. Software de VJing como e.g. Resolume, Flowmotion, Modulat8, VDMX, VJamm, Neuromixer e Arkaos, são semelhantes na sua lógica e interface como alguns deles propiciam a manipulação de músicas e vídeo, originando apresentações musicais e cénicas. Relativamente aos software de arquitectura aberta com uso de programação,

estes parecem ser a escolha preferencial dos novos artistas digitais para a criação Img.15. Resolume 2.4. Interface

Img.16 Max/Msp Interface

de efeitos visuais vivos e esteticamente estimulantes. Na necessidade de inovar e oferecer um novo estatuto ao VJ, o criador de vídeo tem procurado ultrapassar barreiras até então inalteráveis, da tela fixa e do conteúdo da imagem constante e impenetrável pelas variáveis externas. Sendo assim, estes software têm permitido evoluir para a interactividade artística, e para a exploração das novas formas de arte, como a arte generativa. Com especial destaque temos e.g. Max /Msp Jitter, KeyWorx, Isadora, Pure Data, Processing, etc.

Esta variedade de programas permite que o VJing se aproxime da programação e do design digital, por possibilitarem que os artistas gerem visuais sem inputs externos. O uso de diferentes software criativos e hardware cada vez mais capacitados e com uma plural de capacidades, a necessidade de experimentação de efeitos visuais, a filosofia do loop e de pequenos vídeos, fazem com que exista na construção sensorial de imagens patenteada pelos VJs uma tendência à abstracção visual das composições. Como resposta a software cada vez mais potenciais e músicas mais abstractas, as construções de VJing tendem a envolver em estímulos multi-sensoriais a audiência. As performances visuais são assim, um aglomerar de ideias e tecnologias que se alinham para interpretarem um ensejo irrepetível. A diversidade dos conceitos, técnicas e qualidades estéticas é notável, o que sugere que esta prática não é alicerçada a uma particularidade, mas em vez disso, surge a partir de uma ampla gama de trajectórias convergentes que estão dentro de uma forma contemporânea de desempenho baseada na arte média. No entanto, a mistura ou remixing de vídeo ao vivo procura satisfazer uma sede de imersão e experiencias de sinestesia entre som e imagem, de forma a criar um todo que está para além da soma das partes.

O termo VJ agora incorpora realizadores de videoclips, editores, animadores, designers de software, designers de interactividade, de palco, de luz, entre outros. As tecnologias desenham as performances e tornam cada vez mais híbridas as criações visuais. Os VJs têm portanto, convergido para todas as artes visuais onde a tecnologia está envolvida.