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3.2. VJING E CONCEPTUALIDADE

3.2.4. MENSAGEM E SENSAÇÃO

As performances visuais inseridas no seu contexto social e cultural, demandam a existência de um propósito na sua configuração e experimentação. Existe um vasto número de estéticas e ideologias performativas e isso está intimamente ligado com a principal questão: qual é a função do VJ? A definição desta função performativa nem sempre é linear, é uma área em contínuo aperfeiçoamento, patenteada particularmente pelas políticas de autor, daí a divergência de um conglutinado performativo dos artistas. Independentemente desta definição, os visuais interferem no espaço-experiência e procuram estabelecer pactos de comunicativos com o público. Para tal, conceptualmente, é possível dirigir um sentido estigmatizado por mensagens e sensações.

É muito comum na pista a decomposição do movimento, a sua explicitação pela sucessão de estados estáticos do movimento com duração perceptível, ou seja, o movimento é transformado numa sucessão sequenciada de fotogramas. Para além disso, as imagens energéticas repetem-se ritmadamente, consagrando uma proximidade musical na performance dos VJs. A percepção em si, entendida nos seus aspectos psico-fisiológicos é pois, alterada pelo ritmo que a imagem oferece. Tendencialmente, e encarando esta energia de ritmos que levam a um sentido em grande parte abstracto, as sensações são o principal mote em VJing. Ao buscar as festas, o público está interessado numa experiência de entretenimento, uma fruição estética e artística que lhes provocará estímulos. Estes estímulos são conjuntamente movidos pelo consumo de estimulantes químicos e bebidas alcoólicas. Há uma busca de prazer que se aproxima das propostas analisadas por Gene Youngblood no seu Expanded Cinema. Há uma proposta de se alcançarem outros estágios de consciência neste ambientes potencialmente imersivos. Uma estimulação multissensorial oferece-se por correspondências de sinestesia entre música e imagem, de ritmos e conteúdos imagéticos que invocam formas, cores e efeitos que circundam experiências de imersão, em suma, toda a experiência audiovisual do clube é formatada para presentear o público dessa forma. Por outro lado, ainda prevalece nos discursos de alguns VJs a proposta de se desenvolverem trabalhos que vão ter o seu sentido apreendido num momento

posterior, ou seja, há aí uma menção a processos de associação. A pré-montagem e a manipulação em tempo real, podem conjugar sequências compreendidas em acções, que apresentadas de determinada forma, arquitectam mensagens. As imagens, por seu grau de abstracção e velocidade atentam os sentidos, e mesmo em trabalhos com imagens figurativas o pacto é de experimentação sensorial, de vivência. Esta experiencia “mais que uma extensão, é uma exacerbação dos pactos tradicionais, mas é, contudo, ainda um pacto, sem o qual nenhuma vivência criará o registo poético.” (Moran, op. cit. 2009-2) O registo poético a que Moran se refere, é a criação de uma mensagem congeminada esteticamente. A verdade é que, o VJ pode procurar criar essas sensações, como um processo reflexivo muitas vezes não imediato, podendo comportar-se ao subconsciente. Neste ponto, pode-se falar de mensagens subliminares. Mensagem subliminar é a definição usada para o tipo de mensagem que não pode ser directamente captada pelos sentidos humanos. Subliminar é tudo aquilo que está abaixo do limiar, no subconsciente. Toda mensagem subliminar pode ser dividida em duas características básicas: percepção e persuasão. A percepção subliminar é a capacidade que o ser humano tem de captar de forma inconsciente mensagens ou estímulos fracos demais para provocar uma resposta consciente. Segundo a hipótese, o subconsciente é capaz de perceber, interpretar e guardar uma quantidade muito maior de dados que o consciente. Como exemplo, imagens que possuem um tempo de exposição pequeno demais para serem percebidas conscientemente, ou sons baixos demais para serem claramente identificados. Dados que passariam despercebidos pela mente consciente seriam na verdade interpretados e guardados. Nas performances de VJing, o ritmo inconstante de imagens pode provocar essa mesma percepção subconsciente.

A repetição desses fragmentos de imagem permite o impulsionar determinadas mensagens, dependendo do conteúdo em si. O espectador constrói as suas próprias narrativas subjectivamente e hipoteticamente pode armazenar alguma informação ou sensação que posteriormente se figura.

Relativamente à persuasão subliminar, esta centra-se na capacidade que uma mensagem tem como influência no receptor. Não está provada cientificamente, ao contrário da percepção subliminar, e por tal, segundo a hipótese qualquer mensagem subliminar tem um determinado grau de persuasão, e pode vir a influenciar tanto as vontades de uma forma imediata (fazendo por exemplo, uma pessoa sentir vontade de beber ou dançar), como até mesmo a personalidade ou gostos pessoais de alguém a longo prazo (e.g. mudando o seu comportamento transformando uma pessoa tímida em extrovertida). Esse grau de persuasão deveria variar de acordo com o tempo de exposição à mensagem e com a

personalidade do receptor

.

Em VJing faz sentido uma influência imediata, pelo seu elevado grau de efemeridade. Por exemplo, induzir mensagens cujo conteúdo são acções muito particulares como beber, dançar, beijar, sorrir, chorar, podem suscitar mudanças de estados de espírito e impelir a vontades. Obviamente que faz mais sentido considerar esta influência quando existe um certo grau de persistência sobre essa determinada acção, i.e., quando existe repetições pelo ritmo performativo.

Actualmente o termo subliminar tem sido usado com um sentido diferente da sua definição original. O termo subliminar é muitas vezes usado como um sinónimo de subentendido. Pode ser subentendida toda mensagem que não está expressa de forma imediata, tendo seu significado implícito. Ela pode ser percebida directamente por dedução, associação ou análise de contexto. Mensagens menos óbvias correspondem de certo modo, à grande maioria dos visuais pela tendência ao abstracto e pela ausência de narrativas fechadas. No campo das artes visuais performativas, a experiência não é óbvia para o consciente, mas antes sim, uma constância de estímulos e de construções ilusionistas. Em muitos casos, as pessoas são induzidas a encontrar um significado qualquer onde necessariamente não há nenhum. É um exemplo de pareidolia também definida como validação subjectiva ou uma forma de auto-ilusão. Nesse caso, uma pessoa costuma usar o seu conhecimento, vivência e suas opiniões pessoais, imprimindo suas ideias naquilo que está a ver, causando uma distorção. O resultado é que a mesma, cria um novo significado para aquilo que ela está a ver.

O objectivo da evolução sensorial, emocional e cognitiva, aliada a um processo de identificação na melodia das imagens, no ritmo, das formas e figuras mais ou menos concretas, comportando uma evolução no estágio de experiências, é tudo aquilo que figura o poder dos visuais na sua consciência conceptual. As inúmeras possibilidades criativas existentes nas artes da imagem em movimento, tornam- se activas a partir do momento que a imagética se estrutura e se interioriza nas suas capacidades expressivas.