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TEORIAS E MODELOS NA COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO E DAS INTERACÇÕES HUMANAS

5. Resultados de investigação:

5.1. Envolvimento e características da criança

5.1.2. Envolvimento e desenvolvimento atípico

Crianças com incapacidades têm tendência para se envolverem por períodos mais pequenos e em níveis mais baixos do que as crianças com desenvolvimento típico (Bailey, McWilliam, Ware, & Burchinal, 1993). McWilliam e Bailey (1995) referem diferenças quantitativas e qualitativas no envolvimento de crianças com e sem atraso desenvolvimental, em ambientes pré-escolares inclusivos, mesmo quando a idade desenvolvimental era controlada. Crianças com incapacidades tinham tendência para estar envolvidas menos tempo e em níveis mais baixos do que crianças sem incapacidades. Estas crianças passavam menos tempo activamente envolvidas com os adultos, menos tempo a prestar atenção, isto é, a olhar e a ouvir os seus colegas, e menos tempo em níveis de envolvimento demonstrativos de mestria nas tarefas (resolução de problemas, jogo funcional e simbólico) do que os seus pares com desenvolvimento típico. Estas crianças passavam mais tempo passivamente não envolvidas. Embora numerosos estudos sugiram que as crianças com incapacidades, principalmente aquelas com atrasos moderados e severos de desenvolvimento, passam significativamente menos tempo em interacção com os pares do que crianças sem incapacidades, McCormick e colaboradores (1998), após terem controlado as variáveis relativas às actividades, em análises de regressão múltipla, não encontraram relação entre o estatuto de incapacidade das crianças e o seu envolvimento com adultos ou com pares. Possíveis explicações podem estar nas diferenças de idade das crianças dos dois estudos e na definição da variável dependente: enquanto as crianças no estudo de McCormick e colaboradores tinham 4 e 5 anos, o estudo de McWilliam e Bailey incluía crianças de 1 a 3 anos de idade e a definição de envolvimento

resultados de investigação: factores que influenciam o envolvimento da criança em contextos educativos

a hipótese de os educadores do seu estudo serem mais facilitadores da interacção com pares ou de estruturarem as salas de forma a apoiarem a interacção entre as crianças.

Outros estudos concluíram que crianças com desenvolvimento atípico demonstravam níveis mais baixos de mestria social e passavam mais tempo desocupadas (Blasco et al., 1993; Malmskog & McDonnell, 1999). Nomeadamente Krakow e Kopp (1983) concluíram que crianças com atrasos desenvolvimentais de etiologia desconhecida passavam menos tempo envolvidas com brinquedos do que crianças com Síndroma de Down e crianças com desenvolvimento normal. Ambos os grupos de crianças com desenvolvimento atípico demonstravam níveis mais reduzidos de comportamentos de exploração visual relativamente ao ambiente à sua volta, passavam mais tempo desocupadas e apresentavam mais comportamentos de atirar objectos, do que as crianças com desenvolvimento típico. Num estudo sobre factores passíveis de influenciar os comportamentos sociais e de mestria em crianças com incapacidades em idade pré-escolar, Hauser-Cram e colaboradores (1993) concluíram que crianças com um desenvolvimento cognitivo mais elevado passavam maiores percentagens de tempo envolvidas, tanto em comportamentos de mestria independente em tarefas, como em interacção social com pares. O conceito de mestria era, aqui, operacionalizado através de variáveis como a capacidade de seleccionar uma tarefa apropriada, de utilizar estratégias eficazes na organização e monitorização da realização, capacidade de realizar tentativas de forma persistente durante a realização de tarefas, de resistir à distracção e de completar tarefas com sucesso. Embora o nível de desenvolvimento cognitivo fosse a característica da criança que apresentava uma relação mais consistente com estes comportamentos na sala de jardim de infância, o tipo de incapacidade também se relacionava com alguns comportamentos interactivos da criança – nomeadamente as crianças com Síndroma de Down apresentavam um padrão de interacção social mais positivo, bem como níveis mais elevados de resistência às regras da sala. Estes resultados são congruentes com resultados de estudos prévios referidos por estes autores em que crianças com Síndroma de Down apresentavam melhores competências a nível social do que a nível cognitivo. Os dados relatados por McWilliam e Scarborough (s/d) vão no mesmo sentido. Estes autores encontraram efeitos tanto da idade desenvolvimental como da incapacidade nas duas medidas de envolvimento: envolvimento observado e envolvimento global – crianças com desenvolvimento típico revelavam maiores proporções de envolvimento social, envolvimento com adultos e com materiais, bem como níveis de participação activa (comportamento correspondente ao envolvimento diferenciado) do que os seus pares com incapacidades, que, por sua vez, passavam mais tempo a interagir em níveis inferiores de envolvimento, nomeadamente com comportamentos indiferenciados e de atenção. Estes autores encontraram também diferentes padrões de associação, para os dois grupos de crianças, entre variáveis de envolvimento observado, tal como é medido pelo Engagement Quality Observation System III (E-Qual III; McWilliam & de Kruif, 1998) e variáveis de envolvimento global, tal como é medido pelo Children’s Engagement Questionnaire (CEQ; McWilliam, 1991). Assim, as crianças

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com desenvolvimento típico eram sociáveis, independentemente das outras formas de envolvimento, enquanto em crianças com desenvolvimento atípico a tendência para serem sociáveis, dependia de outras características do seu envolvimento, nomeadamente do facto de também passarem mais tempo em envolvimento competente e em comportamentos de atenção. Também a qualidade do envolvimento social era diferente para os dois grupos de crianças: em crianças com incapacidades o envolvimento social consistia numa maior quantidade de comportamentos de atenção do que em crianças com desenvolvimento típico – este dado realça a utilidade de uma medida do envolvimento individual, que permite examinar conjuntamente os níveis e tipos de envolvimento e sublinha a importância de considerar variáveis que combinem o nível de sofisticação com o foco da interacção da criança (e.g., atenção com adultos) na análise do seu envolvimento observado. Ao examinarem a relação entre envolvimento global e envolvimento observado, estes autores verificaram que o envolvimento global tinha um efeito diferente no envolvimento observado para as crianças com desenvolvimento típico quando comparadas com crianças com incapacidades. Assim, crianças com desenvolvimento típico que são cotadas pelos seus educadores como sendo mais competentes, apresentam proporções mais elevadas de comportamentos de atenção quando observadas a interagir, enquanto as crianças com incapacidades que são igualmente cotadas pelos seus educadores como mais competentes, passam menos tempo em comportamentos de atenção. Para as crianças com incapacidades, o preditor mais relevante do envolvimento observado era a cotação que recebiam dos seus educadores para comportamento indiferenciado – cotações mais elevadas de comportamento indiferenciado estavam associadas a menos envolvimento social, menos atenção e mais participação activa (ou comportamento diferenciado).

Burstein (1986; citado por McCormick et al., 1998), encontrou uma relação entre o estatuto de incapacidade da criança, o tipo e estrutura das actividades e o envolvimento na tarefa. Crianças com atrasos desenvolvimentais demonstravam maior envolvimento na tarefa em actividades de pequeno grupo dirigidas por crianças (e.g., casinha das bonecas) quando comparadas com actividades de grande grupo dirigidas por adultos (e.g., actividades de música ou histórias). Mas para as crianças sem atraso desenvolvimental, o envolvimento na tarefa era elevado, tanto em actividades de pequeno grupo dirigidas por crianças como em actividades de grande grupo dirigidas pelo adulto.

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