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TEORIAS E MODELOS NA COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO E DAS INTERACÇÕES HUMANAS

2. Desenvolvimento e aprendizagem em contextos naturais

2.1. A natureza ecológica e transaccional do desenvolvimento humano

2.1.1. A bioecologia do desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional: O modelo Processo Pessoa-Contexto-Tempo (PPCT)

2.1.1.3. Propriedades do Contexto

Tal como originalmente formulada, a taxonomia de contextos consiste numa hierarquia de quatro níveis, do mais próximo ao mais distante, identificados com os seguintes prefixos micro, meso, exo, e macro. A integração de características desenvolvimentalmente relevantes da pessoa no modelo, originou uma expansão e reformulação ao nível do contexto, com a introdução de novos elementos nas definições do micro e do macrossistema, nos quais passa a ser possível encontrar características desenvolvimentalmente instigadoras semelhantes às encontradas para a Pessoa (Bronfenbrenner, 1993, 2005).

Microssistema

Bronfenbrenner redefine assim o carácter do microssistema em função do “centro de gravidade” (Bronfenbrenner & Morris, 1998) da teoria – a pessoa bio psicossocial – incorporando os três tipos

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de características da Pessoa, acima referidos, enquanto atributos dos outros significativos que estão presentes e que interagem com a criança nos seus ambientes diários. No entanto, segundo Lerner (2005) o que parece ser particularmente relevante nesta expansão da definição de microssistema é o facto de passar a contemplar, para além das pessoas e objectos, o mundo dos símbolos e da linguagem (o sistema semiótico) no processo interactivo, uma componente ecológica que é igualmente salientada pela teoria da actividade de Vygotsky e seus continuadores. O microssistema passa a ser definido como:

. . . um padrão de actividades, papéis sociais e relações interpessoais experimentados pela pessoa em desenvolvimento num determinado contexto imediato apresentando determinadas características físicas, sociais e simbólicas que convidam, possibilitam ou inibem a actividade [da criança]e o [seu] envolvimento em interacções contínuas, progressivamente mais complexas com, e no ambiente imediato (Bronfenbrenner & Morris, 1998, p. 1031).

As características desenvolvimentalmente instigadoras do meio podem assumir um papel mais facilitador ou perturbador do processo desenvolvimental em função das características

desenvolvimentalmente instigadoras da pessoa, originando padrões de processos proximais que

Bronfenbrenner (1993) designou de “nichos ecológicos”. Este processo sinergético de desenvolvimento apresenta características idênticas aos mecanismos descritos no modelo de “goodness-of-fit” (Thomas & Chess, 1977, 1981, 1989; Lerner, 1989) e envolve conceitos análogos às noções de “affordance” do ambiente e de “effectivity” do animal elaboradas com base na teoria ecológica de Gibson (1979) e implicados na mutualidade organismo-meio.

Estes conceitos relacionam-se com a noção de cenário, que surgiu na sequência da obra de Lewin através dos seus discípulos, Barker e Wright, que adoptam uma abordagem transaccional ao considerarem os fenómenos psicológicos como resultantes da acção conjunta do contexto e da actividade do indivíduo (Barker & Wright, 1978; citados por Rogoff, 1982). Dentro da teoria ecológica, o cenário

de comportamento engloba a conduta molar dos indivíduos (o seu aspecto subjectivo), assim como as

características físicas do contexto em que estão inseridos. O conceito de cenário foi posteriormente retomado e aplicado à psicologia do desenvolvimento, primeiro por Bronfenbrenner (1977, 1979b, 1989) e mais tarde por Tietze (1986) e por Rossbach e Tietze (1984; citados por Bairrão, 1992a). O cenário é, por eles, entendido como uma unidade social relativamente estável, caracterizada por padrões cíclicos de actividade, delimitados no tempo e no espaço. Na caracterização destes cenários é importante considerar o papel, tanto das variáveis de estrutura, o aspecto mais estável ligado às suas características físicas e humanas, como das variáveis de processo, o aspecto mais dinâmico ligado às interacções entre os indivíduos (Bairrão, 1992a, 1995). Estas definições vêm facilitar a compreensão e operacionalização da unidade pessoa-contexto.

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Mesossistema

Neste nível de análise são consideradas as relações entre influências provenientes dos diferentes contextos que a criança frequenta e a sua influência no comportamento e no desenvolvimento da criança:

O mesossistema compreende as relações e processos que ocorrem entre dois ou mais cenários que contêm a pessoa em desenvolvimento (e.g., as relações entre a casa e a escola) (Bronfenbrenner, 1993, 1995). Por outras palavras, o mesossistema é um sistema de microssistemas (Bronfenbrenner, 2005).

Exossistema

O exossistema compreende as relações e processos que ocorrem entre dois ou mais contextos, dos quais, pelo menos um não contém a pessoa em desenvolvimento, mas onde ocorrem acontecimentos que influenciam processos no contexto imediato no qual a pessoa vive (e.g., para uma criança, a relação entre a casa e o local de trabalho do pai) (Bronfenbrenner, 1993, 2005).

A conceptualização de características desenvolvimentalmente relevantes da pessoa teve um impacto na definição do Macrossistema, o contexto mais alargado do sistema ambiental. Segundo Bronfenbrenner (2005) este impacto teve a sua origem em duas definições das características da pessoa orientadas para o contexto. A primeira fonte é a teoria de Vygotsky da “evolução sócio-cultural da mente” (Luria, 1976; p. 5 citado por Bronfenbrenner, 2005), em particular a sua tese que, desde a primeira infância, o desenvolvimento das características pessoais depende, em larga medida, das opções que estão disponíveis numa dada cultura, num dado momento no tempo. A segunda fonte é o conceito de características desenvolvimentalmente instigadoras da pessoa, especialmente dos seus sistemas de crenças. Como vimos na definição de microssistema, é importante considerar estes atributos tanto na pessoa em desenvolvimento como nos outros significativos no ambiente da pessoa.

Macrossistema

No que diz respeito ao macrossistema, e de forma consistente com a formulação de Vygotsky, o repertório de sistemas de valores, bem como a sua intensidade, dependem da cultura em que a pessoa vive, sendo esse repertório que define os objectos, condicionalismos e formas de educar a geração seguinte. Assim, os sistemas de valores presentes no mundo da pessoa em desenvolvimento constituem um factor essencial para a compreensão da interacção entre forças organísmicas e forças ambientais no processo de desenvolvimento. Estas considerações resultaram na adição de aspectos complementares relativamente à anterior definição e que se encontram realçados a itálico:

O macrossistema consiste no padrão englobante de características de uma dada cultura, sub cultura, ou de outro contexto social mais alargado, com particular referência aos sistemas de crenças instigadores,

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