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TOTAL HOMENS MULHERES N % N % 1810-1850 32 64,0 18 36,0 50 (100,0%) 1851-1871 47 62,7 28 37,3 75 (100,0%) 1871-1888 41 58,6 29 41,4 70 (100,0%) TOTAL (1810-1888) 120 61,5 75 38,5 195 (100,0%) FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

Tal tendência ao incremento do peso relativo das mulheres em meio aos escravistas do núcleo urbano central de Belém foi acompanhada, simultaneamente, do crescimento da parti-

277 Trata-se de casos em que os inventários post-mortem arrolavam os bens do casal, ou seja, os bens do marido e

da esposa conjuntamente. Em nossa amostra, encontramos quatro casos de inventários de casal no primeiro perí- odo de observação, três no segundo período e nenhum no terceiro.

cipação relativa dos escravos sob a posse das proprietárias. Se, nos dois primeiros períodos de observação, a participação dos cativos sob a posse de escravistas mulheres (21,9%, entre 1810 e 1850, e 23,1%, entre 1851 e 1871) havia sido inferior ao peso relativo destas no conjunto de proprietários de escravos (36,0% e 37,3%, respectivamente), no último período de observação a participação dos cativos sob a posse de escravistas mulheres (40,6%) foi bastante semelhan- te ao peso relativo dessas no conjunto de proprietários de escravos em tela (41,4%). É oportu- no frisarmos que a dupla tendência indicada não decorreu de variações gerais na proporção de mulheres na população livre de Belém ao longo de boa parte do intervalo aqui examinado. Em verdade, enquanto a participação relativa das escravistas e de seus escravos cresceu, a partici- pação relativa das mulheres na população livre de Belém apresentou uma tendência inversa.278 Não dispomos de elementos que nos ensejem explicar, com precisão, o crescimento do peso relativo das mulheres no conjunto dos escravistas do núcleo urbano central de Belém que compõem a nossa amostra. Entretanto, o concomitante incremento da participação relativa dos escravos sob a posse de mulheres se deu não apenas em decorrência daquele primeiro cresci- mento (o de mulheres escravistas em nossa amostragem para os proprietários de cativos), mas também em virtude de uma tendência a um maior equilíbrio no número médio de escravos sob a propriedade de homens e mulheres escravistas. No primeiro período de observação, o núme- ro médio de cativos sob posse de escravistas homens (12,7) foi quase o dobro do número mé- dio de escravos sob a posse de escravistas mulheres (6,4).279 No segundo período, os números médios correlatos foram de 8,0 e 4,9280 e, no terceiro período, de 3,4 e 3,3, respectivamente.281

278 O peso relativo das mulheres na população livre do núcleo urbano central de Belém decaiu de 43,8% em 1823

para 40,3% em 1872. Esses percentuais foram calculados a partir dos dados fornecidos no Ensaio corográfico de Antônio Baena, que arrolava 5.643 habitantes livres nas paróquias urbanas da Sé e de Santana em 1823, e no Re- censeamento do Império que arrolava 29.121 habitantes livres nas freguesias urbanas da Sé, de Santana, da Trin- dade e de Nazaré, em 1872. BAENA, Antônio. Ensaio corográfico sobre a Província do Pará. Brasília: Senado Federal, 2004 [1839], p. 217-8; BRASIL. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento Geral do Império de 1872. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger/Tip. Commercial, 1876, v. 01, p. 211. Cumpre-nos ressalvar que, apesar do decréscimo da participação relativa das mulheres na população livre de Belém, entre 1823 e 1872 a quantidade de mulheres cresceu numericamente. Ainda que não haja estudos mais detidos sobre a dinâmica demográfica das populações belenense e paraense daquele contexto, que apresentem explicações para esse quadro, não seria irra- zoável considerarmos a existência de afluxos migratórios majoritariamente masculinos na sua configuração, in- clusive sobrepondo uma eventual sobremortalidade masculina na Cabanagem. Infelizmente, a corografia de An- tônio Baena fornece apenas os números de homens e mulheres para as então duas freguesias urbanas de Belém (Sé e Santana), passando ao largo das demais freguesias existentes no Pará. Contudo, a partir do Recenseamento de 1872 sabemos que a participação relativa das mulheres na população livre de toda a província (48,1%) foi mais expressiva que a participação destas nas freguesias da Sé, de Santana, da Trindade e de Nazaré (40,3%), que à altura compunham o núcleo urbano central de Belém. Trata-se de uma diferença expressiva, que pode estar relacionada não somente ao destino final daqueles fluxos como também à presença de tropas militares. BRASIL. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento Geral do Império de 1872. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger/Tip. Commercial, 1876, v. 01, p. 211.

279 Resultado do teste t-Student: t(48) = 0,98, p = 0,34 – não significativo. 280 Resultado do teste t-Student: t(73) = 0,86, p = 0,39 – não significativo.

Mesmo que o pequeno número de casos que compõem a nossa amostra tenha contribu- ído para que as diferenças médias acima indicadas não tenham sido estatisticamente significa- tivas no que diz respeito a todos os três períodos de observação, parece-nos claro que a dimi- nuição das mesmas entre os três períodos foi determinante para a expansão da participação re- lativa do contingente de cativos sob a posse das escravistas mulheres no conjunto de escravos de nossa amostra. Um maior equilíbrio que se deu não como resultado do crescimento do nú- mero médio de cativos sob a posse de escravistas mulheres, mas como resultado do decrésci- mo do número médio de cativos sob a posse de escravistas homens a partir de 1851. Esse mo- vimento foi favorecido por uma inflexão na estrutura da posse de cativos e também nos níveis de concentração da propriedade escrava que teve vez entre o segundo e o terceiro período ana- lisado, caracterizada pela consolidação da preponderância dos pequenos e médios plantéis en- tre as escravarias analisadas.

Muito embora a estrutura da posse de escravos e os níveis de concentração da proprie- dade escrava sejam questões atinentes à próxima seção do capítulo, uma breve nota acerca dos maiores escravistas homens e mulheres de cada período de observação pode ajudar a elucidar o impacto daquela inflexão na distribuição dos escravos, entre escravistas homens e mulheres. No primeiro período, o maior escravista encontrado foi produtor de cacau José Duarte Rodri- gues, detentor de 153 escravos – 140 deles empregados na sua Fazenda Val-de-Cans, nas cer- canias de Belém, e os outros 13 na sua residência situada no centro da cidade.282 A maior pro- prietária desse período foi Maria Gomes de Azevedo Guerra, com 29 escravos.283 No segundo período examinado, o maior escravista foi Vicente Antônio de Miranda, com 129 cativos em- pregados na produção de derivados da cana no seu Engenho do Murucutu,284 enquanto a mai- or escravista foi Leocádia da Cunha e Lima, proprietária de 11 escravos.285 No último período em tela, o maior proprietário possuía somente 14 cativos286 e a maior escravista, 11 cativos.287

281 Resultado do teste t-Student: t(68) = 0,07, p = 0,95 – não significativo.

282 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 13 (1845-1849). Inventá-

rio post-mortem de José Duarte Rodrigues, 1846.

283 CMA/UFPA. Cartório Sarmento (14ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 03 (1846-1849). Inventário

post-mortem de Maria Gomes de Azevedo Guerra, 1846.

284 CMA/UFPA. Cartório Sarmento (14ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 04 (1852-1863A). Inventário

post-mortem de Vicente Antônio de Miranda, 1853.

285 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 19 (1863-1864). Inventá-

rio post-mortem de Leocádia Josefa da Conceição Alves da Cunha e Lima, 1864.

286 CMA/UFPA. Cartório Sarmento (14ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 08 (1890-1889). Inventário

post-mortem de Antônio Teodorico da Silva Penna, 1884.

287 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 39 (1882). Inventário

O espectro apresentado dos maiores proprietários de escravos do núcleo urbano central de Belém, além de mostrar indícios da já mencionada inflexão da estrutura da posse de escra- vos e dos níveis de concentração da propriedade cativa a partir de 1872, evidencia que ao lon- go de todo o intervalo compreendido (1810-1888), as mulheres escravistas possuíam não mais que plantéis de média dimensão – i. e., aqueles entre 10 e 19 escravos, de acordo com a classi- ficação adotada no presente estudo, a ser apresentada na próxima seção. A única ressalva a es- sa regra foi o acima elencado plantel de Maria Gomes de Azevedo Guerra, do primeiro perío- do analisado. Em compensação, a segunda maior escravista de tal período (1810-1850), Inácia Micaela Aires, não transpunha o limite dos plantéis de média dimensão com os seus 14 escra- vos.288 Examinemos, agora, o perfil dos escravistas, de acordo com os seus estados conjugais:

TABELA 3.2

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