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culo XIX: um estudo sobre família, poder e economia Dissertação de Mestrado (História Social da Amazô-

P IRÂMIDE SEXO ETÁRIA DOS ESCRAVOS AFRICANOS

(NÚCLEO URBANO CENTRAL DE BELÉM,GRÃO-PARÁ,1810-1850)

(N=127)

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

A configuração do GRÁFICO 3.4 evidencia não apenas a prevalência masculina entre os escravos africanos (55,9% de homens, frente a 44,1% de mulheres) do primeiro período anali- sado, mas também uma composição etária caracterizada por um pequeno número de africanos jovens (3,9%), uma significativa maioria de adultos (71,7%) e um número razoável de velhos (24,4%), sendo a representatividade dos dois últimos grupos etários superior a de seus corres- pondentes para o conjunto de escravos do primeiro período analisado (54,0% e 11,3%, respec- tivamente). Entre eles, não verificamos diferença estatisticamente significativa nas idades dos homens (35,3 anos, DP= 15,3) e a das mulheres (38,6 anos, DP= 15,5),351 sugerindo que pode não ter havido tanta diferença entre as idades dos africanos e das africanas ingressados e fixa- dos no núcleo urbano central de Belém.

351 Resultado do teste t-Student: t(125) = 1,20, p = 0,23 – não significativo.

-12,0% -10,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-7980/+ Homens Mulheres

GRÁFICO 3.5

PIRÂMIDE SEXO-ETÁRIA DOS ESCRAVOS DO NÚCLEO URBANO CENTRAL DE BELÉM

(GRÃO-PARÁ,1851-1871)

(N=557)

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

A estrutura do GRÁFICO 3.5, por sua vez, indica para o segundo período analisado uma população cativa relativamente equilibrada entre os sexos com uma ligeira maioria masculina, uma maioria de adultos e um número expressivo de jovens, o que reafirma as considerações já apresentadas sobre tal período. Entre os anos de 1851 e 1871, a idade média dos escravos ho- mens (25,9 anos, DP= 18,5) não diferiu, com significância, da idade média das escravas (27,9 anos, DP= 18,4).352 A similaridade entre a composição etária dos cativos homens e das cativas desse período resta evidenciada, outrossim, pelo grande equilíbrio apresentado nos quantitati- vos de homens e mulheres escravos em quase todas as faixas etárias do GRÁFICO 3.5, não obs- tante a leve superioridade numérica dos escravos homens, entre os cativos do segundo período de observação.

352 Resultado do teste t-Student: t(555) = 1,28, p = 0,20 – não significativo.

-8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-7980/+ Homens Mulheres

GRÁFICO 3.6

PIRÂMIDE SEXO-ETÁRIA DOS ESCRAVOS DO NÚCLEO URBANO CENTRAL DE BELÉM

(GRÃO-PARÁ,1871-1888)

(N=205)

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

A estrutura do GRÁFICO 3.6 reforça a nítida prevalência das mulheres entre os escravos do terceiro período de observação (59,0%, frente a 41,0% de escravos homens), assim como o impacto da Lei Rio Branco (1871) indicado pelo pequeno número de jovens, e da Lei Saraiva- Cotegipe (1885) indicado pelo pequeno número de velhos. Trata-se, sobretudo, de uma escra- varia majoritariamente feminina e adulta, cuja composição sexo-etária insinua, a tirarmos pelo diminuto número de escravos homens no mesmo grupo etário (especialmente, entre os 30 e os 44 anos de idade), uma evasão de escravos homens em idade adulta a partir do tráfico interno ou de outros tipos de deslocamento, como os já mencionados. Apesar disso, não verificamos a existência de variação estatisticamente significativa entre a idade média dos escravos homens (29,4 anos, DP=14,6) e a das cativas (27,5 anos, DP=13,9), nesse período .353

Embora, possivelmente na grande maioria dos casos, as idades dos escravos não sejam precisas, mas delimitadas pelos avaliadores, segundo as idades que os cativos aparentavam ter – o que pode ter implicado o corriqueiro predomínio, na documentação da Colônia e do Impé-

353 Resultado do teste t-Student: t(203) = 0,95, p = 0,34 – não significativo.

-8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-7980/+ Homens Mulheres

rio, de uma concentração das idades em dois dígitos mais frequentes (0 e 5)354 – os dados for- necidos nas últimas páginas são reveladores, a nosso ver, de inflexões mais gerais na estrutura sexo-etária da população escrava do núcleo urbano central de Belém, entre os três períodos de observação. Inflexões que, conquanto discerníveis a partir das diferentes faixas de tamanho de plantel e das pirâmides sexo-etárias apresentadas, seguramente guardavam relação com as ati- vidades econômicas das propriedades. É justamente sobre tal relação que passamos a analisar, a partir de agora.

No esforço de avançarmos na compreensão a respeito das características demográficas e econômicas dos cativos do núcleo urbano central de Belém, examinamos em relação às dife- rentes atividades econômicas desenvolvidas na região, tais indicadores: número de proprieda- des; número médio de escravos; idade média dos cativos; razão de dependência total,355 razão de sexo e razão de africanidade dos escravos. Trata-se, a nosso ver, de indicadores-chave para uma reflexão sobre quais atividades concentravam o maior número de cativos no ápice de sua idade produtiva e, no caso específico do primeiro período examinado, para uma reflexão sobre o nível de dinamismo econômico apresentado por determinadas atividades – neste caso, avali- ado em função da sua capacidade de adquirir novos cativos africanos, a partir do tráfico atlân- tico.

Os dados apresentados na TABELA 3.12, referentes ao primeiro período de observação, fornecem os resultados dos indicadores demográficos e econômicos elencados, segundo as di- ferentes atividades econômicas das escravarias. De início, podemos verificar que as participa- ções relativas dos cativos homens e dos cativos africanos (estes, de ambos os sexos) variavam conjuntamente, segundo as atividades econômicas das propriedades. Os plantéis com escravos de ganho, de aluguel e domésticos, ainda que em maior número absoluto, apresentavam pesos relativos de homens e africanos em suas composições, semelhantes aos das escravarias aloca- das em quintas e rocinhas. É digno de nota o fato de a megapropriedade encontrada no primei- ro período analisado (a já mencionada Fazenda Val-de-Cans, votada à produção de cacau e de

354 Sobre a questão das idades nos documentos coloniais e do Império, ver especialmente: NOZOE, Nelson Hidei-

ki; COSTA, Iraci del Nero da. Sobre a questão das idades em alguns documentos dos séculos XVIII e XIX. Re-

vista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 34, p. 175-82, 1992.

355 A razão de dependência total é um indicador caro à Economia e à Demografia, utilizado na análise das popu-

lações economicamente ativa e dependente. Afere-se como a razão entre a população economicamente depen- dente (os indivíduos com menos de 15 ou mais de 59 ou 64 anos de idade) e a população economicamente ativa (os indivíduos de 15 a 59 ou 64 anos de idade), vezes 100. Neste estudo, consideramos como população depen- dente os menores de 15 e os maiores de 49 anos, de modo a enquadrarmos a razão de dependência total nos gru- pos etários considerados. Entendemos que se trata de uma razão que deve ser relativizada, principalmente no que diz respeito às populações escravas (os escravos inseridos nos grupos etários dos jovens e dos velhos certamente não deixavam de desenvolver atividades produtivas), mas que pode ser bastante útil, no sentido de apontar quais atividades reuniam o maior número de escravos no ápice de suas idades produtivas.

cerâmica) ter apresentado uma das menores razões de africanidade do período (2,2), perdendo apenas para os plantéis ligados ao comércio e os sem atividade característica, que sequer deti- nham africanos.

TABELA 3.12

INDICADORES DEMOGRÁFICOS E ECONÔMICOS DOS ESCRAVOS SEGUNDO

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