• Nenhum resultado encontrado

D ISTRIBUIÇÃO DOS PLANTÉIS SEGUNDO AS FAIXAS DE TAMANHO E AS ATIVIDADES CARAC TERÍSTICAS DOS INVENTÁRIOS (N ÚCLEO URBANO CENTRAL DE B ELÉM , 1872-1888)

culo XIX: um estudo sobre família, poder e economia Dissertação de Mestrado (História Social da Amazô-

D ISTRIBUIÇÃO DOS PLANTÉIS SEGUNDO AS FAIXAS DE TAMANHO E AS ATIVIDADES CARAC TERÍSTICAS DOS INVENTÁRIOS (N ÚCLEO URBANO CENTRAL DE B ELÉM , 1872-1888)

ATIVIDADE(S) FTP ESCRAVOS

01-09 10-19 20-49 50-99 100/+ TOTAL N MÉDIA % Escravos de ganho, de aluguel e

domésticos 52 01 - - - 53 160 3,0 68,4 Comércio 09 01 - - - 10 31 3,1 13,2 Olaria 02 - - - - 02 10 5,0 4,3 Tipografia 01 - - - - 01 08 8,0 3,4 Quintas e Rocinhas 02 - - - - 02 04 2,0 1,7 Subsistência ou Abastecimento 01 - - - - 01 07 7,0 3,0 Pecuária - 01 - - - 01 14 14,0 6,0 TOTAL 67 03 - - - 70 234 3,3 100,0

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

Reforçando uma tendência já evidenciada no segundo período, os plantéis com cativos de ganho, de aluguel e domésticos apresentaram uma nova redução no número médio de cati- vos por escravaria (3,0, frente à média de 4,6 do período anterior),320 mas dessa vez sem vari- ações significativas no grau de concentração da posse de cativos (índice de Gini de 0,38, fren- te ao índice de 0,35 do período anterior). Novamente, por conta da grande participação relati- va das escravarias com cativos de ganho, de aluguel e domésticos no conjunto de plantéis ana- lisados – a maior dentre todos os três períodos de observação –, aquelas escravarias condicio- naram, nitidamente, as variações gerais no número médio de cativos por plantel e nos graus de concentração da propriedade escrava, ambas em trajetórias descendentes, operadas entre o se- gundo e o terceiro período de observação.

Ainda que, como indicamos anteriormente, apenas 40,6% dos cativos do terceiro perí- odo examinado estivessem sob a propriedade direta de mulheres escravistas (os demais escra- vos estavam sob a propriedade de homens escravistas ou de casais), a elevada participação re- lativa dos cativos exercendo atividades de ganho, de aluguel e domésticas (maior que dois ter- ços) em nossa amostra para o período de 1872 a 1888, pode revelar um padrão de organização do escravismo no núcleo urbano central de Belém – que se consolidou nas últimas duas déca- das da escravidão, mas que já apresentava sinais desde o limiar do século 19 –, em que a atua- ção econômica de parte significativa dos escravos se dava sob o controle de mulheres, fossem elas as próprias escravistas ou aparentadas deles. Um padrão em que ganhavam grande desta- que as senhoras – de direito ou de fato – de poucos escravos, que, a exemplo do que constatou Maria Odila Dias para a São Paulo oitocentista, “compunham toda uma graduação descenden- te de remediadas, que reunia desde figuras aristocráticas [...] a concubinas sem sobrenome”.321 Nas últimas duas décadas da escravidão em Belém, com o avanço da legislação eman- cipacionista e as transformações ocorridas, em âmbito local, na estrutura urbana, na economia e na demografia da capital paraense, a grande maioria dos escravos do núcleo central da cida- de era formada por cativos de ganho, de aluguel e domésticos, ou em atividades urbanas asso- ciadas ao comércio e à prestação de serviços em geral, em detrimento das atividades atreladas ao meio rural que, outrora, concentravam uma fração longe de ser inexpressiva dos cativos de Belém. Eram nos pequenos plantéis – via de regra, unitários ou com dois escravos – que esses escravos estavam alocados, cuidando das tarefas domésticas, atuando no mercado informal ou

320 Resultado do teste t-Student: t(112) = 3,09, p < 0,001 – altamente significativo.

em outras atividades em oficinas ou no espaço público – seja com maior autonomia, nas ativi- dades de ganho, ou alugados por seus senhores.

As transformações na estrutura da posse de cativos e nas atividades econômicas carac- terísticas nas quais os cativos estavam empregados são traços reveladores não somente da mu- tação dos signos de riqueza da elite paraense e das transformações de variadas ordens ocorri- das em Belém ao longo do século 19, como também da organização de uma lógica econômica cada vez menos dependente da mão de obra cativa, embora em grande medida ainda subsidiá- ria dela no processo de transição para o trabalho livre e assalariado, que coincidiu – regional- mente – com a consolidação da borracha enquanto o principal produto de exportação do Grão- Pará, como discutimos anteriormente.322 Diante disso, uma pergunta se coloca de antemão: te- riam essas transformações, com manifestas consequências no perfil dos escravistas e na estru- tura da posse, implicado alterações nas características dos cativos em si?

3.3. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS E ECONÔMICAS DOS ESCRAVOS

Na presente seção, procedemos à caracterização dos escravos do núcleo urbano central de Belém, entre 1810 e 1888, segundo a origem (africana ou crioula), o sexo e a idade. Tal ca- racterização leva em consideração, em um primeiro momento, as diferentes faixas de tamanho de plantel e, em um segundo momento, as diferentes atividades econômicas nas quais os cati- vos estavam empregados – em ambos os casos observando eventuais variações nas suas carac- terísticas demográficas e econômicas ao longo dos três períodos de observação analisados. Ao todo, é examinada uma amostra constituída pelos 1.357 escravos computados em todos os três períodos de observação. Com relação, especificamente, ao terceiro período, cumpre-nos escla- recer que não são considerados nem os filhos ingênuos das mulheres cativas de nossa amostra, nascidos após a Lei Rio Branco (1871), tampouco os escravos libertados pela força da Lei Sa- raiva-Cotegipe (1885). Atenhamo-nos, inicialmente, à origem africana ou crioula dos cativos.

322 Sobre o processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre na Amazônia, ver especialmente: MO-

RAES, Ruth Burlamaqui de. Transformações demográficas em uma economia extrativa: Pará (1872-1920). Dissertação de Mestrado (História) – Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná, 1984; ACE- VEDO MARIN, Rosa Elizabeth. Du travail esclave au travail libre: le Para (Brésil) sous le régime colonial et

sous l'Empire (XVII-XIX siécles). Thèse de Doctorat (Histoire et Civilisations) – École des Hautes Études en

Sciences Sociales, 1985; ANDERSON, Robin L. Colonization as Exploitation in the Amazon Rain Forest

(1758-1911). Gainesville: University Press of Florida, 1999; BEZERRA NETO, José Maia. Por todos os meios le- gítimos e legais: as lutas contra a escravidão e os limites da Abolição (Brasil, Grão-Pará, 1850-1888). Tese

de Doutorado (História Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009; SAMPAIO, Patrícia Maria Melo. Nos confins do Império: diversidade e etnicidade no mundo do trabalho da Amazônia no século XIX. In: XAVIER, Giovana (Org.). Histórias da escravidão e do pós-Abolição para escolas. Brasília: Ministério da Edu- cação, 2015, p. 179-94.

TABELA 3.9

Outline

Documentos relacionados