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E STRUTURA DA P OSSE DE C ATIVOS (N ÚCLEO URBANO CENTRAL DE B ELÉM , 1810-1888)

culo XIX: um estudo sobre família, poder e economia Dissertação de Mestrado (História Social da Amazô-

E STRUTURA DA P OSSE DE C ATIVOS (N ÚCLEO URBANO CENTRAL DE B ELÉM , 1810-1888)

FTP PROPRIETÁRIOS ESCRAVOS N % %AC. N % %AC. 1810 -1 8 5 0 01-09 40 74,1 74,1 146 27,6 27,6 10-19 08 14,8 88,9 113 21,3 48,9 20-49 05 9,2 98,1 130 24,6 73,5 50-99 - - - - - 100/+ 01 1,9 100,0 140 26,5 100,0 TOTAL 54 100,0 100,0 529 100,0 100,0 1851 -1 8 7 1 01-09 66 84,7 84,7 257 43,3 43,3 10-19 09 11,4 96,1 92 15,5 58,8 20-49 01 1,3 97,4 51 8,6 67,4 50-99 01 1,3 98,7 65 10,9 78,3 100/+ 01 1,3 100,0 129 21,7 100,0 TOTAL 78 100,0 100,0 594 100,0 100,0 1872 -1 8 8 8 01-09 67 95,7 95,7 201 85,9 85,9 10-19 03 4,3 100,0 33 14,1 100,0 20-49 - - - - 50-99 - - - - 100/+ - - - - TOTAL 70 100,0 100,0 234 100,0 100,0 1810 -1 8 8 8 01-09 173 85,6 85,6 604 44,5 44,5 10-19 20 9,8 95,4 238 17,5 62,0 20-49 06 3,0 98,4 181 13,4 75,4 50-99 01 0,5 98,9 65 4,8 80,2 100/+ 02 1,0 100,0 269 19,8 100,0 TOTAL 202 100,0 100,0 1.357 100,0 100,0

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2012; MORENO, Breno Aparecido Servido-

re. Demografia e trabalho escravo nas propriedades rurais cafeeiras de Bananal, 1830-1860. Dissertação de Mestrado (História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2013; FONTELLA, Leandro Goya; MATHEUS, Marcelo Santos. Estrutura de posse escrava na província do Rio Grande de São Pedro: um apanhado historiográfico (c.1820-c.1870). Revista Latino-Americana de História, São Leopoldo, v. 0, n. 9, p. 76-96, jul.-dez. 2013; MOTA, Antonia da Silva; BARROSO, Daniel Souza. Economia e demografia da escravidão no Maranhão e no Grão-Pará: uma análise comparativa da estrutura da posse de cati- vos 1785-1850). Revista de História, São Paulo, 2017, p. 1-41, n. 176.

No que se refere à distribuição dos escravistas e dos escravos do núcleo urbano central de Belém segundo as diferentes faixas de tamanho de plantel, os dados fornecidos na TABELA 3.4 evidenciam a prevalência dos pequenos e médios plantéis na cidade ao longo de todo o in- tervalo considerado. Em todos os três períodos examinados, a maioria absoluta dos escravistas eram pequenos proprietários, sendo ainda razoavelmente expressiva – principalmente nos dois primeiros períodos – a participação relativa dos médios proprietários (14,8% e 11,4%, respec- tivamente). Os cativos, por sua vez, também estavam concentrados nas pequenas e médias es- cravarias – os escravos nessas faixas perfaziam 48,9% dos cativos do primeiro período, 58,8% dos escravos do segundo período e a totalidade dos cativos do terceiro período de observação. Tais dados, para além poderem ser sugestivos de um paulatino fracionamento das escravarias ocorrido entre os três períodos examinados, revelam uma nítida tendência à concentração cada vez maior dos escravos nos plantéis de menor dimensão.

Simultaneamente a essa tendência, notamos o crescimento – também linear – da parti- cipação dos pequenos escravistas, tanto em termos absolutos – i. e., o número de pequenos es- cravistas identificados em cada período analisado –, quanto nos termos de sua participação re- lativa no conjunto de proprietários de nossa amostra – este último crescimento, favorecido pe- lo fato de termos localizado poucos grandes, muito grandes e megaproprietários para o segun- do período de observação, e de não termos localizado escravistas desses portes, para o terceiro período examinado. As médias de cativos por escravista oscilaram de 9,8, no primeiro período analisado, para 7,6 e 3,3, no segundo e no terceiro períodos em tela, respectivamente. Embora as médias concernentes aos dois primeiros períodos não tenham apresentado diferença estatis- ticamente significativa entre si,295 ambas superaram a média do terceiro período observado.296

Um dos principais aspectos conducentes à variação nas médias de cativos por escravis- ta entre os dois primeiros e o terceiro período observado foi a maior incidência, neste período, de plantéis unitários ou com dois cativos, que representaram 54,2% de todas as escravarias do período e conformaram a distribuição bimodal encontrada. Nos dois primeiros períodos anali- sados os plantéis modais – i. e., os plantéis cujo número de escravos se repetiu por mais vezes em nossa amostra – foram aqueles com, respectivamente, três e dois cativos. Nesses períodos, as escravarias formadas por um ou dois cativos, diferentemente do que ocorreu no terceiro pe- ríodo, estiveram longe de corresponder à maioria dos plantéis examinados, perfazendo apenas

295 Resultado do teste t-Student: t(130) = 0,67, p = 0,50 – não significativo.

296 Resultado do teste t-Student na comparação entre as médias de cativos por escravista do primeiro e do terceiro

período de observação: t(122) = 2,53, p = 0,01 – altamente significativo. Resultado do teste t-Student na compa- ração entre as médias de cativos por escravista do segundo e do terceiro período de observação: t(146) =2,18, p = 0,03 – significativo.

24,1% e 30,8% de todas as escravarias do primeiro e do segundo período observado, respecti- vamente.

Tais observações, além de consubstanciarem um elemento indicativo a mais do fracio- namento dos plantéis escravos do núcleo urbano central de Belém, ocorrido entre os três perí- odos de observação analisados e ao qual já nos reportamos, podem ser uma consequência su- gestiva de uma gradual transição dos signos de riqueza da elite paraense. Como bem observou Cristina Cancela, com o avançar das décadas de 1870 e 1880, o peso dos escravos na alocação da riqueza da elite paraense diminui substancialmente, passando a prevalecer “os bens de raiz, os investimentos em seguros, ações e liquidação de firmas comerciais, dinheiro em conta cor- rente e na caderneta da Caixa Econômica”.297 No fim dos anos 1880 e no início da década se- guinte, com a assinalada expansão da borracha nas pautas de exportação do Pará, “estradas de seringais, casas de aviação e firmas comerciais passam ser mais frequentes nos legados”.298

Além disso, sem prejuízo a um eventual impacto do tráfico e das fugas escravas,299 po- rém tendo em vista principalmente a centralidade que a reprodução endógena ocupava na ma- nutenção do contingente cativo do núcleo urbano central de Belém (aspecto que será estudado no CAPÍTULO 05), não seria de todo irrazoável considerarmos a existência de um eventual im- pacto resultante da Lei Rio Branco (1871) – que tornou livres os filhos nascidos do ventre das mulheres cativas – no número médio de cativos por plantel no terceiro período de observação. Apesar do pequeno número de ingênuos encontrados em nossa amostra (35), caso computados eles representariam uma fração nada irrisória dos 241 escravos que compõem a nossa amostra para o terceiro período analisado. A sua presença entre os cativos, contudo, não implicaria va- riações significativas na distribuição dos escravos segundo as faixas de tamanho de plantel.300

Nos dois primeiros períodos examinados, nos quais o impacto da reprodução endógena se fazia sentir de forma mais efetiva, identificamos casos em que a reprodução dos cativos foi determinante não somente para a manutenção e ampliação das escravarias, como também para

297 CANCELA, Cristina Donza. Casamento e relações familiares na Economia da Borracha, op. cit., p. 250. 298 Idem.

299 Sobre as fugas escravas na Belém oitocentista, ver, sobretudo: BEZERRA NETO, José Maia. Histórias urbanas

de liberdade: escravos em fuga na cidade de Belém, 1860-1888. Afro-Ásia, Salvador, n. 28, p. 221-50, jul.-dez. 2002.

300 Dos 70 plantéis que compõem a nossa amostra para o terceiro período examinado, somente dois mudariam de

faixa de tamanho passando de pequenas para médias escravarias. O plantel com o maior número de ingênuos en- contrado foi o de Maria de Nazaré Gonçalves Penna Matosinho, voltado a atividades de ganho, de aluguel e do- mésticas, com quatro ingênuos (três filhas da cafuza Dorotéia e um filho da cafuza Catarina). O plantel de Maria Matosinho, porém, era formado por apenas três escravos de fato (além das cafuzas Dorotéia e Catarina, integrava a escravaria, o mulato Maximiamo) e não chegaria a mudar de faixa de tamanho de plantel. CMA/UFPA. Cartó- rio Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 41 (1884). Inventário post-mortem de Maria de Nazaré Gonçalves Penna Matosinho, 1884.

acarretar na mudança na classificação dessas escravarias entre as diferentes faixas de tamanho de plantel. A posse de Inácia Micaela Aires é ilustrativa, nesse sentido. Dos 14 escravos dedi- cados às atividades domésticas que essa proprietária detinha, em 1815, 10 viviam em famílias: seis deles na família nuclear formada a partir do casamento Manoel Antônio, natural de Ango- la, e a sua esposa Madalena Maria, crioula, e quatro em famílias monoparentais femininas en- cabeçadas pelas escravas Vitória Benedita e Joaquina Maria.301 Sem a reprodução endógena, é possível que a escravaria de Inácia Micaela Aires acabasse sendo classificada como pequeno e não como médio plantel.

Não obstante as diferenças encontradas entre os três períodos examinados, a prevalên- cia dos pequenos escravistas e dos cativos pertencentes a pequenos e médios plantéis, que en- contramos para o núcleo urbano central de Belém, representou um padrão também encontrado para grande parte das localidades e das regiões brasileiras já estudadas.302 Outro exemplo des- se padrão, igualmente atinente ao Norte do Brasil, é o de Manaus. Ao examinar os inventários post-mortem da capital da antiga comarca e mais a frente província do Amazonas entre 1838 e 1885, Patrícia Sampaio mostrou que 80,7% dos escravistas eram proprietários de plantéis com até nove cativos. O peso relativo dos cativos em plantéis desse porte satisfazia a 45,2% de to- dos os cativos coligidos pela autora.303 Uma distribuição que se assemelha àquela que eviden- ciamos para Belém no primeiro período de observação e que viria a se alterar, profundamente, apenas no terceiro período, com implicações diretas nos graus de concentração da propriedade escrava.

As curvas de Lorenz (GRÁFICO 3.1) referentes à propriedade de escravos no núcleo ur- bano central de Belém entre 1810 e 1888 corroboram grande parte das discussões desenvolvi- das nas últimas páginas. De início, o fato de a curva relativa ao terceiro período de observação ter dominado as curvas – ou seja, ter ficado “acima” das curvas – correspondentes ao primeiro e ao segundo período confirma a menor concentração da propriedade escrava naquele período, em relação a estes. Por outro lado, o cruzamento entre as curvas relativas ao primeiro e ao se- gundo período de observação não nos enseja, a priori, comprovar a existência de variações em direção a um maior ou menor grau de concentração da propriedade escrava entre aquele e este período. O que pode ser um reflexo de estruturas da posse de escravos não tão dessemelhantes entre o primeiro e o segundo período examinados, conforme vimos assinalando.

301 CMA/UFPA. Cartório Leão (4ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 01 (1815-1817). Inventário post-

mortem de Inácia Micaela Aires, 1815.

302 MOTTA, José Flávio; COSTA, Iraci del Nero da; NOZOE, Nelson Hideiki. Às vésperas da Abolição, op. cit., p.

208.

GRÁFICO 3.1

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