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D ISTRIBUIÇÃO DOS PLANTÉIS SEGUNDO AS FAIXAS DE TAMANHO E AS ATIVIDADES CARAC TERÍSTICAS DOS INVENTÁRIOS (N ÚCLEO URBANO CENTRAL DE B ELÉM , 1851-1871)

culo XIX: um estudo sobre família, poder e economia Dissertação de Mestrado (História Social da Amazô-

D ISTRIBUIÇÃO DOS PLANTÉIS SEGUNDO AS FAIXAS DE TAMANHO E AS ATIVIDADES CARAC TERÍSTICAS DOS INVENTÁRIOS (N ÚCLEO URBANO CENTRAL DE B ELÉM , 1851-1871)

ATIVIDADE(S) FTP ESCRAVOS

01-09 10-19 20-49 50-99 100/+ TOTAL N MÉDIA % Escravos de ganho, de aluguel e

Domésticos 60 01 - - - 61 284 4,6 47,8 Comércio 04 02 - - - 06 42 7,0 7,1 Ourivesaria 01 - - - - 01 05 5,0 0,8 Padaria 01 - - - - 01 04 4,0 0,7 Quintas e Rocinhas 04 - - - - 04 10 2,5 1,7 Derivados da cana-de-açúcar - - - 01 01 02 194 97,0 32,7 Subsistência ou Abastecimento 01 - 01 - - 02 28 14,0 4,7 Arroz - - 01 - - 01 27 27,0 4,5 TOTAL 71 03 02 01 01 78 594 7,6 100,0

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

312 Como bem argumenta Maria de Nazaré Sarges, com o avançar do processo de reordenamento da estrutura ur-

bana de Belém, os membros da elite local, antes estabelecidos na região central da cidade, começaram a se trans- ferir, gradualmente, “para outros pontos, geralmente mais afastados, em busca de maior espaço para a construção de suas rocinhas”. Mobilidade, essa, que pode ter contribuído para a diminuição do número de escravos alocados em quintas ou rocinhas a partir do segundo período de observação. cf.: SARGES, Maria de Nazaré. Belém: rique-

Os 194 cativos empregados na produção de derivados da cana-de-açúcar encontravam- se em duas propriedades – uma muito grande e a outra uma megapropriedade, conforme o cri- tério utilizado no presente estudo. A propriedade muito grande era o Engenho São Mateus, si- tuado na Ilha de Outeiro e pertencente à sociedade estabelecida entre os negociantes Henrique de La Rocque e Antônio Smith, assim como os seus 65 escravos.313 Tal propriedade evidencia o esforço de diversificação de investimentos empreendido por membros da praça mercantil de Belém no período de gestação da chamada Economia da Borracha – o que incluía a aquisição de cativos e de propriedades rurais como o Engenho São Mateus, em regimes societários.314 A megapropriedade em questão era o já citado Engenho do Murucutu, com 139 escravos perten- centes a Vicente Antônio de Miranda.315

Completavam o quadro de propriedades rurais no núcleo central de Belém, nesse perí- odo de observação, um pequeno e um grande plantel dedicados à produção de gêneros de sub- sistência e abastecimento, uma grande escravaria voltada à produção de arroz e quatro peque- nos plantéis associados a quintas e rocinhas. Conjuntamente, tais propriedades reuniam 10,9% dos cativos de nossa amostra para o segundo período em tela. Caso somemos os escravos reu- nidos nessas propriedades com os escravos empregados na produção de derivados da cana-de- açúcar, observaremos que 43,6% de todos os cativos computados entre 1851 e 1871, exerciam atividades ligadas ao meio rural, igualmente concentradas, na sua maioria, nos limites geográ- ficos do núcleo central de Belém. Um patamar mais expressivo do que aquele que verificamos no primeiro período em tela (38,4%) para as atividades integradas ao meio rural.

Não obstante a permanência de um notável contingente de escravos alocados em ativi- dades rurais, os dados apresentados na TABELA 3.7 indicam uma diversificação nas atividades urbanas exercidas pelos cativos, em relação ao primeiro período analisado. No segundo perío- do, é possível observarmos escravos empregados em novas atividades (ourivesaria e padaria), assim como a expansão do número de escravos empregados no comércio – atividade que con- centrou 7,1% dos cativos de nossa amostra para o segundo período. No caso dos escravos atu- antes na ourivesaria e na padaria, os ofícios por eles desempenhados reforçam a sua utilização nessas atividades específicas. O cativo Francisco, escravo de 36 anos de idade e pertencente a

313 CMA/UFPA. Cartório Sarmento (14ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 04 (1852-1863A). Inventário

post-mortem de Antônio Smith, 1853.

314 BATISTA, Luciana Marinho. Muito além dos seringais, op. cit. p. 152-3.

315 CMA/UFPA. Cartório Sarmento (14ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 04 (1852-1863A). Inventário

José Inácio de Faria, era oficial de ourives.316 Os cativos Amélio e Joaquim, igualmente criou- los de 30 e 50 anos de idade, respectivamente, exerciam o ofício de padeiro no estabelecimen- to de seu proprietário, João Antônio de Henriques.317 Diferentemente deles, os cativos empre- gados no comércio não realizavam ofícios alegadamente especializados.

Em que pese essa maior diversificação nas atividades urbanas exercidas pelos escravos no segundo período, como assinalamos anteriormente, ainda eram os plantéis com escravos de ganho, de aluguel e domésticos, os que concentravam o maior número de cativos – tanto entre o conjunto de escravarias ligadas às atividades urbanas quanto em toda a amostragem do perí- odo. Em comparação a suas congêneres para a primeira metade do século, as escravarias com cativos de ganho, de aluguel e domésticos, do segundo período em tela, apresentaram não so- mente um menor número médio de escravos por plantel (4,6, frente à média de 7,0 do período anterior),318 como também um menor grau específico de concentração da propriedade escrava (índice de Gini de 0,35, frente ao índice de 0,49 do período anterior). Dada a expressiva parti- cipação relativa dos plantéis com cativos de ganho, de aluguel e domésticos na nossa amostra, não seria irrazoável ponderarmos que tais variações tenham direcionado as variações gerais na média de cativos e na concentração da posse, entre o primeiro e o segundo período analisados. Nesse sentido, em comparação às atividades econômicas desempenhadas pelos cativos do primeiro período, as atividades econômicas dos escravos do segundo período sinalizam, ao mesmo tempo, permanências e indicativos de mudanças. Se, por um lado, conservou-se a pai- sagem urbana – ainda marcada, é verdade, por traços rurais – do escravismo do núcleo central de Belém, por outro lado, podemos verificar uma maior diversificação das atividades urbanas e também variações, para baixo, na média de cativos por escravaria e no grau de concentração da propriedade cativa, principalmente entre os plantéis cujos escravos exerciam atividades de ganho, de aluguel e domésticas. Isso em um contexto em que, como argumentamos no capítu- lo anterior, a cidade de Belém experimentava a expansão de seu perímetro urbano e um acele- rado crescimento de sua população livre.

Ao examinar os anúncios de cativos no Diário de Belém, um dos principais jornais em circulação em Belém, nas décadas de 1870 e 1880, Luiz Laurindo encontrou frequentes anún- cios oferecendo e procurando escravos que exercessem atividades ligadas ao ambiente domés-

316 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 25 (1870). Inventário

post-mortem de José Inácio de Faria, 1870.

317 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 27 (1871B). Inventário

post-mortem de João Antônio de Henriques, 1871.

tico. Com a devida relativização do termo “doméstico” (o autor situa os cativos ditos domésti- cos no contexto mais amplo da escravidão urbana apreendendo que suas atividades não se res- tringiam ao espaço doméstico em si, tampouco a um determinado rol de atividades que, a pri- ori, não gerasse rendimentos ao senhor), Laurindo mostra como os cativos domésticos predo- minavam dos anúncios daquele jornal, assim como os escravos ligados a demais atividades no âmbito da escravidão urbana, mesmo que o número de escravos lavradores anunciados restas- se representativo.319

Os dados fornecidos na TABELA 3.8,referentes ao terceiro período de observação, evi- denciam a consolidação das características basicamente urbanas do escravismo no núcleo cen- tral de Belém, refletindo a transformação do perfil dos escravistas analisados conforme o sexo e, sobretudo, as ocupações exercidas e as atividades desenvolvidas, entre os dois primeiros e o terceiro período. Diferentemente daquilo que observamos entre 1810 e 1871, no terceiro perí- odo, as atividades ligadas ao meio rural deixaram de concentrar um grande número de cativos, reunindo apenas 10,7% dos escravos do período. Todos os demais cativos exerciam atividades vinculadas ao meio urbano (95,3%), com relevo, novamente, para os plantéis com escravos de ganho de aluguel e domésticos (68,4%). Em um plano inferior, as atividades comerciais se es- tabeleceram como a segunda a agrupar o maior número de cativos (13,2%). A produção de ce- râmica e a tipografia completavam o quadro de atividades exercidas pelos escravos do terceiro período, concentrando 7,7% deles.

TABELA 3.8

DISTRIBUIÇÃO DOS PLANTÉIS SEGUNDO AS FAIXAS DE TAMANHO E AS ATIVIDADES CARAC-

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