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ESCRAVOS QUE SAÍRAM SALDO TOTAL SALDO MÉDIO ANUAL Amazonas - - - - Grão-Pará 5.502 5.027 +475 +36,5 Maranhão 6.638 10.565 -3.927 -302,1 Piauí 2.477 5.925 -3.448 -265,2 Ceará - 7.775 -7.775 - Rio Grande do Norte 2.520 6.563 -4.043 -311,0

Paraíba 509 4.324 -3.815 -293,5 Pernambuco 21.132 19.360 +1.772 +136,3 Alagoas 7.284 11.406 -4.122 -317,1 Sergipe 8.654 12.759 -4.105 -315,8 Bahia 14.766 23.170 -8.404 -646,5 TOTAL 69.482 106.874 -21.842 -2.876,3

OBS:Os dados referentes às saídas dos escravos foram ajustados pelo autor abaixo referido por existir uma dife-

rença de 9,44% entre os números de entradas e os de saídas, em desfavor destas. De maneira a corrigir tal distor- ção, o autor multiplicou os números de saídas de todas as províncias abarcadas, pelo fator 1,0944.

FONTE:SLENES, Robert W. The Demography and Economics of Brazilian Slavery, 1850-1888. PhD. Disser-

tation (History) – Department of History, Stanford University, 1976, p. 610.

Diferentemente do que poderíamos imaginar à primeira vista, a referida diminuição do contingente escravo do Grão-Pará, durante os anos de 1870 e 1880, não decorreu de um even- tual impacto negativo do tráfico interno. Como mostra a TABELA 2.9, em antagonismo à gran- de parte das províncias situadas nos (atuais) Norte e Nordeste do Brasil, o Pará, tal como Per-

246 ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Typ. do Diário

de Notícias, 1886, p. 10.

247 PARÁ. Fala com que o Exmo. Sr. Conselheiro Francisco José Cardoso Júnior, Primeiro Vice-Presidente da

Província do Pará, abriu a primeira sessão da XXVI Legislatura da Assembleia Provincial, no dia 4 de março de 1888. Belém: Typ. do Diário de Notícias, 1888, p. 17.

248 Idem. Além da já aludida ausência dos dados referentes ao Acará e de outras localidades não especificadas no

relatório, não foram computados os números de escravos, das seguintes localidades: Salinas (Nordeste Paraense); Prainha (Baixo Amazonas); Juruti (idem); Itaituba (idem); Portel (Marajó); Monsarás (idem), Colares (Nordeste Paraense) Melgaço (Marajó) e Cachoeira (idem).

nambuco, não perdeu escravos através do tráfico interprovincial. Entre 1873 e 1885, a provín- cia do Grão-Pará apresentou inclusive um acréscimo de 475 novos cativos. Embora parte des- se número possa não ter entrado do Pará a partir do comércio interprovincial propriamente di- to – o que, convencionalmente, não nos autorizaria a computá-los como escravos traficados249 –, os indicadores da TABELA 2.9, por mais que parciais, mostram claramente que o Grão-Pará, nas décadas de 1870 e 1880, mais recebeu do que perdeu cativos através do tráfico interno.250

A constantemente elevada mortalidade entre os escravos, as manumissões e, especial- mente, a Lei Rio Branco parecem-nos ter sido os elementos determinantes a acarretar na redu- ção do contingente cativo do Pará nas décadas de 1870 e 1880; os dois primeiros, por implica- rem a perda de escravos por óbito ou alforria e, o terceiro, por obstaculizar a reposição dos ca- tivos falecidos ou libertados, no cômputo geral da população escrava. Não dispomos de dados acerca da mortalidade escrava e dispomos de dados tão-somente parciais acerca das manumis- sões, que dão conta de que 7.945 cativos foram alforriados na província, entre 1871 e 1885;251 um número próximo ao quantitativo de escravos reduzidos da província (9.488), entre os anos de 1872 e 1885, que apontamos anteriormente. Por sua vez, os dados sobre o volume de ingê- nuos (filhos de mulheres cativas, nascidos em condição livre após a Lei Rio Branco), corrobo- ram um aspecto central da demografia da escravidão do Pará oitocentista: a elevada capacida- de de reprodução endógena dos seus cativos.

O GRÁFICO 2.2 permite-nos observar que o número de ingênuos nascidos (10.865), en- tre 1872 e 1885, foi superior ao de cativos subtraídos da escravaria paraense (9.488), no mes-

249 Como mostramos no CAPÍTULO 03, votado à análise da estrutura da posse de cativos no núcleo urbano central

de Belém, em alguns dos inventários post-mortem por nós examinados, atinentes aos três períodos de observação considerados (1810-1850, 1851-1871 e 1872-1888), apresentaram-se casos em que os cativos procedentes de ou- tras províncias (informação esta, via de regra especificada nas listas de matrícula de escravos anexas aos inventá- rios) haviam “migrado” para o Grão-Pará juntamente aos seus respectivos senhores (também provenientes, como sinalizam ainda os inventários, das mesmas províncias que suas escravarias). Este fato se tornou menos incomum no terceiro período analisado (1872-1888), contexto caracterizado pela intensificação dos fluxos migratórios des- tinados à região amazônica.

250 Na percepção de José Maia Bezerra Neto, durante os anos de 1870 e 1880, “à medida que diversas províncias,

particularmente as cafeicultoras, adotavam medidas restritivas ao tráfico interno, taxando pesadamente os escra- vos ingressos nas mesmas, o Grão-Pará tornava-se cada vez mais um mercado bastante promissor aos traficantes de escravos, tanto em face da ausência de leis provinciais restritivas à entrada de escravos na província paraense, somente aprovadas em 1883, quanto em razão dos bons preços obtidos pelos cativos no mercado de Belém”. BE- ZERRA NETO,José Maia. Escravidão negra no Grão-Pará, op. cit., p. 85. Quanto às legislações imperial e pro- vincial, baixadas em torno do tráfico interprovincial de escravos, ver: MOTTA, José Flávio. A Lei, ora a Lei! Dri- blando a legislação do tráfico interno. História e Economia, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 15-28, jan.-jun. 2012. Para uma historiografia mais atual sobre o tráfico interno de cativos no Brasil, cf.: GRAHAM, Richard. Another Middle Passage? The Internal Slave Trade in Brazil. In: JOHNSON, Walter (Ed.). The Chattel Principle: Internal Slave

Trade in the Americas. New Haven/London: Yale University Press, 2004, p. 291-324; SLENES, Robert W. The Brazilian Internal Slave Trade, 1850-1888. Regional Economies, Slave Experience, and the Politics of a Peculiar Market. In: JOHNSON, Walter (Ed.). The Chattel Principle: Internal Slave Trade in the Americas. New Ha- ven/London: Yale University Press, 2004, p. 325-70.

mo intervalo, por morte, alforria ou venda. Não nos cumpre proceder a qualquer tipo de exer- cício de futurologia, no sentido de ponderar o que poderia ter acontecido com a população es- crava paraense, caso a Lei Rio Branco não tivesse sido baixada, em 1871. Cabe-nos, sim, sali- entar a importância da reprodução endógena como um elemento fundamental para a manuten- ção do contingente escravo do Grão-Pará. Após o enfraquecimento do tráfico atlântico no iní- cio do Oitocentos e sua interdição definitiva em 1850, e tendo em vista a ineficácia dos escra- vistas paraenses em promover uma renovação concreta da escravaria regional a partir do tráfi- co interprovincial (conquanto seja digna de nota, a sua capacidade em reter cativos na provín- cia), a reprodução endógena emerge como, provavelmente, a força-motriz da dinâmica demo- gráfica dos cativos do Pará oitocentista.

GRÁFICO 2.2

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