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INTERVALOS DE ANOS

1823-1848 1848-1872 1823-1872

LIVRES ESCRAVOS TOTAL LIVRES ESCRAVOS TOTAL LIVRES ESCRAVOS TOTAL

B ELÉM +3,06 +0,39 +1,95 +3,11 -1,38 +2,05 +3,08 -0,48 +2,00 Santana -0,11 -2,50 -0,97 +2,72 -2,95 +1,70 +1,27 -2,72 +0,33 Trindade - - - +5,12 +3,05 +4,83 - - - Nazaré - - - -

TOTAL (BELÉM -NÚCLEO URBANO CENTRAL) +2,26 -0,47 +1,23 +3,82 +0,21 +3,00 +3,02 -0,14 +2,09

B A IX O T OC A N T IN S E Z ON A G U A J A R IN A Abaeté +0,62 -1,02 +0,18 +2,27 +1,82 +2,17 +1,43 +0,36 +1,15 Acará +1,10 -0,03 +0,59 +3,95 -2,43 +2,27 +2,49 -1,21 +1,41 Baião +1,70 -5,15 +0,85 +2,61 +2,13 +2,58 +2,14 -1,65 +1,69 Barcarena +4,54 +2,39 +3,73 +4,11 -0,09 +3,16 +4,33 +1,17 +3,45 Benfica +1,32 +5,75 +1,85 +4,02 +0,61 +3,55 +2,63 +3,20 +2,68 Bujaru +1,21 -2,33 -0,31 +5,49 -1,37 +4,20 +3,28 -1,86 +1,87 Cametá +2,18 +3,95 +2,49 +1,26 -1,66 +0,80 +1,73 +1,16 +1,66 Capim +1,40 +0,14 +0,85 +3,97 -1,17 +2,55 +2,65 -0,51 +1,68 Igarapé-Miri -2,24 -3,14 -2,68 +8,10 +3,95 +6,64 +2,70 +0,27 +1,78 Inhangapi - - - +3,47 -1,04 +2,28 - - - Mocajuba - - - - Moju +3,40 -1,77 +1,34 +2,05 -2,59 +1,26 +2,74 -2,17 +1,30 Mosqueiro - - - -

São Miguel do Guamá -1,95 -0,10 -2,74 +7,94 +3,99 +7,12 +2,77 -0,28 +1,97 TOTAL (BAIXO TOCANTINS E ZONA GUAJARINA) +1,67 +0,06 +1,18 +3,33 +0,03 +2,67 +2,48 +0,05 +1,91 TOTAL (BELÉM,BAIXO TOCANTINS E ZONA GUAJARINA) +1,81 -0,10 +1,19 +3,46 +0,08 +2,76 +2,61 -0,01 +1,96 FONTE:1823: BAENA, Antônio. Ensaio corográfico sobre a Província do Pará, op. cit., p. 260-348; 1848: PARÁ. Relatório apresentado à Assembleia Legislativa da Pro- víncia do Pará na primeira sessão da XIII Legislatura pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque em 1º de setembro de 1862. Pará: Typ.

de Frederico Carlos Rhossard, 1862, p. 96; 1872: BRASIL. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento Geral do Império de 1872. Rio de Janeiro: Typ. Leuzinger/Tip. Commercial, 1876, v. 1, p. 211-2.

As variações são sugestivas de que, a despeito do fato de a reprodução endógena ter se afigurado como um elemento-chave para a manutenção do contingente cativo do núcleo urba- no central de Belém, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina em particular, e da província do Pará em geral, é possível que tenha havido algum nível de deslocamento de cativos, sobretudo entre as diversas localidades que compõem as regiões tocantina e guajarina e, de maneira ain- da mais especial, em direção à Abaeté, Cametá e Igarapé-Miri. Trata-se, porém, de indicações da existência de um rearranjo espacial da escravaria do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina, operado a partir dos tráficos intra e interprovincial, assim como a partir de deslocamentos que não necessariamente podem ser classificados enquanto tráfico, que por certo ainda carecem de atenção por parte da historiografia regional.

***

Neste capítulo, caracterizamos, em plano geral, a economia e a demografia da escravi- dão no Pará oitocentista. Divididas em duas seções temáticas, as últimas páginas versaram so- bre o evolver econômico e demográfico do Grão-Pará desde a década de 1770 até a década de 1880 – por mais que com ênfase, bem demarcada, na caracterização econômica e demográfica do Pará do século 19. Tal como no caso do capítulo precedente, neste, propusemos tecer o pa- norama geral das questões propostas com o objetivo de “limparmos” os próximos capítulos da tese de referências, o mais das vezes, reiterativas sobre a economia e a demografia da escravi- dão no Grão-Pará oitocentista – referências essas, a nosso ver, fundamentais para a compreen- são dos aspectos da estrutura da posse de cativos e da família escrava analisados nos próximos quatro capítulos.

Na primeira seção do capítulo, dedicada à caracterização econômica do Pará do século 19, evidenciamos a transição de uma economia a priori dedicada à exportação do cacau a uma economia a priori dedicada à exportação da borracha. No bojo dessa transição, demonstramos a variedade de gêneros produzidos no Grão-Pará, especialmente daqueles cuja produção esta- va relacionada, em maior ou menor nível, à mão de obra cativa. A partir dessa discussão, bus- camos contrapor a noção de um caráter fundamentalmente extrativista da economia amazôni- ca, na longa duração, demonstrando a importância da agricultura e, por conseguinte, dos gêne- ros agrícolas na composição da pauta de exportações paraense e na dinâmica de abastecimen- to da capital da província, Belém. Em paralelo, relativizamos também algumas leituras quanto ao impacto da Cabanagem na economia amazônica da primeira metade do Oitocentos.

Na segunda parte do capítulo, dedicada à caracterização demográfica do Pará, do sécu- lo 19, evidenciamos a dinâmica populacional dos escravos estabelecidos no Pará, entre o final do século 18 e a década de 1880. Primeiramente, demonstramos a efetividade do tráfico de ca- tivos direcionado à região entre os meados do século 18 e os primeiros anos do século 19. Em segundo lugar, procuramos evidenciar que sem embargo ao elevado crescimento da população livre e ao decréscimo da população cativa de várias regiões do Pará no decorrer do Oitocentos os contingentes cativos de Belém, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina restaram pouco al- terados até pelo menos o fim da década de 1870. Tal quadro foi ainda matizado ao indicarmos a existência de variações por vezes expressivas nas escravarias das diversas freguesias (no ca- so de Belém) e localidades (estas, no caso Baixo Tocantins e da Zona Guajarina) que integra- ram tais regiões ao longo do século 19.

A caracterização feita nas últimas páginas nos coloca diante de duas questões centrais: 1) a agricultura, atividade em grande medida baseada no uso de mão de obra escrava, manteve a sua importância econômica ao longo de todo o século 19, não obstante a ascensão e a conso- lidação da borracha como o principal produto de exportação da província; 2) o núcleo urbano central de Belém, o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina, que constituíam as regiões economi- camente mais dinâmicas do Grão-Pará oitocentista (Belém, com suas características urbanas e o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina, com suas características rurais) assistiram, grosso mo- do, à manutenção dos seus contingentes cativos. Essas observações são fundamentais para que nos capítulos próximos possamos, então, problematizar os fundamentos internos de produção e os mecanismos de reprodução demográfica dos escravos dessas regiões .

No que se refere à questão econômica, a sugerida interiorização da economia paraense, bem como, em menor medida, o elevado dinamismo econômico promovido pela consolidação de expansão da Economia da Borracha contribuíram, sobremaneira, para a retenção de cativos na província. Se, por um lado, parece-nos nítido que a manutenção de um contingente escravo que oscilou entre 25 e 30 mil cativos entre o limiar do Oitocentos e o limiar dos anos de 1870, esteve a cargo da evidente potencialidade de reprodução endógena dessa escravaria, por outro lado, tanto o aumento da demanda interna por alimentos e outros gêneros (derivados da cana- de-açúcar, arroz, mandioca, milho, algodão etc.), quanto o surgimento de um novo produto de

destaque (borracha) na pauta de exportações, foram, muito provavelmente, determinantes para a retenção de escravos no Pará na conjuntura desfavorável da segunda metade do século 19.273

No que tange à questão demográfica, a tese de que a reprodução endógena constituiu a força-motriz da dinâmica demográfica da escravidão do Grão-Pará oitocentista, ainda necessi- ta de complemento. Mesmo que nos pareça que as variações nos contingentes escravos do nú- cleo urbano central de Belém, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina, vislumbradas em con- junto com os demais indicadores apresentados, assinalem nessa direção, a comprovação dessa tese carece de uma análise conjugada com as características dessa escravaria, de acordo com o sexo, a idade e a origem, assim como com os níveis de fecundidade apresentados pelas mulhe- res escravas das regiões examinadas. Essa análise conjugada, levada a cabo nos termos de seu mútuo condicionamento e não como mera relação de causa e consequência, será desenvolvida de agora em diante.

273 Essa hipótese é mais bem explorada em: BARROSO, Daniel Souza; LAURINDO JUNIOR, Luiz Carlos. À margem

da segunda escravidão? A dinâmica da escravidão no vale amazônico nos quadros da economia-mundo capitalis- ta. Tempo, Niterói, v. 23, n. 3, set.-dez. 2017. No prelo.

C

APÍTULO

III

E

STRUTURA DA POSSE DE CATIVOS NO NÚCLEO URBANO CENTRAL DE

B

ELÉM

Em 1813, foi aberto em Belém o auto de inventário post-mortem de José Infante, casa- do e pai de uma única filha, Serafina, então com quatro meses de idade. O documento não nos permite precisar a origem tampouco a idade de José Infante, conquanto o fato de Serafina ain- da estar nos primeiros meses de vida, possa ser sugestivo de que seu pai não falecera em idade já bastante avançada. Além de diversos bens móveis, José Infante legou à esposa e à filha uma oficina de caldeiraria com sete cativos – desses quatro eram homens, cinco de origem africana (todos os africanos provinham da África Central-Atlântica) e seis possuíam idades entre os 17 e os 22 anos. Tratava-se ao que tudo indica de um plantel jovem, muito provavelmente recém- adquirido a partir do tráfico e que tinha em João, cativo de nação angola com 20 anos de idade e já aprendiz de caldeireiro, um dos seus escravos mais bem avaliados.274

Apesar de bastante sucinto, o inventário post-mortem nos fornece indícios dos tipos de serviços oferecidos pela oficina. Um deles era a manutenção de alambiques. Na seção de des- crição e avaliação dos bens, foi arrolada indevidamente a existência de um alambique que, em vez de pertencer a José Infante, encontrava-se em sua oficina para conserto. Não encontramos outras menções a itens semelhantes no documento, nem referências ao verdadeiro proprietário do objeto, ou mesmo notas e recibos que pudessem apontar uma eventual rede de clientes pre- ferenciais da oficina. Parece-nos factível, no entanto, que José Infante e seus escravos prestas- sem serviços para a população belenense em geral e, a tirar pelo alambique, para os proprietá- rios de engenhos e engenhocas situados nos arrabaldes do núcleo urbano central de Belém, no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina.

Em 1867, mais de meio século após a morte de José Infante, foi aberto na capital o in- ventário post-mortem do pequeno comerciante João Antônio de Madureira, falecido ainda sol- teiro e sem filhos. Madureira era proprietário de uma taberna situada na Rua dos Mártires (ho- je, Rua 28 de Setembro), em frente à Doca do Reduto, espaço de comércio e sociabilidade das camadas menos abastadas da Belém oitocentista.275 Esse local servia também de moradia para

274 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 02 (1813-1816). Inventá-

rio post-mortem de José Infante, 1813.

275 Sobre os movimentos de entrada e saída de cargas e o comércio na Doca do Reduto nos meados do século 19,

João Antônio de Madureira, para sua afilhada e universal herdeira Maria Carolina e para o ca- tivo Olímpio, crioulo e na altura com 17 anos de idade, que assistia Madureira na taberna, on- de interagia com os frequentadores do estabelecimento. Para além do espaço da taberna em si, Olímpio seguramente interagia também com os indivíduos que circulavam e comercializavam gêneros diversos na Doca do Reduto e em suas proximidades.276

Os casos acima trazem à luz traços reveladores de uma economia escravista marcada- mente urbana, em que a lide diária dos cativos e, consequentemente, os seus parâmetros de in- teração social – mais próximos de seus senhores e da população livre em geral – se conforma- vam de maneira distinta em comparação a uma economia escravista marcadamente rural, co- mo a que tinha lugar no Baixo Tocantins e na Zona Guajarina. Os traços essencialmente urba- nos da economia escravista da região central de Belém não se cingiam tão-somente aos parâ- metros de interação social dos cativos com seus respectivos senhores e, outrossim, com os di- versos outros segmentos sociais que enformavam a população belenense; mais que isso, aque- les traços ajudavam a delimitar perfis específicos para os escravistas e os cativos, além de pa- drões de posse particulares.

Este capítulo tem como finalidade examinar a estrutura da posse de escravos no núcleo urbano central de Belém, entre os anos de 1810 e 1888. Para tanto, encontra-se estruturado em três seções. Na primeira seção, procedemos à caracterização dos escravistas em relação ao se- xo, ao estado conjugal e à ocupação. Na parte seguinte, delineamos as características da posse de escravos, focalizando o grau de concentração da propriedade cativa e as principais ativida- des econômicas – i. e., as atividades econômicas discerníveis a partir da apreciação dos inven- tários post-mortem – nas quais a mão de obra dos cativos da região estava empregada. Na ter- ceira e última seção do capítulo, dedicamo-nos a analisar as características dos cativos segun- do o sexo, a idade e a origem africana ou crioula, considerando tanto as distintas faixas de ta- manho de plantel quanto as diferentes atividades econômicas características ora vislumbradas. 3.1. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS E ECONÔMICAS DOS PROPRIETÁRIOS DE ESCRAVOS

Na presente seção, procedemos à caracterização dos proprietários de cativos do núcleo urbano central de Belém, entre 1810 e 1888. Como indicamos anteriormente, a nossa amostra para essa região é composta por 202 inventários post-mortem compilados nos acervos do Cen-

tureza e cultura material no século XIX. Tese de Doutorado (História Social) – Pontifícia Universidade Cató-

lica de São Paulo, 2010, p. 83 e ss.

276 CMA/UFPA. Cartório Odon Rhossard (2ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 21 (1867). Inventário

tro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do Estado do Pará (APEP). Muito embora a documentação compulsada não nos possibilite avaliar a representatividade de nossa amostra de proprietários de cativos em relação ao universo de escravistas do núcleo ur- bano central da Belém oitocentista – o que não nos autoriza, a priori, a projetar os indicadores apresentados para o conjunto de proprietários de cativos da cidade como um todo –, acredita- mos ser possível delinear um perfil mais geral dos escravistas de Belém entre os anos de 1810 a 1888, segundo o sexo, o estado conjugal e a ocupação ou o ramo de atividade que desempe- nhavam. O primeiro aspecto a ser examinado é a distribuição dos escravistas de nossa amostra em função do sexo.

A TABELA 3.1 apresenta a distribuição dos 195 proprietários de escravos inventariados individualmente em nossa amostra (além deles, sete casais tiveram seus bens arrolados)277 se- gundo o sexo. Os dados sinalizam que, em todos os três períodos de observação considerados, a maioria dos escravistas examinados eram homens. Em que pese essa prevalência masculina, o peso relativo das mulheres nunca foi inferior a um terço dos escravistas em tela. Além disso, é possível notarmos uma tendência linear de crescimento da participação relativa das escravis- tas no conjunto de proprietários de cativos do núcleo urbano central de Belém, com o avançar dos anos. Se, entre 1810 e 1850, as mulheres perfaziam 36,0% dos escravistas de nossa amos- tra, no último período examinado (1872-1888) a sua participação relativa já atingia 41,4% dos proprietários de escravos.

TABELA 3.1

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