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FONTE:1774/1797:MELLO, Márcia Eliane de Souza e. Contribuição para uma demografia do Estado do Grão- Pará e Maranhão. 1774-1821, op. cit., p. 238; 1823: BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio corográfico

sobre a Província do Pará, op. cit., p. 260-84; 1848: PARÁ. Relatório apresentado à Assembleia Legislativa da Província do Pará na primeira sessão da XIII Legislatura pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Francisco Carlos de Araújo Brusque em 1º de setembro de 1862. Pará: Typ. de Frederico Carlos Rhossard, 1862, p. 96;

1872: BRASIL. Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento Geral do Império de 1872. Rio de Janeiro: Typ.

Leuzinger/Tip. Commercial, 1876, v. 1, p. 211-2; 1885(TANTO PARA OS ESCRAVOS COMO PARA OS INGÊNUOS):

ARARIPE, Tristão de Alencar. Dados estatísticos e informações para os imigrantes. Belém: Typ. do Diário de Notícias, 1886, p. 9-12.

Embora o contingente escravo total da província tenha se mantido pouco alterado entre o início da década de 1820 e o início da década de 1870 – dentre outros fatores intervenientes, devido à aparentemente elevada capacidade de reprodução endógena dos cativos paraenses e à manutenção da escravaria provincial, no contexto desfavorável, para as províncias dos (atuais) Norte e do Nordeste do Brasil, do recrudescimento do tráfico interno em direção às províncias

11.886 19.586 29.015 29.706 27.458 20.218 30.093 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 1774 1797 1823 1848 1872 1885 Escravos Escravos e ingênuos (após 1871)

cafeicultoras do (atual) Sudeste do país –, a distribuição da população escrava e os seus ritmos de crescimento foram, por assim dizermos, regionalmente heterogêneos. É justamente em tor- no dessa segunda questão suscitada ainda pelos dados da TABELA 2.8, que passamos a analisar agora. Ainda que o nosso interesse de análise tangencie, neste caso particular, a província co- mo um todo, buscamos realçar, especialmente, as três regiões aqui privilegiadas.

Ao longo de todo o Oitocentos, o núcleo urbano central de Belém, o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina concentraram mais da metade da escravaria do Grão-Pará. Em 1823, 1848 e 1872 essas três regiões aglutinaram, respectivamente, 59,0%, 58,0% e 64,1% de todos os cati- vos da província do Pará. A maioria deles estava empregada no cinturão agroextrativista esta- belecido no Baixo Tocantins e da Zona Guajarina. Enquanto a escravaria desse cinturão con- centrava 40,0%, 40,9% e 44,6% da população escrava do Pará, a escravaria do núcleo urbano central de Belém concentrava 19,0%, 17,1% e 19,5% dessa população, em 1823, 1848 e 1872, respectivamente. O restante dos escravos do Pará encontrava-se dividido pelas diversas outras regiões da província, com destaque para o Baixo Amazonas – conhecido pela sua tradicional e notável lavoura cacaueira –, o Marajó – com a sua característica pecuária – e o Nordeste Para- ense – conhecido pela sua importante produção de algodão e de gêneros alimentícios diversos, que supriam à subsistência dessa região e parte do abastecimento de Belém.

A manutenção parcial do peso relativo dos cativos do Baixo Tocantins e da Zona Gua- jarina em meio à escravaria paraense, entre 1823 e 1848 e a sua ampliação, entre 1848 e 1872, a nosso ver, corroboram tanto a conservação da importância da agricultura como uma ativida- de econômica de relevo na província no contexto de gestação da chamada economia da borra- cha, quanto a manutenção do escravismo como esteio produtivo da agricultura, no contexto de concretização dos primeiros núcleos coloniais agrícolas no Grão-Pará.252 Adicionalmente, pa- tenteiam também o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina como os mais relevados núcleos agrí- colas do Pará oitocentista. Tais regiões foram, ao lado do núcleo urbano central de Belém e do Marajó, os únicos redutos escravistas paraenses realmente importantes a não perderem cativos entre 1848 e de 1872. Os outros importantes núcleos escravistas paraenses, a exemplo do Bai- xo Amazonas – inicialmente, para onde se expandiu a produção de borracha do Pará –, assisti- ram à diminuição das suas escravarias.

252 cf.: LACERDA, Franciane Gama. Migrantes cearenses no Pará: faces da sobrevivência (1889-1916) – Fa-

culdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2006; NUNES, Francivaldo Alves.

Benevides – uma experiência de colonização na Amazônia do século XIX. Rio de Janeiro: Corifeu, 2009;

BARROSO, Daniel Souza. Casamento e compadrio em Belém nos meados do Oitocentos, op. cit., p. 67-71; NUNES, Francivaldo Alves. Sob o Signo do Moderno Cultivo, op. cit.

Assim sendo, a despeito do Marajó, Belém – o principal polo social, político e econô- mico da Amazônia –, o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina – estas que conformavam o tradi- cional e principal cinturão agroextrativista da província – foram as regiões que apresentaram a maior capacidade de manutenção e de retenção de escravarias do Grão-Pará oitocentista. Tra- tava-se, entretanto, de regiões cujas escravarias alcançaram um notável nível de equilíbrio. Se, por um lado, parece-nos claro que Belém perdeu poucos escravos e que o Baixo Tocantins e a Zona Guajarina sequer chegaram a exibir saldo negativo em sua escravaria ao longo do século 19, por outro lado também é verdade que as escravarias dessas regiões não apresentaram cres- cimento substancial – seja entre 1823 e 1848, seja entre 1848 e 1872, ou mesmo em todo o in- tervalo considerado (1823 a 1872) nos termos desta análise.

As observações feitas nos últimos parágrafos revelam que para além de uma distribui- ção disforme da população escrava do Grão-Pará pelas diferentes regiões da província, os rit- mos de crescimento das escravarias de cada uma dessas regiões atenderam, no decorrer do sé- culo 19, a dinâmicas demográficas específicas, que ao mesmo tempo em que pautaram o equi- líbrio parcial dos contingentes escravizados do núcleo urbano central de Belém, do Baixo To- cantins e da Zona Guajarina pautaram, outrossim, os termos de (de)crescimento das escravari- as das demais regiões paraenses. De modo a vislumbrarmos mais amiúde os ritmos de cresci- mento das populações escravas das diferentes regiões do Pará, apresentamos, na TABELA 2.10, as taxas médias geométricas de crescimento anual das populações cativas das diversas regiões que compunham a província.

Os dados daTABELA 2.10convalidam uma série de questões que vimos apontando nas últimas páginas. Em primeiro lugar, tais dados evidenciam que o ritmo de crescimento da po- pulação do Pará no século 19 esteve condicionado muito mais ao ritmo de crescimento da po- pulação livre do que ao ritmo de crescimento da população escrava. Em segundo lugar, os da- dos evidenciam, igualmente, as variações indicadas nos pesos relativos das escravarias das di- ferentes regiões do Grão-Pará, em relação à população cativa total da província, ao mostrar os ritmos diferenciados de (de)crescimento experimentados pelas suas respectivas escravarias as- sim como a manutenção das populações cativas do núcleo urbano central de Belém, do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina no Oitocentos. Por tratar-se de taxas de crescimento anual cal- culadas por médias geométricas, tais indicadores são, a nosso ver, mais adequados para a aná- lise das variações das escravarias de cada região do Pará do que os números absolutos de cati- vos das mesmas, além de nos possibilitarem comparar os ritmos de crescimento da escravaria paraense com as escravarias de outras localidades, regiões e países com a devida consistência.

TABELA 2.10

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