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TOTAL

SOLTEIRO(A) CASADO(A) VIÚVO(A) N % N % N % 1810 - 1850 Homens 03 9,4 24 75,0 05 15,6 32 (100,0%) Mulheres 08 44,4 07 38,9 03 16,7 18 (100,0%) TOTAL 11 22,0 31 62,0 08 16,0 50 (100,0%) 1851 - 1871 Homens 11 23,4 30 63,8 06 12,8 47 (100,0%) Mulheres 02 7,1 17 60,7 09 32,2 28 (100,0%) TOTAL 13 17,3 47 62,7 15 20,0 75 (100,0%) 1872 - 1888 Homens 05 12,2 32 78,0 04 9,8 41 (100,0%) Mulheres 03 10,3 19 65,5 07 24,2 29 (100,0%) TOTAL 08 11,4 51 72,9 11 15,7 70 (100,0%) 1810 - 1888 Homens 19 15,8 86 71,7 15 12,5 120 (100,0%) Mulheres 13 17,3 43 57,4 19 25,3 75 (100,0%) TOTAL 32 16,4 129 66,2 34 17,4 195 (100,0%)

FONTE:Inventários post-mortem do Centro de Memória da Amazônia (CMA/UFPA) e do Arquivo Público do

Estado do Pará (APEP)

Os dados acima (TABELA 3.2) demonstram que a maioria dos proprietários de escravos que integram a nossa amostra, sejam homens ou mulheres, e em todos os três períodos exami- nados, era ou havia sido casada. Em todo o intervalo considerado, somente 15,8% dos propri- etários homens e 17,3% das proprietárias eram solteiros. Se, por um lado, ser ou ter sido casa- do era um padrão – sendo o peso relativo dos celibatários equilibrado entre os escravistas ho- mens e mulheres, senão no primeiro período em tela, quando o número de escravistas solteiras

288 CMA/UFPA. Cartório Leão (4ª Vara Cível), Inventários post-mortem, cx. 01 (1815-1817). Inventário post-

superou em apenas um caso o de escravistas casadas – por outro lado, a condição de viuvez se revelou potencialmente mais incidente entre as escravistas do que entre os escravistas do sexo masculino. Por fim, a condição de casado(a) se mostrou decerto mais incidente entre os escra- vistas homens do que entre as escravistas mulheres.

Esse padrão apresentou variações mais substanciais somente no primeiro período estu- dado, em que os números de escravistas solteiras e casadas foram praticamente equivalentes e corresponderam a quase o dobro do número de escravistas viúvas, e também no segundo perí- odo de observação em que os escravistas solteiros constituíram cerca de um quarto do conjun- to de homens proprietários de cativos. Cumpre-nos advertir, contudo, que a pequena amostra- gem contemplada – o que se reflete, de maneira especial, no diminuto número de casos de es- cravistas (18) coligidas no primeiro período – faz com que variações não necessariamente ex- pressivas em termos absolutos produzam oscilações “significativas” nos pesos percentuais das variáveis analisadas, vide as participações relativas das escravistas solteiras e casadas no pri- meiro período de observação, distantes em 5,5,% para apenas um caso de diferença.

Conquanto o perfil dos escravistas do núcleo urbano central de Belém, segundo o sexo e o estado conjugal, guarde inquestionável relação com as especificidades sociais, demográfi- cas e econômicas da região na qual os mesmos estavam inseridos, características como a pre- valência dos homens entre os proprietários de escravos, a maior concentração de escravos sob a posse de escravistas do sexo masculino, a maioria de casados e viúvos entre os proprietários de escravos de ambos os sexos e a maior incidência de viuvez entre as escravistas, que encon- tramos em nossa amostra, são características que também foram encontradas em vários outros estudos dedicados à estrutura da posse de cativos em demais regiões brasileiras. Trata-se, apa- rentemente, de um perfil geral que, sem embargo as especificidades regionais, fez-se valer em grande parte das localidades já estudadas no Brasil.289

A título de exemplo, ao analisarem a estrutura da posse de escravos em São Cristóvão, paróquia urbana da cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1870, José Flávio Motta, Iraci Costa e Nelson Nozoe mostraram que a maioria dos proprietários de cativos da localidade era do sexo masculino (72,5%) e já havia conhecido o casamento (de todos os escravistas, 52,6% eram ca- sados e 24,9% eram viúvos). Os autores demonstraram, igualmente, que a condição de viuvez

289 Para um balanço crítico da já extensa historiografia dedicada à estrutura da posse de escravos no Brasil, ver

em especial: MOTTA, José Flávio; COSTA, Iraci del Nero da; NOZOE, Nelson Hideiki. Às vésperas da Abolição: um estudo sobre a estrutura da posse de escravos em São Cristóvão, 1870. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 34, n. 1, p. 157-213, jan.-mar. 2004; MARCONDES, Renato Leite. Diverso e desigual: o Brasil escravista na dé-

cada de 1870. Ribeirão Preto: FUNPEC, 2009; LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert S. Escravismo no Brasil.

era mais corriqueira entre as escravistas mulheres (61,1%) do que entre os escravistas homens (11,5%) e que o número médio de escravos sob a propriedade de escravistas homens (4,0) era levemente maior que o número médio de cativos sob a posse das escravistas mulheres (3,5).290 Além disso, Motta, Costa e Nozoe evidenciaram que grande parte dos escravistas de São Cris- tóvão exercia atividades associadas ao meio urbano, com relevo para o artesanato, o rentismo, o serviço público, as profissões liberais e o comércio – deles, eram os comerciantes (36,1%) e os rentistas (16,2%) que concentravam os maiores números absolutos de escravos.291

Como no caso de São Cristóvão, a associação com o meio urbano foi uma característi- ca marcante das ocupações exercidas e das atividades desenvolvidas pelos proprietários de ca- tivos do núcleo central de Belém – o que tornou o seu perfil sócio-ocupacional diametralmen- te distinto daquele que encontramos para os proprietários de escravos do Baixo Tocantins e da Zona Guajarina, em que a quase totalidade deles desenvolvia atividades ligadas ao meio agrá- rio (ver: CAPÍTULO 05). A multiplicidade de ocupações exercidas e das atividades desenvolvi- das pelos proprietários de cativos do núcleo urbano central de Belém fez com que os inventá- rios post-mortem não fossem, por si só, suficientes para abarcar essa variedade – como o foi o arrolamento de fogos de São Cristóvão utilizado por Motta, Costa e Nozoe, no artigo referido. De maneira que a caracterização socioprofissional dos proprietários de escravos do núcleo ur- bano central de Belém não restasse comprometida, confrontamos os dados dos inventários aos de outras fontes de natureza qualitativa.

Dentre as fontes de natureza qualitativa analisadas, destacam-se a documentação avul- sa do Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, os relatórios da administração provincial do Pará, os jornais que circulavam na Belém oitocentista e os diversos almanaques com dados de produção econômica da província paraense – os dois últimos conjuntos de fontes do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Como os escravistas aqui estudados podem ter exerci- do variadas ocupações e desenvolvido distintas atividades ao longo da vida, optamos por clas- sificá-los com a ocupação ou a atividade com a data mais próxima dos seus respectivos inven- tários e, ademais, por privilegiar as ocupações ou as atividades dos maridos, nos casos dos in- ventários de casais. Com vistas à melhor caracterização dos proprietários do núcleo central de Belém de acordo com as ocupações ou as atividades desempenhadas (TABELA 3.3), lançamos

290 MOTTA, José Flávio; COSTA, Iraci del Nero da; NOZOE, Nelson Hideiki. Às vésperas da Abolição, op. cit., p.

163 e ss.

mão com algumas necessárias adaptações, de uma codificação socioprofissional elaborada por Maria Luiza Marcílio.292

TABELA 3.3

DISTRIBUIÇÃO DOS ESCRAVISTAS SEGUNDO AS OCUPAÇÕES E AS ATIVIDADES CARACTERÍS-

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