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1. Meu quintal é do tamanho do mundo

1.1 Era uma vez um palácio modernista

Para entender a história do CEFAR é necessário começar pela história do Palácio das Artes15, instituição que o abriga. Localizado na região central de Belo Horizonte, o Palácio

15 O Palácio das Artes é composto pelo Centro de Artesanato Mineiro; Grande Teatro; Teatro de Arena João

Ceschiatti; Sala Juvenal Dias; três galerias (Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard; Galeria Genesco Murta e Sala Arlinda Corrêa Lima); Cine Humberto Mauro; Espaço Maristella Tristão; Jardins Internos e Jardins do Parque; uma cafeteria; uma livraria; biblioteca; prédio da Administração e o Centro de Formação Artística (CEFAR) com suas escolas de música, teatro e dança. Abriga ainda a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, a Companhia de Dança do Palácio das Artes e o Coral Lírico de Minas Gerais. Fonte: site da Fundação Clóvis Salgado e o livro O Palácio das Artes é muito mais do que um grande teatro (FCS, 1998).

das Artes é um complexo cultural que ocupa uma área de 18 mil metros quadrados e está cercado por uma grande área verde que pertence ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti.

Em suas origens, o Palácio das Artes foi planejado para ocupar a posição do Teatro Municipal de Belo Horizonte, o qual havia sido construído em 1909, mas no final da década de 1930 encontrava-se em um processo de envelhecimento precoce (REIS e AVELLAR, 2006).

(...) O Teatro Municipal, marco de nossa história, selo da vida intelectual da cidade, encontrava-se em um processo de envelhecimento precoce, resultado das inferências de progresso que o próprio Teatro ajudou a construir. (O Palácio das Artes, 1971). Dessa forma, em 1941, o então prefeito Juscelino Kubitschek, inspirado na ideia da construção de um novo teatro municipal, encomendou um projeto de teatro ao arquiteto Oscar Niemeyer.

Ao falar de Belo Horizonte da década de 1940, não há como deixar de fazer referência à atuação de Juscelino Kubitschek como prefeito. A construção do conjunto arquitetônico da Pampulha, o início das obras do Teatro Municipal, o convite a Guignard para dirigir a Escolinha do Parque, a exposição de arte moderna na cidade em 1944 são apenas alguns exemplos do processo de construção do pensamento moderno que começara a ganhar impulso na capital mineira (REIS, 2010, p. 37). Apesar de todo o entusiasmo de Kubitschek, a construção do novo Teatro Municipal foi se arrastando por mais de duas décadas. Em meados da década de 1960, o estado de Minas Gerais assumiu a obra e criou a Comissão Especial do Palácio das Artes (CEPA), destinada a promover todos os atos relacionados com a retomada e o prosseguimento das obras. Neste momento, o teatro inicialmente idealizado para ser apenas uma casa de espetáculos, passa a ser o projeto de um centro de produção cultural (REIS e AVELLAR, 2006).

Um fato de grande importância para a área da dança na cidade ocorreu em 1966 quando o professor Carlos Leite16, então diretor do Ballet Minas Gerais17, foi convidado para trabalhar no local das obras do futuro Palácio das Artes.

As condições de trabalho eram péssimas, as dificuldades imensas, o chão não era apropriado, não havia instalações sanitárias próximas do local das aulas, mas mesmo assim o Ballet Minas Gerais passou a ocupar oficialmente o prédio inacabado da futura casa de espetáculos (REIS, 2010, p. 45)

16 Carlos Leite (1914-1995) foi bailarino, coreógrafo e professor de dança clássica. Teve grande influência na

dança clássica de Minas Gerais pois ao se instalar em Belo Horizonte em 1948, criou a primeira escola de dança da cidade. Alguns anos mais tarde criou também o primeiro grupo profissional de dança da capital mineira. Para mais informações sobre sua biografia vide Reis (2010).

17 O Ballet Minas Gerais foi criado em 1951 pelo professor Carlos Leite. Primeiro grupo profissional da cidade

teve grande importância na divulgação da dança clássica não só na cidade de Belo Horizonte como em todo o estado de Minas Gerais (REIS, 2010).

Em 1970, foi criada a Fundação Palácio das Artes que seria a responsável pela administração do complexo cultural18. No ano seguinte ocorreu a inauguração do Grande Teatro e a partir de então o grupo do professor Carlos Leite adquiriu o status de Corpo de Baile da Fundação Palácio das Artes. Em 1972, foi criada a Escola de Dança da Fundação com a finalidade de formar profissionais habilitados para o Corpo de Baile. A partir de então Carlos Leite tornou-se professor e coordenador da escola de dança, assim como maître e diretor do Corpo de Baile19 (REIS, 2010; REIS e AVELLAR, 2006).

A implantação oficial do corpo de baile aconteceu em 1973, quando os bailarinos prestaram concurso público e Carlos Leite foi designado para o cargo de Diretor da Companhia de Dança da Fundação Palácio das Artes. Surgia, então, a primeira companhia de dança profissional de Minas Gerais e, com ela, o cargo público estadual de bailarino. (CHRISTÓFARO, 2010, pp.32-33)

Em 1976, a Schola Cantorum que também havia sido criada dentro do Palácio das Artes quatro anos antes, passou a oferecer cursos para a formação de instrumentistas e, em 1979, foi nomeada Escola de Música. Um pouco mais tarde, a elas juntou-se um curso livre de teatro (REIS e AVELLAR, 2006).

Sobre o curso livre de teatro, nos conta o professor Walmir José em sua entrevista:

Existia uma escola livre de teatro pela qual passaram vários atores. Mas era mais uma sequência de oficinas que se trabalhava lá. Formou algumas pessoas, mas era uma escola muito incipiente. Essa escola começou no princípio dos anos 70, não sei ao certo que ano. Foi logo no princípio do Palácio das Artes mesmo. Mas ela não tinha relevância para a cidade. (...) ela nunca foi uma escola de valor. Então quando se decidiu por essa criação do CEFAR, essa escola foi desfeita. Ela tinha poucos alunos. Não era uma escola com corpo docente contratado, os contratos eram temporários. Não tinha uma organização escolar. Era quase algo que se chamava escola, mas que ministrava mais oficinas de acordo com as turmas. Não chegou a ter importância para a cidade. E quando ela foi desfeita, ninguém sentiu falta, não teve nenhum protesto. Ela já não tinha força em si mesma. Era uma coisa encrustada ali atrás do Palácio das Artes, nos porões. Não tinha a mesma importância da escola de dança nem da escola de música.