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3. Um olhar por trás das cortinas como se forma um artista cênico?

3.3 Do que são feitas as escolas de artes

Durante as entrevistas fiz uma espécie de brincadeira com os participantes, pedindo para que me descrevessem como seria sua escola dos sonhos. A proposta era imaginar que não haveria limite de dinheiro. Tudo seria possível. Suas escolas seriam assim:

Ia ser uma Bauhaus. Não ia ter parede, ia ser um estúdio enorme, gigantesco, com o pé direito imenso. Seria um grupo, eu acho assim. Talvez a faixa etária a gente tivesse que dividir um pouco mais. Por questão de temas, de interesse. Mas eu ia adorar cruzar linguagens, ter gente de circo, ter equipe junto pensando. Cinco professores em sala, sabe? Eu ia adorar! Se bobear eu ia entrar no meio, ia atuar também. E vai ter essa escola ainda. Pode escrever! (Letícia Castilho).

Que fosse uma escola multidisciplinar, entende? Que o ser humano pudesse desenvolver. Que tivesse filosofia. É... que ele pudesse se desenvolver física e mentalmente. (...) Eu acho que a escola de arte, não penso que ela forma o artista, eu penso que ela podia servir à formação íntegra de um ser humano. E que ele é artista também. Porque eu não acredito em um artista que não seja... Não é que eu não acredito. Eu sei que há muita arte que não é humanista. Mas a arte que me atravessa normalmente é uma arte humanista. Então eu não sei, eu não sei... Os artistas que eu mais admiro são humanistas. Eles se colocam à serviço da construção de uma humanidade. A humanidade que o tempo inteiro é construída e desconstruída. A nossa humanidade individual. Pensa quantas vezes a gente se humaniza e se desumaniza no nosso cotidiano. Eu. Você. Diariamente. Eu acho que o artista pode ser um dos que estão no time dos que ajudam a construir a humanidade. Essa humanidade que a barbárie desconstrói diariamente. Que nos faz desacreditar nela. Então eu penso que se eu pudesse ter esse dinheiro, eu gostaria de uma escola multidisciplinar. Para todas as idades. Para todo mundo que quiser chegar (Odilon Esteves).

Seria uma escola de muita experiência pois eu acho o risco a parte mais importante do teatro. Se não tem risco, não é teatro! É isso! (Erika Rohles).

Eu gostaria de ter um espaço onde as artes dialogassem, porque eu acho que um espaço assim seria muito rico. Eu gostaria que esse espaço pudesse ter uma seleção pelo interesse das pessoas em realmente construir alguma coisa para a vida delas. Não fosse uma formação tradicional, mas que as pessoas pudessem ter aquele espaço para construir as ideias. E que essas ideias fossem só aumentando o crescimento desse lugar. Eu gostaria de trabalhar com vários professores, sempre mudando, nunca a mesma estrutura. Queria ter uma estrutura-base que pudesse ser o pilar da ideia do espaço, mas que várias pessoas pudessem transitar. Que tivesse essa mobilidade. Um espaço que tivesse essa multiplicidade de pensamentos, essa mobilidade. Que tivesse vários pensamentos transitando. E construindo ideias em torno da arte. É assim o meu espaço ideal (Joelma Barros).

Nossa Senhora! Eu acho que seria um lugar mais aberto. Eu acho que a gente que tem uma formação em dança, acho que a gente é treinado para uma fidelização, um comprometimento com alguém, alguma modalidade, algum estilo, algum método... que eu acho que quando eu escolhi não mais participar de grupo, não é que eu não dê valor ao trabalho em grupo mas eu acho que eu escolhi um caminho que me parece mais livre no sentido de experimentar. Conhecer aqui mas conhecer aquele jeito de trabalhar também. Se eu tivesse uma escola, talvez ela tivesse esse caráter mais híbrido mesmo, salas sem parede. Algo que seja mais amplo, mais livre, que as pessoas pudessem ter o direito a experimentar sem que os limites e as qualidades fossem o principal. Acho que o desejo, a vontade de investir numa formação... sei lá! Eu tenho muita vontade de trabalhar com música, no CEFAR a gente tem [músico] acompanhador, mas às vezes eu não quero aquela coisa tão marcada. Às vezes eu quero algo diferente e tenho muita vontade de trabalhar com isso. Tenho feito algumas experimentações com a palavra, com improvisação e poesia. Então eu fico imaginando um lugar assim. Mais aberto a essas trocas e mais compartilhado com outras áreas (Marise Dinis).

Engraçado que eu já me imaginei nessa situação. Se eu ganhasse na mega sena, eu montaria um centro cultural. Rolava de tudo. Teria escola de dança, de teatro, de música. Espaço para exposição, galeria. Teatro. Seria um lugar para as artes gerais. Um centro cultural onde tivesse tudo acontecendo (de música, de teatro, de dança). Eu faria isso (Éder Reis).

Seria um centro de artes, não só de dança. E os artistas que quisessem estudar lá teriam que ter uma formação completa. Eles teriam que estudar música, teatro, dança, literatura... Teriam de ser pessoas humanas, seres humanos. A gente teria que cuidar muito da formação espiritual. Isso é uma utopia! Vários artistas já tiveram essa utopia... Um local que pudesse formar seres humanos melhores e levar beleza pro mundo. Não o que é bonito. Porque a beleza não é o que é bonito. A beleza é a forma. A forma bela de mostrar inclusive as coisas feias. Que pudesse encantar o mundo com beleza e poesia (Cristiana Menezes).

Eu acho que eu faria uma escola de dança, mas para criança. Eu não quero uma escola de formação igual o CEFAR, com curso técnico. E de música. Claro que aí na grade eu tentaria colocar aulas de teatro que são importantes. Mas seria só preparatório. Se quisesse seguir com a dança ia ter que entrar em uma escola firme. E de música porque música é importante. Eu acho que até para dança mesmo. Se a gente não sabe contar a música, a gente não consegue dançar. E a música todo mundo escuta. Por isso eu acho que é tão

importante. Das artes eu acho que ela é a mais... a que eleva mais (Elisa Crespo).

Eu conheci uma escola [Valores de Minas] que tem uma ideia muito legal que você vai passando cada ano por uma arte. Então eu acho que seria uma escola assim. Sem título ou nível de formação. Mas um curso livre de todas as artes, como se fossem horários. Artes visuais, música, dança, teatro, cinema... até, sei lá, culinária! Um curso de desenvolvimento para a vida, não para profissionalizar (Priscilla Monteiro).

Eu começaria chamando todos aqueles que eu acho interessantes em cada área. Profissionais abertos ao diálogo. À uma escola completamente compartilhada. Só chamar figuras que estejam abertas ao diálogo. Professores, artistas. Permitir alunos, aceitar projetos de pesquisa daqueles que querem fazer a escola. Então não é uma escola para dar DRT. Não daria DRT inclusive essa escola. Essa escola seria pura e basicamente para a pesquisa. Formação e pesquisa. E pós-formação. Com eixos de pesquisa em áreas distintas entre os professores. Eu abriria uma escola também para ser incubadora de grupos de teatro, ter essa relação de troca de processos coletivos e a escola. Grupos para darem aula na escola, grupos de teatro para compartilharem seus processos. E outra coisa: abriria um rol de disciplinas que não têm nada a ver com arte diretamente. Chamaria pessoas da área de exatas, de humanas, para falar de outras coisas que não tenham a ver só com arte, tenham a ver com o ser humano. Para mim essa escola teria um sentido maior de formação. Humana. Para poder chegar na arte mesmo. Nossa, se eu tivesse dinheiro era isso que eu faria. Dentro dessa escola existiria um espaço de trabalho, um casarão, para fazer teatro de ocupação. Também é outro sonho que eu tenho enorme. Um grande centro de pesquisa em arte mesmo. Cruzamento de linguagens: vídeo, dança, teatro, performance. Isso sem dúvida. Se eu pudesse fazer um link com todos os festivais do mundo, eu faria. Ia fazer uma escola de intercâmbio. Com festivais, com grupos. O negócio ia ser meio exagerado! Talvez até convidar vários grupos para abrir uma escola. Cada um abrindo uma corrente de trabalho específica. Nossa! Proposta de escola eu tenho tantas! Eu sinto que grupo e escola têm que ter mais a ver. Acho que artista de escola tem que ser uma condição aberta de diálogo pré- disposto a criar novas frentes de pesquisa e de relação. É um pouco por aí! Eu acho que o aluno que entra já entra decidido ao que quer fazer. Eu não toparia entrar com aluno para durante o curso ele descobrir o que quer fazer. Ele tem que entrar com alguma proposta. Mesmo que não tenha experiência nenhuma, ele diz: olha, eu estou querendo fazer isso e isso. Se for muito claro, ele está dentro. E recebendo por isso inclusive. Os professores receberiam muito bem. E os alunos receberiam também. A escola daria a possibilidade do aluno ficar ali em tempo integral, caso ele quisesse. Abrindo frentes de pesquisa em outras áreas, caso ele quisesse. Dentro do princípio de compartilhar a relação. Ao ponto de ser uma coisa quase utópica, mas dizem que isso já aconteceu, de chamar um aluno para apresentar a escola para um convidado e ele saber falar de tudo. Não ia ter 1º, 2º ou 3º ano, ia ser por projeto de pesquisa. Está todo mundo no mesmo lugar. Começando ou não começando, não interessa. Depende de outra relação. Relação compartilhada de decisões. Toda sexta-feira tem uma assembleia para discutir as coisas que estão acontecendo. Todo mundo no mesmo lugar de discussão, no mesmo espaço. Não é uma escola de um é uma escola de todos. E abrir oficinas para a comunidade. Propostas abertas com a comunidade eu acho fundamental (Lenine Martins).

Eu já pensei em ter uma escola, mas uma escola de ensino regular. Mas se eu tivesse uma escola de arte, eu acho que eu ia fazer um teatro muito grande e ia fazer muitas salas. E eu ia tentar fazer algo o mais próximo do CEFAR possível. Até porque é um modelo de grandes escolas europeias. A princípio seria só de dança (Carolina Nogueira).

Eu ia abrir uma escola completa de artes. Ia ter tudo: pintura, música, teatro, dança, aulas de cinema, seria quase uma faculdade. Eu pensaria em cursos completos. Até design, artes gráficas, fotografia, tudo. Um curso bem extenso e que a pessoa montaria a grade de matérias. Se quisesse mesclar disciplinas também, um intercâmbio entre matérias e cursos. Com um valor não muito caro, no limite da pessoa para ela poder pagar (Luciano Magno).

Eu acho que a primeira coisa que eu tentaria prezar é que tenha a separação, nem é esse termo, mas uns querem formar bailarino, uns querem ser atores, outros querem ser bailarino contemporâneo, clássico, de rua, enfim. Mesmo que eles tenham essas preferências ou predileções específicas, que eu acho que talvez a carga dessa área específica deveria ser maior para cada um, mas eles deveriam passar por uma diversidade de informações e experiências e vivências. Por quê? Porque o corpo é um, como eu já falei eu acho que é a mesma matéria-prima, e se você se disponibiliza de diversas formas, você se libera muito e se libera de muitos preconceitos. E eu acho que isso seria imprescindível. Porque a arte, ela é técnica. Ela é formal também como uma profissão e tudo, mas ela também trabalha com a sensibilidade. E eu acho difícil dissociar a sensibilidade de você olhar o outro com respeito e consciência do que o outro está fazendo, mesmo que não seja sua preferência. Mas de ter o respeito. Porque aí eu acho que passa até, o respeito e a sua postura, a sua formação, deveria passar pelo convívio e pela diversidade. Eu acho isso importante. Então mesmo que tenha, digamos assim, formações específicas em algumas áreas, direcionadas, eu acho que seria bom eles fazerem mais aulas do que eles realmente querem atuar profissionalmente, mas que tivessem e permeassem essa oportunidade de beber em diversas fontes. Tanto de teatro quanto de técnicas de dança. De improvisação porque você precisa se disponibilizar. De contato para você saber se relacionar com outro corpo e consigo mesmo acaba sendo também, né? Não só sozinho. Eu domino o meu espaço aqui. Teatro, você falar as vezes é muito difícil. O bailarino conseguir falar. Olha, eu acho isso, eu penso isso. Ou saber se colocar. E não ter medo do ridículo. Saber se despir. Então eu acho que tem dinâmicas teatrais, tem técnicas, coisas que eu já presenciei, coisas difíceis, fáceis, que eu não conheço, uma infinidade de coisas. Acho que seria muito importante música, porque você aprende a contar, você aprende a criar nuance, artística tudo. Uma infinidade de coisas. Então eu acho que, se houvesse essa possibilidade, de ter uma infinidade de matérias, mas que não fosse um contato muito raso. Meio superficial não. Que tivesse um tempo de dedicação para cada assunto. Para que desse tempo das pessoas experimentarem, se descobrirem e aí se aprofundarem no que elas realmente vão exercer pra frente (Aretha Maciel).

Se eu fosse abrir uma escola ela tinha que ter dança, música e teatro. Com certeza. E todos os alunos iam ter bolsa para estudar lá e iam ganhar uma grana para ficar lá o dia inteiro estudando as três áreas. Quem entrasse ia ser para estudar tudo. Podia escolher um instrumento, fazer dança contemporânea e teatro também. Um colégio interno! Você ia ficar lá a semana inteira só estudando. Ao invés de um espetáculo de formatura, ia ter

liberdade para cada um ou cada grupo pudesse fazer tipo um TCC. E ter muitas mostras. Para o que cada um quiser mostrar. Seria uma escola profissionalizante (Diego Ferreira).

Eu nunca pensei em ter uma escola! Não sei... eu acho que inicialmente seria só dança porque eu não conheço nada das outras áreas. A não ser que eu juntasse com outras pessoas para gente fazer realmente uma escola. Ia ter dança clássica e contemporânea. Acho que ia ter uma aula de consciência corporal para a pessoa conhecer o corpo dela mesmo antes de começar a dançar. Ia ter música. Ia ter uma aula também para trabalhar a expressão corporal. Ia ter matéria de pesquisa, matéria teórica. Porque eu sinto falta dos alunos terem interesse por essas matérias teóricas. É importante a gente conhecer a história da dança, as pessoas que trouxeram a dança para Belo Horizonte. A gente poder pesquisar isso. Então eu ia estar sempre estimulando. Acho que é isso! (Bárbara Andrade).

Se eu pudesse fazer ia buscar fazer uma escola gratuita, que todo mundo tivesse acesso. Eu sinto na pele a dificuldade de buscar uma formação. Seria de teatro mas teria aulas avulsas de dança, música, lutas... Teria muito espaço. Uma sala imensa, muito grande! Com iluminação. Eu sinto falta disso aqui. A infraestrutura não é boa. Então teria muitas salas. E teria espaço para os alunos mostrarem o que tivessem vontade. Promoveria a criação do aluno. E teria um teatro para ele apresentar. Traria muitas pessoas de fora para dar workshops porque acho que isso enriquece muito. Outras áreas, outras visões, outras propostas. Teria aula de circo, acho fenomenal. Eu acho que os palhaços são os artistas que têm mais presença (Gabriela Fernandes). Eu já pensei nisso por querer uma formação assim. Eu penso no que seria mais próximo da Escola Nacional de Cuba. Você entra, você passa por toda a escola (teatro, dança, música) e chega um momento que você vai escolher. E mesmo quando você escolhe, uma está interligada na outra. Outra coisa que eu acrescentaria é a parte de produção. Não só uma caracterização, mas saber como funciona a iluminação, o palco etc. Eu criaria uma escola que teria toda essa parte da produção também. Além de técnica em dança, técnica em teatro, técnica em música. Preparação física, alimentação. E até trabalho psicológico mesmo. Bailarino já é doido e não é à toa! Tem uma pressão que é muito difícil de lidar e não tem um auxílio. E um teatro também para poder ir sempre ao palco. Tipo a sala da companhia do Grupo Corpo. É como se o bailarino estivesse sempre em cena, sempre no palco (Mateus Alves).

Seria uma escola de teatro e dança. Eu faria um centro. E claro que eu chamaria quem eu gostaria de trabalhar. Eu faria encontros nossos – de professores. Só ficaria ali quem topasse isso. Encontros e aulas entre os professores de teatro e de dança. Todos teriam que ir para a prática. Não que isso tivesse que obrigatoriamente ser aplicado nas aulas pessoais. Se com o tempo, aquilo fosse entrando em cada um, tudo bem. Mas acho que como é o corpo que está sendo influenciado, está sendo obrigado a se influenciar, eles acabariam chegando ali na prática. E uma outra etapa que findaria essa ideia, seria a mescla dos professores com as turmas. Um mês você dá aula para o teatro, outro para a dança. Acabaria sendo a redundância mais completa possível que é a dança dentro do teatro e o teatro dentro da dança. Não poria aulas teóricas. Primeiro porque o teatro já vem com tudo isso embutido. E eu acho que a dança poderia partir do próprio teatro mesmo, se alimentar disso. De leitura. Até porque isso seria uma teoria posta em prática.

Quando virá esse resultado? Não se sabe. Quais as necessidades que estão vindo a partir disso? Aí botava uma aula (Paulo Buarque).

Eu precisaria de um tempo para pensar porque de cara veio: eu quero fazer só de teatro, a melhor de MG! Se o Palácio tem 4 etapas para entrar lá teria 5! E uma concentração foda. Uma seriedade foda. Procuraria excelentes professores, os melhores. Essa escola teria até um prédio ao lado para os estudantes morarem. Ia ser uma zona. Mas a escola muito séria. Essa é a primeira ideia. Mas tem também a ideia de ser uma coisa mais parecida aqui com o Palácio. Que tenha teatro, dança, música, artes visuais... Eu ficaria em dúvida sobre qual fazer (Luiza Rodrigues).

As ideias expostas pelos entrevistados nessa simples “brincadeira” trazem diversas informações interessantes a serem analisadas. A primeira delas é que a grande maioria – tanto de professores quanto de estudantes – pensou em uma escola que oferecesse formação em mais de uma linguagem artística. A tão discutida integração entre as áreas se materializa nas escolas de seus sonhos.

A preocupação com a formação humana também é recorrente principalmente nas escolas imaginadas pelos professores. A dimensão humana da arte aparece como um valor importante na formação do artista. Essa ideia vai ao encontro de diversos autores que propõem um ensino de arte que considere o ser humano em formação e não apenas as dimensões técnicas da linguagem artística. Dentre os quais destaco Stinson (1998), que afirma que atividades artísticas permitem aos estudantes transcender o aqui e agora, devolvendo-os ao mundo com a capacidade de pensar mais claramente, sentir mais profundamente e reagir mais humanamente. Outra questão interessante é perceber que a grande maioria enfatizou a importância do próprio estudante escolher o que iria cursar. Aparece em diversos depoimentos a ausência de uma grade fixa de disciplinas e a preocupação de que seja oferecido ao estudante um amplo leque de atividades. São ideias que respeitam a autonomia dos educandos, como propõe Paulo Freire (1996).

É interessante notar que uma questão bastante problemática do CEFAR, que é a estrutura física, aparece como um ponto importante em diversas escolas imaginadas. Muitos falam em espaços amplos, muitas salas, grandes estúdios, demonstrando o desejo de um espaço adequado para desenvolver trabalhos que envolvem práticas corporais.

O que mais me chamou a atenção ao analisar esses trechos de depoimentos foi perceber que diversas críticas que teço ao CEFAR, a partir das minhas observações, aparecem “solucionadas” nas escolas imaginadas. O que me faz crer que os problemas que aponto não acontecem por falta de conhecimento ou pelos professores não considerarem importante. Se a escola fosse deles, seria muito diferente.

Algumas questões me vêm à mente ao fazer essa constatação. A principal delas é: de quem é o CEFAR? Trata-se de uma escola pública, mantida por uma fundação estadual. Portanto não tem um proprietário. O que impede que os professores sintam que a escola é deles