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1. Meu quintal é do tamanho do mundo

1.3 A organização escolar do CEFAR

1.3.4 O corpo docente

Durante o ano letivo de 2014, o corpo docente do CEFAR era formado por 28 professores sendo 15 da escola de dança e 13 da escola de teatro. Desse total apenas um professor da escola de dança lecionava também na escola de teatro. São profissionais com formações bastante diversificadas e com experiências artísticas variadas (conforme mostra o quadro apresentado na página 33).

Essa diversidade de formação do corpo docente é vista pelo grupo como um diferencial positivo da escola:

Acho que uma das riquezas da escola de teatro do palácio é essa multiplicidade de experiências. (...) todos [professores] são criadores atuantes, as linhas de cada um são muito fortes. O que há e eu acho que é rico, é essa multiplicidade de linhas de formação dentro da escola (Gil Amâncio).

Outra coisa que eu poderia dizer é que eu acho que a gente tem um corpo docente interessante, com influências muito diferentes (Ângela Mourão).

Uma questão interessante que se revela especialmente no discurso dos professores da escola de teatro, é uma espécie de supervalorização do professor-artista:

O CEFAR foi pensado para o professor-artista. (...) a escola procurou sempre trabalhar com professores-artistas. Ou seja: a gente não estava preocupado com professor que tivesse licenciatura plena. A gente queria professores que tivessem atuando. Isso ocorreu durante toda a vida da escola. Isso praticamente marcou a vida da escola. Por lá passaram os artistas criadores de Minas Gerais mais importantes da época, dos anos 80, 90. Todos eles diretores, preparadores vocais, corporais. Todos esses grandes artistas de Minas Gerais e foram muito importantes na formação desses alunos. Que por sua vez se tornaram massa crítica. Muitos deles se tornaram depois professores do CEFAR, voltaram depois como diretores das peças de formatura. (...) ali é lugar do professor-artista. Não do professor licenciado. Não quer dizer que o licenciado não possa fazer! Mas ele precisa ser professor-artista também. A escola foi edificada por professores-artistas. E a ideia é que ela fosse feita por professores-artistas. A gente estudou muito a história da EAD31, do Alfredo Mesquita, que foi incorporada depois pela USP. Que era uma escola de professores-artistas (Walmir José).

Eu acho que nós temos uma coisa muito interessante também, que eu não sei se é exclusividade mais, mas é uma característica bem forte do Palácio das Artes. É que nosso corpo docente é feito basicamente por pessoas que são artistas da cena hoje. Nós não somos professores. Nós somos artistas do teatro que temos também uma atividade na pedagogia teatral. Isso eu acho que faz a maior diferença. Os alunos vão nos ver em cena, a gente fala de dentro da cena com eles. São pessoas que são artistas militantes mesmo. Eu acho que isso é um diferencial na escola. Muito importante. Quando eu falo para eles do corpo, eu falo do meu corpo. Eu falo com o meu corpo. Eu faço coisas junto com eles, eu me jogo no chão... Tudo que eu dou na aula são coisas que eu experimento no meu corpo. Eu acho que os outros professores em geral também são assim. Falam de algo que experienciam. Nós também estamos em formação (Ângela Mourão).

Percebo no depoimento desses dois professores um certo pré-conceito em relação aos licenciados em artes que, apesar de evidenciar um ranço detectado em muitas outras esferas artísticas, justifica-se, em parte, pelo momento que a escola vivia. Quando realizei as entrevistas, tinha acabado de ser lançado um edital para contratação de novos professores. Este destinava-se exclusivamente aos licenciados em dança e em teatro, o que, na visão desses professores antigos, desrespeitava a história da escola.

Sobre as condições de trabalho na escola, como coloca o professor Lenine Martins, não são as ideais pois “o curso de teatro já chegou a ter 24 professores e hoje está com 12 ou 13. E

com muitos instáveis por causa da Lei 10032”. Há também a dificuldade de um espaço físico que

não comporta mais a escola: “As salas que a gente trabalha aqui não são apropriadas para fazer

isso. São salas que a gente já tem há mais de 25 anos. A estrutura não ajuda”. Mas ainda assim a maioria dos professores demonstra bastante carinho pela escola e satisfação por fazer parte dela:

Eu fiquei um período muito enfronhado aqui dentro, não querendo mais nada. Eu gosto daqui. Acho que eu fiquei aqui uns 8 anos sem trabalhar em lugar nenhum mais. Isso aqui é muito bom, né? Eu gosto muito daqui. Muito (Paulo Buarque).

Aqui eu me dediquei muito. Dou aula aqui com muito prazer (Maria Clara Salles).

Há, porém, um certo descontentamento por parte de alguns professores quanto à falta de integração do corpo docente. Principalmente na escola de dança, na qual há uma divisão

32 A citada “Lei 100” refere-se à Lei Complementar 100/07 que, em novembro de 2007, determinou que todos os

trabalhadores do estado contratados como designados (contratos temporários renovados anualmente) fossem efetivados. Porém em 26 de março de 2014, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a Lei 100 inconstitucional, determinando o prazo de 12 meses para que o estado cumprisse a decisão substituindo os servidores que se encontravam na situação de efetivados por candidatos já aprovados em concurso público e/ou abrindo novos concursos. Fonte: www.g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2014/03/lei-de-mg-que-efetivou-quase-100-mil- servidores-e-inconstitucional-diz-stf.html

dos professores em núcleo de dança clássica e núcleo de dança contemporânea, a integração torna-se ainda mais difícil!

Existe muito pouca integração no corpo docente. É o núcleo do clássico. É o núcleo do contemporâneo. Esses núcleos não se misturam. Entre as escolas não se mistura quase nada. As vezes um professor da dança dá aula de preparação no teatro ou um do teatro vem... mas ainda é muito pouco. Não facilita para o aluno fazer uma integração do que ele está construindo ali. (...) Eu sinto que as vezes é como se eu não pudesse estar numa banca de uma aula de clássico. Eu sinto que existe pouca conversa (Marise Dinis).