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7.4 Procedimentos de análise

8.2.8 Escolas públicas x privadas: de quem é a culpa?

As professoras tecem freqüentes comparações entre as escolas públicas e as privadas. As escolas particulares são pensadas entre dois extremos no que se refere à inclusão de alunos com deficiência. Ou são aquelas que não aceitam estes alunos de forma alguma, ou são o ambiente ideal para estas crianças, pois lhes oferecem muito mais oportunidades que as escolas públicas.

O primeiro grupo de professoras se refere a experiências vividas enquanto eram profissionais da rede particular e afirmam que as diretorias das escolas conseguem uma forma disfarçada de impor obstáculos à matricula das crianças com deficiência, de forma que o pais desistam por eles mesmos. Assim, a escola não precisa despender tempo nem dinheiro na formação de seus profissionais, nem nas adaptações necessárias.

Em escola particular não tem, não tem inclusão... Eu trabalhei em escola particular e a escola particular não aceita. Eles têm aquele papo que aceita, mas quando chega começam a desviar, sabe? E eu vi isso, na última escola que eu trabalhei, chegou síndrome de down, chegou criança deficiente que usava cadeira de rodas e a diretora forneceu mil dificuldades para que aquele aluno, ou seja, a família desistisse de botar aquele aluno na escola.

Outro colégio grande que eu ensinei, também tinha esse papo, “não, aceita, não sei o quê, a gente aceita”. Mas quando chegava, arrumava um jeito de desviar, sabe? E nisso a gente nunca teve uma oportunidade, vim ter aqui.

Por outro lado, outro grupo de professoras contam suas experiências em escolas particulares e afirmam se sentirem muito mais seguras para receberem alunos com deficiência neste ambiente do que na rede pública. Elas consideram que nessas escolas há todo um apoio e uma troca interdiscipinar por meio da qual se aprende muito e se pode realizar um trabalho com maior qualidade. É esta participação de diferentes profissionais (psicólogo, fonoaudiólogo, médico) que consiste a maior diferença entre ambas as categorias de ensino, mas não a única. As professoras se referem à quantidade de alunos por sala, à disponibilidade de material, ao espaço físico e até a diferenças nas famílias das crianças.

ISSO ACONTECEU EM ESCOLA_PÚBLICA, NÃO É ISSO? Com certeza, em escola pública, foi aqui da rede. Até porque em particular isso não vai acontecer não, porque o pai não deixa, não permite, se ele vê uma situação dessa, ele reclama. E uma criança em escola particular, ela tem todo um aparato. Tem um número de alunos reduzido, tem psicóloga, fonoaudióloga, lalalaóloga, tudo óloga.Tem um grupo imenso e você todo mês tem uma reunião com esse grupo.

-Mas em particular é diferente, é outra coisa, é outro mundo. -Aí você aprende muito, ali você troca, você aprende. -Um número bem limitado de alunos por professor e um suporte. É uma diferença quilométrica, minha gente, da escola pública em relação à escola particular, eu acho que não pode nem comparar.

Não, e outra coisa, além disso, da escola particular ter todo um aparato, a família também vai procurando outras coisas, entendeu?

... foi um choque muito grande porque eu saí de escola particular para a prefeitura, para escola pública. Então para mim foi um choque muito grande, né, porque eu tinha todo um aparato, e ali eu não tinha nenhum aparato, nada nem ninguém me ajudava. Era o oposto.

É evidente, então, que estas professoras consideram que as escolas particulares oferecem condições de ensino muito melhores, chegando a ser consideradas o oposto das escolas públicas, as quais seriam de péssima qualidade, principalmente no que se refere à

inserção de alunos com deficiências. Tudo é percebido como sendo tão diferente, que não se pode sequer comparar. Até o comportamento das famílias é diferente, enquanto as de escolas particulares cobram resultados e reclamam se algo está errado, as de escolas públicas aceitam qualquer coisa e enquanto os primeiros buscam serviços especializados para potencializar o desenvolvimento de seus filhos, os segundos nada fazem, ou por desconhecimento ou por falta de condições financeiras. As docentes parecem, então, acreditar que quando as escolas particulares decidem aceitar a criança com deficiência, a inclusão acontece de fato e dá certo, enquanto nas escolas públicas ela parece ser um projeto mal realizado. As escolas públicas não estão preparadas, tanto em termos de recursos materiais quanto humanos, para receber os alunos com deficiência. Esta é uma constatação aceita pelas docentes pelos tantos motivos já explicitados nas sessões anteriores deste trabalho. Pergunta-se, então, de quem é a responsabilidade por tamanha defasagem em relação à rede particular de ensino, quem deve responder pelas faltas cometidas nas escolas municipais e estaduais?

A resposta está na ponta da língua dos professores: são os políticos. Os governantes, aqueles que mandam, que fazem leis, mas não oferecem condições para que se possa cumpri- las, não enviam verbas para as adaptações necessárias, não oferecem capacitação de pessoal, nem bons salários. Os governos são apontados como os principais responsáveis pelos problemas enfrentados pela criança com deficiência e pelos professores diante da proposta de inclusão.

Ele tem uma certa culpa, né, por ter criado isso e não ter favorecido outros meios para facilitar os profissionais que trabalham com ele e para facilitar a própria vida do deficiente.

Eu acho que essa coisa da culpa do governo é bem, eu acho que na fala de todo mundo. Porque o ideal seria, a escola ideal seria aquela em que eles fossem inclusos na sala com os normais e com pessoas especializadas, que desse oportunidade para o professor estudar e ele se sentir seguro. Que as escolas tivessem especialistas, psicólogos, e na sala de aula o professor com conhecimento, sendo preparado, investir nisso, investir.

ENTÃO VOCÊS ACHAM QUE ESTA QUESTÃO, QUANDO ELES COLOCAM DA CULPA DO GOVERNO... ESTÁ VINCULADA COM ESSA HISTÓRIA DO DESPREPARO? E a questão do espaço, a questão do compromisso de número de alunos. -Também a estrutura física. Não adianta fazer inclusão se não tem o espaço físico adequado, né, o professor ali capacitado, treinado.

O governo é, então, responsabilizado pelas defasagens na educação explicitadas nas falas a cima. Além disso, também o é pelas demais dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência nas ruas de forma geral, como os meios de transporte, as condições das

calçadas, entre outros. As professoras apontam que não basta pensar a inclusão nas escolas, mas esta precisa ser ampliada para outros ambientes sociais.

Outro ponto importante é que as docentes apontam que os políticos impõem a inserção de alunos com deficiência nas escolas para somar números e servir como “marketing” pessoal. Desta forma, os governantes pouco se importam com a forma como estes alunos estão sendo recebidos, nem com as repercussões desta recepção nas vidas das crianças, mas sim apenas em publicar quantas crianças estão sendo inseridas nas escolas. Seguindo este raciocínio, não são necessários grandes investimentos em formação de pessoal, nem em material, na medida em que os números a serem apresentados serão os mesmos.

É política, né, você constrói uns gráficos tudo bonito mostrando, mas na realidade não tem.

Porque se eles pegam, fazem isso, colocam um deficiente dentro da sua sala sem haver uma preparação para o profissional e lá fora ele ainda encontra todas essas dificuldades. Eu acho que isso é muita utopia, muita propaganda, muito marketing, em que há a inclusão, há inclusão.

Vê-se, então, que a inclusão não é considerada uma realidade no cotidiano das docentes. Para elas, as crianças estão sendo aceitas nas escolas regulares, no entanto, elas não estão aprendendo nestes ambientes, os quais não têm se modificado em função desta nova demanda. A inclusão não existe de fato, apenas nos números, logo, a realidade é de exclusão, e o principal responsável por isso é o governo.

Quer dizer, ele estava numa sala incluso, mas na verdade ele estava sendo excluído. Só no nome, mas está contando, está contando para o governo.

Ai faz a estimativa e coloca bem bonito assim: “O estado de Pernambuco inclui todos os seus alunos”. -É isso que eu ia falar, é isso que eu não gosto. -E no frigir dos ovos, a inclusão existe, na verdade? Não, a estimativa tem, num quadro bem grande assim, né? Pois é, porque de boca é tudo muito lindo.